Isabel dos Santos: 7 entrevistas, vários tweets e um direto no Instagram em apenas 3 semanas

Das respostas via twitter a Ana Gomes à possibilidade de vir a ser Presidente de Angola, Isabel dos Santos abandonou a postura mais reservada e tem sido uma presença assídua no espaço dos media.

Após a Procuradoria-Geral angolana ter decretado o bloqueio das contas da multimilionária e do seu marido, Sindika Dokolo, Isabel dos Santos deixou de assumir a postura reservada com os media e tornou-se uma personalidade assídua na imprensa nacional e internacional. Em três semanas foram sete entrevistas, vários tweets e até um direto no Instagram.

Recatada perante os media, Isabel dos Santos tem ocupado nos últimos tempos os holofotes do palco mediático. Observador, Jornal de Negócios, Jornal Económico, Financial Times, Voz da América, Reuters, RTP 3 e até as redes sociais, como o Instagram e Twitter, foram alguns dos espaços utilizados pela empresária angolana para assumir uma posição face ao arresto de bens.

Tudo começou com a intervenção, via twitter, da ex-eurodeputada Ana Gomes que acusou Isabel dos Santos de “lavar que se farta” ao liquidar dívidas, sugerindo que empresária angolana contraía empréstimos junto da banca para depois os liquidar e, desta forma, esconder a origem do dinheiro. A multimilionária angolana defendeu-se da acusação e avançou com uma ação contra Ana Gomes, por se sentir ofendida com o conteúdo das declarações. O tribunal não lhe deu razão.

Negou as acusações de Ana Gomes ao Observador

Dias antes do arresto de bens ordenado pelo Tribunal de Angola, a mulher mais rica de África concedeu uma entrevista ao jornal Observador, em que garantiu nunca ter sido beneficiada devido ao seu apelido ou que através do estatuto social tivesse acesso privilegiado a negócios.

Admitindo não saber quantas empresas tem e quanto faturam, Isabel dos Santos assegurou que o trabalho que desenvolveu na Sonangol “foi um trabalho extraordinário” e que nada tem a ver com o grau de parentesco.

“Aliás, mais surpreendente foi ainda que as próprias provas — ou supostas provas — que ela [Ana Gomes] dizia trazer, no fundo não passavam de cartas que ela própria tinha escrito, com uma quantidade de alegações falsas, e que a prova que ela trazia, que era prova que ela dizia ser um relatório do Banco de Portugal, dizia exatamente o contrário”, afirmou a empresária angolana sobre as alegadas acusações de Ana Gomes.

Sobre as referências que Ana Gomes fez sobre o pagamento feito pela Efacec, Isabel dos Santos negou que as ações tenham sido pagas pelo Estado angolano ou através de dinheiros públicos. “O próprio relatório que ela [Ana Gomes] apresenta do Banco de Portugal diz claramente que os 40 milhões pagos pela ações da Efacec pela Niara são suprimentos de sócios meus, vindos de mim — não vindos de nenhuma conta do Estado e não vindos de nenhuma conta de erários públicos”, assegurou.

Mas após o Tribunal Providencial de Angola ter decidido o arresto preventivo de participações em nome de Isabel dos Santos, do seu marido, Sindika Dokolo, e do gestor Mário Silva, em empresas como a Unitel, o BFA, o Bic Angola e a ZAP, a 30 de dezembro de 2019, a empresária angolana voltou a surgir nos holofotes dos medias.

Em resposta ao arresto, Isabel dos Santos utilizou o Twitter para apelar à tranquilidade das equipas de gestão das empresas envolvidas. Mas esta rede social foi apenas um mote para as diversas intervenções que viria a ter no espaço mediático.

Dos twittes aos lives no Instagram

Isabel dos Santos não recorreu apenas aos medias tradicionais para negar as acusações proferidas pela ex-eurodeputada Ana Gomes; o Instagram foi também uma das ferramentas da empresária. Durante cerca de 20 minutos, esteve em direto onde respondeu a questões e dúvidas que iam sendo colocadas pelos seus seguidores. Vários foram os temas abordados, sendo o arresto um dos assuntos em destaque.

“Não sei se eles [tribunais] são obrigados a notificar ou não, talvez não. Mas vejamos o seguinte, quando estamos a falar de tantas pessoas, tantos trabalhadores, penso que pela atenção a todas estas pessoas, se calhar chamar e pedir um esclarecimento teria sido o melhor caminho e não teria criado este nível de ansiedade. Dar oportunidade a alguém e dar às empresas a chance de apresentarem factos não é um luxo, é um dever”, afirmou.

Não sei se eles [tribunais] são obrigados a notificar ou não, talvez não. Mas vejamos o seguinte, quando estamos a falar de tantas pessoas, tantos trabalhadores, penso que pela atenção a todas estas pessoas, se calhar chamar e pedir um esclarecimento teria sido o melhor caminho e não teria criado este nível de ansiedade.

Isabel dos Santos

Empresária

Outro dos temas referidos pela filha de José Eduardo dos Santos foi a situação dos milhares de trabalhadores que se encontram dependentes dela. Em resposta, referiu que solicitou às empresas para continuarem a funcionar como se nada tivesse ocorrido. “Queremos pôr Angola a trabalhar, mas agora com as contas congeladas eu não vou poder investir nem abrir empresas”, disse.

Quando questionada sobre a possibilidade das empresas fecharem, Isabel dos Santos deixou em aberto essa possibilidade. “Estamos num momento de crise económica e, assim sendo, se as empresas não são acompanhadas muito de perto e não têm o apoio do acionista, de quem as criou, seguramente o risco está sempre aí”, nota.

“As empresas foram condenadas à morte”

No início do ano, a filha do ex-presidente da República angolano, em entrevista ao Jornal de Negócios, afirmou que o arresto preventivo aos seus bens condenou as suas empresas à morte e que a acusação pela qual está a passar é composta por “inverdades”, às quais não teve oportunidade de responder.

“O congelamento de contas impede-me de gerir e de recapitalizar as minhas empresas. Como tal, as empresas foram condenadas à morte. Acredito que é importante reiterar que criei mais de uma dúzia de empresas em Angola que hoje empregam mais de 10.000 pessoas“, referiu Isabel dos Santos ao Jornal de Negócios.

A multimilionária garantiu ainda que a ação levada a cabo pelo Tribunal de Angola é uma tentativa de “mascarar” o fracasso da política económica do presidente João Lourenço e que o facto de ser filha do ex-presidente da República, José Eduardo dos Santos, provocou este ataque.

Ainda assim, garantiu que vai lutar com “calma” e “profissionalismo” e que irá repor a verdade através de todos os “instrumentos do direito angolano e internacional” a que tenha direito.

O processo é uma “caça às bruxas com motivações políticas”, diz ao FT

A exposição nos media não se cingiu apenas à imprensa nacional. Três dias depois da entrevista ao Negócios, Isabel dos Santos concedeu uma entrevista telefónica ao Financial Times, jornal britânico, onde garantiu que iria contestar judicialmente a decisão do Tribunal de Luanda e revelou ter sido alvo de invasão de privacidade para a falsificação de provas.

A empresária afirmou ainda que vai defender-se nos tribunais angolanos, apesar de dizer que tem pouca fé no sistema judicial. Segundo a angolana, os serviços secretos angolanos usaram hackers para entrar nos servidores dos computadores que tem em Portugal para “forjar e falsificar provas”.

Isabel dos Santos defendeu que o processo é uma “caça às bruxas com motivações políticas” e acrescentou que toda a “família sabe que o presidente [João] Lourenço está numa luta contra o anterior presidente dos Santos”. Voltou a negar ter transferido dez milhões de dólares para a Rússia ou estar a tentar vender a sua participação na Unitel a um investidor árabe como alega o tribunal.

“Não tivemos empréstimos do Estado, tivemos empréstimos de bancos privados”, disse a empresária, após partilhar com o Financial Times que tentou pagar um empréstimo de 75 milhões de euros à Sonangol em kwanza, a moeda local, mas que o pagamento foi deliberadamente bloqueado.

A empresária angolana Isabel dos Santos durante uma entrevista à agência Lusa, à margem de uma visita que realizou a Cabo Verde.Eneias Rodrigues/LUSA 13 Outubro, 2019

A crítica ao Presidente angolano João Lourenço

Ao meio de comunicação Voz da América, Isabel dos Santos acusou o Presidente angolano, João Lourenço, de fechar vários contratos sem concurso público e de escolher de forma “seletiva” no combate à corrupção, depois de ser eleito, para suportar a sua campanha.

“Ele criticou o presidente Dos Santos por contratos sem licitações, mas desde 2017 até agora, o presidente João Lourenço tem problemas com mais de 50 contratos no valor superior de três mil milhões de dólares sem licitação”, disse Isabel dos Santos.

A empresária angolana chegou mesmo a frisar que João Lourenço decidiu que uma família devia ser condenada por tudo o que se passou no país. “O presidente João Lourenço fez uma escolha seletiva para a sua luta contra a corrupção. Eu apoio o combate à corrupção, mas o que condeno é a forma seletiva que escolheu apenas para suportar a sua campanha”, atirou.

O presidente João Lourenço fez uma escolha seletiva para a sua luta contra a corrupção. Eu apoio o combate à corrupção, mas o que condeno é a forma seletiva que escolheu apenas para suportar a sua campanha.

Isabel dos Santos

Empresária

Isabel dos Santos foi mais longe nas acusações e defende que a decisão do tribunal insere-se na agenda da campanha para a eleição do presidente do MPLA, que irá ocorrer nos próximos 12 meses.

“Isabel dos Santos vem informar que não conhece o Senhor Igor Sechin”

No desenrolar das acusações, Isabel dos Santos viu-se ainda confrontada pela suposta ligação à petrolífera russa Rosneft e com o chairman, Igor Sechin.

Em causa estariam projetos desenvolvidos em Moçambique, Iraque, Turquia e outros, bem como investimentos na Rússia. Sechin teria atribuído “missões” à angolana, enquanto o presidente Vladimir Putin a integrava em eventos com expressão mediática. A notícia avançada pelo Jornal Económico foi rapidamente desmentida pela empresária angolana.

Isabel dos Santos vem informar que não conhece o Senhor Igor Sechin, nunca trabalhou com a Rosneft nem com qualquer empresa associada à Rosneft ou suas subsidiárias em nenhum país. É igualmente falso que tenha recebido qualquer remuneração da empresa Rosneft uma vez que, como já esclareceu, nunca trabalhou com a mesma”, disse a empresária em comunicado.

“Este é um julgamento político”, diz à Reuters

Recentemente, à agência noticiosa britânica Reuters, a empresária angolana assegurou que o arresto de bens impediu a operação de divisão da participação acionista conjunta com a Sonangol na Galp. Isabel dos Santos acredita que Angola poderá não ter escolha e ver-se obrigada a privatizar a Sonangol devido ao mau desempenho da empresa.

A petrolífera estatal angolana Sonangol detém 60% da Esperaza, enquanto Isabel dos Santos é dona dos restantes 40%. Por sua vez, a Esperaza tem 45% da holding Amorim Energia (e a família Amorim tem os outros 55%). Finalmente, a Amorim Energia controla 33,34% do capital da Galp. Assim, é através desta holding que tanto a Sonangol como Isabel dos Santos são acionistas da Galp.

Mas quando o negócio foi feito, Isabel dos Santos era presidente da Sonangol e após o pai, José Eduardo dos Santos, ter deixado a presidência do país, foi afastada e entrou em conflito com a nova liderança da empresa e do país.

O tema da corrupção foi outro dos assuntos abordados na entrevista dada à Reuters e em que Isabel dos Santos negou qualquer tipo de acusações. “Este é um julgamento político, de um Estado perseguidor e magistrados servis e partidários. Então existe uma mulher que foi escolhida para dar o exemplo como bode expiatório”, disse a empresária.

A entrevista à RTP 3 e a presidência de Angola

O culminar da mudança da exposição mediática de Isabel dos Santos deu-se com a possibilidade de candidatar-se às próximas presidenciais de Angola, em entrevista à RTP 3.

A empresária angolana admitiu no programa “Grande Entrevista”, do canal público, que não está fora de questão concorrer às presidências de Angola, em 2022. “Farei tudo o que terei de fazer para defender e prestar os serviços ao meu país”, disse Isabel dos Santos, acrescentando um “é possível”, quando confrontada com a questão se admitia concorrer à presidência de Angola.

“Não podemos utilizar a corrupção, a luta contra a corrupção ou a suposta luta contra a corrupção, de forma seletiva para podermos neutralizar o que achamos que podem ser futuros candidatos políticos”, disse ainda a filha do ex-presidente angolano, acrescentando que “o que se está a fazer hoje em Angola são processos políticos, processos seletivos e que têm a ver com a luta de poder dentro do próprio MPLA“, declarou na entrevista à RTP3.

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