“Clausulas suelo”, Trump… Ah! E o BPI

Parecia uma sala de cinema que se enchia para ver o “La La Land”, mas não era. O filme era o das contas do CaixaBank, o banco que está a comprar o BPI. Mas as “clausulas suelo” foram as protagonistas.

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Uma sala bem composta, com uma assistência de fazer inveja a muitas salas de cinema. O filme? Não havia. Ninguém pagou bilhete para ver o “La La Land”, antes para ficar a conhecer as contas do maior banco em Espanha que quer ser o maior da Península Ibérica assim que conclua a OPA ao BPI. Com a OPA a decorrer, ficaram as notas de confiança, o otimismo com o crescimento, mas também os elogios à gestão numa conferência de imprensa em que a oferta em curso quase passou despercebida numa altura em que as “clausulas selo”, e até Trump, assumem o papel de protagonistas.

Jornalistas de toda a Espanha rumaram a Barcelona, mas pela primeira vez também houve lugar para um comitiva portuguesa, mini autocarros iam chegando ao 621 da famosa Avinguda Diagonal onde a imponente sede do CaixaBank se ergue. À entrada das duas torres, uma do La Caixa, outra do CaixaBank, com os logos a girarem em torno dos respetivos edifícios, um “check-in” tipo aeroporto – apinhado de jornalistas. Uma pequena receção para fazer tempo até à hora de anunciar as contas, permitindo à imprensa instalar-se para presenciar a chegada de Jordi Gual, o presidente, e o Gonzalo Gortázar, o presidente executivo. Gual toma o leme da apresentação. “Hoje apresentamos uns resultados muito positivos para o CaixaBank”: 1.047 milhões de euros, um regresso acima da fasquia dos mil milhões de euros.

Menos imparidades com o crédito malparado, um mal que assolou o sistema financeiro espanhol e continua a ser um fardo no português. Mas, ao mesmo tempo, mais receitas. A margem financeira continua a ser a luta. Apesar da quebra ligeira no ano, o banco conseguiu inverter a tendência a meio do ano numa altura em que os juros, em mínimos históricos, patrocinados por Mario Draghi, continuam a deixar os banqueiros de nervos à flor da pele. Um drama que Donald Trump poderia vir resolver com a sua política para tornar a “América grande outra vez”, mas que Gortázar não acredita será capaz de antecipar o fim dos juros negativos. “Há outros fatores”, lembra.

Esperamos passar os 50%, que tenhamos esse ganho e controlo do banco. Mas temos de esperar pela próxima semana.

Gonzalo Gortázar

Presidente executivo do CaixaBank

A juntar a estes juros mínimos, que afetam a margem – além do malparado, que carrega nas provisões – o CaixaBank, tal como outros bancos espanhóis estão a braços com a decisão judicial sobre as clausulas abusivas introduzidas nos contratos de crédito à habitação ao longo dos últimos anos. As “clausulas suelo” vão custar milhares de milhões de euros aos bancos. Qual é a fatura do CaixaBank? Já têm esse dinheiro provisionado? Como é que vão pagar? Depois das taxas baixas, foram estas as questões que mais despertaram a atenção dos muitos jornalistas espanhóis. E as respostas? O banco, que só tem destes casos devido aos bancos que foi adquirindo, .

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E o BPI? Não se ouviu questão, em espanhol ou catalão. Foi em português. Na primeira vez em que o banco convidou uma comitiva portuguesa para a apresentação das contas – facto salientado por Gual logo no arranque da apresentação – coube à imprensa nacional tocar numa fatura potencialmente bem mais avultada para os acionistas do banco, a OPA. Uma oferta que “vai permitir-nos ser o maior banco ibérico”, ou seja, ser o banco com maior quota nestes dois países, maior que os gigantes BBVA e Santander, Mas que também vai pesar nos rácio do banco: poderá levar o CET1 “fully loaded” para entre 11% a 11,6%, ainda assim acima do exigido pelo BCE.

“Estamos perto de encerrar a OPA e de iniciar um projeto que acreditarmos terá sucesso”, atirou Gual, uma confiança partilhada por Gortázar. “Esperamos que a OPA se conclua de forma satisfatória”, começou por dizer. A insistência levou a uma resposta um pouco mais convicta: “Esperamos passar os 50%, que tenhamos esse ganho e controlo do banco. Mas temos de esperar pela próxima semana” para saber o resultado de uma oferta de 1,134 euros por ação que não é do agradado de todos. Os pequenos investidores pedem mais, ameaçando com processos judiciais. E até a administração do BPI, liderada por Fernando Ulrich, falava num valor superior. Então e Ulrich, fica?

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O CaixaBank aponta o BPI como sendo uma rede “atrativa” que conta com uma “equipa excelente”. “O BPI fez um trabalho magnífico perante uma crise muito complicada, mais complicada que em Espanha. Trabalhamos com eles mais de 20 anos e confiamos neles”, afirmou Gortázar. Um sinal de que o mandato poderá ser estendido, deixado já depois de ter afirmado que deixava “para a semana avaliar a continuidade da administração do BPI”. A OPA ao BPI chega ao fim a 7 de fevereiro.

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