Obrigações para o retalho esgotam em oito horas
O Estado encolheu o prazo de subscrição para 10 dias, mas bastava um. Logo no primeiro dia de subscrição, os pequenos investidores apanharam todas as obrigações destinadas ao retalho.
Mal começou, esgotou. Os portugueses arrebataram logo no primeiro dia a quantidade de títulos de dívida prevista em mais esta emissão de obrigações destinadas aos pequenos investidores. Colocaram, sabe o ECO, ordens de um valor acima dos 500 milhões de euros definidos pelos Governo. Houve, novamente, uma corrida a uma taxa de 2% numa altura em que quase todos os produtos dão pouco mais de 0%.
O Executivo deu apenas 10 dias úteis para a subscrição das Obrigações do Tesouro de Rendimento Variável (OTRV) — tinha dado 15 dias nas duas anteriores –, mas bastava um. As ordens colocadas junto das instituições financeiras superaram os 500 milhões de euros, afirmou uma fonte ao ECO. Outra fonte diz mesmo que o valor total duplicou a meta inicial definida pelo Governo. Ou seja, terão sido dado ordens de mil milhões num só dia.
Este resultado não é muito diferente daquilo a que se tem assistido nas anteriores emissões de OTRV. Na primeira, realizada entre abril e maio, o Governo recebeu ofertas num valor de 1,2 mil milhões de euros, acabando por colocar 750 milhões de euros (a oferta inicial era de 350 milhões), sendo que em agosto a procura ascendeu a 1,84 mil milhões de euros. Nessa emissão, de 500 milhões, o Estado acabou por colocar 1,2 mil milhões.
Taxa atrativa
É grande o apetite revelado pelos pequenos investidores por estes títulos. E na base desse apetite está a taxa de juro oferecida por estes títulos de dívida: 2% ao ano, durante cinco anos. É a mais baixa das três operações com OTRV (2,2% na primeira e 2,05% na segunda), mas é elevada num contexto de juros praticamente inexistentes nos produtos comercializados pela banca. A taxa média dos depósitos é de 0,35%, mas os Certificados do Tesouro Poupança Mais, por exemplo, dão 2,25%, em média, no mesmos cinco anos.
Comparação das taxas que o Estado oferece
Perante uma taxa atrativa, os bancos estão dar um contributo para o sucesso deste produto do Estado. Sem necessidade dos recursos dos clientes, as instituições financeiras estão a ser muito ativas na promoção das OTRV junto dos clientes, conciliando um juro elevado para os investidores com a conquista de comissões que ajudam a animar os resultados do setor. É que ao contrário de outros títulos do Estado, é preciso pagar comissões nas OTRV. Em investimentos baixos — o mínimo de investimento é de 1.000 euros — as comissões podem arrasar os juros. E até mais.
À espera de mais
O montante da emissão é de 500 milhões de euros, mas tal como nas outras duas emissões já realizadas durante este ano há margem para que o valor a emitir seja revisto em alta. Essa possibilidade já estava prevista aquando do anúncio de lançamento desta terceira operação com recurso às OTRV. “O valor pode ser aumentado por opção do emitente, até ao dia 18 de novembro de 2016”, refere o IGCP. Não há, contudo, um valor estipulado para esse aumento. E mesmo com a revisão em alta do valor da emissão pode haver rateio.
Se no final do prazo de subscrição (25 de novembro) se verificar que a procura está acima da oferta, o rateio será feito em três fases: atribuição de OTRV no montante de 20 mil euros, correspondente a 20 OTRV (ou no montante solicitado, no caso de este ser inferior a 20 mil euros) a cada ordem de subscrição; atribuição do restante montante solicitado em cada ordem de acordo com a data em que deu entrada no sistema da Euronext; e atribuição sucessiva de mais mil euros em OTRV às ordens de subscrição que, após a aplicação dos critérios anteriores, mais próximo ficarem da atribuição de um lote adicional de mil euros em OTRV.
Retalho financia
Só com OTRV, o Estado já obteve 1.950 milhões de euros de financiamento junto de pequenos investidores. Este montante soma-se aos 2.566 milhões já captados até setembro com os certificados do Tesouro Poupança Mais e aos 160 milhões com certificados de aforro. Assim, no total, só com as famílias, o Governo já captou 4.676 milhões. Com esta emissão, o saldo vai superar a fasquia dos cinco mil milhões de euros.
Sem contar com os valores para os certificados em outubro, novembro e dezembro (um trimestre inteiro), apenas com os 500 milhões de euros desta nova operação com OTRV, o saldo em 2016 pode ascender a 5.176 milhões de euros. E será ainda mais expressivo com o aumento da oferta destes títulos. É um valor avultado que não tem tido grande impacto no saldo dos depósitos: saíram cerca de 2.500 milhões de euros em agosto e setembro, mas essencialmente devido ao maior consumo nas férias. No acumulado do ano, o dinheiro confiado aos bancos continua com saldo positivo.
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