Das Caraíbas ao Báltico, há países a facilitar o pedido de vistos para trabalhadores que possam trabalhar remotamente num lugar longe da Covid-19. Será preciso viajar para uma ilha paradisíaca?
Vários países que conseguiram controlar o número de casos positivos estão a facilitar o pedido de vistos para atrair visitantes, entre eles nómadas digitais, empreendedores, famílias e trabalhadores remotos. Na maior parte dos casos, basta fazer uma inscrição online e ter um teste da Covid-19 negativo antes de partir.
É o caso de Anguilla, uma ilha nas Caraíbas que só registou três casos positivos de coronavírus (recuperados) em abril, e está a convidar estrangeiros, trabalhadores remotos e até famílias a viver na ilha. Quem voar para Anguilla tem de ficar pelo menos três meses e, até um ano.
Gonçalo Hall, fundador do movimento Remote Work e nómada digital, conta à Pessoas que aterrou esta semana em Las Palmas, nas ilhas Canárias, onde vai ficar a trabalhar durante os próximos dois meses com outros nómadas digitais, em espaços de cowork e coliving. O clima quente, a proximidade a Portugal e o fuso horário tiveram um “grande peso” na decisão, explica.
Trabalhar a partir do paraíso
Em julho, o governo de Barbados, uma ilha das Caraíbas, lançou o Barbados Welcome Stamp: um visto de 12 meses para trabalhadores remotos e famílias que queiram desfrutar do ambiente paradisíaco e fugir dos grandes centros urbanos. O pedido de visto custa cerca de 221 euros (263 dólares). Mas não foi o único.
O mesmo decidiu o Governo das Bermudas: através do Work from Bermuda Certificate, assegura aos visitantes um ambiente seguro e livre de Covid-19, “ideal para estudantes, empreendedores, nómadas digitais e até famílias” que queiram trabalhar a partir da ilha. “Se está a trabalhar remotamente a partir de casa, aproveite a oportunidade de trabalhar remotamente a partir de Bermuda durante o próximo ano. Bermuda é segura, Bermuda é agradável, Bermuda é perto e Bermuda é linda”, lê-se na mensagem do primeiro-ministro das Bermudas, David Burt, publicada no site oficial do governo.
Há até países onde os vistos passaram a ser gratuitos. É o caso da Jamaica que, desde 15 de junho, permite a cidadãos norte-americanos terem um visto de 30 dias à chegada ao país, que pode ser renovado até seis meses. Para obter o visto, basta fazer o pedido no site oficial.
Vistos para nómadas digitais na Europa? Só na Estónia e Croácia
Esta semana, a Croácia apresentou um visto para nómadas digitais, tornando-se assim o segundo país europeu, a seguir à Estónia, a criar este tipo de solução.
Na Europa, a Estónia lançou a 1 de agosto o Digital Nomad Visa, um visto para nómadas digitais que permite que residam no país até um ano. O país tem sido exemplo de programas de incentivo para nómadas digitais, com e-Residency, uma identidade digital que permite a qualquer cidadão do mundo tornar-se um cidadão da Estónia, sem ter de residir no país. Este programa foi criado a pensar em freelancers e empreendedores e permite que queiram criar o seu próprio negócio, a partir de qualquer parte do mundo.
Um programa semelhante estava previsto no último Orçamento do Estado nacional e continua, neste momento, a ser desenvolvido.
Contudo, para obter os vistos para nómadas digitais é condição, em alguns países, garantir um salário fixo. Para conseguir o visto na Estónia, por exemplo, é necessário declarar que ganha mais de 3.500 euros, um valor que Gonçalo Hall considera demasiado elevado para a realidade dos nómadas digitais.
“Um nómada digital não ganha isso. Aqueles vistos não foram feitos para nómadas digitais, foram feitos para trabalhadores remotos, que provavelmente trabalham em Silicon Valley. Ainda não há nada muito bom que se adapte aos nómadas digitais, apesar do nome. Estes salary requirements, para mim como empreendedor, são logo uma red light“, destaca Gonçalo Hall.
EUA são o país com mais restrições
As restrições a que a pandemia do novo coronavírus obrigou levaram a uma quebra acentuada na possibilidade de pedidos de vistos e, de acordo com a Quartz (acesso livre, conteúdo em inglês), os norte-americanos foram os que sofreram maiores restrições, devido ao elevado número de casos positivos nos EUA. O acesso livre de vistos caiu, de 171 países para 86, refere a mesma fonte.
Na Georgia, o Governo também criou o programa “Remotely from Georgia”, que inclui um visto grátis de até um ano, para freelancers, trabalhadores a full-time ou empresários, que queiram trabalhar remotamente a partir o país. O país aceita pedidos de visto de 95 países, incluindo Portugal, mas os cidadãos norte-americanos estão proibidos de entrar no país.
Para atrair jovens e ajudar a fixar a população, alguns estados norte-americanos estão a criar programas para trabalhadores remotos e há até quem escolha pagar a quem for para lá viver, refere a CNBC (acesso gratuito, conteúdo em inglês). No Estado de Vermont, o programa Remote Worker Grant Program, criado em 2019, assegura o pagamento das despesas de realojamento aos trabalhadores que se mudem para a cidade, até 10.000 dólares (cerca de 8.450 euros).
A cidade de Tulsa, no estado de Oklahoma, criou o programa Tulsa Remote, em novembro de 2018, e paga 10.000 dólares (cerca de 8.450 euros) aos nómadas digitais que decidam instalar-se na cidade e viver, no mínimo, durante um ano, conta a Bloomberg.
No início de agosto, o governo da Georgia afirmou já ter recebido 2.700 candidaturas de cidadãos para trabalhar remotamente a partir do país. Para fazer o pedido, deve registar-se no site oficial. Tal como acontece na Estónia, um dos critérios de elegibilidade é ter uma remuneração mínima de cerca de 1.680 euros e, ainda, um seguro de saúde e possibilidade de pagar um hotel para cumprir de 12 dias de quarentena obrigatória à chegada.
Mais perto de Portugal, em Cabo Verde, um dos objetivos do programa Cabo Verde Digital é atrair empreendedores e nómadas digitais.
Será preciso viajar até uma ilha deserta?
Entre dois a três meses, é o tempo médio que um nómada digital fica num local. Durante esse tempo, os trabalhadores nómadas digitais consomem produtos locais e contribuem para a economia da região. Até à data, Portugal não tem um visto para nómadas digitais, sendo que o que mais se assemelha é o Visto D2 Portugal, criado para imigrantes empreendedores.
“Em vez de estarmos a oferecer vistos, começarmos a criar condições e a trabalhar o marketing para atrair nómadas, vai ser uma grande forma de diversificação para o turismo”, sublinha Gonçalo Hall, que prevê que tal como Bali, na Indonésia, a Madeira se transforme num hub para o nomadismo digital.
Para alguns cidadãos europeus, Portugal também poderá ser considerado um destino de preferência. O arejamento dos espaços, luz natural, facilidade de acessos e o facto de ser uma cidade rural, são algumas das razões que atrem os trabalhadores remotos para Viana do Castelo, conta à Pessoas Ivone Cruz, community manager LINK Cowork & Business.
Apesar da pandemia, os meses de julho e agosto foram os melhores desde a sua fundação do LINK Cowork & Business, um espaço de cowork em Viana do Castelo, em 2016, revela a responsável. Nos últimos meses, o espaço de cowork tem recebido cidadãos norte-americanos, brasileiros, espanhóis e, pela primeira vez, alemães.
“Prende-se muito com a ideia de que cidades pequenas, são cidades mais tranquilas, com menos gente, com menor risco de contágio e onde há mais qualidade de vida. Toda esta opressão que as pessoas que foram sentido durante o primeiro isolamento, acho que as fez ponderar este tipo de sítios“, acrescenta a responsável.
Ivone Cruz alerta para uma nova tendência: o regresso de portugueses qualificados e que até agora moravam noutras cidades como Londres, Amesterdão, Zurique, e que estão a regressar a Portugal pela possibilidade de continuarem a trabalhar remotamente num país com mais qualidade de vida.
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Remoto a partir do paraíso? Há países “Covid-free” a oferecer vistos para trabalhar
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