Euro afunda. Próxima paragem: paridade?
Subida dos juros, nos EUA, e injeção de estímulos do BCE, na Europa. Esta divergência deve pressionar o euro. Mas será a política a levar a moeda única a valer o mesmo que o dólar em 2017.
O euro não para de tocar mínimos. E a moeda deve continuar a cair no próximo ano. As promessas de investimento de Donald Trump devem obrigar a Reserva Federal dos EUA a subir as taxas de juro mais rapidamente do que o antecipado. Mas, no Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi deve manter o programa de estímulo. Esta divergência está a pressionar a moeda única contra o dólar. Contudo, será a política na Europa o fator-chave para que o euro passe a valer o mesmo, ou menos, que a divisa norte-americana já no próximo ano.
Desde a crise financeira global, em 2008, quando o euro tocou um máximo de 1,604 dólares, a moeda única tem vindo a cair. E desde a vitória de Donald Trump nas eleições dos EUA, o euro acentuou esta tendência negativa. A divisa já tocou os 1,0352 euros, mas é possível que continue a cair, ao ponto de chegar à paridade face ao dólar. Portanto, valer o mesmo que a divisa norte-americana, o que não acontece há 14 anos. Por agora, a moeda está perto dos 1,0550.
Euro rumo à paridade
E pode mesmo atingir os 0,95 dólares no próximo ano, o valor mais baixo desde 2002. Pelo menos é esta a previsão do Deutsche Bank e do ABN Amro. O Barclays projeta 0,98 dólares e o Morgan Stanley prevê 0,99 dólares, mas só mais para o final do próximo ano.
Este movimento reflete as diferentes expectativas para as taxas de juro da Reserva Federal dos EUA e do BCE, liderado por Mario Draghi. Se, por um lado, a Fed deve subir as taxas de juro mais depressa do que previsto, devido às promessas de investimento de Donald Trump, por outro, o BCE continua a injetar estímulos na economia.
“Nos EUA, os eventos têm sido positivos para o dólar. Desde o aumento da probabilidade de haver estímulo orçamental, à intensificação do protecionismo e controlos de imigração”, escreve o Goldman Sachs. A isto junta-se a aceleração da inflação, que deixa antecipar uma restrição da política monetária do banco central dos EUA.
“O euro deverá afundar para a paridade no final do próximo ano, assumindo um alargamento no diferencial das taxas de juro entre a Zona Euro e o os EUA“, diz Daisaku Ueno, estratega-chefe do mercado cambial do Mitsubishi UFJ Morgan Stanley.
Política monetária? Não só
Mas o mercado acredita que a queda do euro pode estar mais relacionada com questões políticas. “Faz sentido convencermo-nos de que a Fed vai subir os juros um pouco mais depressa e faz sentido acreditarmos na ideia de que o crescimento dos EUA está a ser impulsionado pela Administração Trump. Mas isto tudo já está incorporado no valor [do par euro face ao dólar]”, diz o Société Générale. O problema é outro: os investidores temem que a vitória de Trump alimente a maré populista, que está a ganhar força na Europa.
Na Holanda, Geert Wilders, que lidera o Partido para a Liberdade, partido populista de extrema-direita e anti-islâmico, está à frente nas sondagens de opinião antes das eleições de março. Na Alemanha, o mais recente ataque terrorista aumentou ainda mais a pressão para a chanceler alemã, Angela Merkel, que enfrenta eleições legislativas no próximo outono. Mas o foco está virado para França, onde Marine Le Pen, líder da Frente Nacional, deve ganhar a primeira ronda nas eleições presidenciais, em abril.
“O nervosismo em torno da perspetiva política e o potencial de haver outra surpresa populista manterão o euro sob pressão”, diz Kit Juckes, um dos estrategas cambiais do Société Générale, referindo-se às eleições francesas. “Ainda esperamos que o euro chegue à paridade face ao dólar entre agora e as eleições francesas, em abril ou maio“, refere o banco.
“Na Europa, a atual incerteza sobre o processo do Brexit deve pesar na libra, enquanto a vaga de eleições legislativas em França, Alemanha e Holanda vão pressionar o euro”, explica a equipa de analistas numa nota de investimento citada pela Bloomberg.
Paridade não é para todos
Mesmo com o diferencial de juros entre a Fed e o BCE, e os receios do crescimento do populismo na Europa, não é consensual que o euro chegue a valer o mesmo que o dólares. A “possibilidade de o euro atingir a paridade com o dólar é mais remota do que parece, devido ao excedente de balança comercial da Zona Euro, que se deve, em larga medida, à Alemanha”, diz Steven Santos, gestor do BiG.
Ainda que alguns dos maiores bancos de investimentos internacionais preveja um euro abaixo do dólar, o consenso também aponta para que a moeda única continue acima da paridade. Deve cair para os 1,05 dólares até ao final de 2017, de acordo com a média das estimativas dos analistas consultados pela Bloomberg. E mesmo que baixe do dólar, tem potencial para rapidamente recuperar.
“O euro não deve manter-se abaixo da paridade, a não ser que as eleições em França sejam uma grande surpresa”, diz o Société Générale. Além disso, o banco também espera que os benefícios que o dólar colheu com esta divergência entre as políticas monetárias dos EUA e da Zona Euro atinja um limite até meados de 2017, quando o BCE alterar mais significativamente o seu programa de compra de ativos. “Consequentemente, prevemos que o par entre o euro e o dólar recupere e abandone a paridade a partir da primavera“.
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