União Europeia arrisca ver duplicar quota de elétricos chineses para 40% até 2035

  • Lusa
  • 30 Outubro 2024

A Agência Internacional da Energia (AIE) considera que a solução para a União Europeia (UE) competir com os elétricos chineses passa pela criação de cadeias de abastecimento.

A União Europeia pode reduzir para metade a quota de mercado dos elétricos chineses até 2035 se criar uma cadeia de abastecimento e produção integrada, que reduza custos de fabrico, apontou a Agência Internacional da Energia (AIE).

Ao ritmo atual, os veículos chineses atingirão 40% da quota de mercado dos veículos elétricos na UE até 2035, o dobro dos atuais 20%, mesmo com as recentes taxas alfandegárias aprovadas por Bruxelas, afirmou a AIE, num relatório sobre indústrias estratégicas para a transição energética, difundido na terça-feira.

O documento indicou que, para a indústria automóvel europeia competir no mercado dos elétricos, é essencial reduzir os preços de fabrico e conseguir a plena integração das cadeias de abastecimento, incluindo as baterias, que representam cerca de 40% do custo total.

A AIE considerou que a produção europeia de tecnologias para a transição energética dependerá do sucesso da implementação do Regulamento Indústria de Impacto Zero, que considera ter objetivos “facilmente alcançáveis” nas tecnologias eólica e de bombas de calor, mas com desafios “muito maiores” no setor automóvel. O documento sublinhou que, a nível mundial, o desenvolvimento uniforme das indústrias de tecnologias limpas e o seu comércio serão fundamentais para conter as alterações climáticas.

A AIE recordou que o mercado mundial das seis principais tecnologias de energia limpa (fotovoltaica, eólica, veículos elétricos, baterias, eletrolisadores e bombas de calor) quadruplicou entre 2015 e 2023, ultrapassando 700 mil milhões de dólares (647,2 mil milhões de euros). O crescimento vai continuar a um ritmo acelerado, com o valor a quase triplicar até 2035, para mais de dois biliões de dólares (1,8 biliões de euros), um valor equivalente ao do mercado mundial de petróleo bruto nos últimos anos, sublinhou a AIE.

O relatório recordou que existe “uma enorme onda de investimento na produção de tecnologias limpas” em todo o mundo, estimando que o investimento na produção deste setor tenha atingido 235 mil milhões de dólares (217 mil milhões de euros) até ao final de 2023, um acréscimo de 50%.

União Europeia tem de construir cadeias de abastecimento para melhor competir com a China no mercado dos carros elétricos, alerta a AIELusa

China é o maior produtor de tecnologias limpas

A China é atualmente o principal centro mundial de produção de tecnologias limpas, mas a AIE salientou que tal não se deve apenas aos baixos custos de produção, mas também a outros fatores como o enorme mercado interno, economias de escala e empresas e instalações altamente integradas na cadeia de abastecimento.

Ao ritmo atual, a China exportará mais de 340 mil milhões de dólares (315 mil milhões de euros) em tecnologias limpas até 2035, o equivalente à soma das exportações de petróleo da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos em 2024.

Nos Estados Unidos, o relatório salientou que as leis para reduzir a inflação e para promover a construção de infraestruturas estão a dar frutos, com 230 mil milhões de dólares (212 mil milhões de euros) já mobilizados até 2030, o que significa que a procura norte-americana por painéis fotovoltaicos será coberta quase totalmente pela produção interna até 2035.

Relativamente à América Latina, AIE salientou o importante papel que o México pode desempenhar como centro de produção para o mercado norte-americano, tal como acontece atualmente com os veículos de combustão interna.

O relatório salientou igualmente o potencial do Brasil, que já possui uma importante indústria de pás eólicas (produz atualmente 5% do total mundial) e que, graças à sua abundância de energias renováveis – tal como os seus vizinhos – poderia exportar para os países desenvolvidos produtos produzidos com quase nenhumas emissões de gases com efeito de estufa, como o aço ou o amoníaco, destinados a mercados onde o seu fabrico é mais dispendioso, como o Japão ou a Europa.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

A Norrsken House Barcelona celebra o seu primeiro ano como catalisador do ecossistema de impacto da Europa

  • Servimedia
  • 30 Outubro 2024

Desde a sua inauguração, o maior hub de impacto e tecnologia do continente já conta com mais de 140 startups, 280 empresas e uma série de empresas de capital de risco e aceleradoras.

A fundação sueca sem fins lucrativos Norrsken está a celebrar o seu primeiro ano em Barcelona com o objetivo de continuar a avançar com a sua missão de “ligar os empresários aos recursos, conhecimentos e redes de que necessitam, e impulsionar negócios que contribuam para tornar este mundo um lugar melhor”.

Com uma comunidade de 1200 membros, a Norrsken House Barcelona afirmou-se como o hub tecnológico e de impacto da Europa e emergiu como um ecossistema que já está a impulsionar o crescimento de mais de 140 startups e 280 empresas, que coabitam com cerca de vinte empresas de capital de risco e aceleradores.

Para além de acolher mais de 15.000 visitantes ─ alguns deles da estatura do fundador do Skype e da Atomico, Niklas Zenström, ou de Ana Patrícia Botín ─ e 244 eventos, a Norrsken House Barcelona surgiu neste primeiro ano de atividade como um catalisador de iniciativas de impacto, que conseguiram angariar mais de 30 milhões de euros.

É o caso da Mitiga Solutions, a primeira plataforma científica global para o risco climático, que conta já com cinquenta empregados e angariou 8 milhões de euros desde que se juntou ao hub; da Cooltra, líder em mobilidade sustentável na Europa, com mais de 60 empregados e que angariou 22 milhões de euros na sua última ronda de financiamento; ou de empresas emergentes no domínio das energias limpas e da conservação dos oceanos, como a Ocean Ecostructures e a Delfos Energy, que angariaram 2 milhões de euros e 4,5 milhões de euros, respetivamente, nas suas duas últimas rondas.

Neste contexto, empresas de capital de risco como a M-Ventures, com 600 milhões de euros na sua carteira; Kompas VC, (160 milhões de euros); LUMO (100 milhões de euros); Spintop Ventures (30 milhões de euros) ou o family-office da Evergreen, Blink VC, desempenham um papel crucial no ecossistema Norrsken na capital catalã. Através de aceleradores como o S2Xpeed, o Zubi Labs e o Bitesize Ventures, estes fundos de impacto fornecem as ferramentas e os recursos necessários de que as empresas em fase de arranque precisam para inovar e crescer.

“Trata-se de ter um impacto positivo, social ou ambiental, para que possamos crescer dentro dos limites das fronteiras planetárias e não para além delas. O nosso objetivo é promover soluções em áreas como as tecnologias climáticas, os cuidados de saúde, a biotecnologia e outros setores emergentes. Para tal, criamos ecossistemas para empresas em fase de arranque, como este em Barcelona, ou os que temos em Estocolmo e Kigali, onde as empresas em fase de arranque, os investidores e os facilitadores colaboram entre si”, explica Marc Jordana, Diretor Executivo da Norrsken House Barcelona.

A fundação sueca enfrenta agora novos desafios em Barcelona, como continuar a construir pontes, tanto com as principais entidades locais (ACCIÓ, Barcelona Ativa…) como com o resto dos ecossistemas das principais cidades europeias; atrair novos investidores internacionais para a capital catalã; desbloquear novas oportunidades para novos fundadores; e inspirar novas gerações a iniciar projetos de impacto. “Queremos ver o talento escolher este novo tipo de negócio, onde existe um elevado potencial de crescimento e um objetivo significativo”, acrescenta Jordana.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

O dia em direto nos mercados e na economia – 30 de outubro

  • ECO
  • 30 Outubro 2024

Ao longo desta quarta-feira, 30 de outubro, o ECO traz-lhe as principais notícias com impacto nos mercados e nas economias. Acompanhe aqui em direto.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Arábia Saudita, presente pela primeira vez na Lista Verde da UICN

  • Servimedia
  • 30 Outubro 2024

É a primeira reserva na Arábia Saudita a cumprir todos os critérios e indicadores necessários para aderir à lista, que inclui cerca de 80 reservas de entre mais de 300 000 áreas protegidas no mundo.

A Reserva do Ibex, gerida pelo NCW (Centro Nacional Saudita para a Vida Selvagem), torna-se a primeira reserva na Arábia Saudita a cumprir todos os critérios e indicadores necessários para integrar a exclusiva Lista Verde de Áreas Protegidas e Conservadas da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza).

O facto de fazer parte desta lista, que inclui cerca de 80 reservas entre mais de 300 000 áreas protegidas em todo o mundo, é um reconhecimento internacional que apoia o extraordinário trabalho da Reserva Ibex. Esta conquista reflete os esforços empregues na sua gestão, alinhados com os rigorosos critérios da Lista Verde, que se destacam pela sua governação eficaz, transparência e responsabilidade. Também na gestão baseada nos melhores conhecimentos científicos e locais disponíveis, na consideração do contexto social e económico e no planeamento proativo.

“O estatuto de Lista Verde da Reserva do Ibex não só reforça a sua posição internacional, como também impulsiona as nossas iniciativas mais alargadas de conservação e desenvolvimento sustentável. Estamos a colaborar ativamente com os nossos parceiros na área da vida selvagem para que todas as nossas reservas nacionais alcancem este padrão internacional”, afirmou o Dr. Mohammed Qurban, Diretor Executivo do Centro Nacional de Vida Selvagem.

O Centro Nacional de Vida Selvagem gere atualmente 11 áreas protegidas na Arábia Saudita.
Desde 2017, impulsionou a expansão das áreas marinhas protegidas do país de 3,6% para 6,5%, e aumentou as áreas terrestres protegidas de 4,5% para 18,1%. Estes esforços aproximam a Arábia Saudita do cumprimento do objetivo 30×30, estabelecido no Quadro Global de Biodiversidade de Kunming-Montreal da ONU, que visa proteger 30 % das áreas terrestres e marinhas até 2030.

A Reserva Ibex, situada na cordilheira de Tuwaiq, no centro da Arábia Saudita, foi criada em 1988 a pedido das comunidades locais para proteger um rebanho de cabras montesas, uma espécie em vias de extinção, que já registou uma recuperação notável. A Reserva trabalha em estreita colaboração com as comunidades locais para incentivar o desenvolvimento sustentável, promover o ecoturismo, apoiar a investigação científica e preservar o património natural.

Para além das cabras montesas, a Reserva do Ibex alberga outras espécies vulneráveis, como os hyraxes das rochas, as raposas, várias aves e répteis. A rica vegetação da área inclui acácias, arbustos, ervas e gramíneas, proporcionando um ambiente vital para a biodiversidade da região.

DESAFIOS

A Lista Verde da UICN é uma iniciativa global que promove a conservação efectiva da natureza através da sua Norma de Sustentabilidade.

Esta norma constitui uma referência global sobre a forma de enfrentar os desafios ambientais do século XXI. A Lista Verde fornece orientações especializadas adaptadas às realidades locais, garantindo resultados justos e eficazes na gestão de áreas protegidas e conservadas. Ao fazê-lo, procura garantir que a vida selvagem e os ecossistemas não só sobrevivam, como também prosperem e continuem a proporcionar valor às comunidades de todo o mundo.

Uma área protegida ou conservada que cumpra a norma da Lista Verde da UICN recebe uma certificação que a reconhece por alcançar resultados contínuos e sustentáveis tanto para as pessoas como para a natureza, de uma forma justa e eficaz. Esta certificação destaca o seu empenhamento na conservação a longo prazo e a sua contribuição para o bem-estar das comunidades locais e dos ecossistemas.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Despesa fiscal em sede de IRS em 2025 pode estar subestimada

OE2025 prevê que despesa fiscal em sede de IRS cresce 1,3% em 2025, "substancialmente" abaixo do projetado para o impacto esperado com o alargamento do IRS Jovem, considera o CFP.

O valor da despesa fiscal em sede de IRS prevista para o próximo ano pelo Governo é “substancialmente” inferior ao projetado para o impacto previsto do alargamento do IRS Jovem. A conclusão é do Conselho das Finanças Públicas (CFP) na análise à proposta do Orçamento do Estado para 2025 (OE2025), divulgada na terça-feira.

“A totalidade da despesa fiscal em sede de IRS deverá crescer apenas 33 milhões de euros (1,3%), encontrando-se este valor substancialmente abaixo do projetado para o impacto esperado com o alargamento do IRS Jovem (525 milhões de euros) no próprio ano de 2025″, pode ler-se no relatório.

No OE2025, o Governo prevê que a despesa fiscal do Estado, isto é o montante de receita que abdica decorrente da concessão de desagravamentos fiscais, seja de natureza estrutural seja verdadeiros benefícios fiscais, em sede de IRS se cifre em 2.470 milhões de euros no próximo ano, o que compara com os 2.437 milhões de euros esperados em 2024.

Ora, o CFP considera que “a quase estagnação da despesa fiscal em sede de IRS pressuporia que a despesa resultante da existência de outros benefícios fiscais em sede deste imposto registasse um decréscimo de magnitude idêntica à esperada para o impacto do IRS Jovem“, algo que não se encontra referido no relatório da proposta do OE2025.

O novo IRS Jovem, que entrará em vigor no próximo ano, irá abranger os jovens até aos 35, independentemente das habilitações académicas, que se iniciem no mercado de trabalho, mas também que já tenham vida profissional ativa desde que não tenham ultrapassado dez anos de atividade. No entanto, a isenção fica limitada a 55 Indexante de Apoios Sociais (IAS).

A medida aplica-se aos rendimentos até ao 6º escalão e com a seguinte modelação:

  • Ano 1, Isenção de 100%;
  • Anos 2 a 5, Isenção de 75%;
  • Anos 6 a 9, Isenção de 50%;
  • Anos 10 a 13, Isenção de 25%.

No OE2025, o Ministério das Finanças prevê que o total despesa fiscal do Estado ascende em 2025 a 16.680,7 milhões de euros. Este montante representa um aumento de 3,2% face à despesa fiscal estimada para 2024. No relatório do OE2025, o Governo atribui este aumento à subida da despesa fiscal em todos os impostos, em especial no Imposto sobre Valor Acrescentado (IVA), cuja despesa fiscal estima que aumente 3,8%, o correspondente a uma subida de 370 milhões de euros.

O CFP destaca, assim, que “o crescimento da despesa fiscal do Estado em 2025 dever-se-á, em quase três quartos, ao aumento da despesa em sede de IVA“.

“Esta despesa fiscal deriva, essencialmente, da aplicação das taxas preferenciais deste imposto (reduzida e intermédia), encontrando-se o seu crescimento percentual em 2025 em linha com o projetado para a evolução do consumo privado nominal (4%), o que indica uma relativa estabilidade nos padrões de consumo dos bens e serviços sujeitos às taxas de IVA no próximo ano”, aponta.

Recorda ainda que, relativamente ao IRC, o Ministério das Finanças estima que a despesa fiscal em sede deste imposto cresça 1,3%, para 1.841 milhões de euros, devido, maioritariamente, ao Sistema de Incentivos Fiscais em Investigação e Desenvolvimento Empresarial (SIFIDE) e ao Regime Fiscal de Incentivo à Capitalização das Empresas.

No que toca à despesa fiscal dos restantes impostos, indica que o contributo para o crescimento previsto de 4,3% dever-se-á, maioritariamente “ao aumento da despesa fiscal em sede de Imposto do Selo“, que “continua a refletir o aumento da despesa fiscal com transmissões gratuitas entre cônjuges, unidos de facto, descendentes e ascendentes” e “ao crescimento da receita fiscal em sede de ISV”, resultante das “taxas preferenciais aplicadas a certos veículos ligeiros de mercadorias e aos automóveis ligeiros de passageiros com motores híbridos plug-in”.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Porto de Lisboa prepara “ofensiva” elétrica e alarga estacionamento para barcos de recreio

Porto de Lisboa investe em auto-produção de energia e cria canais de alta tensão na cidade para abastecer navios. Para breve, uma marina para 200 barcos e instalações da Nova IMS chegarão a Algés.

O Porto de Lisboa (PL) está a desenvolver projetos de mais de 35 milhões de euros na frente de rio da capital, preparando-se para entrar também na produção de eletricidade e venda do excedente. Quando passam dez anos da criação do terminal de cruzeiros e 137 anos de vida do Porto de Lisboa, o presidente do conselho de administração da empresa portuária, Carlos Correia, enumerou ao ECO/Local Online as novidades da empresa até 2030.

Entre os investimentos, haverá um novo canal de 4 km para levar eletricidade em alta tensão até Santa Apolónia. Para tal, será usado o novo túnel do plano de drenagem de Lisboa que a câmara está a construir, e onde se instalará parte dos 4 km de linha de alta tensão entre o Alto de São João e a zona do terminal de cruzeiros. Esta linha é necessária para levar energia ao sistema de abastecimento elétrico Onshore Power Supply (OPS), com o qual os navios atracados em Lisboa deixarão de ter o motor de combustão ligado, sendo alimentados por eletricidade. Reduzem-se assim as vibrações, ruído e poluição ambiental dos motores.

Se não fosse o “atalho” pelo túnel do plano de drenagem, haveria necessidade de percorrer mais 900 metros, aponta Carlos Correia. Ainda que o grosso da potência de alta tensão captada a 4 km do porto se destine a manter os navios de cruzeiro alimentados por energia elétrica quando estão atracados, o projeto abrange também a infraestrutura de carga. “Queremos eletrificar também os outros terminais e é necessário ir buscar essa energia elétrica em alta tensão”, explica.

A potência da instalação estará apta a carregar baterias dos navios quando estes, um dia, tenham autonomia elétrica para entrar e sair do Tejo, assegura o presidente do PL.

Nesta conversa à margem do evento de apresentação do estudo da Nova SBE sobre o impacto económico da atividade de cruzeiros na capital, o presidente do conselho de administração do PL explicou que a primeira fase do projeto da OPS de Santa Apolónia decorre até 2026 e implica um investimento de 18,4 milhões de euros. O valor inclui a referida ligação de 4 km, já adjudicada à E-Redes, e uma nova subestação desenhada pelo arquiteto Carrilho da Graça, autor do terminal de cruzeiros, e que envolve também a empresa Quadrante, projeto que já está a ser desenvolvido.

“Depois, falta parte da ligação da subestação até à entrada dos terminais de carga, e construção de duas subestações”, explicita o gestor. Ao todo, existem, de Santa Apolónia até ao Poço do Bispo, junto ao Parque das Nações, cinco terminais de carga e ainda o terminal de cruzeiros. Esta última fase, com subestações, ficará concluída até 2029 e implica mais dez milhões de euros de investimento.

A jusante, em Alcântara, também será instalado um sistema similar, apenas para navios de carga, com um orçamento de três milhões de euros. Esta parte está mais atrasada por ainda não se ter definido o local onde será feita a ligação à alta tensão.

O nosso objetivo é que a energia que venha para o Porto de Lisboa seja produzida a partir de fontes de energia renovável”, afirma Carlos Correia, que desvenda ainda o investimento do PL em instalações de auto-produção de energia. Neste caso, serão concessionados espaços a privados para que estes façam a instalação e exploração.

Neste projeto, a administração do PL prevê aplicar cinco milhões de euros. “Toda a energia excedentária que possamos produzir, será ela própria área de negócio, disponibilizando essa energia a entidades próximas do Porto de Lisboa”, afirma.

“É a partir de projetos como estes e de concessões a empresas que façam investimento na instalação de painéis fotovoltaicos, ou outras soluções de produção de energia de fontes renováveis, que estamos a contar para descarbonização da atividade portuária”, explica ao ECO/Local Online.

O primeiro exemplo de produção de energia renovável no território do PL já está instalado em Algés, onde uma startup instalou uma mini-eólica urbana. Naquela mesma zona da jurisdição do PL, esta entidade está a colaborar na criação do Ocean Campus, projeto entre Oeiras e Lisboa e que, ficou-se a saber há dias pela voz do primeiro-ministro, virá a fazer parte de um plano maior para a Área Metropolitana de Lisboa, em que se inclui território também da margem esquerda do Tejo, no Arco Ribeirinho do Sul.

Da parte do PL, o projeto o Ocean Campus tem vindo a ser desenvolvido “normalmente”, diz o responsável. “Enquanto não nos for dada nova orientação, continuaremos a desenvolver o campus do mar tal como vínhamos a desenvolver, aguardando a constituição da nova sociedade”, explica.

Mantendo-se o atual figurino, o PL “já tem um conjunto de entidades comprometidas na sua instalação, designadamente as naves em concessão, uma à Fundação Champalimaud, outra à Câmara Municipal de Lisboa”. Mas há mais novidades nesta extremidade do território do PL. “Perspetiva-se a instalação da Nova IMS e de outras instalações que estão a ser negociadas, e a reativação da Doca de Pedrouços”, indica Carlos Correia.

“Temos o processo todo pronto. Estamos à espera de uma relação com a APA, que é necessária para termos o lançamento da concessão para reativação da para náutica de recreio. Vamos ter mais cerca de 200 lugares de estacionamento na Doca de Pedrouços. É uma insuficiência em Lisboa, temos maior procura que oferta”, conta o presidente do conselho de administração do PL.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Portugal é o país da UE que precisa fazer o menor ajustamento orçamental

Conselho das Finanças Públicas indica que entre os países que precisam de fazer ajustamentos orçamentais para cumprir as regras europeias, Portugal é o que precisa de fazer o menor.

Portugal terá de fazer um ajustamento orçamental de cerca de 0,3% do Produto Interno Bruto (PIB) para cumprir as novas regras de Bruxelas, sendo o país com a necessidade de ajustamento orçamental mais baixa entre os 18 Estados-membros que entregaram os planos orçamentais estruturais de médio prazo analisados pelo Conselho das Finanças Públicas (CFP).

A conclusão consta da análise divulgada na terça-feira ao Plano Orçamental Estrutural remetido pelo Governo à Comissão Europeia em 11 de outubro. No documento, o Governo compromete-se com um teto médio de crescimento da despesa líquida de 3,6% entre 2025 e 2028.

Dos 18 países que tinham apresentado os planos à data de fecho do relatório do CFP, 14 pertencem à zona euro e permitem à instituição presidida por Nazaré da Costa Cabral considerar que “a trajetória de referência apontada para Portugal se enquadra no limite superior das restantes publicadas“.

“Isto é particularmente evidente quando a proposta (3,6%) é comparada com a realizada para países com uma dívida superior a 90% do PIB, como é o caso da Espanha (2,9%), Itália (1,5%) e Grécia (3,1%)“, aponta.

Fonte: Análise do Conselho das Finanças Públicas ao Plano Orçamental Estrutural Nacional de Médio-Prazo

No entanto, explica que resulta essencialmente de uma posição orçamental de partida, incluindo em políticas invariantes, mais favorável, o que leva “à existência de um ajustamento suplementar de dimensão inferior”.

“Com efeito, para além do Chipre e da Estónia, países sem necessidade de uma melhoria do saldo primário estrutural, ou uma orientação mais restritiva da política orçamental, Portugal apresenta a necessidade de ajustamento mais baixa entre os Planos conhecidos (aproximadamente 0,3 p.p. do Produto Interno Bruto)”, realça.

Ainda assim, dá nota da necessidade de uma manutenção de um “saldo primário estrutural excedentário significativo, equivalente a 2,5% do PIB em 2028”.

O CFP assinala ainda que, “no caso de Portugal, o crescimento potencial médio estimado pela Comissão para 2025-2028 é de 1,6%, idêntico ao de Espanha e próximo do da Grécia (1,3%) e da Eslováquia (1,7%)”. Já Itália, Estónia e Finlândia apresentam crescimentos inferiores a 1%, enquanto o Chipre e Eslovénia de 2,5% e Malta de 4,7%.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Universidade Alfonso X el Sabio e a Fundação Jiménez Díaz assinam um acordo que permite a realização de estágios clínicos para os seus estudantes de medicina

  • Servimedia
  • 30 Outubro 2024

Concretamente, este acordo permite que os alunos da Licenciatura em Medicina da UAX realizem os seus estágios clínicos curriculares e extracurriculares no Hospital Universitário da Fundación Jiménez.

A Universidad Alfonso X el Sabio (UAX) e a Fundación Jiménez Díaz assinaram um acordo de colaboração que reúne ambas as corporações para o desenvolvimento de um projeto de formação que procura a excelência das novas gerações de profissionais médicos.

De acordo com a UAX, este acordo reforça o seu compromisso “com uma formação pioneira e abrangente no domínio da Medicina, preparando os médicos do futuro com competências-chave em áreas como a Saúde Digital, sendo pioneira na incorporação desta formação na sua licenciatura”. Para além disso, os alunos da UAX recebem ainda formação em inglês médico, acesso a um plano de formação específico para o MIR e práticas pré-clínicas no maior Hospital de Simulação Virtual da Europa, onde desenvolvem competências clínicas num ambiente simulado de alta tecnologia.

Desta forma, os alunos da UAX podem adquirir experiência clínica num hospital de referência em Madrid e complementar a sua formação com a prática em ambiente real. Isto permite-lhes desenvolver competências técnicas e praticar capacidades aprendidas na utilização de ferramentas de ponta essenciais para o desenvolvimento futuro da sua carreira profissional.

Sempre sob a supervisão de profissionais do Hospital Universitário Fundación Jiménez Díaz, os alunos realizam estágios em diferentes áreas e especialidades do Hospital Universitário Fundación Jiménez Díaz, como cirurgia, ginecologia, pediatria, oftalmologia e reumatologia, entre outras.

O acordo de colaboração entre a UAX e a Fundación Jiménez Díaz foi lançado no presente ano letivo (2024/2025) com um total de 30 vagas para alunos do terceiro ano e 15 para alunos do quarto ano. Estes números serão progressivamente aumentados ano após ano até às 120 vagas previstas para o ano letivo de 2027/2028, distribuídas em 30 vagas para cada ano da Licenciatura em Medicina, do terceiro ao sexto ano.

Para Isabel Fernández, Reitora da UAX, “este acordo com a Fundación Jiménez Díaz representa um firme passo em frente no nosso compromisso de oferecer aos nossos estudantes de medicina uma formação integral, baseada na excelência académica e na aquisição de competências práticas de profissionais de primeira classe”.

Nas palavras da Dra. Marta Cremades, Diretora Médica da Fundación Jiménez Díaz, “estamos muito satisfeitos por poder colaborar com a Universidade Alfonso X el Sabio na formação das novas gerações de médicos. Este acordo, que foi lançado este ano, não só oferece aos estudantes uma oportunidade única de aprender num ambiente hospitalar de alta complexidade, como também nos permite contribuir para o desenvolvimento de futuros profissionais que garantirão a excelência dos cuidados de saúde nos próximos anos”.

Este acordo garante a excelência na formação de uma universidade consolidada como a UAX, que celebra este ano o seu 30º aniversário. Assim, os seus alunos poderão realizar os seus estágios num ambiente de saúde de primeiro nível e equipado com tecnologia de ponta, como o Hospital Universitário Fundación Jiménez Díaz.

Este acordo vem na sequência de outros acordos assinados com centros de referência como o Hospital Universitário Severo Ochoa, o Hospital Geral Universitário de Villalba, o Hospital Universitário de San Francisco de Asís, o Hospital Universitário da Cruz Vermelha ou o Hospital Universitário do Tajo, oferecendo aos seus alunos a possibilidade de efetuarem as suas rotações em mais de 38 serviços de hospitais de prestígio.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Caso EDP/CMEC. As relações próximas de Mexia e Manuel Pinho

Na acusação do DCIAP, os procuradores explicam em que se baseava a relação que consideram "próxima" entre Manuel Pinho e António Mexia.

No total, são seis arguidos e indícios de apenas seis crimes: dois de corrupção ativa para ato ilícito de titular de cargo político e quatro de corrupção passiva para ato ilícito de titular de cargo político. Apesar do despacho de acusação do chamado processo EDP/CMEC – que foi conhecido na segunda-feira – ultrapassar as mil páginas, ser composto por 16 volumes, dois de aceleração processual, ter agregado um extenso conjunto de apensos, em formato físico e digital, a investigação ter durado 12 anos, o resultado a imputação de apenas um crime a cada um dos seis arguidos.

Em resumo, segundo a acusação a que o ECO teve acesso, os magistrados do Ministério Público, Carlos Casimiro e Hugo Neto, consideram que António Mexia e João Manso Neto corromperam Manuel Pinho, ex-ministro socialista da Economia, para obter 840 milhões de euros de benefícios para a EDP. O MP pediu ainda a perda de bens dos arguidos e de duas empresas do Grupo EDP (EDP, SA e EDP Gestão de Produção de Energia, SA) no valor desses mesmos 840 milhões de euros a favor do Estado. A acusação foi esta segunda-feira conhecida, através de um comunicado da Procuradoria-Geral da República, já liderado por Amadeu Guerra, que foi tão rápido divulgado, antes mesmo da notificação aos próprios arguidos.

A relação próxima entre António Mexia e Manuel Pinho

Na acusação do DCIAP, em que a prova é composta essencialmente por excertos de reuniões e milhares de emails trocados entre os arguidos, os procuradores do DCIAP explicam em que se baseava a relação que consideram “próxima” entre Manuel Pinho e António Mexia. O ex-líder da elétrica conheceu o ex-ministro da Economia de Sócrates nos anos 80. Ambos trabalharam no BES diretamente com Ricardo Salgado, o ex-líder do banco. A ligação era próxima ao ponto de Mexia ser padrinho da filha mais nova de Pinho.

Outro dos pontos que foi sublinhado pelo MP, no alegado pacto corruptivo, o antigo ministro da Economia nomeou a então namorada de António Mexia – Guta Moura Guedes – para dirigir o programa de arte do Allgarve. Apenas tê-lo-á feito para garantir o financiamento de um doutoramento nos Estados Unidos, explicam os magistrados.

O antigo ministro da Economia, Manuel Pinho, à chegada do tribunal para prestar depoimentos sobre o julgamento do caso EDP, no Campus da Justiça, em Lisboa, 19 de dezembro de 2023. O antigo ministro da Economia (entre 2005 e 2009) Manuel Pinho, que está em prisão domiciliária desde dezembro de 2021. MIGUEL A. LOPES/LUSAMIGUEL A. LOPES/LUSA

“O arguido Manuel Pinho já há muito tinha acertado com os arguidos João Manso Neto e António Mexia que a EDP/Horizon financiaria a sua carreira académica nos Estados Unidos após sair do Governo, naturalmente por ter aceitado favorecer a EDP, em tudo o que lhe fosse possível e necessário, no desempenho das suas funções de Ministro da Economia”, escreve a acusação.
Este parágrafo levou a que Manuel Pinho tivesse reagido à acusação, garantindo que nunca precisou “da ajuda de ninguém para ensinar em universidades estrangeiras”. Neste caso, a Universidade de Columbia.

Segundo a acusação, ainda antes de Mexia ser nomeado presidente da EDP, este e o antigo ministro acordaram que, “mediante a concessão por parte do primeiro, enquanto presidente executivo da EDP, de apoio desta empresa à carreira profissional e académica de Manuel Pinho após este sair do governo, este último, enquanto ministro da Economia, aprovaria a nomeação de Mexia para o cargo” cimeiro da EDP e “favoreceria indevidamente essa empresa sempre que tal se proporcionasse e fosse possível no exercício das suas funções de ministro da Economia”.

“O que veio a ocorrer, nomeadamente na transição dos CAE (Códigos de Atividade Económica) para os CMEC (Custos para Manutenção do Equilíbrio Contratual) e na entrega das barragens de Alqueva e Pedrogão à EDP sem concurso, com um prejuízo para o Estado e consumidores de eletricidade superior a mil milhões de euros”, imputa a acusação àqueles arguidos, segundo a Lusa.

O ex-presidente da EDP – Energias de Portugal, S.A., António Mexia fala durante a conferência de imprensa para a apresentação dos resultados de 2019, na sede da EDP, em Lisboa, 20 de fevereiro 2020. ANDRÉ KOSTERS / LUSAANDRÉ KOSTERS / LUSA

Lembrando que Antonio Mexia e Manuel Pinho eram “compadres”, a acusação adianta que estes arguidos reafirmaram esse pacto logo que o primeiro iniciou funções como presidente de administração exceutivo da EDP, tendo Mexia informado de imediato o então também administrador da EDP João Manso Neto do pacto que havia firmado com Manuel Pinho, pedindo-lhe que se articulasse de “forma estreita e ilegal em benefício indevido da EDP com os membros do gabinete do (então) ministro da Economia responsáveis pelo setor da energia.

Ficou ainda estabelecido que o diretor-geral da energia e agora arguido Miguel Barreto faria chegar “rascunhos e projetos de legislação e despachos eleborados pela EDP e pelo advogado Rui Oliveira Neves da sociedade Morais Leitão” favoráveis aos interesses da EDP, competindo-lhe também votar a favor do apoio da EDP à carreira profissional e académica de Manuel Pinho.

“António Mexia e Manso Neto anuiram assim de modo a favorecerem indevidamente a EDP a conseguir aumentar os lucros dessa empresa, garantindo a sua permanência na administração e o recebimento dos inerentes salários e prémios, dependentes também dos lucros da empresa”, diz a acusação.

Por seu lado, Miguel Barreto colaborou, concertado com Mexia, Manso Neto e Manuel Pinho, para a “fixação de um montante a pagar pela EDP pela extensão da concessão do domínio público hídrico à EDP em cerca de metade do sustentado pela REN.

A acusação sustenta também que Miguel Barreto participou, concertado com o arguido Rui Cartaxo (membro do gabinete de Manuel Pinho), João Conceição (administrador da REN), Manso Neto e com o advogado da Morais Leitão na “feitura de legislação do setor da energia e de decisões” do então ministro Manuel Pinho, conformes aos interesses da EDP e dos arguidos Mexia, Manso Neto e Manuel Pinho.

A acusação entende que o arguido Rui Cartaxo tomou conhecimento por Manuel Pinho do pacto firmado entre este e Mexia e aderiu ao mesmo, comprometendo-se “a colaborar decisivamente na sua execução”, em concertação com outros arguidos.

“Miguel Barreto, Rui Cartaxo e João Conceição bem sabiam que as suas condutas eram criminalmente ilícitas”, diz a acusação, de 1.070 páginas, notando que com a conduta descrita, João Conceição e Rui Cartaxo “conseguiram como pretendiam integrar a administração da REN e receber as inerentes remunerações e prémios”.

A acusação diz que Manuel Pinho, Miguel Barreto, Rui Cartaxo e João Conceição “mercadejaram com os cargos públicos que ocuparam” e que Manuel Pinho “tinha plena consciência” que “atuava em oposição à lei e aos seus deveres funcionais” de ministro.

João Conceição, administrador executivo da REN e ex-assessor do ministro Manuel Pinho, com o seu advogado, Rui Patrício.Paula Nunes / ECO

O que diz a acusação a Mexia, Manso Neto e Pinho?

António Mexia e João Manso Neto são acusados pelo MP de terem corrompido Manuel Pinho, ex-ministro socialista da Economia, para obter 840 milhões de euros de benefícios para a EDP. O MP pediu ainda a perda de bens dos arguidos e de duas empresas do Grupo EDP (EDP, SA e EDP Gestão de Produção de Energia, SA) no valor desses mesmos 840 milhões de euros a favor do Estado.

Um valor que corresponde ao alegado benefício que terá sido concedido pelos arguidos acusados de corrupção passiva ao Grupo EDP. Segundo a acusação, a que o ECO/Advocatus teve acesso, os magistrados do MP chegaram a este valor através de pareceres técnicos que foram sendo juntos ao processo ao longo dos 12 anos em que durou a fase de investigação.

De acordo com a acusação, os factos ocorreram entre 2006 e 2014 e, em síntese, relacionam-se com a transição dos Contratos de Aquisição de Energia (CAE) para os Custos de Manutenção do Equilíbrio Contratual (CMEC), designadamente com a sobrevalorização dos valores dos CMEC, bem como com a entrega das barragens de Alqueva e Pedrógão à Eletricidade de Portugal (EDP) sem concurso público e ainda com o pagamento pela EDP da ida de um ex-ministro para a Universidade de Columbia dar aulas.

“Ainda segundo a acusação, um dos arguidos, à data ministro da Economia, apoiou a nomeação de outro arguido como presidente executivo da EDP e favoreceu indevidamente essa empresa, mediante contrapartidas. Ao acordo, que para o efeito ambos fizeram, vieram a aderir os restantes arguidos, que o concretizaram também mediante contrapartidas”, diz o mesmo comunicado.

“Ao acordo, que para o efeito ambos fizeram, vieram a aderir os restantes arguidos, que o concretizaram também mediante contrapartidas”, conclui a acusação. Quanto a alguns dos factos pelos quais era investigado Miguel Barreto, ex-diretor-geral da Energia – relacionados com o negócio da “Home Energy” –, foram arquivados, por falta de provas, acrescenta o Ministério Público.

As 27 barragens investigadas que, afinal, são só duas suspeitas

Uma das suspeitas previstas na acusação do Ministério Público no processo da EDP/CMEC é a entrega das barragens do Alqueva e de Pedrógão à EDP sem concurso público. Ou seja, do total de concessões e explorações de 27 barragens portuguesas que os magistrados do DCIAP investigaram, nos últimos doze anos, só relativamente a estas duas é que o Ministério Público (MP) considera, agora, que há indícios de crime. Deixando ‘cair’ as suspeitas às restantes 25.

Em causa as críticas ao facto do Executivo socialista (à data, liderado por José Sócrates) ter adjudicado a concessão e exploração de 27 barragens sem recurso a concurso público. A elétrica alegou que era um direito adquirido e, por isso, não eram obrigados a lançar esse mesmo concurso público.

Manuel Pinho terá autorizado, quando era ministro da Economia, uma extensão da concessão de exploração de 27 barragens por 25 anos à EDP em que esta deveria ter pago um valor mínimo de 1,6 mil milhões de euros, mas pagou apenas 759 milhões. O valor final a pagar pela EDP foi fixado num despacho assinado por Manuel Pinho e Francisco Nunes Correia, então ministro do Ambiente.

Na altura da negociação dos CMEC, a EDP fechou a extensão das concessões do domínio hídrico. Por 759 milhões, a elétrica garantiu a concessão de 27 barragens por 25 anos, numa produção de 4.000 megawatts. No texto original do relatório, assumiu-se o valor de 581 milhões de euros como uma renda excessiva tendo por base estimativas da REN.

O alargamento dos prazos de exploração de 27 barragens também motivou queixas à Comissão Europeia, em 2012. Depois de uma longa investigação, Bruxelas determinou, em 2017, que a metodologia utilizada para calcular o valor pago pela empresa foi adequado.

As testemunhas que irão a julgamento

Para além do ex-presidente do Banco Espírito Santo Internacional (BESI), José Maria Ricciardi, entre as testemunhas elencadas pelo Ministério Público (MP) na acusação do caso EDP/CMEC, estão o atual presidente da Caixa Geral de Depósitos (CGD), Paulo Macedo, o presidente do BCP, Miguel Maya, e Carlos Santos Ferreira, presidente da CGD entre 2005 e 2008, quando Manuel Pinho era ministro da Economia.

Entre as testemunhas estão ainda António Castro Guerra, que foi secretário de Estado Adjunto da Economia e Inovação no ministério de Manuel Pinho; Sérgio Figueiredo, antigo administrador da Fundação EDP; Margarida Matos Rosa, presidente da Autoridade da Concorrência entre 2016 e 2023 e vários auditores do Tribunal de Contas.

O inquérito é composto por 16 volumes e dois de aceleração processual, segundo a informação na acusação, que acrescenta que “a estes volumes acresce um extenso conjunto de apensos” em formato físico e digital.

Que crimes estão imputados aos seis arguidos?

  • António Mexia, ex-presidente executivo da EDP: um crime corrupção ativa para ato ilícito de titular de cargo político.
  • João Manso Neto, ex-presidente da EDP Renováveis e ex-administrador da EDP: um crime corrupção ativa para ato ilícito de titular de cargo político.
  • Manuel Pinho, ex-ministro da Economia do Governo socialista de José Sócrates: um crime corrupção passiva para ato ilícito de titular de cargo político.
  • João Conceição, ex-assessor do ministro Manuel Pinho no Ministério da Economia: um crime corrupção passiva para ato ilícito de titular de cargo político.
  • Miguel Barreto, ex-diretor-geral da Energia: um crime corrupção passiva para ato ilícito de titular de cargo político.
  • Rui Cartaxo, ex-assessor de Manuel Pinho no Ministério da Economia: um crime corrupção passiva para ato ilícito de titular de cargo político.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Economia acelera no terceiro trimestre ainda à boleia do consumo privado

O consumo terá sido um dos motores, na sequência do aumento do rendimento real disponível das famílias, após a desaceleração da inflação, a descida dos juros e da robustez do mercado de trabalho.

Os economistas apontam inequivocamente para um crescimento da economia no terceiro trimestre. O consumo terá sido um dos motores, na sequência do aumento do rendimento real disponível das famílias, após a desaceleração da inflação, a descida dos juros e da robustez do mercado de trabalho. As previsões variam bastante, mas o ponto médio é um crescimento de 0,4% face aos três meses anteriores. No conjunto do ano, a progressão do PIB andará entre 1,5% e 1,9%, em linha com os 1,8% estimados pelo Governo.

“De acordo com a nossa previsão, a taxa de crescimento do PIB português no terceiro trimestre, que será divulgada pelo INE a 30 de outubro, deverá apresentar uma variação em cadeia de 0,4%, o que representa uma ligeira aceleração em relação ao crescimento de 0,2% observado no segundo trimestre”, avançam na sua nota de conjuntura os economistas do Millennium BCP. “Em termos homólogos, espera-se uma aceleração da taxa de crescimento do PIB, de 1,6% para 2,1%”, acrescentam.

O gabinete de previsões da Universidade Católica aposta também num crescimento de 0,4% em cadeia, o que corresponderia a 2% em termos homólogos. Tal como o Montepio que também aponta para uma progressão de 0,4% em cadeia, mas em termos homólogos sobe para 2,1%. Já o Fórum para a Competitividade estima que o PIB terá subido entre 0,2% e 0,6% em cadeia no terceiro trimestre, após os 0,2% do segundo, a que corresponderá um aumento homólogo entre 1,5% e 1,9%.

Fonte: Instituto Nacional de Estatística

O mais otimista é o economista chefe do Santander. “A economia portuguesa deverá surpreender pela positiva no terceiro trimestre, com a procura interna a sustentar o crescimento económico face a uma procura externa que se vai ajustando ao contexto global mais fraco, nomeadamente na zona euro”, diz ao ECO Rui Constantino, que coloca a fasquia num “crescimento em cadeia de 0,7%, que se traduz num crescimento homólogo de 2,5%”.

No extremo oposto está a leitura do barómetro CIP/ISEG que aponta para uma variação em cadeia entre 0 e 0,2% (entre 1,7 e 1,9% em termos homólogos), apontando também o consumo privado como como “a componente com maior contributo para o crescimento”. Em setembro, os indicadores de confiança dos consumidores e das empresas apresentaram uma “subida expressiva”, o que aumenta as expectativas de uma evolução mais positiva para o final do ano, até porque o quarto trimestre tem mais dias úteis, lê-se na nota.

A expansão da atividade económica deverá ter continuado a beneficiar do dinamismo do consumo privado — o aumento do crédito ao consumo é também prova disso –, mas “o ritmo de crescimento deverá ser menos acentuado que no trimestre anterior o que, a par da persistência de fracos níveis de expansão do investimento, se deverá traduzir num menor contributo da procura interna para o PIB (0,2 p.p., comparativamente com 0,8 p.p. registados no segundo trimestre)”, sublinhou a economista chefe do BCP.

“O crescimento em cadeia do PIB, no terceiro trimestre, deverá ter sido suportado novamente pelo consumo privado, embora em abrandamento, depois do forte acréscimo observado no trimestre anterior (+0,9%), estimando-se também novos crescimentos do consumo público (+0,3% no segundo trimestre) e do investimento em capital fixo (FBCF), que deverá, ao contrário do consumo privado, ter acelerado“, sublinhou ao ECO Rui Bernardes Serra.

O comportamento do investimento é o que mais divide os economistas. Rui Constantino também antecipa que “o investimento deverá acelerar expressivamente em cadeia, alavancado pelo contributo largamente positivo da variação de existências”.

“O consumo privado terá estagnado, em cadeia, após o mais forte crescimento do último trimestre”, diz ao ECO o economista chefe do Santander. Mas o economista da Católica, João Borges Assunção, defende que “o investimento cresceu apenas 0,6% no segundo trimestre e os sinais para o terceiro trimestre são de moderação, refletindo também o atual ambiente externo”. Já Pedro Braz Teixeira, o economista chefe do Fórum para a Competitividade, considera que “o investimento teve um bom comportamento no segundo trimestre, mas não na construção, que tem continuado fraca no terceiro trimestre”.

E apesar do contexto de “crescente fragilidade da economia europeia”, as exportações de bens terão aumentado 9,9% no terceiro trimestre em relação ao mesmo período do ano passado, uma estimativa que fica acima da previsão de crescimento para as importações (6,6%), avançou esta terça-feira o Instituto Nacional de Estatística (INE).

Fonte: INE

“O contributo da procura externa líquida deverá ser positivo, após a forte queda observada no trimestre anterior, decorrente de um menor crescimento das importações”, diz Márcia Rodrigues. “O contributo da procura externa líquida para o crescimento do PIB poderá melhorar face ao trimestre anterior (-0,8 p.p), permanecendo, no entanto, negativo”, estimam os economistas que elaboram o barómetro CIP/ISEG.

Os economistas antecipam que a progressão do PIB andará entre 1,5% e 1,9%, este ano, em linha com os 1,8% estimados pelo Governo. E se uns optam por as manter inalteradas, outros optaram por as rever em baixa, tal como o fez o Conselho das Finanças Públicas. O crescimento fraco do segundo trimestre (0,2% em cadeia), a revisão dos dados dos últimos dois anos pelo INE, a atividade económica continuar a evoluir com crescimento ligeiramente abaixo do potencial, as elevadas taxas de juro e a fragilidade da atividade económica na zona euro, em particular na Alemanha e França, explicam o péssimo de alguns economistas.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Viabilização do OE2025 está garantida. Debate deverá ficar marcado por IRC e cativações

Parlamento debate esta quarta-feira na generalidade o OE2025. Votação no dia seguinte tem como veredicto garantido a viabilização da proposta, mas antes há críticas da oposição para ouvir.

O debate sobre a primeira proposta orçamental do Governo de Luís Montenegro arranca esta quarta-feira, estendo-se até quinta-feira, dia em que será votado na generalidade. O desfecho da votação do Orçamento do Estado para 2025 (OE2025) já é conhecido desde que o PS anunciou que se irá abster e a proposta será viabilizada. No entanto, este cenário não é sinónimo de um ‘passeio no parque’ para o Governo, que terá que enfrentar temas como o IRC, as cativações e as previsões económicas.

A abertura ficará a cargo do primeiro-ministro, Luís Montenegro, e ao longo de mais de dez horas do debate o Executivo irá defender a proposta orçamental que entregou na Assembleia da República em 10 de outubro, após negociações com o PS que, contudo, não resultaram em ‘fumo branco’. Ainda assim, o secretário-geral socialista, Pedro Nuno Santos, anunciou que o partido irá permitir que o documento passe em nome da “estabilidade do país”.

No entanto, são as cedências do Governo nas negociações que tem levado partidos da oposição a tentar colar o Executivo aos socialistas, o que Montenegro e Pedro Nuno Santos têm procurado rebater.

Se o PS se irá abster e o PSD e o CDS-PP irão votar favoravelmente, os restantes partidos anunciaram publicamente que votarão contra. O Orçamento do Estado para 2025 (OE2025) inclui um cenário macroeconómico e orçamental que o Governo assume ser “cauteloso”: um crescimento da economia de 1,8% este ano e de 2,1% em 2025, com um excedente de 0,4% em 2024 e de 0,3% em 2025 e uma redução da dívida pública para 95,9% este ano, caindo para 93,3% em 2025.

Entre as medidas da proposta com maior destaque incluem-se o IRS Jovem e a redução em ponto percentual do IRC, pontos negociados com o PS. O IRC é precisamente um dos temas que deverá voltar a estar no pingue-pongue do debate, à semelhança do que aconteceu na audição do ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, na segunda-feira. Naquele que é tradicionalmente um ensaio para o debate, o líder do Chega, André Ventura, anunciou que o partido irá propor na especialidade a redução da taxa do IRC em dois pontos percentuais (pp.), questionando se o Governo irá acompanhar a proposta.

O Chega pretende, assim, pressionar o Executivo a tomar uma posição, uma vez que o objetivo inicial de Luís Montenegro era uma redução da taxa de 21% para 19% em 2025. Joaquim Miranda Sarmento frisou que o OE2025 prevê uma descida de um ponto percentual, mas, após insistência de André Ventura do Chega, não se comprometeu, atirando a resposta para o líder da bancada parlamentar, Hugo Soares.

“Já não sou líder parlamentar”, disse, acrescentando que, neste sentido, já não vota nas propostas, pelo que não pode “responder por um voto” que não é seu.

Tema repetente face à audição do ministro da tutela deverá ser também o das cativações. Os partidos têm criticado o valor sob alçada dos instrumentos de controlo de despesa e o ministro das Finanças defendido que não se pode comparar “maçãs com peras”.

A Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) considerou que “os instrumentos não convencionais, tal como as cativações, são exemplos deprimentes da Administração Pública a trabalhar para si própria”, enquanto o Conselho das Finanças Públicas (CFP) estimou que o valor total dos instrumentos de controlo da despesa pública em 2025 mais do que duplica face ao aprovado em 2024, para 4.13,2 milhões de euros, um valor equivalente a 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB).

Ademais, os partidos têm questionado o Governo sobre qual a margem orçamental para acolher propostas da oposição na especialidade, levando Joaquim Miranda Sarmento a apelar a que “não se desequilibre” as contas públicas e não se coloque em causa o excedente de 0,3% previsto para 2025. Certo é que quer a Iniciativa Liberal, quer o Chega já anunciaram que irão levar à especialidade medidas propostas pela Aliança Democrática no programa eleitoral.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

BCP vai dar mais dinheiro aos acionistas para afastar investidas de rivais

Miguel Maya já sinalizou que quer dar mais dinheiro aos acionistas. Novo plano estratégico traz um reforço do payout e um programa de recompra de ações. Medidas visam "proteger" o banco de rivais.

O BCP BCP 3,72% deverá anunciar esta quarta-feira um ambicioso plano de distribuição de dinheiro pelos acionistas, num esforço para atrair investidores e compensar a potencial saída da Fosun e Sonangol, “protegendo-se” assim de potenciais investidas de rivais, de acordo com os analistas.

O banco liderado por Miguel Maya vai apresentar lucros na ordem dos 700 milhões de euros relativos aos primeiros nove meses do ano, de acordo com a pool de analistas da Reuters. Mas os investidores vão centrar as atenções no plano estratégico para 2025-2028 que se prepara para divulgar após o fecho da bolsa, e do qual se espera um importante reforço dos dividendos e ainda um programa de recompra de ações.

Os analistas da Keefe, Bruyette & Woods antecipam uma apresentação com “poucos slides”, mas com objetivos de “elevado nível”, incluindo um rácio de payout (% de lucros para dividendos) de 65% — acima dos 30% previstos no atual plano — e ainda recompras de ações num montante de 200 milhões de euros, de acordo com a nota a que o ECO teve acesso.

Para João Queiroz, head of trading do Banco Carregosa, o reforço da remuneração acionista (por via do dividendo e do programa de recompras) pode ser interpretado como “uma estratégia dupla” do banco.

  • Por um lado, para “atrair uma base de investidores mais ampla e diversificada, compensando a possível saída de acionistas de referência como a Fosun e a Sonangol”;
  • Por outro, “também pode constituir um argumento preventivo para proteger o banco relativamente a potenciais ofertas de concorrentes, tornando-o mais atrativo e sólido perante os investidores, reforçando a trajetória de uma valorização sustentável do seu capital e reforçando a confiança do mercado”.

As afirmações de João Queiroz vão ao encontro do que o próprio Miguel Maya afirmou recentemente. “Se conseguirmos e tivermos condições de remunerar adequadamente os acionistas, é a única forma de protegermos e mantermos o hub. (…) Quando está frágil fica muito mais propício a alguém que olhe para cá”, disse o gestor há três meses.

"Se conseguirmos e tivermos condições de remunerar adequadamente os acionistas, é a única forma de protegermos e mantermos o hub. (…) Quando está frágil fica muito mais propício a alguém que olhe para cá.”

Miguel Maya

CEO do BCP

Comprar ou ser comprado

Embora os movimentos em torno da Fosun (que já reduziu a sua participação de 30% para 20%) e Sonangol (que tem em curso um plano de vendas de participações não estratégicas) abram a porta a um novo comprador, o BCP não estará condenado a ser uma parte passiva num mercado de M&A que está a fervilhar na Europa e que terá desenvolvimentos importantes em Portugal no próximo ano, com o lançamento do processo de venda do Novobanco.

O banco do fundo americano Lone Star está a trabalhar com vista a uma entrada em bolsa na primeira metade de 2025, mas não se descarta uma venda direta a um banco ou uma fusão com o BCP, como se tem especulado nos últimos anos a propósito de uma consolidação no mercado nacional.

“A saída dos acionistas de referência do BCP pode abrir espaço para novos investidores ou movimentos estratégicos, como uma fusão ou aquisição”, assume João Queiroz.

“No entanto, o banco, tendo consolidado a sua posição em Portugal e na Polónia, poderia também explorar a oportunidade de adquirir um concorrente doméstico, como o Novobanco, para incrementar a sua quota de mercado e obter sinergias de escala. Isso depende de como o mercado evoluirá e do enquadramento regulatório”, considera o especialista.

Sobre a eventual saída dos chineses e angolanos, Miguel Maya tem desdramatizado o tema com o argumento de que o banco está num processo de “normalização” da sua estrutura acionista, passando para uma base mais dispersa e em linha com os principais bancos europeus.

Apresentação dos resultados anuais de 2023 do Millennium BCP - 26FEV24
Apresentação dos resultados anuais de 2023 do Millennium BCPHugo Amaral/ECO

Polónia a dar dividendos em 2027

Além da remuneração acionista, o plano estratégico deverá trazer novidades em relação ao banco na Polónia. O Bank Millennium, controlado em 50,1% pelo BCP, revelou no início da semana que quer voltar a dar dividendos a partir de 2027, perante o crescimento do negócio. Em cima da mesa está um payout entre 35% e 50%.

O banco polaco tem sofrido vários reveses nos últimos anos, sobretudo com o tema dos empréstimos hipotecários em francos suíços que levou à constituição de imparidades de 1,7 mil milhões de euros, e também com outras questões regulatórias, como a moratória de crédito.

Estes problemas estão a ficar para trás. O banco registou lucros de 127 milhões de euros nos primeiros nove meses do ano, segundo anunciou esta terça-feira. A Keefe, Bruyette & Woods considera que o Bank Millennium está bem posicionado para gerar resultados de mais de 450 milhões de euros numa base recorrente.

O BCP poderia explorar uma venda parcial ou total dessa operação“, admite João Queiroz. “Apesar de pouco provável, tal cenário permitiria libertar capital, reduzir a exposição a mercados de maior risco e focar-se nos seus negócios principais”, explica.

Bom momento na bolsa

O bom desempenho do banco está refletido na bolsa: as ações estão em máximos de oito anos e a cotarem praticamente em cima do valor contabilístico do banco, com o price-to-book nos 0,97, traduzindo a confiança dos investidores em relação ao futuro.

Desde o início do ano o BCP acumula uma valorização de 54% (depois de ter valorizado 80% em 2023) e apresenta-se com uma capitalização bolsista de 6,4 mil milhões de euros.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.