Detenções de príncipes na Arábia Saudita puxam pelo petróleo. Banca em stress
Um comité anticorrupção gerido pelo príncipe herdeiro saudita levou à prisão de dezenas de príncipes, multimilionários e ministros, o que está a agitar os bancos mundiais e os preços do petróleo.
A estrutura da Arábia Saudita mudou… e os mercados agitaram-se. Um comité anticorrupção, criado pelo rei saudita e gerido pelo príncipe herdeiro do reino, decretou a prisão de mais de uma dezenas de príncipes, multimilionários, ministros e responsáveis de topo. Uma decisão que está a impulsionar os preços do petróleo nos mercados internacionais. Mas a minar os planos de grandes empresas de reforçarem a sua presença na Arábia Saudita.
Segundo a cadeia de televisão Al Arabiya, pelo menos 11 príncipes, quatro ministros e “dezenas” de ex-ministros foram detidos na noite de sábado na Arábia Saudita por ordem da entidade criada horas antes pelo rei Salman bin Abdulaziz. Este comité, dirigido por Mohamed bin Salman, tem como missão investigar casos de corrupção detetados no reino, segundo informou ainda antes da notícia das detenções a agência oficial SPA.
Esta investigação está a puxar pelos preços do petróleo, levando as cotações a superarem máximos de quase dois anos. O West Texas Intermediate (WTI), negociado em Nova Iorque, está a subir 0,66% para 56 dólares, enquanto o Brent, negociado em Londres, avança 0,71% para 62,52 dólares.
Brent aproxima-se dos 63 dólares
Mas porquê esta subida das cotações da matéria-prima? Para os investidores, é uma forma de o príncipe — um dos maiores defensores do corte da produção da OPEP — consolidar o seu poder. Mohamed bin Salman “já expressou o seu apoio ao prolongamento dos cortes do cartel”, afirma Edward Bell, analista do Emirates Nbd Bank, à Bloomberg. “Numa altura em que um dos maiores produtores e exportadores do mundo avança com uma transformação da economia, é normal que haja alguma incerteza e risco político, o que vai suportar os preços”, acrescenta.
Citigroup na Arábia Saudita? Agora é mais difícil
Mas, se por um lado, esta investigação é positiva para os preços do “ouro negro”, por outro, penaliza os bancos internacionais que estão a tentar expandir a sua presença no reino. Uma aposta que surge numa altura em que a Arábia Saudita está a reformar a economia e se prepara para colocar em bolsa a petrolífera estatal, naquele que pode ser o maior IPO de sempre.
É que um dos detidos foi o príncipe Alwaleed bin Talal. O multimilionário é um dos homens mais ricos do Médio Oriente. E é também um importante acionista do Citigroup. Com a sua detenção, o banco pode enfrentar novos obstáculos na sua tentativa de reconstruir o negócio na região.
"[A prisão de Alwaleed] deve tornar a situação ainda mais difícil para o Citigroup na Arábia Saudita, uma vez que as empresas ficaram mais cautelosas.”
O Citigroup, que perdeu a licença de investimento bancário no reino depois de ter vendido uma participação no Samba Financial Group em 2004, planeava regressar à Arábia Saudita. Isto depois de ter recuperado a licença em abril. Mas a detenção de Alwaleed bin Talal vem complicar os planos.
A prisão de Alwaleed “deve tornar a situação ainda mais difícil para o Citigroup na Arábia Saudita, uma vez que as empresas ficaram mais cautelosas”, refere Emad Mostaque, do hedge fund Capricorn Fund Managers, à Bloomberg. Um porta-voz do Citigroup não quis comentar.
Há mais empresas em stress
Para além do Citigroup, há outras empresas que podem ressentir a detenção do multimilionário Alwaleed bin Talal. A 50.º pessoa mais rica do mundo, segundo a revista Forbes, tem uma participação de 4,9% no Twitter, mas também na Apple, na News Corporation de Rupert Murdoch, na cadeia hoteleira Four Seasons e mais recentemente na Lyft.
A prisão do príncipe Alwaleed bin Talal já teve impacto na Accor, onde tem uma posição de 5,7%. A maior operadora de hotéis da Europa chegou a cair 2%. Já a holding de bin Talal afundou 5,3%.
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