Mário Centeno: “Não fecho a porta ao Eurogrupo”

  • ECO
  • 27 Maio 2017

O ministro das Finanças português não afasta a possibilidade de vir a ocupar a presidência do Eurogrupo. Isto depois de Wolfgang Schäuble ter apelidado Centeno de “Ronaldo do Ecofin".

Mário Centeno não afasta a possibilidade de vir a ocupar a liderança do Eurogrupo. Isto depois de Wolfgang Schäuble ter apelidado o ministro das Finanças português de “Ronaldo do Ecofin”. Apesar de manter a porta aberta, Centeno garante que não está neste momento a ponderar sair do Governo para ocupar a presidência a tempo inteiro.

“É evidente que não fecho a porta ao Eurogrupo, nem seria responsável da minha parte fazê-lo. Mas vejo isso com a maior das naturalidades, no contexto de que há todo um trabalho feito em Portugal que é reconhecido lá fora. Tem menos substância que seja reconhecido na minha pessoa.” É assim que Mário Centeno responde numa entrevista ao Expresso (acesso pago) sobre a possibilidade de vir a ocupar o lugar de presidente do Eurogrupo.

As declarações são feitas depois de o ministro das Finanças alemão ter reconhecido o trabalho de Centeno. Sobre os elogios de Schäuble, o ministro português diz apenas que o “mais importante é o reconhecimento que até ele faz do que se passa em Portugal”.

Questionado sobre que impacto esta saída do PDE terá no Orçamento de Estado do próximo ano, Centeno refere que “estamos muito focados em cumprir de forma rigorosa os objetivos com que nos comprometemos no Parlamento. Nomeadamente, através da redução da dívida pública, que acompanha a desalavancagem do endividamento privado muito significativo que ocorreu nos últimos anos em Portugal e que foi, aliás, acentuado em 2016″.

Quais são os objetivos para o próximo ano? “Para 2018, o objetivo é cumprir as metas orçamentais, porque serão elas que permitirão a redução continuada do esforço do país no seu financiamento”, salienta o ministro. No entanto, Mário Centeno mantém-se cauteloso em termos de expectativas. “Ser anticlímax é a função do ministro das Finanças. Retiremos essa dose que faz parte do meu karma e vamos centrar-nos nas medidas que estamos a discutir.”

Solução para o malparado

Centeno disse ainda que estão em discussões com Bruxelas sobre a solução para o malparado. “Não escondo que o Governo português gostaria — e tem-no feito saber — que houvesse uma solução europeia. Sabemos que entre o desejo e a concretização não podemos ficar parados”, explica.

Em março, o primeiro-ministro afirmou que as primeiro-ministro que o Governo e o Banco de Portugal estariam a concluir as negociações com as instituições europeias para a adoção de uma solução em relação aos elevados níveis de crédito malparado.

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Regular e supervisionar a banca, uma nota preocupante

  • Nuno Garoupa
  • 27 Maio 2017

O Governo está a preparar uma reforma na supervisão, que pode tirar a política macroprudencial do Banco de Portugal. O economista Nuno Garoupa discorre sobre o tema e elenca os vícios do atual modelo.

Em todas as economias modernas, regulamos e supervisionamos a banca. São muitos os fundamentos económicos da intervenção de autoridades de regulação e de supervisão, entre outras, na atividade de intermediação financeira em geral e na bancária em particular. Podemos mesmo dizer que, em teoria, esses fundamentos são consensuais entre os especialistas de diferentes tendências ideológicas. Falamos das imperfeições ou falhas de mercado. O argumento primordial é que o mercado bancário (mercado de intermediação financeira, mais genericamente, mas usarei o mercado bancário neste ensaio para facilitar a exposição) sofre de um conjunto de propriedades que prejudicam um equilíbrio eficiente. Citam-se, usualmente, externalidades (com grande destaque para o risco sistémico), informação assimétrica, natureza de bem público (por exemplo, na provisão de informação) e não convexidades (que podem induzir concentração e cartelização).

Frente a este conjunto de falhas de mercado, existe um potencial conjunto de atritos ou falhas de regulação e supervisão. Estas podem ser fundamentalmente de dois tipos. Temos, pois, falhas de eficácia quando a autoridade de regulação e supervisão não tem os meios, a informação ou o capital humano para corrigir as falhas de mercado. E podemos ter falhas por captura da autoridade de regulação e supervisão pelos regulados ou pelo Governo. Neste caso, as falhas de mercado agravam-se, porque a autoridade de regulação e supervisão não pretende melhorias de eficiência ou bem-estar, mas antes promover os interesses de um grupo particular (daí a chamada problemática da escolha pública). Em termos teóricos, o debate entre economistas divide aqueles que entendem que as falhas de mercado são mais significativas e, consequentemente, exigem mais regulação e supervisão e aqueles que, pelo contrário, defendem que as falhas de regulação são muito mais preocupantes e, coerentemente, exigem precisamente menos regulação e supervisão.

Não surpreende que a resposta ao equilíbrio entre falhas de mercado e falhas de regulação possa depender de sensibilidades ideológicas (isto é, preferências individuais agregadas por algum mecanismo – democrático ou não – que gera preferências sociais), assim como do contexto institucional. Consequentemente, encontramos exemplos diferentes de desenhos regulatórios. Seguindo trabalho recente do economista Mário Coutinho dos Santos, podemos usar a seguinte taxonomia:

  1. O modelo tradicional, no qual o banco central conduz a política monetária e também regula e supervisiona os bancos.
  2. Um modelo em que as funções reguladoras e de supervisão são segregadas do banco central e atribuídas a uma autoridade independente.
  3. Um último modelo em que existe uma partilha das responsabilidades de regulação e supervisão bancária entre o banco central e uma (ou mais) autoridade(s) independente(s) de regulação e supervisão.

Nenhum dos três modelos tem apenas custos ou apenas benefícios, mas cada um responde ao trade-off identificado entre falhas de mercado e falhas de regulação. Por exemplo, a partilha da regulação e supervisão entre duas autoridades (banco central e outra) pode diminuir a probabilidade de falha de regulação por captura (porque as duas autoridades controlam-se mutuamente), mas tem custos administrativos adicionais óbvios e pode dificultar a correção de falhas de mercado (por exemplo, porque exige a coordenação de duas agências especializadas).

Outro exemplo, na área da cartelização e poder de mercado, a alocação de responsabilidades em temas de concorrência ao banco central, em detrimento da autoridade da concorrência, pode melhorar a regulação e supervisão do mercado bancário (pela integração de funções), mas prejudicar os objetivos concorrenciais (quer pela sua subordinação a outros objetivos regulatórios do banco central, quer por este ignorar os efeitos que a menor concorrência bancária possa ter noutros setores da economia fora da sua jurisdição).

Em resumo, não há arquiteturas institucionais perfeitas e a sua evolução depende dos problemas encontrados, das perceções das autoridades públicas e das mudanças tecnológicas. No caso de uma pequena economia integrada numa união económica, como é o caso português, acrescem considerações e pressões do espaço económico a que pertence.

Precisamente o caso português pede alguma reflexão

Pode estar em curso uma alteração no modelo institucional e organizacional da regulação e da supervisão financeira (digo “pode”, porque já tivemos uma experiência idêntica em 2009, que não produziu qualquer mudança relevante). Importa, pois, perceber que falhas de mercado e falhas de regulação (eficácia ou captura) pretendemos corrigir. Precisamos deste exercício de identificação para depois discutir a arquitetura atual e a mudança institucional proposta.

Comecemos, então, pelos factos, da forma mais objetiva possível e deixando as interpretações, tanto quanto possível, para depois. Qualquer reflexão sobre o estado da regulação e supervisão bancária deve iniciar-se com um balanço dos últimos anos.

Primeiro, genericamente, até meados de 2014, a banca portuguesa era considerada de forma positiva, apreciada como uma referência internacional, um exemplo de modernização e desenvolvimento, um polo de inovação e um orgulho nacional (por mera curiosidade e de forma completamente aleatória, eis alguns títulos sugestivos: “Bancos portugueses estão capazes de resistir a eventual crise financeira”, RTP, 15 de julho de 2010; “Situação saudável da banca portuguesa aplaudida por analistas em França”, RTP, 23 de julho de 2010; “Bancos portugueses apresentam níveis de reputação acima da média mundial (…) apresentando o desempenho financeiro como a dimensão mais forte”, Jornal de Notícias, 13 de fevereiro de 2011; “Os bancos portugueses têm estruturas de capitais fortes”, Notícias Sapo, 6 de fevereiro de 2012; “Bancos portugueses apresentam balanços mais limpos e indicadores mais fortes”, Público, 5 de maio de 2014).

Os elogios e os encómios não eram apenas na comunicação social (que, note-se, até hoje ainda não explicou como persistiu genericamente durante tanto tempo na sua análise laudatória). Constam de muitos documentos oficiais já posteriores à crise de 2008. E, inclusivamente, são partilhados ou divulgados por instituições como a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional, já em vigência da troika.

Em 2011, no discurso oficial, Portugal não era nem a Grécia, nem a Espanha, nem a Irlanda porque precisamente tinha uma banca forte, saudável, sólida e bem gerida. Reconheciam-se certos problemas de financiamento externo a exigir alguma atenção, incluindo uma linha especial de 12 mil milhões de euros para ajuda no contexto da intervenção da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional, mas tudo absolutamente natural e decorrente da falta de liquidez no contexto internacional. Falava-se apenas de encorajar as margens de segurança da banca nacional e de reforçar a supervisão do Banco de Portugal (veja-se Diário de Notícias, 4 de maio de 2011).

Aliás, no mesmo tom otimista, dizia-se, em junho de 2014, que os bancos já tinham devolvido uma grande parte do dinheiro da troika, mais de dois mil milhões (Jornal de Negócios, 25 de junho de 2014).

Em 2011, no discurso oficial, Portugal não era nem a Grécia, nem a Espanha, nem a Irlanda porque precisamente tinha uma banca forte, saudável, sólida e bem gerida.

Nuno Garoupa

Podemos dizer, em síntese, que, até ao colapso do BES e à famosa resolução de 3 de agosto de 2014, imperava um discurso, quer das autoridades nacionais e internacionais, quer da banca e da comunicação social especializada, muito favorável e, podemos adiantar agora, bastante irrealista.

Apesar das tendências negativas dos lucros reportados e do crédito malparado assinalado depois de 2009 por alguns especialistas e académicos, o panorama oficial foi sempre positivo e pouco crítico, quer da regulação e supervisão, quer da gestão dos grandes bancos. Rumores sobre as debilidades do Banco Espírito Santo, por exemplo, foram sistematicamente negados pelos reguladores e supervisores, autoridades políticas e comentadores especializados.

O Presidente da República e o primeiro-ministro insistiram sempre na solidez do dito banco (“Cavaco diz que portugueses podem confiar no BES (…) Banco de Portugal tem atuado muito bem”, TVI, 21 de julho de 2014; “Passos Coelho diz que depositantes podem confiar no BES”, Diário de Notícias, 11 de julho de 2014; “Passos Coelho deu carta de conforto a Carlos Costa”, Observador, 28 de novembro de 2014).

As notícias ocasionais sobre os problemas de financiamento do BANIF ou da CGD, assim como sobre a situação do Montepio Geral, foram sempre episódios isolados e sem qualquer continuidade no conjunto de preocupações económicas e financeiras do país até 2014.

Segundo, neste momento e com base na informação publicada nos meios de comunicação social, os contribuintes terão já pagado quase 15 mil milhões de euros para salvar a banca portuguesa do colapso. Os números que circulam referem-se apenas a custos diretos. Evidentemente não estimam os custos de oportunidade e, ainda menos, as distorções na afetação de recursos decorrentes das medidas de resolução e das sucessivas intervenções.

Apesar da magnitude do número — 15 mil milhões –, ele estará significativamente subestimado. Haveria ainda que acrescentar os famosos swaps, onde os tais 440 milhões mais juros a pagar ao Banco Santander foram agora transformados num empréstimo de 2,3 mil milhões a pagar em 15 anos com um juro “favorável”. Só no caso do BES/Novo Banco, existem cerca de 1500 processos em tribunal e o Banco de Portugal terá pagado, até ao momento, 10 milhões de euros em assessorias técnicas (incluindo quase 0,5 milhões a Sérgio Monteiro para coadjuvar a venda do Novo Banco e cerca de 4 milhões a uma conhecida sociedade de advogados de Lisboa).

Recentemente, o Fundo Monetário Internacional reconheceu alguns progressos, mas indicou que a eficiência da banca portuguesa continua muito longe da média europeia e criticou a estrutura de governança prevalecente no setor (Dinheiro Vivo, 19 de abril de 2017).

Terceiro, sendo anunciado em vários casos concretos que, fundamentalmente, temos um assunto de polícia, em maio de 2017, com referência a gestão danosa ou qualquer outro crime na banca, a contabilidade aponta para o seguinte número de condenações transitadas em julgado: BPN-0; BPP-0; BES-0; BANIF-0; CGD-0; Montepio-0; swaps-0.

Bem sei que é uma contabilidade provisória, mas também podemos adivinhar que não vamos ter números definitivos antes de 2025 ou por aí. E, não antevendo qualquer reforma profunda do Ministério Público (tema que não se encontra na agenda política do momento), podemos especular que a contabilidade final das condenações transitadas em julgado não ficará muito longe dos números atuais.

Quarto, em termos de impacto nos reguladores, o governador do Banco de Portugal foi substituído em junho de 2010 (tendo o anterior governador sido nomeado vice-presidente do Banco Central Europeu, num mandato que durará oito anos e onde é responsável pela supervisão bancária). O governador nomeado em 2010 foi reconduzindo em julho de 2015 (apesar do Governo de Pedro Passos Coelho defender a não recondução dos reguladores como um princípio basilar da independência regulatória no texto da Lei 67/2013, lei-quadro das entidades reguladoras).

Na Comissão de Mercado de Valores Mobiliários, o presidente desta autoridade teve de esperar onze meses para ser substituído e, mais recentemente, foi nomeado pelo Governo de António Costa para responsável pela reforma da supervisão financeira (janeiro de 2017).

Apesar de alguma polémica sobre a dita nomeação, penso que faz todo o sentido como exercício de autoavaliação, uma vez que o próprio esteve à frente da Comissão de Mercado de Valores Mobiliários todo o período do colapso bancário (tendo substituído o anterior presidente quando este decidiu assumir funções governamentais em julho de 2005 como Ministro das Finanças).

Quanto aos restantes responsáveis, temos apenas uma tradicional dança de cadeiras, sem qualquer relação direta com a evolução da crise bancária. Note-se que o vice-governador responsável pela supervisão prudencial manteve as mesmas funções praticamente todo o período relevante (2006-2014). Um outro vice-governador foi para a CGD em junho de 2011, após sete anos no Banco de Portugal. Tendo sido dispensado pelo Governo de António Costa no verão de 2016 (com alguma controvérsia), regressou ao Banco de Portugal, onde agora acumula várias funções, incluindo a de Presidente da Valora (a “fábrica do dinheiro” do Banco de Portugal). Um administrador do BANIF (nomeado pelo poder político) foi para vice-governador em setembro de 2014, mas acabou por demitir-se em colisão com o governador em março de 2016. Um administrador de um banco liquidatário (intervencionado pelo Estado na sequência da resolução de agosto de 2014) foi também nomeado para administrador do Banco de Portugal em junho de 2016. Um supervisor saiu para uma auditora (logo após a resolução do Banco Espírito Santo), mas regressou ao regulador ao sabor das conveniências pessoais. Um outro supervisor, vindo de um banco privado (BCP), foi diretamente do regulador e supervisor para a administração da CGD em fevereiro de 2017. O novo homem forte da CGD já tinha aceitado um convite para vice-governador, segundo a comunicação social (Observador e Expresso, 16 de novembro de 2016).

Em conclusão, regulador e regulado, supervisor e supervisionado, tudo parece ser a mesma coisa e não oferecer grandes preocupações às autoridades (o Banco Central Europeu acabou por impor um período de nojo mais prologando a um dos supervisores nomeado para a nova administração da CGD).

Alguém mais cínico poderia ser tentado a dizer que o fenómeno da porta giratória, felizmente, não existe na realidade portuguesa. Alguns jornais da especialidade mencionaram o assunto (por exemplo, Jornal de Negócios, 5 de fevereiro de 2017, e ECO Economia Online, 6 de fevereiro de 2017), mas sem grande repercussão no espaço público.

Em conclusão, regulador e regulado, supervisor e supervisionado, tudo parece ser a mesma coisa e não oferecer grandes preocupações às autoridades (o Banco Central Europeu acabou por impor um período de nojo mais prologando a um dos supervisores nomeado para a nova administração da CGD). Alguém mais cínico poderia ser tentado a dizer que o fenómeno da porta giratória, felizmente, não existe na realidade portuguesa.

Nuno Garoupa

Finalmente, não havendo grande discussão pública sobre a natureza exata das falhas do regulador e supervisor, os partidos políticos limitaram-se a umas Comissões Parlamentares de Inquérito sem grandes consequências práticas e, mais recentemente, a umas propostas legislativas muito técnicas, de importância algo duvidosa. Na verdade, os diplomas aprovados a 7 de abril de 2017 são pequenos ajustes para remendar aquilo que tem sido identificado como prioritário.

De forma mais particular, os diplomas em causa pretendem reforçar o poder da Comissão de Mercado de Valores Mobiliários na supervisão dos auditores, forçar mais colaboração entre supervisores do setor bancário, estabelecer novas regras para os concursos para diretores do Banco de Portugal, estabelecer maior controle de concessão de créditos a acionistas dos bancos, desenvolver novas regras de comercialização de produtos financeiros, entre outros aspetos. Nenhum dos diplomas aprovado pretende responder às alegadas falhas de regulação.

Na verdade, o que aconteceu entre 2005 e 2016 em termos de regulação e supervisão bancária não foi até hoje objeto de qualquer reflexão profunda. Não há qualquer livro branco sobre o assunto. Não há qualquer documento oficial que objetivamente explique e discuta a natureza exata das falhas de regulação. Estamos a falar de falhas de eficácia? Ou estamos a falar de falhas por captura? Alternativamente, agravaram-se mesmo as falhas de mercado?

No seu discurso de 9 de março, o ministro das Finanças reconhece falhas de regulação em abstrato, mas não aponta nenhuma em concreto. Quer uma regulação eficaz e anuncia que o Governo irá propor um novo modelo de autoridades supervisoras, mas em nenhum momento oferece uma explicação para a ineficácia do modelo anterior.

O discurso do ministro das Finanças simboliza o ponto fundamental do atual debate em curso – vamos avançar com reformas (nota-se, claro, que o Governo de Pedro Passos Coelho não apresentou nenhuma proposta nesse sentido), mas sem fazer nenhum diagnóstico concreto e sem explicar o que aconteceu. E percebe-se porque estamos assim: a opção por avançar com reformas institucionais sem um diagnóstico claro e completo é a única forma de tentar mudar alguma coisa sem responsabilizar ninguém.

Havendo falhas de regulação em abstrato, abre-se o debate sobre modelos alternativos, mas, não havendo falhas de regulação em concreto, foge-se de identificar as debilidades dos reguladores atuais. Se não foram eficazes, porque falharam a sua missão? Se foram capturados, quem os capturou? E se não há falhas de regulação em concreto, para que necessitamos de uma nova arquitetura? Eis as questões óbvias das quais o atual debate pretende fugir.

Ora, esta forma de enquadrar o tema levanta um problema metodológico. Vamos avançar com modelos alternativos sem saber a que falhas de regulação pretendemos exatamente responder. E assim chegamos à proposta atual do metarregulador.

Neste momento, não conhecemos ainda o conteúdo do relatório encomendado a uma equipa liderada pelo ex-presidente da Comissão de Mercado de Valores Mobiliários. Mas os contornos genéricos são já conhecidos e comunicados. Por um lado, retiraram-se ao Banco de Portugal poderes de autoridade macroprudencial (situação já rejeitada pelo Banco de Portugal, segundo notícias publicadas no dia 23 de março de 2017) e poderes de entidade de resolução (ou seja, se um banco deve ou não ser resolvido e depois o que fazer com as entidades criadas como resultado da intervenção).

Por outro lado, cria-se o novo Conselho de Supervisão e Estabilidade Financeira, onde estarão representados todos os reguladores e supervisores e o Governo, sendo presidido por um “independente”, nas palavras do ministro das Finanças. Tal afirmação dificulta a compreensão do que se pretende, pois, nos termos da lei-quadro dos reguladores, todos são supostamente independentes (mais especificamente, independentes do Governo e independentes do sector regulado).

Vamos avançar com modelos alternativos sem saber a que falhas de regulação pretendemos exatamente responder.

Nuno Garoupa

Apesar de faltarem os detalhes — e the devil is always in the details –, a proposta geral oferece-nos alguns comentários gerais. Aliás, não parece que os detalhes, a serem conhecidos mais tarde, possam alterar muito significativamente a linha geral da proposta ou a sua filosofia.

Desde logo, percebe-se que se pretendem retirar poderes ao Banco de Portugal, mas sem mexer diretamente nele. Se houve falhas de regulação e supervisão no Banco de Portugal, deveríamos começar por enumerá-las taxativamente e apurar responsabilidades. Depois, discutir as reformas internas do Banco de Portugal e a solução para as possíveis lacunas legislativas, a fim de solucionar essas falhas de regulação (sejam de eficácia, sejam por captura). E, só no limite, devem ser retirados poderes ao Banco de Portugal, eventualmente uma vez clarificado que as ditas falhas não podem ser resolvidas de outra forma.

Portanto, a presente proposta é, no mínimo, estranha e metodologicamente espantosa. Não são apuradas responsabilidades do Banco de Portugal, não são diagnosticadas específica e detalhadamente as falhas de regulação, não se mexe na estrutura interna do Banco de Portugal, mas retiram-se poderes.

A criação de um metarregulador também levanta imensas questões de desenho institucional. Não se percebe porque o Conselho Nacional de Supervisores Financeiros (criado em 2000) e o Comité Nacional de Estabilidade Financeira (criado em julho de 2007) falharam até ao momento. Se o seu mero reforço é insuficiente e se o seu papel nos últimos dez anos não foi o previsto pelos seus criadores, então a sua existência levanta as maiores dúvidas.

Aliás, a multiplicidade de instituições não parece assustar o Governo. Antes de avançar para uma nova instituição, o normal seria uma avaliação retrospetiva sobre o papel destas duas instituições e, insistindo de novo, o cabal apuramento de responsabilidades. De forma muito interessante, os inspiradores destes conselhos nacionais justificaram a sua criação precisamente com os mesmos argumentos que presidem agora ao nascimento do metarregulador.

Partindo do pressuposto de que as falhas de regulação destas duas instituições são falhas de eficácia, a questão pertinente é onde erraram as previsões do legislador anterior? Se erraram, então porque acertam agora? Porque só agora se fazem as tais melhorias na coordenação e eficácia destas instituições?

Finalmente, defende-se a inclusão do Governo no metarregulador. Trata-se óbvia e simplesmente de governamentalizar autoridades independentes. Não há outra forma de explicar e entender a proposta. Por muito que o Governo insista na semântica da independência. Uma autoridade reguladora independente nunca poderá estar sujeita ou tutelada, parcial ou completamente, por uma outra autoridade onde está presente o Governo (o que estimula de forma clara e assumida uma falha por captura). Aliás, a ênfase na personalidade “independente” para presidir à nova autoridade faz temer o pior. Qual a diferença entre essa personalidade “independente” e todos os “independentes” que estão nos conselhos reguladores das várias autoridades?

Mais recentemente, o ministro das Finanças insistiu no modelo italiano com poderes reforçados como justificação para a proposta . Acontece que o modelo italiano não produziu resultados consistentemente positivos. E o “reforço de poderes” traduz-se fundamentalmente numa governamentalização da regulação e supervisão do mercado bancário.

Sejamos claros. A inclusão do Governo no metarregulador poderia fazer sentido noutro contexto. Por exemplo, se a intenção for introduzir uma mudança de paradigma, então a proposta teria coerência e seria até corajosa. Tratando-se, pois, de abandonar o modelo de autoridades reguladoras independentes e de regressar ao modelo de controlo governamental vigente nos anos 80, a proposta seria de saudar. Só que o Governo nega essa mudança, provavelmente porque ela viola o Direito da União Europeia e criaria problemas sérios com o Banco Central Europeu. Assim sendo, fica a ideia de que se pretende uma mudança de paradigma, sem discussão explícita e transparente sobre o assunto.

O atual modelo de autoridades reguladoras foi importado da Europa (originalmente, vindo dos Estados Unidos por mão dos economistas). Todos sabemos que ele responde à necessidade de equilibrar um conjunto de objetivos contraditórios.

  1. Dotar o Estado do capital humano, especialização e conhecimento técnico adequados a uma regulação e supervisão eficaz dos mercados.
  2. Limitar a governamentalização e a partidarização das intervenções do Estado na economia. Em particular, evitar que a regulação e supervisão dos mercados esteja sujeita aos calendários eleitorais.
  3. Assegurar a prestação de contas que simultaneamente dissuada a captura, quer pelos interesses políticos, quer pelos interesses das indústrias reguladas.

O atual modelo de autoridades reguladoras foi importado da Europa (originalmente, vindo dos Estados Unidos por mão dos economistas). Todos sabemos que ele responde à necessidade de equilibrar um conjunto de objetivos contraditórios.

Nuno Garoupa

O modelo de direções-gerais responde a um conjunto de preocupações completamente distintas. Por um lado, a subordinação da regulação e supervisão de mercados aos interesses do Estado, tal como são interpretados pelo Governo democraticamente eleito. Nesse sentido, pretende-se expressamente a governamentalização da regulação e supervisão económica e financeira. Por outro lado, não existe qualquer preocupação com a prestação de contas através de qualquer outro mecanismo fora do Governo.

A subordinação do Banco de Portugal e restantes reguladores e supervisores a uma entidade governamentalizada, ainda que presidida por uma personalidade “independente”, apenas se compreende no modelo de direções-gerais, pois viola os princípios mais elementares do modelo de agências ou autoridades reguladoras. Em síntese, a proposta carece de coerência no atual modelo regulatório português, onde autoridades independentes não podem estar sujeitas de forma alguma a instituições onde o Governo interfere com a sua presença nos conselhos reguladores. Mesmo que isso seja em nome de uma qualquer responsabilidade última pela estabilidade financeira.

Paralelamente, não é rigoroso argumentar que esta mudança institucional recupera uma proposta de 2009. O projeto de 2009 introduzia um modelo de twin peaks, em detrimento do atual modelo tripartido (Banco de Portugal, Comissão de Mercado de Valores Mobiliários, Instituto de Seguros de Portugal): o Banco de Portugal perdia certas competências de supervisão comportamental para a nova instituição resultante da fusão da Comissão de Mercado de Valores Mobiliários com o Instituto de Seguros de Portugal. Era um modelo decalcado da Holanda. Não havia nenhum metarregulador naquele projeto. Aliás, num comentário à importação do modelo de twin peaks, o jurista Calvão da Silva defendia a concentração da coordenação numa única instituição, o Banco de Portugal, não um metarregulador governamentalizado.

Curiosamente, o modelo de twin peaks já tinha sido considerado pelo Governo em 2000 (Público, 28 de setembro de 2009). Nove anos depois voltou a ser discutido. O documento colocado à discussão pública sofria das limitações já identificadas na atual proposta. Não fazendo qualquer diagnóstico das insuficiências concretas do modelo tripartido, avançava com as vantagens do novo modelo.

Apesar da reação genericamente positiva dos vários atores, o projeto foi abandonado em 2010. O único impacto relevante foi a mudança de designação do Instituto de Seguros de Portugal para Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões, com o decreto-lei 1/2015, aprovado em resultado da nova lei-quadro das entidades reguladoras.

Até ao momento, nenhuma fonte oficial argumentou que, estando vigente o modelo de twin peaks no período 2010-2017, a história bancária teria sido significativamente diferente, quer na regulação, quer na supervisão.

Sendo um interessante exercício de análise contrafactual que ajudaria à identificação das falhas regulatórias, talvez produzisse a frustrante conclusão de que não teria tido qualquer impacto importante ou relevante.

Parece-me, pois, que a atual reflexão sobre a regulação e supervisão bancária em Portugal enferma de três vícios importantes.

  1. Não há um diagnóstico claro e consensual sobre as falhas de regulação no período 2005-2016. São falhas de eficácia? São falhas por captura? Sendo assim, procuram-se soluções para problemas não identificados de forma transparente. Evita-se qualquer apuramento de responsabilidades. E sugerem-se reformas com base em meras perceções dos responsáveis políticos, não há qualquer avaliação retrospetiva, inclusivamente ignora-se o debate de 2009 (que, aparentemente, tem origem em 2000, há quase duas décadas).
  2. Aposta-se em alterar a regulação e supervisão bancária sem reformar a estrutura interna do Banco de Portugal. Parece a receita ideal para criar novas entropias institucionais a jusante, sem resolver as limitações regulatórias a montante.
  3. A opção injustificada por um metarregulador nos moldes anunciados (ainda que de forma genérica até ao momento) governamentaliza a regulação e supervisão bancária num modelo contrário ao atualmente vigente, quer em Portugal, quer na Europa. Porém, o Governo foge dessa discussão, socorrendo-se de álibis semânticos (tal como personalidades “independentes”) ou mantendo uma panóplia de instituições consequentemente irrelevantes (Conselho Nacional de Supervisores Financeiros e Comité Nacional de Estabilidade Financeira).

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Wall Street em terreno misto antes do Memorial Day

Apesar das quedas desta sexta-feira, as bolsas norte-americanas acumulam ganhos semanais superiores a 1%.

As bolsas norte-americanas encerraram a semana sem uma tendência definida, depois de terem somado seis sessões consecutivas de ganhos. Segunda-feira, dia em que se comemora o Memorial Day, os mercados norte-americanos estarão encerrados e os investidores mostraram-se cautelosos antes do fim de semana prolongado.

O índice de referência S&P 500 fechou a cair 0,03%, para os 2.415,82 pontos, enquanto o industrial Dow Jones perdeu 0,01%, para os 21.080,28 pontos. Já o tecnológico Nasdaq fechou acima da linha de água, a valorizar 0,08%, para os 6.210,20 pontos. Ainda assim, no acumulado da semana, o S&P e o Dow Jones registaram subidas a 1%, enquanto o Nasdaq valorizou mais de 2%.

“O mercado está a respirar fundo para perceber o que se está a passar. Não se esperam movimentos significativos nos próximos dias”, comenta um analista da Bel Air Investment Advisors, citado pela CNBC.

A penalizar as bolsas esteve, sobretudo, o setor energético. As cotadas do setor petrolífero acumularam uma queda superior a 2% no conjunto da semana, depois de o petróleo ter chegado a afundar mais de 5% na quinta-feira. Isto depois de a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) ter anunciado um prolongamento do corte da produção que ficou aquém das expectativas.

Ainda assim, esta sexta-feira, os preços da matéria-prima recuperaram ligeiramente. O petróleo negociado em Nova Iorque sobe mais de 1,7% e aproxima-se novamente dos 50 dólares por barril.

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Catarina Martins: “Governo já compreendeu que vai ter de ir um pouco mais longe”

A líder bloquista deu o sinal de que Costa estará já disponível para gastar mais com os escalões do IRS. O valor do BE passa por 600 milhões em 2018.

A líder do Bloco de Esquerda disse esta sexta-feira de tarde que o Executivo — nas negociações com o BE e tendo em conta os compromissos firmados no início da legislatura — tem a noção de que terá de ir além dos 200 milhões de euros inscritos no Programa de Estabilidade para as alterações a efetuar no IRS.

“Governo já compreendeu que vai ter de ir um pouco mais longe”, afirmou Catarina Martins, uma semana depois de ter colocado um número nessa alteração. O Bloco de Esquerda pede 600 milhões de euros para 2018 e mais 600 milhões para 2019. O BE admitiu já fazer alterações de forma faseada, tal como o próprio Executivo.

Já o primeiro-ministro tinha admitido esta segunda-feira que os escalões do IRS vão começar a ser repostos no próximo ano, mas essa reposição será feita “de forma equilibrada”. António Costa garantiu que o Governo dará no próximo ano “mais um passo” para devolver rendimentos aos cidadãos.

Contudo, os parceiros do Executivo pretendem usar a flexibilidade que Portugal ganhou com a saída do PDE para aumentar os gastos do Estado, nomeadamente através de investimento público, na saúde, na educação e nos rendimentos. Uma das principais discussões em curso nas negociações para o Orçamento do Estado para 2018 é exatamente a reposição dos escalões do IRS.

Em relação ao BE, o PCP tem um ponto de partida diferente. Além de dizerem que a redução faseada do IRS é “um objetivo pouco ambicioso”, os comunistas querem duplicar o número de escalões de cinco para dez. O Partido Comunista pretende também que as taxas liberatórias sobre as mais-valias em ações sejam englobadas no IRS.

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Mais de 1.900 lesados do BES aceitam solução

  • Lusa
  • 26 Maio 2017

Mais de 97% dos clientes aceitaram aderir ao mecanismo que visa compensar parcialmente as perdas sofridas na queda do banco.

Mais de 1.900 clientes que investiram em papel comercial vendido pelo BES, o equivalente a 97% do total, aceitaram aderir ao mecanismo que visa compensar parcialmente as perdas sofridas na queda do banco, segundo informação enviada à Lusa.

De acordo com o comunicado enviado pelo grupo de trabalho criado para encontrar um solução para estes lesados, “foram recebidas 1.937 manifestações, que correspondem a 97,78% do montante total investido” e, dessas, houve “1.917 manifestações com intenção de aceitação” e apenas “20 manifestações no sentido da rejeição da solução”.

O grupo de trabalho considera que, com a existência de uma indicação de adesão maioritária, “está preenchido um dos pressupostos para a concretização” do mecanismo de compensação, uma vez que o mínimo era que 50% dos clientes aceitassem. Neste caso, feitas as contas, a adesão ascende a quase 97%.

Depois desta consulta aos clientes lesados pela compra de papel comercial de empresas do Grupo Espírito Santo (GES), que foi vendido aos balcões do BES, o grupo de trabalho diz que agora “vai avançar na realização das tarefas de preparação da concretização da solução”, isto tendo em vista a “abreviação do tempo necessário para a efetivação do primeiro pagamento aos lesados”.

Contudo, para isso acontecer ainda falta a parte legislativa, estando ainda para aprovação no parlamento a proposta de lei que “permitirá a criação do Fundo de Recuperação de Créditos, a seleção da entidade gestora [do fundo], a emissão da garantia pública e a montagem do financiamento para disponibilização dos fundos com que será feito o referido pagamento”, explicita o grupo de trabalho.

A auscultação que hoje terminou não tem caráter vinculativo, mas serve para saber quantos clientes lesados assinarão o contrato de adesão ao mecanismo de minimização das perdas, que foi acordado ao longo de mais de um de ano no âmbito do grupo de trabalho constituído pela Associação de Indignados e Enganados do Papel Comercial, a CMVM, o Banco de Portugal, o ‘banco mau’ BES e o Governo, através do advogado Diogo Lacerda Machado.

Esta sondagem servirá, desde logo, para o fundo saber em quanto dinheiro precisa de se financiar (provavelmente junto da banca) para pagar aos lesados a primeira ‘tranche’ das indemnizações.

Estas indemnizações visam compensar, parcialmente, os clientes que investiram, aos balcões do Banco Espírito Santo (BES), 434 milhões de euros em papel comercial das empresas Espírito Santo Financial e Rio Forte, e cujo investimento perderam com o colapso do Grupo Espírito Santo (no verão de 2014).

Os clientes que aderirem à solução irão recuperar 75% do valor investido, num máximo de 250 mil euros, isto se tiverem aplicações até 500 mil euros.

Já acima desse valor, irão recuperar 50% do valor investido, motivo pelo qual os clientes com valores mais altos têm sido muito críticos para com a solução encontrada.

Por exemplo, quem fez uma aplicação de 400 mil euros receberá 250 mil euros, o valor máximo possível para esse montante, ainda que seja abaixo dos 75%. Já para uma aplicação de 600 mil, serão pagos 300 mil euros.

Ou seja, os clientes assumem perdas, mas recebem dinheiro por que teriam de esperar anos, provavelmente, para recuperar em processos em tribunal e de forma incerta.

O pagamento será feito por parcelas, sendo que está previsto que 30% do total será pago logo após o cliente assinar o contrato de adesão, enquanto o restante valor será pago em mais duas parcelas, em 2018 e 2019, devendo os clientes ficar com uma garantia estatal que garante esse pagamento.

Os clientes que queiram aderir a esta solução, têm que cumprir uma série de obrigações.

Em primeiro lugar, aqueles que puseram processos em tribunal contra entidades e administradores ligados ao GES deverão ceder os direitos judiciais ao fundo de indemnizações, que assumirá a litigância desses processos na Justiça e que receberá as eventuais compensações decididas pelos tribunais.

Terão ainda de comprometer-se a renunciar a reclamações e processos judiciais contra uma série de entidades, entre as quais o Banco de Portugal, a CMVM, o Fundo de Resolução bancário, o Estado, o Novo Banco e o seu futuro comprador.

A criação de uma solução para estes clientes partiu do primeiro-ministro, António Costa, mas tem sofrido atrasos significativos desde o arranque do processo.

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Precários? Processo decorre com “normalidade”

  • Lusa
  • 26 Maio 2017

Vieira da Silva diz que a entrega de requerimentos para avaliar a situação dos trabalhadores precários na administração pública está a decorrer com "normalidade".

O ministro do Trabalho, da Solidariedade e Segurança Social disse que a entrega de requerimentos para avaliar a situação dos trabalhadores precários na administração pública e no setor empresarial do Estado está a decorrer “com toda a normalidade”.

Estes trabalhadores podem pedir, até 30 de junho, a avaliação da sua situação contratual e a eventual entrada nos quadros, através um requerimento disponível na Internet, integrado no Programa de Regularização Extraordinária dos Vínculos Precários na Administração Pública e no setor empresarial do Estado (PREVPAP).

“Está a decorrer sem nenhuma crise. As pessoas têm uma acessibilidade fácil àquela ferramenta, estão a utilizá-la com toda a normalidade, portanto, estamos a trabalhar para resolver os problemas”, garantiu Vieira da Silva aos jornalistas, em Seia, onde hoje inaugurou o espaço Elo Comum, que concentra todos os serviços e projetos sociais do município.

O governante lembrou que, na semana passada, mais de quatro mil trabalhadores já tinham entregado o requerimento, mas, entretanto, “já há mais uns milhares” que também o fizeram.

“Julgo que seguirá o comportamento típico da nossa sociedade: um afluxo grande no início, depois um período de menor intensidade e depois afluxo maior no fim”, afirmou.

Desde 11 de maio que os trabalhadores na administração pública e no setor empresarial do Estado podem pedir a análise da sua situação laboral, para que, caso se conclua que estão a suprimir necessidades permanentes, possam entrar nos quadros.

Vieira da Silva garantiu que “as diferentes áreas governativas estão já organizadas, através das comissões bipartidas, para avaliarem as situações todas”.

“Esperamos que possamos, durante 2017, levar esse caminho até ao fim para que, em 2018, possa já haver a solução daqueles casos que exigem solução”, acrescentou.

Segundo o governante, após ter sido feito um “retrato geral da situação”, o Governo está agora “a trabalhar ministério a ministério”, com o compromisso de que “todos os trabalhadores que ocupam uma vaga que corresponde a uma necessidade permanente do Estado” possam ver alterada a sua situação.

“Há muitas situações no Estado em que o vínculo apropriado é o de prestação de serviço temporário. Essas permanecerão como estão, mas todas as outras em que há um vínculo que não é adequado a um trabalho que corresponde a uma necessidade permanente, obviamente querendo as pessoas, será proporcionado a existência de um processo de transição para esse fim”, afirmou.

Vieira da Silva realçou que não há “nenhuma limitação de números, há apenas a construção exigente das respostas que sejam adequadas aos casos de cada uma das pessoas”.

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Bernardo Silva no City por 50 milhões

  • Lusa
  • 26 Maio 2017

O extremo internacional português vai sair do Mónaco para rumar ao Manchester City. Vai ser treinado por Pep Guardiola.

Bernardo Silva vai trocar o Mónaco pelo Manchester City, anunciou o clube da Primeira Liga inglesa de futebol no seu sítio oficial.

“Manchester City está deliciado por poder confirmar que Bernardo Silva vai juntar-se ao clube, proveniente do Mónaco, a 1 de julho”, revela o clube orientado pelo espanhol Pep Guardiola, juntando uma foto do jogador com a camisola 20.

O clube de Manchester não revela o montante envolvido no negócio, mas, na tarde de hoje, a BBC revelou um acordo por 43 milhões de libras (cerca de 49,2 milhões de euros).

“É fantástico. Para ser honesto, estou muito feliz por estar num dos melhores clubes do Mundo. Fazer parte deste clube e ter esta oportunidade é espetacular”, disse Bernardo Silva ao sítio dos ‘citizens’.

O objetivo do extremo luso é “dar tudo para ajudar o Manchester City a atingir os seus objetivos”, sendo que também lhe agrada trabalhar com Pep Guardiola.

“Se não é o melhor treinador do Mundo, é um dos melhores. Quando se tem a oportunidade de ser treinado por Guardiola, não se pode dizer não. Todos sabemos o que ele fez no FC Barcelona e no Bayern Munique e esperamos que também possa conquistar títulos aqui”, prosseguiu o internacional luso.

Bernardo Silva, de 22 anos, foi um dos grandes protagonistas do Mónaco em 2016/17, fazendo parte do ‘onze’ ideal da Liga francesa, que o conjunto de Leonardo Jardim conquistou.

O extremo português, 12 vezes internacional ‘AA’, chegou ao Mónaco no verão de 2014, por empréstimo do Benfica, tendo sido contratado em definitivo em janeiro de 2015, por 15,75 milhões de euros.

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Não caiu com o petróleo, caiu com o dividendo. Lá vai a Galp

  • Rita Atalaia
  • 26 Maio 2017

A petrolífera desceu mais de 2%. Uma queda que acabou travar a tendência positiva da bolsa de Lisboa. Destaque negativo também para a EDP Renováveis e para o BCP.

A Galp Energia caiu mais de 2%. A petrolífera não se deixou abalar pela queda acentuada dos preços do petróleo, mas acabou por ceder ao destaque dos dividendos. Nesta sessão, não foi a única cotada a tirar o brilho ao desempenho de Lisboa. EDP Renováveis e BCP também encerrar no vermelho, levando o PSI-20 a cair quase 1%.

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Costa afirma que 136 mil desempregados serão poupados ao corte do subsídio já em junho

  • Lusa
  • 26 Maio 2017

Travão ao "corte cego", diz o primeiro-ministro, vai ser beneficiado por 58% dos que estavam em risco de sofrer o corte, num universo de 234 mil desempregados.

O secretário-geral do PS afirmou esta sexta-feira que, a partir de 1 de junho, o fim “do corte cego” de 10% nos subsídios de desemprego irá abranger 136 mil pessoas desempregadas de longa duração, 58% do total.

António Costa, líder socialista e primeiro-ministro, falava no encerramento das Jornadas Parlamentares do PS em Bragança, na fase do seu discurso que dedicou às políticas do Governo em relação às prestações sociais.

Segundo o líder socialista, no próximo dia 1 de junho entrará em vigor “um travão fundamental para que não se aplique de modo cego o corte de 10% nos subsídios de desemprego a todos aqueles que estão há mais anos a receber esta prestação e que estão agora em risco de perdê-la”.

“Com a nova regra, que fixa um limiar, que não permitirá a ninguém que esse corte os coloque abaixo do Indexante de Apoios Sociais (IAS), significa que 58% dos que estavam em risco de sofrer o corte, num universo de 234 mil, no próximo dia 1 de junho, deixam de estar confrontados com esse risco“, declarou o líder do executivo.

António Costa completou que esse corte, a acontecer, “seria brutal para a estabilidade e perspetiva de vida” de muitos desempregados de longa duração.

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Cimpor prepara saída de bolsa. Acionistas reúnem-se a 21 de junho

A Camargo Corrêa ficou com cerca de 95% da cimenteira portuguesa depois da OPA terminada em 2012.

A Cimpor, detida pelo grupo brasileiro Camargo Corrêa, prepara-se para sair do mercado de capitais. Os acionistas da empresa vão reunir-se em assembleia geral extraordinária no dia 21 de junho, para decidir sobre a “perda da qualidade de sociedade aberta”.

O pedido foi lançado pela InterCement, empresa que pertence ao grupo Camargo Corrêa e que detém a Cimpor. Em comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), a InterCement convoca os acionistas da cimenteira a reunirem-se em assembleia geral extraordinária, em Lisboa, no dia 21 de junho, pelas 9h00. O ponto único será “deliberar sobre a perda da qualidade de sociedade aberta”.

A saída de bolsa começa, assim, a ser preparada cinco anos depois de a Cimpor ter sido comprada. A oferta pública de aquisição (OPA) lançada pela Camargo Corrêa sobre a Cimpor ficou concluída em junho de 2012, tendo a empresa brasileira ficado com 94,81% da cimenteira portuguesa.

Na proposta de deliberação relativa a este pedido, a InterCement justifica a intenção de sair de bolsa com a “elevada concentração do capital social da Cimpor” no acionista maioritário (a InterCement) e “a consequente reduzida dispersão das suas ações pelo público em geral, com apenas 4,9% de free float e níveis de transação em mercado pouco significativos, não fazendo as ações já parte da composição dos principais índices bolsistas”.

Atualmente, a Cimpor negoceia, em média, 30 mil ações por dia. Esta sexta-feira, fechou a desvalorizar 0,64%, para os 31,1 cêntimos por ação.

Ao mesmo tempo, nota a InterCement, a Cimpor está de fora das análises de research das casas de investimento e há um “aparente afastamento dos acionistas minoritários com a sociedade evidenciado pela ausência dos mesmos nas assembleias gerais da Cimpor”.

Regista-se ainda uma “evolução negativa das operações industriais no principal mercado da empresa — o Brasil — e a deterioração expressiva dos seus capitais próprios e crescimento da dívida financeira“. Por fim, a InterCement considera “não estarem reunidas as condições para prosseguir, no curto prazo, com o aumento de capital com recurso a subscrição pública projetado anteriormente”. Os acionistas da Cimpor tinham aprovado, em abril, um aumento de capital, depois de a cimenteira ter registado prejuízos de 788 milhões.

Por estas razões, a InterCement diz ser “mais adequado proceder à exclusão da negociação das ações da sociedade do mercado regulamentado, por via da perda de qualidade de sociedade aberta”.

Mas não fecha a porta a um regresso à bolsa: “Isto, sem prejuízo de perante uma alteração positiva das circunstâncias que hoje afetam as economias dos países onde a empresa opera, e respeitando os condicionalismos legais, a Cimpor poder oportunamente voltar a abrir o seu capital”. Depois de sair de bolsa, uma empresa só pode voltar após um ano.

A InterCement assegura ainda que “com esta proposta não pretende afetar as atividades da companhia em portugal ou nas restantes geografias onde opera”.

(Notícia atualizada às 17h28 com mais informação)

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Morreu José Manuel Castello Lopes

  • Lusa
  • 26 Maio 2017

Filho do fundador da Filmes Castello Lopes, que existe há cem anos, José Manuel Castello Lopes é um nome fundamental na distribuição do cinema em Portugal.

O antigo distribuidor José Manuel Castello Lopes, que herdou do pai a Filmes Castello-Lopes e cofundou o cinema Londres, morreu na quinta-feira, aos 86 anos, revelou hoje a Academia Portuguesa de Cinema.

José Manuel Castello Lopes era um dos nomes históricos da distribuição e exibição do cinema em Portugal, que geriu a Filmes Castello Lopes – fundada há cem anos por seu pai – o cinema Condes e fundou com o irmão, o fotógrafo Gérard Castello Lopes, o cinema Londres, em Lisboa.

Membro honorário da Academia Portuguesa de Cinema, foi distinguido com um Prémio de Carreira em 2013.

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Dividendo da Galp trava bolsa de Lisboa

A bolsa nacional terminou a semana em queda. Seguiu a tendência negativa das restantes praças europeias perante a desvalorização da Galp Energia que passou a negociar sem dividendos.

A bolsa nacional caiu. A praça portuguesa acompanhou a tendência das restantes praças europeias, penalizadas pela valorização do euro, numa sessão marcada pela queda da Galp Energia. Além da pressão por parte da queda das cotações do petróleo, os títulos recuaram no dia em que as ações deixaram de negociar com direito aos dividendos.

O índice de referência nacional, o PSI-20, cedeu 0,35% para 5.226,58 pontos, uma queda que encolheu o ganho acumulado na semana para 0,96%. Lá fora, o Stoxx 600 cedeu 0,23%, sendo que alguns índices conseguiram escapar à tendência. A alta do euro acabou por pesar nos índices ao castigar as empresas exportadoras.

Em Lisboa, a Galp Energia centrou atenções. A petrolífera nacional, que escapou à forte queda dos preços do petróleo na sessão anterior, encerrou a cair 2,05% para 13,85 euros, isto no dia em que descontou o dividendo de 25 cêntimos. Esta é a última tranche da remuneração acionista referente aos lucros obtidos em 2016.

A EDP Renováveis também cedeu, enquanto a EDP conseguiu contrariar as perdas do setor ao subir 0,19% para 3,19 euros. E o BCP, que vinha de três sessões consecutivas de ganhos acentuados, que levaram as ações para máximos do ano, acabou por corrigir, encerrando a sessão a cair mais de 1% para 22,77 cêntimos.

A queda da bolsa nacional só não foi mais expressiva devido à EDP, mas também à Jerónimo Martins. A retalhista apresentou uma valorização de 0,46% para 17,38 euros. A Sonae caiu, mas a Nos conseguiu registar um avanço de 1,08% para 5,43 euros. A Pharol, por seu lado, cedeu, isto apesar da abertura da empresa para desblindar os estatutos caso algum acionista queira assumir o controlo da empresa.

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