As dez ideias de Nuno Amado no ECO Talks
O presidente do BCP defendeu uma CGD pública, queixou-se da solução encontrada para o Novo Banco e admitiu que a banca tem capacidade para financiar a economia. Amado em discurso direto.
O presidente do Millennium bcp participou esta quarta-feira no ECO Talks, em Braga, no âmbito da 2ª Semana de Economia. No evento organizado pela InvestBraga, Nuno Amado falou dos vários temas quentes do momento: defendeu que a banca tem capacidade para emprestar, disse não concordar com a solução encontrada para o Novo Banco, recusou-se a dizer se a capitalização do Caixa Geral de Depósitos era a adequada e, sem querer falar de política, deixou escapar que sempre foi otimista quanto à solução de Governo encontrada.
1. O rating da República
Para o presidente do BCP, a banca já passou o Cabo das Tormentas e está agora no Cabo da Boa Esperança. Mas, para que a metáfora usada por Amado fique completa, é preciso dar um passo essencial: “Melhorar o ‘rating’ da República”.
"É expectável que haja uma revisão do ‘rating’ quando a dívida descer, mas vai depender da rapidez com que esse passo seja dado, e é preciso uma evolução de alguns trimestres [e não apenas de um].”
Mostrando-se otimista, Nuno Amado disse que “é expectável que haja uma revisão do rating quando a dívida descer, mas vai depender da rapidez com que esse passo seja dado, e é preciso uma evolução de alguns trimestres [e não apenas de um]”.
2. Financiamento da economia
Sobre o financiamento da economia, Nuno Amado foi taxativo: “Todos temos capacidade para emprestar“. E, para corroborar a afirmação, relembrou que se antes o rácio da banca era de 100 euros de depósito para cada 165 euros de crédito, o rácio atual “é de 100 para 100”.
No entanto, Amado recordou: “O crédito diminuiu onde tinha de diminuir e aumenta onde tem de aumentar”. Mas deixou um alerta: “Acredito que o stock de crédito pode diminuir porque temos de desalavancar a economia”.
"Acredito que o stock de crédito pode diminuir porque temos que desalavancar a economia.”
Os cortes ao financiamento não chegarão, no entanto, ao crédito ao setor produtivo e também às exportações, garantiu.
3. Solução governativa
Apesar de gostar de política, Amado diz que não gosta de falar de política. Ainda assim, deixou escapar que sempre se mostrou optimista quanto à solução de Governo encontrada. Amado destacou ainda o alinhamento político que existe entre o Governo, o primeiro-ministro e o Presidente da República.
“Não gosto de falar de política. Apesar de tudo estive optimista sobre esta solução de Governo, uma opinião que tive na altura”.
4. Destruição de capital em Portugal
Amado reconhece que houve destruição de capital em Portugal, mas diz desconhecer o montante. “Houve uma enorme destruição de capital em Portugal e a única forma de recuperar valor é ser rentável de uma forma sustentável e a prazo”, refere.
5. Banca estrangeira
Nuno Amado reclamou para o BCP o facto de ser o único banco de matriz portuguesa. Apesar disso, o responsável diz que não condena a banca estrangeira onde, de resto, trabalhou. “Os bancos estrangeiros fazem o seu papel. O que defendo é que, por mérito próprio, a diversidade é o melhor que há”.
“Haver um setor bancário diverso, público e privado, português e estrangeiro (este o mais diverso possível) e, dentro da estrutura accionista, também de preferência alguma diversificação, são factores que melhoram a concorrência. Mas em condições de mérito e não de favor, como no passado se tentou”.
E a puxar a brasa à sua sardinha, rematou: “A banca de matriz portuguesa está mais próxima das empresas e tem uma visão diferente”.
6. Caixa Geral de Depósitos
Nuno Amado confessou que sempre defendeu uma Caixa Geral de Depósitos semi-pública, mas que a sua opinião mudou entretanto. “Hoje, conhecendo os mecanismos da União Bancária, sou favorável em manter uma CGD pública. Mas é bom ter o capital adequado e não ter mais do que o adequado”.
"Hoje, conhecendo os mecanismos da União Bancária, sou favorável em manter uma CGD pública. Mas é bom ter o capital adequado e não ter mais do que o adequado.”
Já sobre o capital da CGD disse: “Não conheço se a Caixa tem o capital adequado ou não“.
7. Novo Banco
O banqueiro voltou a frisar uma ideia que tem defendido: “A solução do fundo de resolução não é uma solução de que eu goste, mas é a vida”.
"O fundo de resolução não é uma solução de que eu goste, mas é a vida.”
“Eu, como concorrente, tenho dificuldade em gostar”, sustentou. Ainda assim, Amado diz que “o encerramento do dossiê é necessário e tem urgência. A forma de fazer isso é que é o tema. Não conheço alternativa, mas custa a um concorrente suportar mais”.
8. BCP e a recuperação
O presidente do BCP não tem dúvidas de que o banco a que preside está a encetar um processo de recuperação sustentável e positiva.
“Fizemos um conjunto de ajustes, em tempo, que nos permitiram criar mais de mil milhões de euros por ano de resultado operacional antes de imparidades. Sem isso, provavelmente o BCP não estaria hoje a começar uma recuperação sustentável e positiva ainda que, com muitos ajustes pela frente”, referiu.
E, é nessa base que o banco trabalha e que tenta “criar valor para os acionistas”. “Quer para os novos acionistas, a Fosun, quer para os antigos acionistas, o que tentamos é demonstrar o potencial a prazo do BCP”.
9. Bolha no Imobiliário
Sobre uma eventual bolha no setor imobiliário, Amado descartou esta possibilidade e deu mesmo o exemplo do preço das casas em cidades europeias, inclusive em cidades secundárias, onde os valores são muito superiores aos praticados em Portugal.
E adiantou: “Não estávamos a financiar projetos de imobiliário, fizemos bem. Mas hoje entraremos nesse setor, com os cuidados que temos de ter”.
10. Banco Mau
As autoridades continuam às voltas para resolver o tema do crédito malparado que está a contaminar o sistema. Questionado sobre a posição do BCP sobre esta matéria, o banqueiro respondeu que “é um tema que temos de analisar”.
“Se eu puder ter uma solução económica, viável e não disruptiva do capital, o BCP está totalmente interessado em avaliar”, garantiu. De resto, Nuno Amado diz que não está interessado em destruir capital “em favor de uns senhores de fora que levam isto”.
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