CGTP e UGT contam três milhões de trabalhadores em greve. “Uma minoria”, diz Montenegro
Revisão da lei do trabalho está no centro da greve geral desta quinta-feira. CGTP e UGT estimam adesão de mais de três milhões de trabalhadores. Governo contrapõe com "adesão inexpressiva".
- A CGTP diz que a greve geral está a mobilizar mais de três milhões de trabalhadores, refletindo um forte descontentamento com a revisão da lei do trabalho.
- O Governo, através do ministro da Presidência, considera a adesão à greve inexpressiva, com reportes de participação entre 0% e 10% no setor privado.
- A CGTP planeia avaliar a resposta do Governo a esta greve e discutir novas formas de luta numa reunião agendada para 17 de dezembro.
O secretário-geral da CGTP e o secretário-geral da UGT anunciaram que se estima que mais de três milhões de trabalhadores tenham aderido à greve geral que está a ser levada a cabo esta quinta-feira contra a revisão da lei do trabalho, considerando, assim, esta paralisação um sucesso. O Governo, porém, tem uma visão diferente: assegura que a adesão está a ser inexpressiva e que a “esmagadora maioria do país está a trabalhar”.
“O país está a trabalhar e há uma parte do país que está a exercer o seu legítimo direito à greve”, disse o primeiro-ministro, Luís Montenegro, à saída da reunião do Conselho de Ministros. “A parte que está a exercer o seu legítimo direito à greve é a parte minoritária. A parte largamente maioritária está a trabalhar”, acrescentou o mesmo.
Mais cedo, o ministro da Presidência, António Leitão Amaro, já tinha feito declarações nesse sentido. “Parece mais uma greve parcial da Função Pública. O país está a trabalhar. A adesão à greve é inexpressiva”, disse o governante, numa conferência de imprensa de balanço da greve.
Aos jornalistas, Leitão Amaro indicou que, no “setor privado e social, o reporte que existe é de adesões à greve entre 0% e 10%“. Não adiantou, contudo, os dados oficiais, quanto à Função Pública.
"A greve geral que hoje [esta quinta-feira] se está a realizar é uma das maiores de sempre, se não a maior de sempre. É uma poderosa demonstração de que os trabalhadores rejeitam o pacote laboral e as medidas que agravam as suas vidas.”
Não tardou até que essa visão do Governo viesse a ser contraposta com a dos representantes dos trabalhadores. Meia hora depois da conferência de imprensa de António Leitão Amaro, o secretário-geral da CGTP, Tiago Oliveira, garantiu que este está a ser um grande dia de luta dos trabalhadores, exigindo a retirada na íntegra do pacote de alterações à lei do trabalho.
“A greve geral que hoje [esta quinta-feira] se está a realizar é uma das maiores de sempre, se não a maior de sempre. É uma poderosa demonstração de que os trabalhadores rejeitam o pacote laboral e as medidas que agravam as suas vidas. É uma força inequívoca pela exigência de mais salário, mais direitos, mais serviços públicos”, sublinhou, na conferência de imprensa de balanço desta paralisação.
“Partindo dos dados recolhidos durante a noite e esta manhã, a greve geral tem uma adesão que podemos estimar que se cifra acima de três milhões de trabalhadores“, detalhou o secretário-geral, referindo uma “impressionante participação no setor das pescas, na indústria, na logística, nos transportes, na saúde, nas cantinas, na IPSS, na educação, na administração local, na recolha de resíduos, na cultura”.
“De forma geral, em todas as atividades do nosso país“, observou o sindicalista, que defendeu que, perante estes protestos, “é tempo do Governo ouvir quem trabalha, ouvir as suas preocupações, dificuldades e reivindicações” e retirar o pacote laboral”.
"É um Governo que tenta de todas as formas e mais algumas diminuir o impacto e a dimensão da greve geral.”
Tiago Oliveira sublinhou também que esta greve geral está a ter um “impacto enormíssimo” no setor público e no setor privado, com a adesão de mais de três milhões de trabalhadores.
Já quanto às declarações do ministro da Presidência, Tiago Oliveira atirou que “o Governo está completamente alheado da realidade do país“. “Não percebe a resposta que os trabalhadores estão a dar. É um Governo que tenta de todas as formas e mais algumas diminuir o impacto e a dimensão da greve geral“, declarou.
Já questionado sobre uma potencial nova greve, caso o Governo não retire o pacote de mudanças à lei do trabalho, o sindicalista adiantou que o conselho nacional da CGTP irá reunir a 17 de dezembro para avaliar a greve desta quinta-feira e subsequente resposta do Governo. Nesse encontro, serão também discutidas as formas de luta.
Entretanto, pelas 16h30 desta quinta-feira, também a UGT convocou uma conferência de imprensa para fazer um balanço. Referindo os tais três milhões de trabalhadores em greve, o secretário-geral, Mário Mourão, assegurou que a greve geral “é um sucesso” e “aparentemente só o Governo não vê isso“.
"O Governo pode torcer números, não pode é torcer a realidade.”
O sindicalista assegurou que a greve geral em curso é uma das maiores de sempre, salientando que o Governo “pode torcer números, mas não pode torcer a realidade”.
“Os mais de 80% de adesões na justiça e na saúde, a resposta dos cinco mil trabalhadores da Autoeuropa, os mais de 80% da Carris, os 100% do Metro e os 70% do TST são apenas exemplos do que se passou hoje”, enumerou Mário Mourão, que observa que “quem trabalha em Portugal não quer este anteprojeto”.
“Para a UGT, esta greve geral é um começo: de uma nova negociação ou de uma longa luta provocada por uma proposta que está a gerar conflito“, avisa o sindicalista, que entende que cabe agora ao Governo “interpretar os sinais de quem vive do seu trabalho”.
"Para a UGT, esta greve geral é um começo: de uma nova negociação ou de uma longa luta provocada por uma proposta que está a gerar conflito.”
No final de julho, o Governo aprovou em Conselho de Ministros e apresentou na Concertação Social o anteprojeto “Trabalho XXI”, que pôs em cima da mesa mais de 100 mudanças ao Código do Trabalho, nomeadamente no que diz respeito aos contratos a prazo, aos despedimentos, às licenças parentais e aos bancos de horas.
Desde essa altura que a UGT tem feito críticas, mas, entretanto, decidiu consensualizar uma data com a CGTP para uma greve geral, em protesto não só contra as medidas que estão em cima da mesa, mas também contra a falta de evolução na negociação.
(Notícia atualizada às 17h41)
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