Navigator na hora do adeus de Diogo da Silveira. O que mudou em cinco anos
Diogo da Silveira deixa hoje oficialmente a presidência da The Navigator Company. Passaram cinco anos desde que substituiu José Honório. O que mudou?
Em 2013, Pedro Passos Coelho era primeiro-ministro e governava o país sobre o olhar atento do FMI, Comissão Europeia e Banco Central Europeu. Francisco tornava-se o primeiro Papa da América Latina, Nelson Mandela e Margaret Thatcher morriam. A palavra selfie foi pela primeira vez referida num dicionário e o Sport Lisboa e Benfica estava em vias de ser campeão nacional.
Foi também esse o último ano de José Honório enquanto presidente executivo da então Portucel Soporcel. A 1 de abril, na assembleia-geral da empresa era sucedido por Diogo da Silveira. O gestor, ex-presidente da Açoreana Seguros, chegou com o objetivo de acentuar a presença internacional da empresa do grupo Semapa. Encontrou uma organização que faturava mais de 1.530,6 milhões de euros, assumindo a posição de segundo maior exportador nacional, colocando pasta e papel em 118 países de cinco continentes. Com 13 subsidiárias em 18 países, empregando 2.259 pessoas. Com três fábricas – Cacia, Figueira da Foz e Setúbal – tinha uma capacidade instalada de 1,6 milhões de toneladas de papel, 1,4 milhões de toneladas de pasta e 2,5 TWh/ano de energia elétrica.
Foi neste contexto que a empresa comunicou ao mercado que a nomeação de Diogo da Silveira abria “um novo ciclo na gestão da sociedade que, prosseguindo a estratégia que” vinha “a ser implementada até esta data em toda as suas vertentes”, iria “acentuar a sua expansão internacional”. Cinco anos depois, e na hora do adeus, que empresa deixa Diogo da Silveira?
Antes de mais, deixou cair a antiga designação, assumindo, em 2016, a insígnia do papel de escritório Navigator, como nova designação corporativa. E esta é, possivelmente, uma das mais emblemáticas marcas da passagem de Diogo da Silveira pela empresa do grupo Semapa.
Fontes ouvidas pelo ECO ressalvam que a The Navigator Company é parte de um grupo familiar, acionista maioritário predominante, liderado até 2018 por Pedro Queiroz Pereira, falecido nesse ano. “Toda a vigência do Diogo teve o Pedro Queiroz Pereira como codecisor. Não é uma empresa cotada que tem um CEO que uma vez por ano informa os acionistas. É uma casa que é gerida pelo acionista”, afirma fonte próxima da The Navigator.
Assim, cinco anos passados, a The Navigator Company está a faturar 1.692 mil milhões de euros, com lucros de 225 milhões – contra um resultado líquido de 210 milhões, em 2013. Aqueles que são considerados os melhores resultados de sempre da papeleira devem, no entanto, ser confrontados com as paragens das unidades de Setúbal – programa para a reconversão da máquina de papel construída em 2009 – e da Figueira da Foz, devido à passagem da Tempestade Leslie. Ainda que as paragens de produção tenham acabado por ser compensadas pelo aumento do preço de venda.
No final do ano passado, a dívida líquida do grupo situava-se nos 683 milhões de euros, contra os 307,1 milhões de euros registados em 2013. Uma evolução à qual não será alheia a compra de uma nova fábrica em 2015 – a AMS, empresa produtora de papel tissue (papel usado na produção de rolos de cozinha, papel higiénico ou guardanapos) –, e a entrada numa nova área de negócio, nem os investimentos na ordem dos 206 milhões de euros realizados nas fábricas de Cacia e da Figueira da Foz, desde 2017. Só em 2018 foram investidos 216,5 milhões de euros. Hoje, a The Navigator posiciona-se como o terceiro maior produtor ibérico de tissue.
Tem uma capacidade instalada de 1,6 milhões de toneladas de papel, 1,5 milhões de toneladas de pasta (contra 1,4 milhões em 2013), 130 mil toneladas de tissue e 2,5 TWh/ano de energia elétrica. Nas unidades fabris, nos viveiros, na gestão da flores, nas subsidiárias comerciais dá emprego direto a mais de 3.000 pessoas.
Mudanças à vista
Aos 59 anos, Diogo da Silveira optou por não fazer um segundo mandato como presidente executivo da The Navigator. “Estava em perspetiva mais um mandato de cinco anos e ele tem outras coisas que quer fazer”, diz a mesma fonte, explicando que o gestor demonstrou ao conselho de administração, realizada em fevereiro, “a indisponibilidade para continuar”. A holding optou, assim, por nomear interinamente para o lugar de CEO da papeleira João Castello Branco, também ele nascido em 1960, que desde há quatro anos lidera a Semapa, lugar que acumulava com o chairman da The Navigator.
Decorre agora o processo de escolha de um gestor que substitua em definitivo Diogo da Silveira, mas o grupo não tem pressa. Além da presença de João Castello Branco, “os outros elementos do conselho de administração já lá estão há muitos anos. Receberam o Diogo, o Diogo vai-se embora e o conselho mantém-se. Aquela empresa já funciona como um relógio suíço”, diz outra fonte próxima do grupo.
Mas há novas peças neste xadrez. Na assembleia-geral que decorre esta manhã no Ritz serão eleitas para o conselho de administração três mulheres: Maria Teresa Presas, Mariana Belmar da Costa e Sandra Maria Santos. Uma decisão que não é estranha a nova legislação que obriga a um mínimo de 20% de representação de cada género nos conselhos de administração.
Além disso, a administração propõe aos acionistas a extinção das duas vice-presidências que existem atualmente e o alargamento do número de administradores de 13 para 14.
Entre os pontos na ordem de trabalhos da reunião magna de acionistas de hoje consta ainda o pagamento de um total de 200 milhões de euros em dividendos.
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