EUA: 2006 foi o pior ano da balança comercial, um problema que Trump quer resolver
Esta terça-feira nos EUA são revelados novos dados sobre a balança comercial. Este tem sido um dos focos de Donald Trump, mas o défice comercial já foi maior. Em 2006, com Bush, foi o pior resultado.
O muro que Trump quer construir na fronteira com o México é real. Mas há outro tipo de muros que a nova administração quer impor: quebrar acordos comerciais, impor taxas aduaneiras e trazer de volta empresas para os Estados Unidos. O objetivo é diminuir o défice comercial que atualmente o país tem com o exterior. Esta terça-feira foram revelados os dados da balança comercial até dezembro, ou seja, do ano de 2016.
Recuemos a 1970. É desde esse ano que o World Bank tem informação sobre a balança comercial de bens e serviços dos EUA. Após duas guerras mundiais, em plena Guerra Fria, a globalização ainda estava longe de chegar à evolução que atualmente conhecemos. Nesse ano, a balança comercial já era negativa mas estava apenas nos -610 milhões de dólares. Como verá, em comparação com a evolução registada, este número é uma gota no oceano.
Na duas décadas seguintes, a balança comercial degradou-se até 1987, atingindo os -151 mil milhões de dólares, recuperando depois até ao ano da extinção da União Soviética. Em 1991, o défice situava-se nos 31,18 mil milhões de dólares. Mas desde esse ano e até 2006, a balança comercial degradou-se quase em todos os anos até ter atingido os -761 mil milhões de dólares. Os EUA estavam, nessa altura, sob a presidência de George W. Bush.
O alarme deve ter soado na cabeça do Presidente dos EUA que se seguiu porque, pouco tempo depois, num só ano, a balança comercial foi corrigida em mais de 400 mil milhões de dólares. Estamos a falar de Barack Obama, que toma posse a 20 de janeiro de 2009. No ano em que começou o mandato primeiro afro-americano na Casa Branca, o défice comercial passou dos 708 mil milhões de dólares para os 383 mil milhões de dólares.
Mas a melhoria não continuou e o défice voltou a agravar-se, apesar de acima do valor mais baixo a que chegou a administração de Bush. Obama terminou os seus dois mandatos com um défice comercial de 500 mil milhões de dólares. Em 2016, em plena campanha das eleições presidenciais e já com a sombra de Donald Trump no final do ano, a balança comercial aumentou ligeiramente (+0,4%) para os 502,3 mil milhões de dólares, segundo os dados divulgados esta terça-feira. Este valor é equivalente ao da balança comercial de 2003.
No ano passado, as exportações diminuíram mais do que as importações, agravando-se o saldo. Segundo os dados revelados pelo Departamento do Comércio, o gap comercial com o México aumentou, apesar de o gap com a China ter sido menor. No caso chinês, o défice passou dos 367,2 mil milhões de dólares para os 347 mil milhões de dólares. Já o défice comercial com o México aumentou dos 60,7 mil milhões de dólares para os 63,2 mil milhões de dólares. O problema continua a ser a balança comercial de bens, uma vez que o saldo dos serviços é positivo, mas não suficiente para compensar.
Este tem sido o argumento de Donald Trump para atacar os acordos comerciais, nomeadamente o NAFTA (North American Free Trade Agreement) e o Tratado Transpacífico, além da criação de novas taxas aduaneiras para certos produtos. Durante a campanha, o agora Presidente dos EUA dizia que os outros países estavam a beneficiar, em termos de postos de trabalho e balança comercial, à custa dos Estados Unidos. No entanto, o problema está também, como relatava esta terça-feira a Bloomberg, com a continuada procura interna norte-americana, a qual continua a manter as importações em níveis elevados.
Os dados até 2015, também disponibilizados pelo Departamento do Comércio norte-americano, conseguem dar-nos um retrato mais amplo sobre as interações comerciais dos EUA com o resto do Mundo. A China é, de longe, o país que causa o desequilíbrio da balança comercial norte-americana. Se considerarmos que o saldo está nos -500 mil milhões de dólares, pelo menos 300 mil milhões de dólares resultam das trocas comerciais de bens e serviços com os chineses.
Segue-se a União Europeia com cerca de -100 mil milhões de dólares, onde a maior parte é da responsabilidade de França (-14 mil milhões de dólares), da Alemanha (-77 mil milhões de dólares) e da Itália (-29 mil milhões de dólares). O México é o terceiro desequilíbrio comercial que Trump quererá resolver com cerca de -57 mil milhões de dólares, seguindo-se o Japão com -55 mil milhões de dólares.
Em sentido contrário, os países que contribuem de forma positiva para a balança comercial norte-americana são, principalmente, os países da América central e do sul com 86 mil milhões de dólares, como é o caso do Brasil. Mas os valores estão longe de compensar, neste momento, os desequilíbrios comerciais que os EUA têm. Curiosamente, a balança comercial com o Reino Unido é, desde 2006, positiva para os norte-americanos.
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