527 dias depois, Isabel dos Santos é afastada da Sonangol com o plano para pôr a petrolífera a dar dinheiro a meio
Durou ano e meio a aventura de Isabel dos Santos à frente da Sonangol. A empresária tinha um plano para tornar a petrolífera do Governo numa máquina de fazer dinheiro. Deixa esse trabalho a meio.
“A minha visão é tornar a Sonangol muito rentável”, assumia Isabel dos Santos ao Financial Times, no final do ano passado.
A filha do histórico presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, dava as primeiras declarações públicas poucos meses depois de chegar à petrolífera estatal angolana por nomeação do pai. Assumiu o cargo de presidente do conselho de administração a 6 de junho de 2016 para dar a volta a uma empresa a braços com um negócio em profunda crise. Mas, 527 dias depois, “abandona” essas funções com um plano por cumprir. Não escapou à onda reformadora do recém-eleito presidente João Lourenço nas lideranças dos cargos de empresas públicas.
Quando falou ao influente diário económico britânico, Isabel dos Santos encontrava-se a preparar um ambicioso plano de reestruturação para fazer da Sonangol uma máquina de fazer dinheiro, mas estava plenamente ciente que a mudança de cadeiras no alto poder em Angola poderia encurtar as suas ambições na mais importante empresa estatal para os cofres públicos do país.
Ainda assim, a empresária estava determinada em inverter o rumo dos acontecimentos na petrolífera que viu os lucros afundarem 86% entre 2013 e 2016, sobretudo por causa da baixa dos preços do petróleo. Isto mesmo que o seu mandato não completasse os cinco anos previsto pelos estatutos da empresa.
Para voltar a dar dinheiro, Isabel dos Santos pretendia que a Sonangol se focasse única e exclusivamente no seu negócio core e deixasse de lado ativos que estivessem de fora da esfera da exploração e produção de “ouro negro”. “Não estávamos a controlar os nossos ativos — os nossos ativos no petróleo — tanto quanto queríamos e, principalmente, faltava-nos visão estratégica”, disse na entrevista a 20 de dezembro ao FT.
O que Isabel dos Santos estava realmente a criticar era a falta de planeamento estratégico dos seus antecessores. A Sonangol estava em todo o lado e era preciso recentrar atenções para o essencial: o petróleo.
Assim, mais de 90 empresas, incluindo um clube de futebol, o Atlético Petróleos de Luanda (Petro de Luanda), foram reunidas num fundo à parte, numa estratégia que iria permitir à Sonangol dedicar-se a três atividades principais: exploração e produção, logística e uma divisão que agregue as concessões petrolíferas às companhias estrangeiras.
O plano visava também responder ao elevado endividamento, outro fator de pressão sobre as finanças da empresa. Em 2015, a Sonangol via-se encurralada entre uma dívida de 13,6 mil milhões de dólares e um negócio do petróleo em reestruturação perante as perspetivas de redução da produção por causa do acordo com a OPEP.
Mesmo assim, Isabel dos Santos conseguiu baixar o nível de endividamento para cerca de dez mil milhões no final do ano passado. Ambicionava acelerar o ritmo de redução ao longo deste ano com o objetivo de ter a Sonangol com uma dívida de oito mil milhões em dezembro de 2017.
Com este projeto, “a companhia estará numa situação completamente diferente” em 2021 ou 2022, assegurava a empresária. Na verdade, não foram necessários tantos anos para assistirmos a mudanças de fundo na Sonangol.
Ano e meio depois, Isabel dos Santos é afastada da petrolífera pelo sucessor do pai na liderança de Angola. Carlos Saturnino será o rosto da transformação da petrolífera. Ironicamente, ele o mesmo responsável que a empresária angolana havia afastado com o objetivo de mudar as coisas no seio da companhia.
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