O que se passa com a Altice? Tem de recuperar a confiança dos investidores, diz o FT
A Altice continua a desvalorizar em bolsa, apesar da garantia de que vai focar-se nos já 51 mil milhões de euros de dívida. E porquê? Drahi tem de reconquistar a confiança dos investidores, diz o FT.
Patrick Drahi, fundador do grupo internacional Altice, é conhecido pelas aquisições. Só nos últimos 15 anos fez três dezenas delas, incluindo a Meo em Portugal, acumulando já uma dívida que chega aos 51 mil milhões de euros. Na semana passada, a empresa veio a público garantir que, doravante, vai focar-se na redução do passivo e pôr um travão nas compras, admitindo mesmo a venda de alguns ativos menores. Mas nem todos os investidores ficaram convencidos, indica o Financial Times [acesso pago], salientando que a empresa já fez promessas semelhantes no passado.
O que se está a passar com a Altice? Nos últimos dois anos, a empresa de Patrick Drahi lançou-se em alguns negócios ambiciosos, como a compra da PT/Meo à operadora brasileira Oi por mais de cinco mil milhões de euros, a aquisição da Suddenlink nos Estados Unidos por 9,1 mil milhões de dólares, ou a da Cablevision por 17,7 mil milhões de dólares. São apenas três exemplos, mas todos espelham a estratégia da Altice que o ECO já explicou aqui: comprar agora, olear a máquina, rentabilizá-la e vender o ativo ou usar as receitas para abater dívida no futuro.
Apesar de alguns períodos mais ou menos conturbados, a Altice tem estado nas bocas do mundo por advogar uma estratégia de convergência entre telecomunicações, media e publicidade. Aliás, avançou para a compra da Media Capital em Portugal, a dona da TVI, aos espanhóis da Prisa, por 440 milhões de euros, um negócio que ainda depende de luz verde do regulador da concorrência. Em agosto, notícias davam conta de uma potencial oferta de 185 mil milhões de dólares pela Charter Communications [acesso pago], a segunda maior fornecedora de televisão por cabo nos Estados Unidos segundo o jornal financeiro britânico. No entanto, tudo mudou no início deste mês.
A empresa apresentou resultados pouco satisfatórios relativos ao terceiro trimestre, mostrando estar a perder clientes, por exemplo, na SFR, a operadora que detém em França. Para os mercados, a notícia caiu que nem uma bomba, levantando dúvidas quanto à capacidade da empresa de pagar a avultada dívida — uma dívida que é de 51 mil milhões de euros, superior aos 15 mil milhões de capitalização bolsista da companhia e cinco vezes o EBITDA da empresa [lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações].
É por isso que, desde 2 de novembro, as ações da Altice não pararam de cair. Em outubro, valiam mais de 16,10 euros. Esta terça-feira, desvalorizavam 7,15% para 7,912 euros. A queda é já superior a 51% e, segundo o Financial Times, Patrick Drahi, que detém 60% da Altice, terá perdido milhares de milhões de euros só nas últimas semanas. Na semana passada, numa conferência com analistas em Barcelona, a empresa mudou de discurso, anunciou a travagem nas operações de M&A e Drahi admitiu que o grupo não tinha estado suficientemente focado nos problemas operacionais.
Patrick Drahi com perdas potenciais de “milhares de milhões” de euros
Ao jornal britânico, um acionista que se encontrou com o magnata por essa ocasião disse: “Ele estava muito abatido. Perdeu milhares de milhões, é avassalador.” Mas nem todos estão do lado do multimilionário dono da Altice. O Financial Times indica que alguns analistas estão receosos de que o modelo de negócio da empresa, focado no crescimento através da dívida acumulada com as aquisições, poderá não ser suficientemente resiliente e temem mesmo que a Altice possa não vir a focar-se tanto no passivo como anunciou. Some-se a isso a hemorragia dos títulos na bolsa, que não ajudam nada ao alívio da situação.
“Para além de sustentar o alargamento da rede, para mudar a SFR, a Altice precisa de abandonar os ajustes de curto-prazo, investir na força de trabalho e no serviço ao consumidor e diferenciar-se pelo valor da inovação. Por outras palavras, o oposto do modelo seguido até agora”, disse ao jornal Francois Godard, analista da Enders Analysis.
Certo é que esses “ajustes de curto-prazo” parecem longe de estarem concluídos. Depois da saída de Michel Combes da presidência do grupo, logo após a divulgação dos fracos resultados do terceiro trimestre, Dexter Goei, líder da Altice USA, subiu à liderança geral do grupo, enquanto Dennis Okhuijsen foi nomeado diretor financeiro e responsável máximo da Altice Europa. Alain Weill, até então líder da Altice Media, ficou com a liderança da operadora SFR em França, enquanto o sócio de Patrick Drahi, o português Armando Pereira, ganhou um papel mais relevante ao nível das operações do grupo franco-israelita.
As mudanças chegaram esta semana a Portugal. O ECO noticiou esta segunda-feira que Cláudia Goya, presidente executiva da PT/Meo, foi demitida da liderança da companhia, cargo que ocupava há apenas quatro meses – uma notícia que mereceu um comunicado da Altice no qual a empresa nega que Goya “esteja de saída da empresa”. Entretanto, o ECO apurou também que Alexandre Fonseca, até aqui o diretor tecnológico da PT/Meo, deverá ser o substituto de Goya na liderança da operadora portuguesa. Goya deverá permanecer na Altice, mas fora da liderança da PT.
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