Já estava a torcer por Bob Dylan para o Nobel? Devia ter apostado
Há cada vez mais dinheiro a ser apostado na escolha do próximo Nobel da Literatura, mas os apostadores não costumam escolher corretamente o favorito. Bob Dylan esteve com hipóteses de 50 para 1.
O anúncio de que Bob Dylan seria o vencedor do Nobel da Literatura para 2016 surpreendeu muitos, mas nem todos: nas casas de apostas britânicas, as probabilidades de vitória do letrista e compositor norte-americano mudaram dramaticamente na semana que antecedeu o anúncio público do laureado, esta quinta-feira.
Se, na semana passada, Dylan tinha uma hipótese de 50 para 1 de vencer a cobiçada medalha sueca, na véspera da cerimónia o artista já era o quarto favorito, segundo o site Nicerodds, que compila as diferentes linhas de apostas das várias casas de apostas do Reino Unido, com probabilidades de 9 para 1 — e mesmo com estas hipóteses mais favoráveis, quem apostasse em Dylan para a vitória podia ter tido um lucro de 800%. O cantor chegou a estar abaixo de António Lobo Antunes, que no final da semana passada tinha probabilidades de 20 para 1 numa das principais casas.
Como se calculam estas probabilidades? Pondo de parte que o salto de Bob Dylan para perto do topo da lista parece indicar que as paredes da Academia Sueca não estarão assim tão bem insonorizadas, tudo indica que o cálculo das probabilidades iniciais não é particularmente científico. Magnus Puke, sueco que fez este serviço na Ladbrokes, uma das mais conhecidas e mediáticas casas de apostas do Reino Unido, explicou à Bloomberg em 2011 que as probabilidades iniciais eram calculadas “falando com contactos literários, andando pelos fóruns na Internet e mantendo um olho no Twitter”. Depois de as apostas começarem, no entanto, “o dinheiro pode dar as suas próprias pistas”.
Bob Dylan poderia parecer uma aposta pouco certa, mas aqueles que apostaram no cantor norte-americano viram a sua fé recompensada graças às hipóteses que o colocavam mais no fundo da lista de favoritos. A Forbes escreve que, na semana passada, as hipóteses eram de 50 para 1: “Se tivesse visão — e vontade do improvável — podia ter feito uma pequena fortuna esta manhã, quando Bob Dylan ganhou o prémio Nobel da Literatura”, escreve a revista financeira. Na Ladbrokes, houve 47 pessoas que apostaram em Bob Dylan e colheram os lucros. Apostar (e acertar) num candidato que não pertence aos principais favoritos dá os resultados mais notórios.
"[O Nobel da Literatura] parece ser a categoria que, acima de todas as outras, mais capta as imaginações dos apostadores.”
Mas quem é que está a apostar no vencedor do prémio Nobel da Literatura? Podem não ser tantos quantos os que apostam no resultado de um jogo da Liga dos Campeões, mas o negócio está a tornar-se lucrativo para a Ladbrokes.
Em 2014, o porta-voz da Labrokes, Alex Donohue, disse à revista New Yorker que, desde que a casa começou a aceitar apostas acerca do Nobel da Literatura, a receita dessas apostas já aumentou cinco vezes — Donohue rejeitou, no entanto, falar em números exatos. O Wall Street Journal sabia, no entanto, que a mesma casa de apostas aceitava cerca de 55 mil euros em apostas acerca do vencedor do prémio da Academia Sueca para as letras.
As apostas raramente acertam
Os favoritos das casas de apostas este ano — como foi noticiado por jornais desde o The Guardian ao Los Angeles Times — eram o poeta sírio Adonis e o romancista japonês Haruki Murakami, dois eternos candidatos que, a cada ano, parecem estar mais perto e mais longe de ganhar o prémio. Bob Dylan surgia mais abaixo em todas as listas. Desde 2004, escreve a New Republic, as hipóteses da Ladbrokes só acertaram uma vez em quem venceria o prémio Nobel: escolheram corretamente Orhan Pamuk, em 2006.
Para a New Republic, isso deve-se às metodologias, que se baseiam “na conversa do meio, na nacionalidade do autor e no precedente histórico em vez dos méritos relativos de cada livro”, o que faz com que as hipóteses calculadas acabem por ser ‘ao lado’.
Num texto entretanto muito troçado no mesmo jornal, o editor Alex Shepard afirmava perentoriamente no final da semana passada: “Tenho 100% de certeza que o Bob Dylan não vai ganhar. Parem de dizer que o Bob Dylan deveria ganhar o prémio Nobel”, acrescentando mesmo mais tarde que estava disposto a comer o álbum de 1975 Blood on the Tracks se o prémio fosse para Dylan. Pouco depois do anúncio, Shepard publicava no Twitter uma fotografia desse álbum em vinil juntamente com uma faca e garfo.
Tweet from @alex_shephard
Na sua peça. Shepard critica a mediatização dos favoritos das casas de apostas, que acabam sempre por favorecer os mesmos autores de sempre “porque as pessoas votam neles”. As hipóteses calculadas inicialmente com os métodos mais subjetivos da Ladbrokes acabam por ter um peso final baixo: as posições dos autores vão sendo modificadas pelas apostas dos utilizadores.
“As apostas têm base na oferta e na procura”, explicou Alex Donahue da Ladbrokes à New Yorker. “As hipóteses de um determinado concorrente vão ser mais favoráveis se houver muitas pessoas a acreditar que vão vencer”. A isto somado o facto de o prémio Nobel da Literatura ter tendência a escolher escritores pouco conhecidos, desde poetas transgressores a, no ano passado, uma jornalista que escrevia contos com base em entrevistas, Svetlana Alexievich, mais do que romancistas mundialmente conhecidos. Philip Roth, Don DeLillo e mesmo o português António Lobo Antunes são alguns dos nomes frequentemente mencionados que nunca foram premiados — para não falar de Murakami.
Também se pode apostar em quem vai vencer o Nobel da Química ou o da Economia? Na grande maioria das casas de apostas, não. Enquanto a Literatura é mais subjetiva e pode ser debatida com base nos gostos pessoais, os prémios para as áreas mais técnicas não são tão atrativos para leigos que queiram pôr dinheiro no favorito. Donahue resume-o numa frase: a Literatura “parece ser a categoria que, acima de todas as outras, mais captura as imaginações dos apostadores”.
Editado por Mariana de Araújo Barbosa.
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