Estes setores vão demorar a voltar a ser os mesmos depois do coronavírus

A pandemia do novo coronavírus está a afetar vários setores, nomeadamente no turismo, com as restrições impostas às viagens. O impacto pode ser duradouro.

Voos suspensos, quarentenas, encerramentos. Os tempos são de mudança e também de medidas mais drásticas, e alguns setores estão a ser bastante afetados pela pandemia do novo coronavírus. Mesmo quando o surto acalmar, há algumas áreas que vão ter mais dificuldade em regressar à normalidade, ainda que estejam a ser definidos planos para ajudar as empresas.

Depois de ser inicialmente reportada na China, a Covid-19 começou a espalhar-se por vários países do globo. A situação colocou em espera as viagens que muitos tinham marcado, à medida que o número de casos foi aumentando. Na maior parte dos países o apelo é para que se fique em casa. O turismo acaba assim por ser uma das áreas mais afetadas por esta pandemia, apesar de não ser o único.

  • Aviação

A aviação é um dos setores que mais cedo começou a sentir o impacto do surto, ao ver uma diminuição no número de passageiros evoluir para o cancelamento ou suspensão de vários voos ou ligações. Para a transportadora portuguesa TAP, a pandemia levou a uma crise “sem paralelo”, disse o presidente executivo, Antonoaldo Neves.

Para o CEO, as consequências negativas na saúde financeira da indústria vão-se repercutir por muito tempo. São já várias as companhias aéreas que emitiram avisos de uma quebra nos lucros deste ano, e que tiveram de tomar medidas e implementar planos de contingência. Uma consultora da indústria, Capa, citada pelo Financial Times, alerta que, em maio, muitas companhias aéreas poderão mesmo falir.

A crise já teve até a primeira baixa: a companhia aérea regional britânica Flybe anunciou no início do mês que cessou todas as atividades com efeito imediato e entrou em liquidação judicial, na sequência do surto do novo coronavírus.

  • Cruzeiros

Ainda dentro do setor das viagens, outro setor afetado por este surto foi a indústria dos cruzeiros, que se provaram propícios para a propagação do vírus. A empresa Princess Cruise viu dois cruzeiros afetados, sendo que um deles registou mais de 700 casos de Covid-19 e várias mortes.

Este surto levou ao cancelamento de viagens nos próximos meses, sendo que não é ainda certo quando se verá o regresso dos clientes aos cruzeiros, que ficaram agora associados à pandemia. Um analista da Morningstar, Jaime M. Katz, apontou que só é provável que as coisas comecem a voltar ao normal em 2021, em declarações ao USA Today.

  • Eventos

Desde a tecnologia à moda, passando pelo desporto, o rol de eventos que foram cancelados já é muito longo. Alguns são festividades associadas a datas específicas ou períodos temporais, como por exemplo o Ano Novo chinês ou o St. Patricks Day, na Irlanda, perdendo-se assim a oportunidade de repetir o evento.

Por cá, a Associação Portuguesa de Empresas de Congressos, Animação Turística e Eventos aponta que aproximadamente 90% dos eventos previstos pelos seus associados foram cancelados, envolvendo cerca de 30.000 trabalhadores diretos. Os prejuízos estimados para o setor, pela associação, chegam aos 250 milhões de euros.

  • Alojamento turístico

Com menos viagens, acabam também por ser canceladas as reservas nos hotéis e alojamentos turísticos, o que já aconteceu em fevereiro e março. Mas o maior impacto neste setor, em Portugal, será mesmo no período da Páscoa, que o surto irá apanhar, tendo em conta que a ministra da Saúde já apontou que a curva epidemiológica deve aumentar pelo menos até ao fim de abril, com o pico previsto para 14 de abril.

A Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal apontou, na passada terça-feira, que as empresas do canal Hotel/Restaurante /Café “vivem hoje uma das piores crises de sempre devido à propagação do Covid-19”.

Um inquérito feito pela Associação da Hotelaria de Portugal aos seus mais de 400 associados, que representam 56% de todo o setor nacional, conclui que a quebra de receitas deverá mesmo chegar aos 50% entre março e junho, até um máximo de 800 milhões de euros. No final do ano, a perda total para a hotelaria deverá ser de 20%.

O alojamento turístico e as atividades conexas (e.g. transportes, restauração) estão a sofrer um impacto negativo tremendo, em particular no período de isolamento social em curso, com restrições à circulação de pessoas e à abertura de espaços comerciais”, nota um estudo, da EY-Parthenon, sobre os efeitos económicos da atual pandemia.

  • Restauração

A restauração também é penalizada já que estão limitados a servir refeições em regime de take-away desde que foi decretado o estado de emergência. Mas a quebra na atividade já se vinha a sentir desde as primeira notícias do surto com a maioria das pessoas a evitar saídas à rua, bem como pela falta de turistas. Muitos optaram por fechar temporariamente. O setor tem vindo a apelar ao Governo medidas de apoio para contrariar o impacto no setor.

“Se não forem tomadas medidas drásticas e de rápida implementação, metade dos estabelecimentos hoteleiros/restauração de Portugal fechará as suas portas. As empresas necessitam de estar minimamente saudáveis aquando da implementação dessas medidas e não já na fase de prejuízo, senão a recuperação após Covid-19 será de extrema dificuldade”, escreveu o chef Rui Paula, no Facebook.

  • Produção industrial

Com o encerramento de várias lojas, ou quebra na procura, as encomendas às fábricas têm diminuído. São já várias as que pararam de funcionar pelo globo. Por cá, a PSA em Mangualde e da Volkswagen Autoeuropa em Palmela e a fábrica automóvel da Renault Cacia em Aveiro suspenderam a produção em consequência do coronavírus.

Na China, a produção industrial teve uma quebra de 13,5% nos dois primeiros meses do ano, quando já se sentia o efeito do surto, que originou na província de Hubei. As paragens nas fábricas que produzem certas peças utilizadas na produção de outros bens causam disrupção nas cadeias de fornecimento.

Como a empresa de consultoria EY sinaliza, no estudo, “as atividades fortemente exportadoras e inseridas em cadeias de valor globais (e.g. automóvel, moda, eletrónica, refinação de petróleo) também estão a ser fortemente penalizadas pela interrupção dos abastecimentos, pelo encerramento de fábricas e pela contração da procura”.

  • Cultura e animação turística

Com a queda no turismo durante esta altura do ano, os locais de lazer e recriação são também afetados. Tanto pela falta de visitas dos locais, mas também dos turistas. É o caso dos museus e teatros, espaços onde se realizam concertos e cinemas, que têm todos vindo a fechar portas durante a pandemia.

Por cá, a maioria destes locais já está fechada há alguns dias. Os cinemas Nos e Cinema City já anunciaram também o fecho das salas pelo país. Na Madeira, o Governo regional suspendeu as atividades turísticas, como excursões e visitas guiadas.

  • Energia, água e resíduos

Com a paragem de muitas empresas, uma área que terá também impacto é a dos serviços como energia, água e resíduos. Nas simulações de dois cenários, de uma quebra generalizada e uniforme da procura final dirigida às atividades económicas desenvolvidas em Portugal ou apenas nas atividades turísticas, realizadas pela EY-Parthenon, o setor é sempre penalizado.

“As relações intersetoriais da economia portuguesa provocam igualmente, por via dos efeitos indiretos e induzidos, uma quebra relevante em outras atividades económicas nacionais, designadamente nas atividades associadas a energia, água e resíduos”, aponta a consultora.

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