CaixaBank entra no BPI… e as comissões disparam
O BPI vai subir consideravelmente um conjunto de comissões bancárias a partir de agosto. A decisão surge depois de o CaixaBank ter assumido o controlo do banco português, em fevereiro.
Foi há cerca de três meses que o CaixaBank “ficou com as chaves” do BPI, e já se começam a vislumbrar os primeiros efeitos práticos no bolso dos clientes da passagem da gestão do banco para mãos espanholas. O banco agora liderado por Pablo Forero prepara-se para aumentar um conjunto de comissões bancárias. Há situações em que o agravamento chega a superar os 300%.
O BPI publicou no seu site um documento com as alterações do respetivo preçário para vigorarem a partir do início de agosto, onde está prevista a subida de diversas comissões, sobretudo relacionadas com cartões de crédito e débito, bem como com cheques.
BPI com a anuidade mais cara nos cartões de crédito
Nos cartões de crédito, por exemplo, a anuidade do cartão BPI aumenta em 33%, com esta a passar dos 15 para 20 euros a partir do dia 1 de agosto. Este é o único cartão de crédito entre a oferta disponibilizada pelo banco a sofrer uma subida no valor da anuidade, sendo que se trata também da primeira mexida no custo deste cartão desde pelo menos o final de 2011. A substituição do cartão de crédito também fica mais cara — 16,6% –, com o cliente a passar a ter de pagar 17,50 euros, acima dos 15 euros em vigor atualmente.
O valor da anuidade também sobe nos casos dos cartões de débito BPI Electron, BPI Electron Private e BPI Electron Puro Online. Para qualquer destes cartões, o encargo passa dos 15 euros atuais para 18 euros. Ou seja, um aumento de 20%. Pedir a substituição do cartão de débito também vai custar mais. Neste caso, a subida é de 33%, com este encargo a passar de 7,5 para 10 euros.
BPI aproxima-se da concorrência nos cartões de débito
Já quem requisite um cartão de débito ou de crédito com urgência, o preço da respetiva produção mais do que triplica. O cliente passa a ter de pagar 35 euros, acima dos 10 euros atualmente em vigor.
Nos cheques também são implementadas diversas mudanças nas tabelas de custos. Por exemplo, no caso da primeira requisição ao balcão de um módulo de 10 cheques cruzados à ordem, o cliente paga atualmente 4 euros ao levantá-lo ao balcão. Nas requisições seguintes de módulos desta dimensão realizadas ao balcão o custo sobe para 10,25 e 7,25 euros, consoante a entrega seja feita ao balcão ou pelo correio. Com a revisão do preçário de agosto, esta emissão vai passar a custar 18 e 12 euros, respetivamente, em entregas ao balcão ou pelo correio. Ou seja, subidas de 76% e 66%, respetivamente. Como o BPI vai descontinuar, a partir do início de agosto, o “desconto” que dava no primeiro módulo de 10 cheques requisitados, isto significa em termos práticos que a primeira requisição de um módulo desta dimensão vai encarecer em 350%. Ou seja, passa dos 4 para os 18 euros.
Os restantes moldes de emissão de cheques seja na dimensão dos módulos ou no tipo de cheque, seja cruzado não à ordem, não cruzado à ordem, ou não cruzado e não à ordem, também sofrem subidas em linha com os casos acima referidos.
De salientar ainda a subida dos valores a cobrar nos portes de correio. A comissão cobrada em comunicações feitas por correio nacional passam a ter um custo único de 3 euros, quando este valor oscila atualmente entre um mínimo de 1 euro no envio por correio normal e um máximo de 3 euros, por envios em correio Azul registado. Caso seja um envio especial (via DHL), a comissão sobe 100%, passando dos atuais 12,5 euros, para 25 euros. Já a cópia de documentos comprovativos que não têm hoje um preço definido, passa a ter um preço de 5 euros.
Mas não há só más notícias para o bolso dos clientes do BPI. No documento com as alterações previstas no preçário do banco está uma diminuição da taxa de juro aplicada no cartão de crédito BPI. Quem ultrapasse o período de pagamento sem juros, vê a TAN (Taxa Anual Nominal) descer dos atuais 12,5%, para 11,1%.
Uma aproximação à concorrência
Quaisquer dos aumentos das comissões do BPI podem parecer excessivos, contudo, sobretudo no caso dos cartões de crédito e de débito, são uma aproximação face ao valor cobrado pela concorrência. Considerando os cartões de crédito da oferta base dos cinco maiores bancos a operar em Portugal, o BPI que cobrava a terceira maior anuidade, ultrapassa a CGD, para passar a cobrar o valor mais elevado, a par do Santander Totta.
Aliás, basta consultar o histórico dos preçários do BPI para verificar que a instituição liderada por Fernando Ulrich não aumentava a anuidade do cartão BPI pelo menos desde o final de 2011. Já nos cartões de débito, o aumento do custo anual a cobrar aos clientes coloca o BPI em linha com os preçários em vigor na CGD e BCP. No caso do Novo Banco a anuidade do cartão de débito mantém-se acima, nos 19,5 euros. Já o Santander Totta apresenta o custo mais baixo: 17 euros. Há mais de um ano que o BPI também não mexia no custo deste serviço. Contactado, não foi possível obter esclarecimento sobre os aumentos por parte do BPI.
O anúncio do aumento de algumas comissões no banco que tem como novo CEO, Pablo Forero, surge cerca de três meses depois de o CaixaBank ter assumido o controlo do capital do BPI. Com a OPA concluída a 8 de fevereiro deste ano, o banco espanhol passou a deter cerca de 85% do capital do banco português.
Entretanto, o CaixaBank já salientou as virtudes da gestão de Fernando Ulrich, mas falou também de alguns problemas de eficiência do BPI. Em entrevista ao El Economista em meados de abril, o administrador financeiro do grupo catalão afirmou isso mesmo. “A rede tem uma grande atividade comercial e há um dia-a-dia em que estamos focados. É um banco bem gerido, sem problemas de solvência ou liquidez, que é o principal de uma companhia financeira, mas tem um problema de eficiência”, declarou na ocasião Javier Pano.
O aumento das comissões pode ser uma via para o conseguir, uma tendência que tem sido, aliás, seguida por outros bancos que operam em Portugal. Só em 2016, Caixa Geral de Depósitos, BCP, Santander Totta e também o BPI arrecadaram, conjuntamente, mais de 1.500 milhões de euros, por essa via. Ou seja, mais de seis milhões de euros por dia. As comissões tornaram-se no “el dorado” para a banca contornar o impacto negativo sobre as suas contas resultante do ambiente de juros historicamente baixos.
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