Quatro meses depois, Cláudia Goya é demitida da PT/Meo
Depois da saída de Michel Combes, segue-se a de Cláudia Goya. A gestora acaba de ser demitida da PT/Meo, um cargo que ocupava há apenas quatro meses.
Cláudia Goya, presidente executiva da PT/Meo, foi demitida do cargo que ocupava há apenas quatro meses, apurou o ECO junto de fontes do mercado. A demissão surge poucas semanas depois da saída de Michel Combes da presidência da Altice, numa altura especialmente crítica para a multinacional dona da Meo e que quer comprar a TVI.
O ECO sabe que a gestora esteve na semana passada em Paris, França, para um encontro de presidentes de empresas da Altice. Face a rumores que já circulavam no mercado, questionou a PT Portugal, a 15 de novembro, sobre a possibilidade de virem a surgir mudanças na gestão da Meo no curto prazo. Mesmo após insistência, a pergunta do ECO ficou sem resposta, mas a saída confirma-se.
Cláudia Goya abandona agora a liderança da maior operadora nacional em termos de quota de mercado. Estava no cargo há apenas quatro meses: tinha sido nomeada a 18 de julho, poucos dias depois da oficialização da oferta de 440 milhões de euros da Altice pela Media Capital, um negócio que se encontra a aguardar a aprovação final da Autoridade da Concorrência (AdC). Paulo Neves, na altura presidente da PT Portugal, passou a chairman da companhia e ficou com a responsabilidade do dossiê da compra da dona da TVI.
Durante os quatro meses no cargo, Cláudia Goya teve de lidar com a pressão dos concorrentes, quer do setor das telecomunicações quer dos media, que desde cedo se mostraram contra o negócio. Esteve debaixo de fogo no congresso anual da APDC que se realizou no final de setembro, onde se sentou à mesma mesa com Miguel Almeida (líder da Nos) e Mário Vaz (líder da Vodafone), duas das vozes mais críticas à operação. Foi ainda questionada sobre a aquisição da Media Capital, um dossiê sensível do qual sempre fugiu.
Goya deu ainda a cara e a voz pelas ambições da Meo de estender a sua cobertura de fibra ótica no país. Encontrou-se com os jornalistas por diversas ocasiões, a primeira delas a 7 de setembro, onde anunciou que a fibra ótica da Meo já chega a quatro milhões de casas no país. Enalteceu ainda o trabalho da empresa neste segmento e mostrou intenções de ir ainda mais longe.
A par da compra da TVI, outro dos temas transversais à passagem da gestora pela Meo foi o das reivindicações e queixas dos trabalhadores da PT, uma herança do tempo de Paulo Neves. A greve dos funcionários da empresa, a primeira a contar com a participação de todas as estruturas sindicais da companhia, apanhou Cláudia Goya no cargo poucos dias depois de subir à presidência da companhia.
Os trabalhadores queixam-se de um “despedimento coletivo encapotado” com recurso à transmissão de funcionários para empresas do grupo ou parceiras, bem como de pessoas sem funções atribuídas, ambiente de pressão e situações de assédio moral. Escudam-se num relatório da Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT), que aponta 150 infrações na Meo após várias inspeções de norte a sul do país, relevado pelo ECO em primeira mão. Cláudia Goya não só reuniu com os sindicatos como chegou a ser vista como uma “luz ao fundo do túnel” para a resolução dos alegados problemas destes trabalhadores.
Mais recentemente, participou no Web Summit como oradora, onde falou de “segmentação” e transformação digital. “Estamos focados na segmentação, porque nem todas as pessoas querem as mesmas coisas. O consumidor de hoje é muito mais seletivo”, disse num dos palcos da maior feira de tecnologia da Europa, em Lisboa.
Antes da PT, Cláudia Goya somou mais de duas décadas de experiência em posições de topo em grandes multinacionais. Passou pela Galp Energia em 2003 e, até 2008, ocupou os cargos de diretora do negócio de retalho e diretora geral de lubrificantes. Ganhou notoriedade após tornar-se diretora-geral da Microsoft Portugal em 2008, durante os anos mais fortes da crise, cargo que ocupou até 2012. Foi para o Brasil nesse ano, onde ocupou a cadeira de diretora de operações da Microsoft Brasil. Entretanto, deixou o emprego na Microsoft. Só este ano regressou a Portuga, a convite da Altice.
Duas ruturas em menos de um mês
A demissão de Cláudia Goya surge após outra saída de peso no grupo. Michel Combes, anterior líder do grupo Altice, foi demitido no início deste mês, em rutura com os fundadores da empresa, Patrick Drahi e Armando Pereira, como apurou o ECO. Ambas as saídas acontecem num momento particularmente crítico para a Altice. Resultados pouco satisfatórios relativos ao terceiro trimestre levantaram dúvidas quanto à capacidade da empresa de abater os cerca de 50 mil milhões de euros de dívida que acumula, provocando uma hemorragia nas ações do grupo cotadas na bolsa de Amesterdão.
Neste contexto, a Altice viu-se obrigada a mudar de estratégia e de discurso, até aqui focado na convergência entre telecomunicações, media e publicidade através da aquisição de empresas com recurso a endividamento. Esta quarta-feira, numa conferência com analistas em Barcelona, Espanha, o diretor financeiro do grupo e líder da Altice Europa, Dennis Okhuijsen, anunciou que a empresa vai parar as aquisições, focar-se na dívida e que poderá mesmo vender alguns ativos, que mais fujam ao core das operações, no mercado europeu.
O próprio fundador do grupo, Patrick Drahi, falou aos analistas para fazer um mea culpa. Admitiu que a Altice não tem estado suficientemente focada nos problemas operacionais e que não tem vendido bem os seus serviços, falando pouco com os clientes. A Altice tem vindo a perder clientes, nomeadamente em França, onde detém a SFR, facto que acabou também por penalizar os números da empresa no período entre julho e setembro.
Esta segunda-feira, a empresa voltou a emitir um comunicado onde garante que não vai vender ou emitir ações para aumentar capital, mas somente vender ativos fora do core das operações, como torres de comunicações móveis. A empresa garantiu ainda ter “forte” liquidez. Face à informação, os títulos da empresa chegaram a valorizar mais de 15% nesta sessão, cotados na bolsa de Amesterdão.
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