Sánchez considera “particularmente doloroso” elogios de Juan Carlos I a Franco

  • Lusa
  • 15:23

Juan Carlos I publicou, em França, um livro de memórias ("Reconciliação"), em que manifesta simpatia pelo ditador Francisco Franco. "Respeitava-o enormemente, apreciava a sua inteligência", escreveu.

O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, considerou esta quarta-feira “particularmente doloroso” os elogios do rei emérito de Espanha, Juan Carlos I, ao ditador Francisco Franco. “Para mim é particularmente doloroso, num país onde há famílias que ainda procuram os restos dos seus familiares em valas, ouvir o rei emérito fazer elogios ao ditador Franco. Para mim é particularmente doloroso”, afirmou, durante um debate no parlamento nacional, em Madrid.

Juan Carlos I publicou na semana passada, em França, um livro de memórias (“Reconciliação”), em que manifesta respeito e até simpatia pelo ditador Francisco Franco. Juan Carlos de Borbón abdicou em 2014 e desde 2020 vive fora de Espanha, nos Emiratos Árabes Unidos, na sequência de escândalos relacionados com a origem da sua fortuna pessoal e a sua vida amorosa.

Escolheu publicar as memórias – algo raro num monarca ou ex-monarca – este mês, num momento em que Espanha celebra 50 anos do fim da ditadura e da restauração da monarquia, com a morte de Franco, em 20 de novembro de 1975, e a coroação do próprio Juan Carlos I, dois dias depois.

Juan Carlos I recebeu todos os poderes do ditador e transformou-se num dos protagonistas da transição espanhola para a democracia, mas hoje tem a popularidade arrasada no seu país por causa das polémicas, que o levaram a abdicar e a exilar-se. O hoje rei emérito tornou-se no sucessor de Franco por escolha do ditador e confessa no livro de memórias que teve “relações pessoais e frequentes” com o general que governou Espanha de forma autoritária durante 39 anos.

“Respeitava-o enormemente, apreciava a sua inteligência e o seu sentido político. (…) Nunca deixei que ninguém o criticasse à minha frente”, admitiu Juan Carlos I em “Reconciliação”, escrito com a autora francesa Laurence Debray. “Nada o pôde destruir, nem sequer desestabilizar, o que, num período tão longo, supõe um grande desafio”, disse ainda sobre o ditador. Juan Carlos de Borbón relata que na última conversa com Franco este lhe disse: “Alteza, só lhe peço uma coisa: mantenha a unidade do país”.

“Essa foi a sua última vontade. Não me pediu que preservasse o regime como estava ou os princípios do Movimento Nacional [de Franco]. Portanto, tinha as mãos livres para iniciar reformas desde que a unidade de Espanha não fosse posta em causa. Tive a impressão de que me dava liberdade de atuar”, acrescentou. Numa entrevista à revista francesa Le Fígaro na semana passada disse mesmo que Franco o fez Rei “para criar um regime mais aberto”.

Os 50 anos da restauração da monarquia em Espanha e o papel que a instituição teve na democratização do país serão celebrados com um programa de iniciativas previstas para 21 e 22 de novembro divulgado pela Casa Real que exclui Juan Carlos I e que inclui uma homenagem pública a Sofia de Borbón, mulher do ex-monarca, mãe de Felipe VI e hoje rainha emérita, que vive em Madrid, separada do marido.

Juan Carlos I não participará nas cerimónias públicas, mas foi convidado para um almoço com a família real, no dia 22, sábado, coincidindo com os 50 anos da sua coroação, que terá “caráter estritamente familiar e totalmente privado”, disseram fontes da Casa Real, que asseguram desconhecer se o antigo monarca estará presente.

Em janeiro, quando o Governo espanhol arrancou com um programa de 12 meses para comemorar os 50 da democracia no país, o executivo admitiu a presença de Juan Carlos de Borbón nas celebrações, atendendo ao “papel fundamental” da monarquia, mas remeteu a decisão para a Casa Real.

Os processos judiciais que envolviam Juan Carlos de Borbón foram arquivados em 2022, apesar de o Ministério Público espanhol confirmar indícios de delitos fiscais, branqueamento de capitais e subornos. No entanto, segundo o Ministério Público, vários possíveis crimes estavam prescritos e outros teriam sido cometidos quando Juan Carlos I era Rei e, por isso, protegido pela “inviolabilidade” que lhe concedia a Constituição ao ser chefe de Estado.

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