Rui Rio considera que Banco de Portugal “não esteve à altura das circunstâncias”
Rui Rio considerou que o regime, com um tempo "exatamente igual ao do Estado Novo", está "desgastado". E deixa criticas à atuação do supervisor bancário, além de querer reforma política e judicial.
O ex-presidente da Câmara do Porto Rui Rio considerou esta quinta-feira, em Coimbra, que o Banco de Portugal “não esteve à altura das circunstâncias” e apelou a uma reforma do sistema político. “Não posso considerar que as entidades reguladoras, a começar pelo Banco de Portugal, funcionam bem, porque funcionam mal”, afirmou Rui Rio, na conferência “As Razões Internas da Crise”, em Coimbra.
"Não posso considerar que as entidades reguladoras, a começar pelo Banco de Portugal, funcionam bem, porque funcionam mal.”
O economista social-democrata salientou que “não há dúvida nenhuma” que o Banco de Portugal “não esteve à altura das circunstâncias”.
“Isto é factual. Podemos agora divergir porque é que não esteve [à altura das circunstâncias] e atribuir responsabilidades a A e a B, mas que não esteve, não esteve, ao longo de anos e anos“, vincou Rui Rio, sublinhando ainda que também “a banca não esteve” à altura.
Durante a conferência, o ex-autarca do PSD defendeu também uma reforma do sistema político, considerando que se está perante um “regime esgotado por força” dos mais de 40 anos de idade, “de uma sociedade que mudou muito” e cujas mudanças o regime não conseguiu acompanhar. Rui Rio considerou que o regime, com um tempo “exatamente igual ao do Estado Novo”, está “desgastado”.
"O Estado Novo chegou podre ao fim. Este não está podre, mas com sinais evidentes de disfunções.”
“O Estado Novo chegou podre ao fim. Este não está podre, mas com sinais evidentes de disfunções”, notou, defendendo a necessidade de se fazer uma reforma do sistema político. A partir dessa medida, será possível reformar a justiça, “que não tem capacidade para se auto-reformar”, e que “se calhar funciona ainda pior do que a política“, referiu.
Rui Rio falava para uma plateia composta maioritariamente por jovens da Coimbra Business School – Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra, entidade organizadora da iniciativa.
Rio reconhece que o Governo conseguiu solidez superior à esperada
O ex-presidente da Câmara do Porto Rui Rio disse também que se deve reconhecer que o Governo “conseguiu uma solidez superior” à esperada e criticou a “perda de tempo” com o caso dos SMS da Caixa Geral de Depósitos. “Devemos todos reconhecer que apesar de tudo, [o Governo] conseguiu uma solidez superior àquela que todos nós estávamos a pensar que seria possível. É um facto”, vincou o economista social-democrata, realçando que negar esse facto é “perder a objetividade na análise das coisas”.
No entanto, Rui Rio continua a acreditar que seria preferível uma “outra solução governativa”, que poderia fazer mais pelo desenvolvimento do país do que a atual, “que está muito marcada na extrema esquerda”. “Aquilo que o Estado tem de fazer não é completamente compaginável com o equilíbrio que tem de fazer à esquerda”, nomeadamente na questão da desburocratização ou da estabilidade do quadro macroeconómico, argumentou Rui Rio, que falava como orador da conferência “As Razões Internas da Crise”, em Coimbra.
"Aquilo que o Estado tem de fazer não é completamente compaginável com o equilíbrio que tem de fazer à esquerda.”
Durante a sessão, após a pergunta de um dos membros da plateia, o ex-autarca do PSD abordou ainda a questão da Caixa Geral de Depósitos (CGD). “Andamos aqui a perder tempo do SMS para cá ou para lá ou da declaração de rendimentos nos jornais ou no Tribunal Constitucional. Vale o que vale”, constatou. Para Rui Rio, o que “verdadeiramente não se discute” é como é que se chegou “aos cinco mil milhões” necessários para a recapitalização da CGD e “de quem é a responsabilidade”.
“Só uma sociedade que não está muito equilibrada é que anda aqui a forçar um administrador da Caixa a pôr os seus rendimentos nos jornais para todos sabermos o que ele e a mulher e os filhos têm. Mas, ao mesmo tempo, quando se pede ao povo para ter conhecimento de quem são os principais devedores da Caixa que nos levaram a isso, aí já não se pode publicamente dizer nada“, considerou. “Não compreendo. Não estou de acordo”, vincou o político social-democrata, que mereceu uma salva de palmas no final da sua intervenção sobre a CGD por parte da plateia da conferência, uma iniciativa da Coimbra Business School – Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra.
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