Teodora Cardoso: “É preciso repensar” o investimento público
A presidente do Conselho de Finanças Públicas defende um investimento que seja capaz de gerar receitas e, ao mesmo tempo, reduzir dívida.
Teodora Cardoso, presidente do Conselho de Finanças Públicas, defende que é preciso repensar o processo de investimento público, considerando essencial que este não seja feito à custa de dívida, mas gerando receitas que permitam amortizá-la.
“Temos de investir de forma a que geremos receitas que permitem realizar investimento e, ao mesmo tempo, reduzir a dívida“, disse Teodora Cardoso, na sua intervenção no seminário ‘Investimento Público Sustentável – Efeitos na Alavancagem da Economia’, que decorreu, esta segunda-feira, em Lisboa, na União de Associações de Comércio e Serviços.
"[É preciso] garantir que o investimento é feito, mas não à custa de dívida, pelo contrário, até amortizando dívida. Isso é essencial e não só no curto prazo.”
A responsável deu até o exemplo do investimento que está a ser realizado pela Câmara de Lisboa na capital no sentido de “garantir que o investimento é feito, mas não à custa de dívida, pelo contrário, até amortizando dívida“. Para Teodora Cardoso, “isso é essencial e não só no curto prazo”.
É preciso, por isso, “repensar o processo”, sublinhou, no seminário coorganizado pela União de Associações do Comércio e Serviços, a Câmara de Lisboa, a Ordem dos Engenheiros e o Dinheiro Vivo.
"O país fugiu para o que era fácil no curto prazo. A construção, atividade muito importante, transformou-se numa atividade transacionável, mas que não pode ser o motor da economia.”
Teodora Cardoso analisou a evolução do investimento público em Portugal e afirmou que o país “fugiu para o que era fácil no curto prazo”, exemplificando com o caso da construção, atividade que considera “muito importante” e que se transformou, recentemente, “numa atividade transacionável”, mas que não pode ser o motor da economia.
Abordou também as questões do financiamento, mas deixou um alerta: “Aqui podem entrar as transferências da União Europeia, mas cuidado, porque tivemos grande acesso a transferências da União Europeia, umas utilizamos bem, outras não“.
“É por isso que, mais uma vez, se discute o bom investimento público e o mau investimento público”, afirmou, considerando que esta “é a pior maneira de pegar na questão”.
"Estamos mesmo numa situação em que precisamos mesmo de aprender com os erros.”
A presidente do Conselho de Finanças Públicas afirmou que, em primeiro lugar, é preciso perceber se o investimento tem de ser feito e para quê, e só depois é que se vai ver qual a forma de financiamento, até porque o contrário “dá asneira” no curto prazo.
“Porque isto no curto prazo foi a nossa técnica e temos de reconhecer. Foi isto que nós fizemos durante muito tempo e é isso que temos de reconhecer para não o tornar a fazer. Estamos numa situação em que precisamos mesmo de aprender com os erros”, frisou.
Teodora Cardoso considera que o financiamento “é condição essencial” e defendeu que o país tem de ser capaz “de pensar nela e de a integrar neste sistema, na política orçamental e no horizonte”, analisando também a maneira como se tomam e avaliam as decisões e aferindo os seus resultados.
"O investimento público tem estado a descer a um ritmo que já nem dá para a manutenção nas infraestruturas.”
“Levamos anos a investir em investimento público, muito mais em termos do seu impacto a curto prazo do que nos seus efeitos estruturais a longo prazo. Mas depois veio a crise e na realidade o investimento público foi quem mais pagou, tem estado a descer a um ritmo que já nem dá para a manutenção nas infraestruturas”, analisou.
A responsável criticou este desperdício do investimento anterior e sublinhou que tal mostra que são precisas grandes mudanças institucionais, nomeadamente na maneira como o Orçamento do Estado é aprovado.
“Isto vai implicar competências novas na Administração Pública, o que é outro investimento que temos de pensar fazer. Se em vez disso, andarmos a pensar se o investimento público é bom ou mau, isto leva-nos a um péssimo caminho, cada vez mais aflitos e mais dependentes dos credores”, afirmou.
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