Prémio salarial de licenciados cai, mas do mestrado sobe. Tecnologias têm o mais elevado

Estudo aponta para redução do prémio salarial associado ao ensino secundário e licenciatura. Ramos de atividade escondem diferenças, com conhecimento e tecnologia a gerar os mais elevados.

O prémio salarial, ou a diferença de remunerações entre os trabalhadores da mesma idade e do mesmo sexo, mas com níveis de ensino distinto, tem vindo a reduzir-se há duas décadas para quem tem o ensino secundário e a licenciatura, conclui um estudo do Centro de Planeamento e Avaliação de Políticas Públicas (PLANAPP), divulgado esta terça-feira. Por outro lado, o prémio salarial tem vindo a aumentar para os mestrados.

As qualificações dos trabalhadores em Portugal melhoraram substancialmente entre 1991 e 2021, o que influencia este quadro. Em três décadas, a proporção de trabalhadores com ensino básico reduziu-se em quase metade, enquanto a proporção de trabalhadores com ensino superior foi multiplicada por 10, recorda o estudo.

Assim, apesar de existir uma associação positiva entre o nível de educação e os salários auferidos, regista-se “uma redução dos prémios salariais médios associados ao ensino secundário e à licenciatura, ainda que, mais recentemente, aquele comportamento tenha sido acompanhado pelo aumento dos prémios associados ao ensino pós-secundário não superior e ao mestrado“.

O estudo conclui, assim, que o prémio salarial dos trabalhadores com o secundário e com a licenciatura já atingiu o seu pico em 2006 e em 1996, respetivamente. Desde então, o prémio “tem vindo a reduzir-se progressivamente, chegando, em 2021, a perto de 42%”.

Segundo a análise, “os prémios do mestrado (e, ainda que de modo menos robusto, do doutoramento) têm aumentado“, ao mesmo tempo que “a tendência de subida do prémio salarial no ensino pós-secundário não superior (versus o secundário) no período em análise, ainda que somente impulsionado pelo prémio médio dos homens”.

Deste modo, os trabalhadores que ganharam prémios mais baixos aumentaram o seu peso relativo no conjunto de trabalhadores com o mesmo nível de ensino, embora os prémios mais altos não tenham desaparecido. “Como consequência, estes níveis de ensino tornaram-se mais desiguais em termos do prémio salarial que lhes está associado”, refere. Já no universo dos trabalhadores com ensino pós-secundário não superior e os com mestrado tornaram-se mais igualitários.

“Merece, em qualquer caso, destaque o facto de que, entre trabalhadores licenciados, a distribuição de prémios foi sempre, no período de 2010 a 2021, notoriamente menos desigual que as distribuições de prémios para os trabalhadores de ensino secundário, do ensino pós-secundário não superior e do mestrado“, pode ler-se.

Prémios salariais mais elevadas nas tecnologias

As áreas da tecnologia e conhecimento estão associadas a prémios salariais mais elevados, enquanto diferentes ramos dos serviços e indústria apresentam disparidades significativas, de acordo com o estudo.

O ramo de atividade da eletricidade, gás e água é o que se destaca por apresentara mediana de prémios salariais de mestrado mais elevada, enquanto a indústria da fabricação de coque e produtos petrolíferos apresenta a mediana de prémios de licenciatura mais alta“, indica.

Os autores destacam também os ramos das telecomunicações, dos transportes aéreos e das atividades de serviços financeiros. Por outro lado, a restauração tem a mediana de prémios de mestrado mais baixa, enquanto as atividades de investigação e segurança de prémios de licenciaturas mais reduzida.

O estudo sugere ainda que “a capacidade do tecido produtivo em Portugal absorver trabalhadores com qualificações superiores acompanhado de uma dinâmica sustentada de valorização salarial ocorre predominantemente ao nível do mestrado“.

Focado nas áreas de estudo, “as tecnologias da informação e comunicação, ciências exatas e da saúde, e engenharia tendem a ter prémios salariais mais elevados, apresentando, inclusive dinâmicas de valorização em termos relativos“. Destacam ainda uma “redução acentuada” da posição relativa das áreas de estudos associadas à educação nos prémios salariais para mestrados.

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IGCP vai ter novo presidente. Pedro Cabeços, um “pragmático” que percebe “muito de dívida pública”

O profissional regressa a Portugal -- e ao IGCP -- após vinte anos a trabalhar em grandes bancos no estrangeiro. Uma experiência que "pode ajudar o Estado" na gestão da dívida nacional.

Vinte anos depois de ter saído da Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública – IGCP, para abraçar uma carreira internacional, Pedro Cabeços regressa para assumir a liderança do instituto que gere a dívida pública portuguesa. “Pragmático”, “entusiasta” e de trato “muito fácil”, o gestor que conta com uma longa carreira no exterior, é o nome escolhido pelo ministro das Finanças Joaquim Miranda Sarmento para suceder a Miguel Martín, após o término do seu mandato, segundo avançou o ECO esta segunda-feira.

Gosto muito dele. Percebe muito de mercado de dívida pública. É uma ótima escolha [para liderar o IGCP]”, adianta ao ECO João Moreira Rato, antigo presidente do IGCP, entre 2012 e 2014, e Senior Advisor da Morgan Stanley, onde Pedro Cabeço trabalhou entre 2009 e 2016, como diretor, enquanto responsável pela área de negócio de ‘flow’ de taxa de juro com responsabilidade pela Península Ibérica.

João Moreira Rato refere que se cruzou com Cabeços na Morgan Stanley, mas conhece-o “muito antes disso da banca [de investimento em Londres]”, onde o atual presidente do Instituto Português de Corporate Governance (IPCG) também trabalhou ao longo de 12 anos, em várias instituições, incluindo a Goldman Sachs, a Lehman Brothers e a Morgan Stanley, precisamente antes de vir assumir a presidência do IGCP, em 2012.m

“É muito focado nesta área [da dívida pública], esteve muito tempo fora e agora vai ter que se ajustar à Administração Pública em Portugal”, nota João Moreira Rato, destacando que Cabeços está a traçar uma trajetória semelhante à que ele próprio fez. “É bom as pessoas virem de fora. É bom sinal conseguir contratar pessoas que tiveram uma boa carreira fora. Pode ajudar o Estado“, destaca.

João Moreira Rato diz que Pedro Cabeços é “muito pragmático, muito prático, muito fácil de trabalhar“. Para o antigo CEO do IGCP, Cabeço “é um entusiasta, que trabalha muito bem em equipa“.

Com uma longa carreira internacional, onde passou pelo Société Générale, Morgan Stanley e Royal Bank of Scotland, onde esteve até final do ano passado, com responsabilidade pelo negócio de fixed income, também no mercado ibérico, Cabeços regressa a uma casa que conhece bem: foi trader da sala de mercados do IGCP, entre 2000 e 2004.

Cabeços vem assim substituir Miguel Martín, uma escolha surpreendente do anterior ministro Fernando Medina, que veio da concessionária de autoestradas Ascendi, e tinha sido administrador financeiro da Águas de Portugal entre 2016 e 2019, período em que coincidiu com o secretário de Estado socialista João Nuno Mendes quando era presidente daquela empresa pública.

Licenciado em Economia no ISEG e com MSc em Risk Management no ICMA Centre da Universidade de Reading (Reino Unido), o futuro presidente do IGCP vai assumir a liderança da agência que gere a dívida pública num momento em que a atividade da entidade regressa à normalidade depois de um ano marcado pela corrida aos certificados de aforro, que teve um “efeito disruptivo” na operação do IGCP, segundo adiantou o ainda presidente do IGCP no Parlamento, numa audição em setembro.

“No ano de 2023, a forte subida das subscrições dos certificados de aforro perturbou a atuação regular do IGCP e, por conseguinte, no ano passado o IGCP esteve em termos de emissão de Obrigações do Tesouro cinco vezes em mercado, quando o expectável são 10, e em Bilhetes do Tesouro esteve quatro vezes em mercado, quando é expectável 10 operações”, justificou Martín, acrescentando que este ano é de “regresso à normalidade”.

O presidente do IGCP, que enfrentou um período de subida de juros devido à política de agravamento de taxas do BCE, foi alvo de críticas pelas mudanças nos certificados de aforro, com o fim da antiga série, que pagava até um máximo de 3,5%, por uma nova linha, onde a taxa não vai além de 2,5%. Foi precisamente a alteração nos certificados que travou as subscrições recordes destes produtos no arranque de 2023.

O IGCP terá ainda ajudado o antigo Governo a colocar a dívida pública abaixo dos 100% do PIB e reduzir o stock da dívida em 2023.

Depois de dois anos marcados pela subida dos juros, 2025 deverá ser de queda das taxas, à boleia da política do BCE. No entanto, a dívida pública portuguesa enfrenta novos desafios, como a eleição de Donald Trump nos EUA, que poderá prejudicar a economia europeia.

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Espanhóis do Caixabank querem BPI a crescer 4% ao ano no crédito e depósitos até 2027

Caixabank considera que BPI tem sido uma "história de sucesso" desde que adquiriu o banco português em 2017, mas quer reforçar quotas no mercado de crédito e depósitos nos próximos anos.

Os espanhóis do Caixabank querem o BPI a reforçar a sua quota de mercado em Portugal e contam que o banco português consiga crescer acima de 4% ao ano no crédito e nos recursos de clientes até 2027, quando se espera que normalização das taxas de juro venha a afetar os lucros do setor nos próximos anos.

“Crescimento continuado, sólido e rentável” é o que o grupo espanhol pede ao banco liderado por João Pedro Oliveira e Costa no plano estratégico do Caixabank 2025-2027, divulgado esta terça-feira ao mercado, sendo muito sucinto em relação aos planos para Portugal.

Os objetivos para o BPI passam essencialmente pelo aumento da base de clientes e da quota de mercado, reforço da digitalização e transformação, desenvolvimento de produtos e serviços com foco na sustentabilidade e promoção de projetos conjuntos com outras unidades do grupo.

O BPI regista quotas de mercado de 14,5% no crédito à habitação e 10,2% nos depósitos, de acordo com os dados referentes a setembro, disputando com o Novobanco o estatuto de quarto maior banco em Portugal.

Os espanhóis falam numa “história de sucesso com uma contribuição crescente ao grupo” desde que adquiriram o BPI em 2017 e esperam que assim continue. Neste período, o volume de negócios cresceu 3% ao ano enquanto o rácio de eficiência melhorou 30 pontos percentuais, com os custos de estrutura a passarem de 67% dos proveitos em 2016 para 37% em setembro.

Na conferência de apresentação do plano, o conselheiro delegado Gonzalo Gortázar explicou que “o BPI tem uma trajetória recente de ganho de quota de mercado, melhoria da eficiência e rentabilidade”. E que o que espera do banco em Portugal é o mesmo para o resto do grupo. “Todas as tendências de crescimento em Espanha também as vemos em Portugal, as dinâmicas são muito parecidas”, afirmou aos jornalistas.

Nos primeiros nove meses do ano, o BPI registou lucros de 444 milhões de euros e uma rentabilidade dos capitais próprios acima dos 18%, mas João Pedro Oliveira e Costa já alertou que a margem financeira já está a ser pressionada pela redução das taxas de juro e vai cair mais no próximo ano.

O plano estratégico do Caixabank não faz qualquer referência a aquisições em Portugal, embora o grupo espanhol seja considerado um dos principais candidatos a comprar o Novobanco ao fundo Lone Star, cujo processo avançará em 2025.

Também não menciona a venda do lucrativo negócio do BPI em Angola, que arrancará no próximo ano através do IPO do Banco de Fomento Angola (BFA) na bolsa de Luanda.

Caixabank distribui até 60% dos lucros e aponta para recompras

Em relação ao Caixabank, o plano estratégico estabelece um rácio de pagamento de dividendos de 50% a 60% dos resultados entre 2025 e 2027 e ainda uma distribuição adicional em função do excesso de capital que registar sempre que o rácio CET1 exceder os 12,5%, através de dividendos ou recompra de ações.

No anterior plano, o banco espanhol devolveu aos acionistas mais de 10 mil milhões de euros entre 2022 e 2024.

O Caixabank espera registar uma rentabilidade dos capitais próprios acima dos 15% em média nos próximos três anos, acima da média de 14% dos últimos três. Como em Portugal, também conta crescer 4% ao ano em termos de volume de negócio neste período.

As ações estão a cair mais de 4% para 5,43 euros na bolsa de Madrid esta terça-feira, mas acumulam um ganho de 50% desde o início do ano.

(Notícia atualizada às 10h37 com declarações de Gonzalo Gortázar, conselheiro delegado do Caixabank)

O jornalista viajou a Madrid a convite do Caixabank.

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O legado de Miguel Martín à frente do IGCP em três atos

Miguel Martin fica ligado à baixa do rácio da dívida para o nível mais baixo dos últimos 14 anos, mas o mandato não foi isento de críticas, como as mudanças nos Certificados de Aforro.

Depois de quase três anos à frente do IGCP – Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública, Miguel Martín deixará de liderar a entidade responsável pela gestão da dívida pública a partir do próximo ano, como o ECO noticiou esta segunda-feira em primeira mão. Vai ser substituído por um homem dos mercados, Pedro Cabeços, mas para a história ficará um mandato que se iniciou em setembro de 2022 e que ficou marcado pela redução do peso da dívida pública no PIB e pelas mudanças das condições de remuneração dos Certificados de Aforro, num período marcado pela subida mais repentina das taxas de juro da história do euro. Foi uma escolha que causou surpresa, porque Miguel Martín não vinha dos mercados, mas da área financeira de uma empresa de infraestruturas, a Ascendi, depois de ter estado na gestão da empresa pública Águas de Portugal.

Um dos resultados do mandato de Miguel Martín foi o contributo do IGCP para a redução do rácio da dívida pública face ao PIB em 2023. Sob a sua liderança, a agência implementou uma estratégia em conjunto com o então ministro das Finanças, Fernando Medina, que permitiu baixar o rácio da dívida pública para o nível mais baixos dos últimos 14 anos, com o fardo da dívida a atingir um valor equivalente a 97,9% do PIB no final do ano passado, cerca de 13,3 pontos percentuais abaixo do rácio da dívida verificado em 2022. Esta redução significativa – a maior em termos percentuais desde pelo menos 1953, ano que marca o início da série do Banco de Portugal — resultou de uma combinação de fatores, incluindo o crescimento nominal do PIB, o saldo primário positivo e ajustamentos défice-dívida. No entanto, não foi uma operação livre de críticas.

A Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) classificou mesmo que a redução da dívida pública alcançada 2023 foi “artificial”, argumentando que houve casos em que as opções de gestão financeira foram condicionadas por orientações do Governo anterior. Um dos casos citados, e revelados pelo ECO, foi o recurso à Segurança Social. Um dos trunfos de Fernando Medina e Miguel Martín para baixar o rácio da dívida pública em 2023 foi o dinheiro das pensões futuras dos portugueses. Através do Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social (FEFSS) e da Caixa Geral de Aposentações (CGA) foram investidos mais de 7,7 mil milhões de euros na aquisição de títulos de dívida da República, nomeadamente de obrigações do Tesouro. Outra operação foi através da Águas de Portugal, com uma transferência de 100 milhões de euros no último dia de 2023.

1. Alisamento do calendário de reembolso da dívida

Ao longo do tempo que liderou o IGCP, a gestão da dívida pública foi também marcada por várias operações de recompra de obrigações de curto prazo e por emissões de títulos de mais longo prazo, visando evitar picos de amortização e reduzir o risco de refinanciamento da República. No centro desta estratégia esteve sempre o objetivo de garantir que “o alisamento do perfil de reembolsos mantém-se como objetivo orientador na gestão da dívida pública portuguesa”, destaca o IGCP no relatório anual de 2023.

Destaque, por exemplo, para as 17 operações de recompra de obrigações do Tesouro com maturidades entre 2023 e 2027 realizadas no ano passado num montante superior a 5 mil milhões de euros; e para a última emissão sindicada de 3 mil milhões de euros de uma obrigação do Tesouro a 30 anos realizada em maio deste ano, com quase 85% do montante a ser adquirido por bancos, fundos de investimento, seguradoras e outros investidores privados.

Os números alcançados na operação sindicada revela a capacidade de o IGCP ter conseguido alargar a base de investidores de dívida pública ao longo dos últimos anos, numa altura em que desde março de 2023 o Eurosistema deixou de reinvestir a totalidade do montante dos títulos vincendos e desde julho de 2023 os reinvestimentos da carteira do programa de compra de ativos (asset purchase programme – APP) do Banco Central Europeu estarem a diminuir, em média, 15 mil milhões de euros por mês.

Segundo dados do IGCP, somente este ano, prevê-se que o APP reduza as aquisições líquidas de obrigações do Tesouro em dois mil milhões de euros e o programa de compra de ativos devido à emergência pandémica (Pandemic Emergency Purchase Programme – PEPP) em 300 milhões de euros.

Esta preocupação por parte do IGCP em captar novos investidores é visível com o recente roadshow promovido pela equipa de Miguel Martín ao continente asiático, com o intuito de substituir ainda mais o papel do BCE na carteira de investidores de dívida pública.

O foco desta operação é captar sobretudo o interesse de fundos de pensões e outros grandes investidores japoneses, dado que “o tamanho do Japão é tão grande que facilmente absorve a parte que o BCE deixará de ter”, destacou Miguel Martín na Comissão de Orçamento e Finanças de 13 de setembro.

2. Pressão do BCE e das famílias

O mandato de Miguel Martín à frente do IGCP coincidiu também com o período de subida mais repentina das taxas de juro de que há memória. Mas apesar deste contexto desafiador, a gestão da dívida foi realizada de forma eficiente, com o custo da dívida a apresentar níveis de controlo — isto apesar do aumento do peso da despesa com juros da dívida: em 2025, pelo quarto ano consecutivo, a proposta de Orçamento do Estado prevê uma despesa com juros a tocar nos 7 mil milhões de euros, um acréscimo de 2,2% face ao estimado para este ano (cerca de 6,8 mil milhões de euros e abaixo dos 7,1 mil milhões inscritos no OE2024).

Em 2023, por exemplo, o cupão médio da carteira aumentou de 1,9% para 2,4%, enquanto a yield média diminuiu ligeiramente de 3% para 2,9%, enquanto as taxas diretoras do Banco Central Europeu pularam 450 pontos base, com a taxa de facilidade permanente de depósito a passar de -0,5% em julho de 2022 para 4% em setembro de 2023 — mantendo-se nesse nível até junho deste ano.

Além disso, o prazo médio de amortização da dívida manteve-se em 7,2 anos, além de que “a maturidade média da dívida de médio e longo prazo emitida em 2023 aumentou face aos anos anteriores e situou-se em 15,6 anos (face aos 11,3 anos de média em 2022)”, refere o IGCP no relatório anual de 2023.

A estratégia seguida pelo IGCP ao longo dos últimos anos proporcionou assim uma maior flexibilidade nos planos de emissão de dívida e contribuiu para melhorar a perceção dos mercados sobre a dívida nacional, que ficou espelhado pela revisão em alta das avaliações do risco creditício da República pelas principais agências de rating.

Em março de 2024, a Standard & Poor’s elevou a notação da dívida portuguesa para A-, juntando-se à Fitch, à Moody’s e à DBRS em classificar Portugal no patamar “A”. Esta melhoria nas notações de crédito reflete a confiança dos mercados na gestão da dívida portuguesa e na estabilidade financeira do país.

3. Novas regras nos Certificados de Aforro

Apesar dos feitos alcançados, a equipa de Miguel Martín enfrentou um desafio significativo em 2023 com a gestão da procura sem precedentes das famílias por Certificados de Aforro. A subida acentuada das taxas de juro do BCE desencadeou um desalinhamento entre a remuneração dos Certificados de Aforro da “Série E” e outras fontes de financiamento da República. Os Certificados de Aforro passaram a ser um instrumento mais caro para o Estado, leia-se o contribuinte, e a ganhar um peso excessivo face aos objetivos que constavam do orçamento de 2023.

Este fenómeno resultou num recorde de 10,6 mil milhões de euros de subscrições líquidas de Certificados de Aforro no primeiro semestre de 2023. A “Série E”, com uma remuneração inicial atrativa baseada na Euribor a 3 meses mais um prémio de 1%, foi o principal motor deste crescimento, obrigando o IGCP a rever em baixa os programas de financiamento em mercado para 2022 e 2023. Para reequilibrar a situação, o Governo suspendeu a “série E” e lançou a 2 de junho a nova “Série F” de Certificados de Aforro, com uma maturidade estendida para 15 anos. Mas fê-lo a uma sexta-feira à noite, sem aviso prévio e sem explicações, o que motivou críticas severas sobre a instabilidade criada nas perspetivas de poupança dos portugueses. E ficou a dúvida sobre um favor do Governo aos bancos, que consideravam haver uma concorrência desleal do Estado na atração de poupança.

Esta medida visou corrigir o desalinhamento verificado e garantir um equilíbrio entre a gestão da dívida pública e o incentivo à poupança de longo prazo das famílias, adaptando-se ao novo contexto de mercado e aos objetivos financeiros do Estado, apesar dos novos títulos serem menos interessantes para as famílias que têm “chumbado” estes títulos há 11 meses consecutivos.

Foi talvez o momento mais difícil de Miguel Martín à frente do IGCP, e motivou até críticas da UTAO, que concluiu que seria mais caro para o Estado financiar-se no mercado obrigacionista do que pedir emprestado aos aforradores individuais através dos Certificados de Aforro da referida série E. Qual foi a resposta de Fernando Medina? “Não é dos momentos mais felizes dessa instituição [UTAO]”, disse o então ministro das Finanças.

No entanto, também não será esquecido o facto de ter sido através da equipa de Miguel Martín que os CTT perderam o monopólio de comercialização dos Certificados de Aforro que perdurava há seis décadas, desde 1960 quando foi lançada a “Série A”. Ao introduzir uma revisão do texto que regula estes títulos de dívida do Estado destinado ao retalho, passou a ser permitido que os Certificados de Aforro pudessem passar a ser comercializados por instituições bancárias, como acabou por suceder em março com o Banco Big e que se seguirão outras instituições.

 

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Mota-Engil vende participação de 28,73% em concessionária mexicana por 66 milhões

  • ECO
  • 18 Novembro 2024

A transação de 66 milhões só foi possível de concretizar depois das autorizações necessárias e a conclusão dos contratos finais, revela a gigante da construção civil.

A Mota-Engil concluiu a venda de uma participação de 28,73% na concessionária que explora uma autoestrada entre as cidades mexicanas de Cardel e Poza Rica. A transação foi “concretizada pelo valor de 66 milhões de euros e equivalente a 1,85x sobre o book value“, revela a empresa de construção em comunicado.

O contrato, para concluir a operação, estava previsto ser assinado na segunda metade deste ano, mas estava dependente de autorizações “agora obtidas”, continua a nota da empresa.

De acordo com a nota divulgada no site da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), a venda, concretizada pelo valor de 66 milhões de euros, “reafirma a capacidade do grupo na criação de valor na gestão de concessões em regime green field, alicerçada numa estratégia de conceção-construção de projetos de infraestruturas, culminado com a rotação de ativos”, tal como previsto na estratégia para o ano de 2026.

Segundo o comunicado, a rotação de ativos continuará a ser “um modelo a dar continuidade na medida da maturidade dos projetos em operação” face ao “alto potencial num novo ciclo de investimentos” no México. A venda da participação da concessionária Cardel-Poza Rica, no México, é uma das três que a Mota-Engil pretendia concretizar até ao final do ano.

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Administração propõe a dissolução da Cofina

  • ECO
  • 18 Novembro 2024

Antiga dona do Correio da Manhã, Jornal de Negócios, Record e Sábado vai propor a dissolução daquela sociedade na próxima assembleia geral de acionistas.

O Conselho de Administração da antiga dona do Correio da Manhã, Jornal de Negócios, Record e Sábado vai propor aos acionistas a dissolução da empresa na próxima Assembleia Geral Anual de 2025.

No comunicado divulgado esta segunda-feira pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), lê-se que “o Conselho de Administração da Cofina, SGPS, S.A. informa que, por deliberação tomada em reunião daquele órgão, será proposta aos acionistas da Sociedade, na Assembleia Geral Anual de 2025, a dissolução com partilha imediata da sociedade“.

“Os termos da proposta serão objeto de estudo e análise de modo a que sejam salvaguardados, na máxima extensão possível, os interesses de todos os acionistas”, adianta ainda a nota.

A decisão surge na sequência de uma redução de capital, deliberada em Assembleia Geral, e na qual foram distribuídos acionistas de 11,2 milhões de euros em ações, pondo fim à atividade da sociedade liderada por Paulo Fernandes. No comunicado emitido a 1 de julho, foi anunciado que o capital social da empresa “foi reduzido de 41.026.334,40 euros para 4.102.633,60 euros, na sequência da amortização de ações”.

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Da dívida aos custos, o que correu bem e mal nas contas da TAP

A companhia aérea encaminha-se para o terceiro ano consecutivo de lucros, beneficiando do crescimento das receitas. Mas nem todas as rubricas evoluíram de forma positiva.

A TAP apresentou esta segunda-feira as contas dos primeiros nove meses, que já incluem os meses da época alta de verão. Os lucros aproximaram-se dos 120 milhões de euros, mas ficaram aquém do registado no ano anterior.

Veja onde as contas evoluíram positivamente e o que as penalizou.

A correr bem

Receitas de manutenção com aumento expressivo

A TAP transportou mais 1,5% de passageiros nos primeiros nove meses deste em relação ao mesmo período de 2023, contribuindo para que a companhia mantenha o crescimento das receitas verificado desde a pandemia, embora a um ritmo mais reduzido (2,8%).

Este ano, há um negócio que está a correr particularmente bem à transportadora portuguesa: a manutenção de aeronaves. As receitas desde segmento crescem 40% este ano, para 165,5 milhões, pesando 5,1% no total. Já a receita de carga e correio baixou 10%.

Aumento da capacidade e da taxa de ocupação

Apesar de ter uma frota limitada a 99 aeronaves, por imposição do plano de reestruturação, a TAP tem conseguido aumentar o número de lugares-quilómetro oferecidos (ASK), substituindo aeronaves mais antigas por outras mais recentes e com maior capacidade. De tal forma que o ASK está já acima dos níveis de 2019, antes da pandemia

 

Outro indicador onde a companhia portuguesa tem registado uma evolução favorável é na taxa de ocupação, que subiu para 82,9% nos primeiros nove meses deste ano, também já acima de 2019.

Custos operacionais

Os gastos operacionais da TAP cresceram 4,4% para 596,1 milhões, mas o aumento foi atenuado pela descida de 5,3% nos custos operacionais de tráfego, num contexto em que a atividade cresceu. A companhia explica a poupança com o menor recurso ao aluguer externo de aeronaves e redução no custo com irregularidades de voo, como cancelamentos e atrasos, com a melhoria da pontualidade.

Positiva foi também a evolução dos custos com combustíveis, que desceram 2,4%, com a TAP a fazer a cobertura de risco para 41% do jet fuel consumido.

Redução expressiva da dívida

A TAP manteve a tendência de descida da alavancagem financeira. O endividamento líquido no final de setembro era de 491 milhões de euros, menos 24% do que há um ano e quase metade do que no final de 2019.

No fecho do terceiro trimestre, o endividamento líquido era equivalente a 2,3 vezes o EBITDA (resultados antes de encargos com juros e impostos, depreciações e amortizações), caindo face ao final de dezembro de 2024 e forma significativa face ao último antes da pandemia.

A companhia aérea tem vindo também a melhorar a sua posição de liquidez, com o dinheiro em caixa a crescer 153,7 milhões para 943,1 milhões no final de setembro.

A correr mal

Custos com pessoal

O aumento dos gastos operacionais da TAP deve-se, em grande medida, ao aumento de 31,8% nos custos com pessoal face aos primeiros nove meses de 2023. Um incremento que se deve ao fim dos cortes salariais, que a melhoria dos resultados permitiu levantar, bem como aos gastos associados aos novos contratos coletivos de trabalho.

Este aumento dos encargos com pessoal levou uma subida ligeira dos custos por lugar-quilómetro, para 7,11 cêntimos, o que compara com 6,22 cêntimos em 2019, antes do forte aumento da inflação registado em 2022 e 2023.

Erosão na receita por passageiro

O aumento da oferta de capacidade pelas companhias aéreas colocou uma pressão sobre o preço dos bilhetes em vários mercados, conduzindo a uma diminuição da receita por passageiro e quilómetro voado. A TAP não escapou a essa tendência e viu a chamada yield descer 4% no seu principal mercado internacional, a América do Sul (Brasil), na África e Médio Oriente (-4%) e na América do Norte (-2%). A única exceção foi a Europa, onde o indicador cresceu 5%.

Um dos desafios assumidos pelo CEO da TAP é o aumento da receita por passageiro, indicador em que a companhia europeia fica abaixo das pares europeias. A yield é já substancialmente superior à que se verificava antes da pandemia.

Margem de rentabilidade encolhe

O resultado operacional recuou 9,6% para 338,1 milhões, ou 5,7% se for considerado o resultado recorrente, com o aumento dos gastos a pesar nas contas. A margem de rentabilidade operacional caiu 1,4 pontos percentuais.

Perdas cambiais

O resultado líquido da TAP nos primeiros meses diminuiu 85% para 118,2 milhões de euros. Além da quebra de 35,8 milhões no resultado operacional, as contas foram penalizadas por 40 milhões de euros em perdas cambiais, relacionadas sobretudo com a desvalorização do real. No mesmo período do ano passado, as diferenças de câmbio tinham gerado um ganho de 33,8 milhões.

 

 

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G20. Lula apela a nova governança global e diz que “globalização neoliberal fracassou”

  • Lusa
  • 18 Novembro 2024

"O uso indiscriminado do veto torna o órgão refém dos cinco membros permanentes", disse o presidente brasileiro sobre o Conselho de Segurança da ONU.

O Presidente brasileiro, Lula da Silva, apelou esta segunda-feira aos membros do G20 que alterem as instituições internacionais, como o Conselho de Segurança da ONU, e afirmou que a “globalização neoliberal fracassou”.

“A omissão do Conselho de Segurança tem sido ela própria uma ameaça à paz e à segurança internacional. O uso indiscriminado do veto torna o órgão refém dos cinco membros permanentes”, afirmou o chefe de Estado brasileiro, durante a abertura da sessão de líderes sobre a reforma das instituições internacionais.

“A estabilidade mundial depende de instituições mais representativas. A pluralidade de vozes funciona como vetor de equilíbrio”, sublinhou. O chefe de Estado brasileiro defendeu ser necessário rever regras e políticas financeiras que, na sua opinião, “afetam desproporcionalmente os países em desenvolvimento”.

“O serviço da dívida externa de países africanos é maior que os recursos de que eles dispõem para financiar sua infraestrutura, saúde e educação”, criticou Lula da Silva. Dessa forma, Lula da Silva voltou a apelar para a criação de um imposto global para os super-ricos, citando dados encomendados pelo Governo brasileiro ao economista francês Gabriel Zucmane, os quais indicam que, se os cerca de 3.300 bilionários do mundo pagassem o equivalente a 2% da sua riqueza em impostos, poderiam ser arrecadados anualmente entre 200 e 250 mil milhões de dólares.

O Presidente do Brasil recordou a crise financeira mundial de 2008, afirmando que “o ímpeto reformador foi insuficiente para corrigir os excessos da desregulação dos mercados e a apologia do Estado mínimo”. “Naquele momento, escolheu-se salvar bancos em vez de ajudar pessoas. Optou-se por socorrer o setor privado em vez de fortalecer o Estado. Decidiu-se priorizar economias centrais em vez de apoiar países em desenvolvimento”, criticou.

“A globalização neoliberal fracassou”, disse, apelando uma vez mais para a alteração das instituições internacionais. Lula da Silva tem reivindicado a presença de países do chamado Sul Global no Conselho de Segurança da ONU e reformas das instituições financeiras como o Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional e Organização Mundial do Comércio (OMC).

Para além dos representantes dos países membros plenos do grupo, mais a União Europeia e a União Africana, no Rio de Janeiro encontram-se representantes de 55 países ou organizações internacionais, entre os quais Portugal – país convidado pelo Brasil –, representado pelo primeiro-ministro, Luís Montenegro, Angola, representado pelo seu Presidente, João Lourenço, e a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.

O G20 é constituído pelas principais economias do mundo. A presidência do Brasil termina no final do mês, passando em dezembro para a África do Sul.

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Scholz recusa enviar mísseis Taurus a Kiev mas vai fornecer quatro mil drones sofisticados

  • Lusa
  • 18 Novembro 2024

Os mísseis Taurus de longo alcance só poderiam ser usados se os alemães assumissem a responsabilidade pela pilotagem dos alvos. "Isto é algo pelo qual não posso nem quero ser responsável", diz Scholz.

O Governo alemão reiterou esta segunda-feira a recusa em fornecer mísseis Taurus de longo alcance solicitados pela Ucrânia contra a Rússia, mesmo após a luz verde de Washington a Kiev para usar armas semelhantes, mas vai entregar quatro mil drones sofisticados.

Para Berlim, os mísseis Taurus de longo alcance só poderiam ser utilizados se os alemães também assumissem a responsabilidade pela pilotagem dos alvos, justificou o chanceler Olaf Scholz, em conferência de imprensa à margem da cimeira do G20 no Rio de Janeiro. “Mas isto é algo pelo qual não posso nem quero ser responsável”, prosseguiu o chefe do Governo alemão, defendendo que a entrega dos mísseis “não seria correta”. Olaf Scholz tem recusado o fornecimento de Taurus, que têm um alcance superior a 500 quilómetros, argumentando com o risco de escalada de tensão entre a Rússia e o Ocidente.

Mas a luz verde anunciada no domingo pelos Estados Unidos a Kiev para a utilização de mísseis norte-americanos de longo alcance contra a Rússia trouxe o assunto de volta. Após meses de hesitação, a administração do Presidente cessante, Joe Biden, tomou esta decisão poucas semanas antes de o republicano Donald Trump chegar ao poder.

Olaf Scholz já não vai mudar a sua posição, de acordo com o gabinete do chanceler alemão, que enfrentará eleições no início de 2025 e apesar da posição contrária de várias forças políticas do seu país. O antigo ministro da Defesa britânico Ben Wallace criticou duramente a recusa da Alemanha em entregar à Ucrânia mísseis com capacidade de atingir em profundidade o território russo.

“Convido o chanceler alemão a reconsiderar a sua oposição algo teimosa e desajeitada à utilização do Taurus, o que o coloca numa posição muito estranha em comparação com os franceses e britânicos”, que têm fornecido mísseis de longo alcance “há mais de um ano” a Kiev, disse Wallace.

Olaf Scholz “fez tudo o que não devia ser feito”, porque “claramente não compreende o que é a dissuasão”, acrescentou o antigo governante, dizendo-se “aliviado” com a ideia de que o chanceler social-democrata abandone em breve o poder. Estão previstas eleições antecipadas para fevereiro na Alemanha e os conservadores estão à frente nas sondagens.

“Olaf Scholz é provavelmente mais adequado para cuidar de um subcomité de uma comissão de planeamento de um conselho municipal do que de um dos maiores países da Europa”, criticou ainda Wallace. Ao mesmo tempo, o ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius, anunciou hoje a entrega de quatro mil drones sofisticados a Kiev, que perde terreno quase todos os dias na frente leste para as forças russas.

“São drones controlados por inteligência artificial e que podem desativar as defesas eletrónicas dos drones adversários”, explicou à imprensa. Estas unidades, que serão entregues muito rapidamente, são capazes de atuar num alcance de 30 a 40 quilómetros em território russo e “atacar postos de combate, nós logísticos e outros”, acrescentou.

Berlim anunciou em junho a entrega de milhares de drones à Ucrânia, sem especificar as suas características técnicas. Os drones de alta tecnologia são fabricados pela Helsing, uma empresa europeia especializada em inteligência artificial de defesa que assinou um contrato com o Ministério da Defesa ucraniano em setembro, segundo o diário Bild.

As críticas dirigidas ao chanceler Scholz sobre os Taurus somam-se a já outras e bastante numerosas, incluindo do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, devido à sua conversa telefónica sobre a Ucrânia com o líder russo, Vladimir Putin, na semana passada.

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“Europa está a ficar para trás”, alerta Lagarde. Declínio económico ameaça estado social e investimento

Presidente do BCE alerta, com base no relatório de Draghi, que o declínio económico da Europa vai condicionar investimentos no estado social, no combate às alterações climáticas e na defesa.

A presidente do Banco Central Europeu (BCE) alerta que a Europa não terá capacidade financeira para investir no setor da defesa, combater as alterações climáticas e ainda suportar as prestações do Estado social, a menos que corrija um declínio verificado a nível do crescimento económico.

Num discurso proferido esta segunda-feira, em Paris, e citado pelo Financial Times, Christine Lagarde afirmou que sem políticas económicas arrojadas, a União Europeia (UE) “não será capaz de gerar a riqueza necessária para satisfazer as crescentes necessidades de despesa para garantir segurança, combater as alterações climáticas e proteger o ambiente” tal como o bloco europeu pretende.

Segundo a líder do BCE, o bloco corre o risco de enfrentar “um futuro de receitas fiscais mais baixas e rácios de dívida mais elevados”, realidade que resultaria em “menos recursos para as despesas sociais”.

Ademais, alerta para uma potencial guerra comercial com os Estados Unidos agora que a Casa Branca entra em fase de transição e Donald Trump se prepara para assumir a presidência do país, a 20 de janeiro. Sem abordar diretamente o risco de virem a ser novas taxas aduaneiras às importações da UE e da China, Lagarde sublinhou que a “paisagem geopolítica” está a “fragmentar-se em blocos rivais, onde as atitudes em relação ao comércio livre estão a ser postas em causa”.

"Temos de nos adaptar rapidamente a um ambiente geopolítico em mudança e recuperar o terreno perdido em termos de competitividade e inovação.”

Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu (BCE)

Os alertas em torno da competitividade e inovação surgem depois de o antigo chefe BCE, Mario Draghi, ter avisado, num relatório enviado à Comissão Europeia de que o bloco europeu está particularmente exposto aos riscos externos, sobretudo numa altura em que uma potencial guerra comercial sobe de tom. Lagarde subscreveu à tese, sublinhando que a Europa é hoje “mais aberta do que os outros”.

Citando diretamente as conclusões do estudo do antigo primeiro-ministro italiano, Christine Lagarde relembrou que apenas quatro das 50 maiores empresas tecnológicas do mundo são europeias”, e que a nível do desenvolvimento e aposta em tecnologias emergentes, nomeadamente, a inteligência artificial, “a Europa está a ficar para trás”.

Assim, a economista recomenda que a Europa se transforme numa “grande economia única, com interesses predominantemente partilhados”, unidos os recursos em áreas como a defesa e a transição ecológica. “Não podemos continuar a olhar para nós como um clube frouxo de economias independentes”, atirou.

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Borrell confirma aval dos EUA a ataques até 300 km dentro de território russo

  • Lusa
  • 18 Novembro 2024

O chefe da diplomacia da União Europeia defende que a Ucrânia deve poder utilizar sistemas militares "não só para parar as flechas, mas para atingir o arqueiro".

O chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, confirmou esta segunda-feira a decisão dos EUA de levantar restrições à utilização ucraniana de armas de longo alcance que permitem atacar até 300 quilómetros dentro do território russo.

“A administração Biden autorizou a utilização das armas que fornece à Ucrânia até 300 quilómetros dentro do território russo”, disse o alto representante da UE para a Política Externa numa conferência de imprensa após a reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros da UE, referindo-se à decisão do Presidente norte-americano de permitir que a Ucrânia dispare sistemas ATACMS contra o território russo.

“Não me parece que seja uma distância espetacularmente profunda”, afirmou o político espanhol, que se tornou o primeiro líder europeu a falar especificamente sobre a decisão de Washington, que até agora tinha evitado a confirmação oficial. Borrell não quis entrar em pormenores sobre as razões que levaram Biden a dar este passo ou porque é que a decisão surge após as eleições presidenciais e algumas semanas antes do regresso do republicano Donald Trump à Sala Oval.

O Alto Representante sublinhou que a Ucrânia deve poder utilizar sistemas militares “não só para parar as flechas, mas para atingir o arqueiro”, mas descartou uma decisão unânime da UE, reiterando que cabe a cada Estado-membro decidir as condições das armas que fornece a Kiev.

A decisão de Washington foi revelada no domingo pelos meios de comunicação social norte-americanos, após mais um fim de semana de ataques russos em grande escala e mortíferos contra a Ucrânia, depois da confirmação da mobilização de milhares de soldados norte-coreanos para combater ao lado das tropas de Moscovo.

A continuidade do apoio de Washington foi posta em causa durante a campanha da eleição para a presidência de Trump, cujas declarações levaram a Ucrânia a recear que pretenda forçar o fim dos combates à custa de concessões inaceitáveis para Kiev. A Rússia ameaçou hoje adotar uma “resposta apropriada” no campo de batalha no caso de a Ucrânia disparar mísseis norte-americanos de longo alcance contra o seu território, após luz verde de Washington sobre a sua utilização.

“O uso de mísseis de longo alcance por Kiev para atacar o nosso território significaria a participação direta dos Estados Unidos e dos seus satélites (…), bem como uma mudança radical na essência e na própria natureza do conflito”, declarou a porta-voz da diplomacia de Moscovo em comunicado. No texto, Maria Zakharova adverte que “a resposta da Rússia neste caso será apropriada e será sentida”.

A Rússia invadiu a Ucrânia a 24 de fevereiro de 2022, com o argumento de proteger as minorias separatistas pró-russas no leste e “desnazificar” o país vizinho, independente desde 1991 – após a desagregação da antiga União Soviética – e que tem vindo a afastar-se do espaço de influência de Moscovo e a aproximar-se da Europa e do Ocidente.

A guerra na Ucrânia já provocou dezenas de milhares de mortos de ambos os lados, e os últimos meses foram marcados por ataques aéreos em grande escala da Rússia contra cidades e infraestruturas ucranianas, ao passo que as forças de Kiev têm visado alvos em território russo próximos da fronteira e na península da Crimeia, ilegalmente anexada em 2014.

Já no terceiro ano de guerra, as Forças Armadas ucranianas confrontaram-se com falta de soldados e de armamento e munições, apesar das reiteradas promessas de ajuda dos aliados ocidentais, que começaram entretanto a concretizar-se. As negociações entre as duas partes estão completamente bloqueadas desde a primavera de 2022, com Moscovo a continuar a exigir que a Ucrânia aceite a anexação de uma parte do seu território, e a rejeitar negociar enquanto as forças ucranianas controlem a região russa de Kursk, parcialmente ocupada em agosto.

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Diretor do SNS confirma abertura de inquérito sobre morte de homem no hospital de Coimbra

  • Lusa
  • 18 Novembro 2024

Um homem foi encontrado morto nas urgências dos Hospitais da Universidade de Coimbra no dia 10 de novembro, depois de mais de 10 horas à espera.

O diretor executivo do Serviço Nacional de Saúde (SNS) confirmou esta segunda-feira a abertura de um inquérito ao caso do homem encontrado morto nas urgências dos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC), revelado no sábado.

Antes de sabermos que foi uma falha, é preciso saber o que é que se passou e foi aberto um inquérito para perceber o que se passou. Nós temos sempre de saber as coisas que correram menos bem, [se há] espaço para melhorar, mas precisamos de perceber exatamente o que é que se passou”, disse António Gandra d’Almeida, antes de uma visita ao Hospital de Portimão, no distrito de Faro.

Segundo revelou no sábado a RTP, o homem foi encontrado morto nas urgências dos Hospitais da Universidade de Coimbra no dia 10 de novembro, depois de mais de 10 horas à espera. A vítima, que se sentiu indisposta depois de ter ingerido cogumelos que tinha apanhado, deslocou-se ao Centro de Saúde de Tábua em 9 de novembro, tendo sido transferida ao início da tarde desse dia para Coimbra, onde esperou horas pelo atendimento.

A família, que pretende apresentar queixa, foi informada que o homem teve a chamada alta por abandono por não ter respondido a várias chamadas, mas o paciente acabou por ser encontrado sem vida na urgência cerca das 05:30 da madrugada do dia seguinte, dia 10. Esta segunda, o diretor executivo do SNS realçou que “é de evitar as coisas que correm menos bem”.

“Quando existem milhares de atendimentos todos os dias nas urgências e que correm muito bem, se calhar devíamos debruçar-nos mais sobre o que corre bem e tentar resolver quando existem coisas que correm menos bem”, acrescentou. António Gandra d’Almeida encerrou no Algarve uma sequência de três visitas a Unidades Locais de Saúde realizadas esta segunda, que arrancou em Santarém (ULS Lezíria) e prosseguiu em Beja (ULS Baixo Alentejo).

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