Exclusivo IGAS vai avançar com auditoria a cirurgia robótica no SNS
Meta é avaliar gestão, informação dada aos doentes, rentabilidade e custos de manutenção, disse o inspetor-geral. IGAS vai também olhar para auditores internos no âmbito das cirurgias adicionais.
A Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) vai avançar com uma auditoria aos sistemas de cirurgia robótica utilizados no Serviço Nacional de Saúde (SNS), disse ao ECO o inspetor-geral, Carlos Caeiro Carapeto.
O objetivo é avaliar a gestão que é feita a estes procedimentos, medir os custos de manutenção, a informação que é prestada aos doentes e os modelos de avaliação da eficiência e da rentabilidade da cirurgia robótica face à laboral.
“Através do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) está prevista a aquisição de cerca de 20 robôs para os hospitais. O que significa que, daqui a poucos anos, a cirurgia robótica estará completamente generalizada nos hospitais”, explicou Carlos Caeiro Carapeto, em declarações ao ECO.
Na terça-feira, o inspetor-geral estive reunido com o conselho de administração da Unidade Local de Saúde Santa Maria e alguns cirurgiões, cujos procedimentos nesta área são considerados “mais avançados”, para retirar dúvidas e para que o IGAS possa testar as suas próprias ferramentas de auditoria. Atualmente, em Santa Maria são utilizados dispositivos médicos Medtronic.
“Já iniciámos uma auditoria a todo o SNS sobre a inteligência artificial. Tudo o que tem a ver com a salvaguarda dos direitos das pessoas, do acesso dos algoritmos, da compra das soluções… Obrigamos as lideranças do SNS a olharem com mais atenção para esses sistemas emergentes e a cuidarem de alguns aspetos desde início para depois não termos de andar atrás do prejuízo quando acontecer alguma coisa grave”, acrescentou ainda Carlos Caeiro Carapeto.
Em 2024, Portugal realizou cerca de 3.000 cirurgias através do sistema robótico da marca Da Vinci, uma das mais conhecidas do mercado, o que representa um crescimento de 43% no número de procedimentos cirúrgicos em hospitais nacionais, em 2024. No ano passado, só a empresa de dispositivos médicos Abex Excelência Robótica, que distribui esta tecnologia, instalou oito novos robôs nos hospitais do país, o que significa o dobro de 2023.
O crescimento deve-se em grande parte ao PRR, que tem estado a financiar a aquisição destas inovações. Por exemplo, o hospital de Almada-Seixal comprou um sistema por 1,9 milhões de euros financiado pelo PRR. Hospital de São João, Curry Cabral, CUF Tejo, Hospital da Luz, em Lisboa, ou CUF Arrábida, em Vila Nova de Gaia, são outras das unidades que têm robôs nas salas de operações. Tradicionalmente, começam a ser utilizados na especialidade de urologia.
“Estes são indicadores muito positivos para o SNS e para a população portuguesa, dado que o país ainda está no início do processo de implementação da cirurgia robótica e a tentar convergir para os índices já registados noutros congéneres europeus, como Espanha, ou Itália”, afirmou Pablo Díez, diretor-geral do grupo espanhol Abex Excelência Robótica.
O primeiro sistema de cirurgia robótica foi lançado em 1999 pela empresa californiana Intuitive Surgical, que criou o primeiro robô cirúrgico, denominado da Vinci em homenagem ao cientista italiano que, em 1400, tinha idealizado uma máquina automática deste tipo.
Auditores internos sob avaliação
O IGAS vai também olhar para os auditores internos dos estabelecimentos de saúde, após abrir um processo de inquérito ao serviço de dermatologia do Hospital de Santa Maria e um de auditoria transversal sobre cirurgias adicionais a todas as Unidades Locais de Saúde (ULS) e Instituto Português de Oncologia (IPO), no âmbito do caso do dermatologista que recebeu mais de 400 mil euros por dez dias de trabalho. No SNS, existem 39 ULS e três IPO nos quais existe produção acrescida (cirurgias além do tempo de trabalho normal).
“Tenho a intenção de o fazer também com os serviços de auditoria interna dessas unidades, que é para eles nos ajudarem e treinarem este tipo de ação de controlo. É algo que deviam fazer em contínuo para evitar este tipo de episódios. Hoje é com a produção adicional, amanhã serão horas extraordinárias…”, refere o inspetor-geral.
Carlos Caeiro Carapeto adianta vai tentar “envolver no terreno” cada serviço de auditoria interna para que treine a abordagem. “A falha, às vezes, está numa cultura de avaliação interna que não existe. Quem tem, em primeiro lugar, de fazer o controle operacional são as próprias organizações (ULS), porque têm lá dentro um serviço de auditoria, que deve monitorizar, avaliar e fornecer elementos ao conselho de administração para que nunca cheguemos a este ponto de haver uma situação bastante anómala”, alerta.
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