Atacar os países do sul é tendência. Que o diga Dijsselbloem
Djisselbloem tem sido notícia pelo episódio "bebidas e mulheres", mas não é a primeira vez que este aponta o seu alvo para os países do sul. E as pesquisas do Google são prova disso.
O nome de Jeroen Dijsselbloem tem sido (bem ou mal) repetido incessantemente nos últimos dias. O ministro das Finanças holandês e presidente de Eurogrupo tem sido notícia nos últimos tempos pelo ataque aos países do sul, que gastaram o dinheiro em “bebidas e mulheres”, e pelas tantas reações que esta afirmação espoletou.
Ainda assim, não é a primeira vez que Djisselbloem aponta as armas para os países do sul, principalmente para Portugal, Grécia e Espanha, sendo que também não é a primeira vez que o holandês se torna numa tendência…
Se foi escandaloso, tornou-se tendência
O barómetro atual das reações a qualquer acontecimento é a internet. Quando algo acontece, o Twitter reage, o Facebook incendeia-se e o Google vê-se imerso em pesquisas relacionadas com o tema. As pessoas querem saber o que está a acontecer, quem são os envolvidos e o que terá acontecido no passado.
Desta forma, as estatísticas disponibilizadas pelo Google Trends indicam qual a popularidade de um determinado termo, numa determinada altura. Nestas, o valor 100 corresponde ao pico de popularidade de um termo de pesquisa. A linha roxa do gráfico corresponde à evolução das pesquisa do termo “Jeroen Dijsselbloem” em Portugal, a linha azul clara na Grécia e a linha azul escura em Espanha.
A partir do cruzamento das pesquisas feitas nos três países do sul que têm sido alvo dos reparos do presidente do Eurogrupo, podem-se destacar cinco momentos em que o termo de pesquisa “Jeroen Dijsselbloem” foi mais popular, ou seja, os momentos em que as pessoas quiseram saber quem ele era e o que mais estaria a dizer.
Os cinco ataques de Dijsselbloem
“Tendo em conta o tempo que temos e os prazos parlamentares, acho que podemos dar esta semana [à Grécia], mas é tudo. Se um pedido para a extensão do atual programa desse entrada, nós olharíamos para ele, pedíamos conselhos às instituições e poderíamos ter uma reunião extraordinária do Eurogrupo.”
Os meses de janeiro e fevereiro de 2015 foram de grande pressão para a Grécia. O líder do Eurogrupo foi uma das vozes mas críticas da atuação grega durante o resgate, afirmando que o país não estava a tomar as medidas necessárias para que os objetivos acordados fossem cumpridos.
Assim, e após uma reunião extraordinária do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem afirmou que a Grécia tinha o tempo contado para ceder e aceitar a extensão do programa de resgate que estava em vigor, ou então não havia condições para continuar as negociações.
Desde essa semana — 25 a 31 de janeiro de 2015 — que o nome do presidente do Eurogrupo não foi tão procurado pelos internautas em território grego, tendo apenas atingido um valor de popularidade aproximado à luz das próximas afirmações.
“Tomei nota do resultado do referendo grego. É um resultado muito lamentável para o futuro da Grécia. Para a economia recuperar será inevitável aplicar medidas e reformas difíceis.”
Os gregos foram a votos em 2015 para decidirem se o governo deveria ou não aceitar as exigências dos credores internacionais para que o país continuasse a receber ajuda financeira. Neste referendo, a opção “Não” foi a vencedora com 61,31% dos votos.
Após este resultado, o presidente do Eurogrupo manifestou o seu parecer através de um comunicado que tinha apenas três linhas e no qual se podia então ler que as “medidas e reformas difíceis” tinham de continuar a fazer parte da agenda política grega.
Como se pode verificar pelo gráfico, e como seria de esperar, foi na Grécia que esta afirmação — e toda a campanha a favor do “SIM” que Dijsselbloem fez antes do referendo — teve mais efeito. Dias mais tarde, Jeroen Dijsselbloem foi reeleito presidente do Eurogrupo por unanimidade, o que fez com que os europeus continuassem a pesquisar intensamente o seu nome.
“É dececionante que não haja seguimento da conclusão de que Espanha e Portugal não tomaram ações eficazes para consolidar os seus orçamentos”
Em causa estavam as sanções aplicadas a Portugal e Espanha por não terem conseguido diminuir o défice e sair do procedimento por défices excessivos em 2016. Os países poderiam ser multados em até 0,2% do seu PIB por não terem cumprido a meta imposta, mas a Comissão Europeia decidiu não avançar com o castigo.
Dijsselbloem afirmou então que o cancelamento das sanções o tinha deixado desapontado, tendo reforçado ainda que Portugal e Espanha ainda estavam em perigo.
Ainda assim, esta afirmação não suscitou muitas pesquisas do lado este da Península Ibérica, sendo que as pesquisas pelo nome do presidente do Eurogrupo no território espanhol mantiveram-se inalteradas. Em Portugal, por outro lado, a pesquisa foi 7% acima da popularidade habitual.
Dois meses depois, Djisselbloem voltou a atacar Portugal, tendo afirmado que via “pouco esforço” do país para alcançar a meta do Orçamento do Estado para 2016, ou seja, os 2,2% de défice orçamental.
“Durante a crise do euro, os países do Norte mostraram solidariedade com os países afetados pela crise. Como social-democrata, eu atribuo especial importância à solidariedade. [Mas] os países também têm as suas obrigações. Não podem gastar todo o dinheiro em bebidas e mulheres e depois pedirem ajuda.”
Foi esta a afirmação que incendiou a atualidade — e a internet — e que se fez com que o nome do presidente do Eurogrupo atingisse o pico de popularidade tanto em Portugal como em Espanha. Em entrevista a um órgão de comunicação alemão, Dijsselbloem sugeriu que os países do sul pediram ajuda financeira depois de terem desperdiçado dinheiro em “bebidas em mulheres”.
Não tardaram as reações a estas palavras. Entre muitas, Catarina Martins considerou o comentário “xenófobo e racista” e António Costa usou as mesmas palavras e exigiu a demissão de Jeroen Dijsselbloem.
“Cabe ao BCE decidir em que prazo e de que maneira vai gradualmente acabar com a política monetária acomodatícia que tem seguido.”
O último ataque proferido pelo presidente do Eurogrupo não foi direto, mas teve como destino os países do sul da Europa. Ao afirmar que o Banco Central Europeu devia eliminar gradualmente a política de estímulos que adotou depois da crise financeira, Dijsselbloem apontou o alvo para medidas que estão a beneficiar os países mais endividados, ou seja, países como Portugal e Grécia.
O holandês afirmou ainda que esta eliminação gradual do quantative easing tem de ser uma “nova área de esforço” para a União Europeia e que o FMI tem de ter a capacidade suficiente para ajudar os países que possam ficar em dificuldades.
Ainda que esta afirmação não tenha suscitado tantas pesquisas como as anteriores, foi suficiente para reverter a descida de popularidade virtual do político holandês.
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