Porque é que a nova geração do PSD não se chegou à frente?
Que circunstâncias levaram o PSD ao duelo deste sábado? O ECO foi à procura de respostas junto de figuras do PSD e politólogos numa altura em que se elege o próximo líder da oposição em Portugal.
Mais de metade dos militantes ativos do PSD, que vão definir o próximo líder este sábado, têm menos de 60 anos. Contudo, vão escolher entre dois candidatos sexagenários: Rui Rio tem 60 anos, Santana Lopes 61. Muitos questionaram o duelo para o futuro do partido, não só pela idade, mas também pelo longo historial de ambos. Mas o que afastou a nova geração da corrida à liderança? O ECO falou com politólogos e social-democratas para encontrar a resposta.
Após uma vitória eleitoral, o PSD não conseguiu governar. Com a economia a crescer, os rendimentos a aumentarem e as finanças públicas controladas, a atual solução governativa ganhou apoio, como mostram as sondagens, principalmente para o Partido Socialista. As eleições autárquicas baixaram ainda mais a moral dos social-democratas. Este não é um ciclo político atrativo para se ser líder da oposição, uma análise consensual entre quem o ECO ouviu.
“Esta eleição foi vista como penosa face ao rumo da governação do PS pelo que os mais novos estão a guardar-se para futuras eleições“, considera o politólogo João Cardoso Rosas, dado que os militantes “parecem não acreditar” no regresso ao Governo. O politólogo Costa Pinto acompanha a análise, referindo que houve vários candidatos que não se apresentaram “por razões de oportunidade política”. Mas aponta também outro problema: muitos dos nomes mais recentes do PSD estiveram ligados a Pedro Passos Coelho, o que desgastou a imagem que tinham. A politóloga Paula Espírito Santo acrescenta que a “prospeção interna de mercado”, neste momento, não era favorável a jovens por estes não terem os apoios necessários em diretas e também pela difícil luta contra António Costa.
“Este momento político não é muito atrativo para ser líder da oposição”, corrobora Luís Marques Mendes, ex-presidente do PSD, reconhecendo que se avizinham “enormes dificuldades” para o próximo presidente do partido. O comentador político refere que este ambiente negativo para os social-democratas “justifica que não tivessem surgidos outros candidatos da geração mais nova”. Mas Marques Mendes também admite que “no PSD não abundam quadros políticos como aconteceu no passado”.
"No PSD não abundam quadros políticos como aconteceu no passado.”
Já Miguel Poiares Maduro lança uma justificação diferente que entrou na complicada equação da decisão de avançar: até 1 de outubro, data das eleições autárquicas, ninguém achava que Passos Coelho não se ia recandidatar. “Muitos da nova geração eram próximos dele e, por isso, não ponderavam candidatar-se”, diz o ex-ministro do Governo passista, assinalando que num período curto é complicado reunir os apoios políticos necessários para uma candidatura, além do financiamento para a campanha. “Não tendo uma presença forte nas estruturas do partido não podiam fazer campanha com uma mínima capacidade de sucesso”, argumenta. Um deles terá sido Miguel Pinto Luz, o número dois da câmara de Cascais, que, questionado pelo ECO, não quis comentar a sua eventual candidatura. Mas admitiu que temia que o debate fosse “muito pouco claro”.
Mas há outra razão que se prende com a mudança das dinâmicas sociais. Existe um dilema no equilíbrio entre a carreira política e carreira profissional, aponta Poiares Maduro, referindo que exercer um cargo público implica “sacrifícios pessoais”. “É difícil aos mais novos conjugar uma carreira individual de sucesso com a política“, explica, daí que as pessoas que já estão na política há alguns anos tendam a candidatar-se à liderança dos partidos, uma tarefa que exige um “investimento político de longo prazo”. “Do ponto de vista pessoal é difícil entrar na política e lá permanecer”, admite o ex-ministro Adjunto.
Não tendo uma presença forte nas estruturas do partido não podiam fazer campanha com uma mínima capacidade de sucesso.
O mesmo argumento é dado por António Nogueira Leite, ex-governante e ex-membro do Conselho Nacional do PSD, que os candidatos ou são políticos “profissionais” ou então “não estão interessados”, dado que são “vilipendiados” na praça pública. Mas também porque são necessários fortes apoios no partido: “O aparelho decide”, sintetiza, referindo que o modo como os partidos estão organizados limita o tipo de perfil dos candidatos. A mesma análise é feita pela politóloga Paula Espírito Santo: a hierarquia dos partidos é decisiva. Ou seja, a longevidade política.
Mas estará o partido com poucos novos talentos, como sugere Marques Mendes? Margarida Balseiro Lopes, uma das deputadas social-democratas mais novas, refuta essa ideia, argumentando que o próprio líder parlamentar tem 34 anos. Mas admite que existe uma necessidade de modernização e “passar das palavras aos atos”. A deputada do PSD espera que, ao longo dos próximos anos, a nova geração dê “mais provas” de que é capaz de assumir o futuro do partido.
A possível ausência de caras novas está também relacionada com o facto de o PSD ser um partido de massas, na ótica de João Cardoso Rosas. O politólogo tem a tese de que “os partidos de banda larga, menos ideológicos, são menos apelativos para os mais jovens” que, pela idade, têm tendência a ser mais radicais. Daí que a renovação de gerações seja mais rápida no CDS, no BE ou no PCP — partidos que também conseguem ter uma penetração maior em nichos da sociedade — considera Cardoso Rosas, assinalando também que as lógicas de recrutamento e subserviência são mais rígidas no PSD e no PS.
Geração nova: idade, ideias ou carreira partidária?
“A idade é um mito”, atira António Costa Pinto. Para o politólogo a expressão “geração nova” pode ter muitas variantes. A questão não é tanto a idade, mas a longevidade da carreira política: “Nas democracias consolidadas, a escada política coroa uma carreira”. Ou seja, a regra é que cheguem ao topo do partidos os políticos profissionais que lá estão desde as juventudes. “São figuras que pela sua experiência já estão domadas pela máquina partidária no seu discurso“, acrescenta Cardoso Rosas.
Mas Costa Pinto adiciona uma outra vertente para se referir a uma “geração nova” que está no plano das ideias. “Algo que aparenta ser novo“, diz, referindo-se, por exemplo, à ascensão de Emmanuel Macron em França com um novo movimento e, por fim, um novo partido, mesmo tendo sido ministro da Economia do anterior Presidente francês. Para o politólogo é pouco provável que se criem estes movimentos dentro dos partidos. “Macron representa uma crise do sistema partidário”, explica, referindo que, para já, não é isso que acontece no PSD ou noutro partido português.
Nas democracias consolidadas, a escada política coroa uma carreira.
Nesta eleição, os mais novos ficaram em casa. Miguel Pinto Luz, um dos candidatos falados, argumenta que, quando se apresentar, “a nova geração tem de se apresentar com qualidade, não tem de aparecer só por ser mais nova”. Pinto Luz defende novas ideias, mas também uma ligação mais próxima à sociedade civil — “o que não se vê nesta campanha”, comenta.
Marques Mendes também concorda que a idade “não é um argumento decisivo”. Mas admite que havia potenciais candidatos mais novos como Paulo Rangel ou Luís Montenegro. Ambos retiraram-se da corrida. O eurodeputado alegou “razões de ordem familiar”. Já o ex-líder parlamentar disse que não estavam “reunidas as condições” políticas para “exercer esse direito”, sinalizando que num momento futuro poderá vir a ser candidato.
Para um futuro mais longínquo, Marques Mendes lança ainda Carlos Moedas: “Terá, um dia, excelentes condições para isso, vejo-o candidato, mas numa perspetiva de médio prazo e não de curto prazo”, explica o comentador político. A este deverá juntar-se José Eduardo Martins, um dos únicos nomes que foi crítico de Passos Coelho, em público, nos últimos anos, mas que também foi a eleições em Lisboa para presidente da assembleia municipal. Eduardo Martins decidiu não se candidatar, mas lançou um manifesto para “pôr as pessoas a pensar” no partido no mesmo dia em que Rio apresentou a sua candidatura.
A nova geração tem de se apresentar com qualidade, não tem de aparecer só por ser mais nova.
O próprio líder parlamentar que sucedeu a Montenegro, Hugo Soares, é lançado pela politóloga Paula Espírito Santo como um dos possíveis candidatos dada a exposição mediática que tem atualmente no Parlamento. Costa Pinto lança também o nome de Miguel Poiares Maduro. E quem sugere o próprio ex-ministro sugere um nome? “Será difícil no imediato, mas pode ter um futuro muito promissor no partido”, responde, referindo-se a António Leitão Amaro, um nome também referido por Nogueira Leite.
“Calculismo” é a palavra mais ouvida pelo ECO. É esse o ingrediente que domina a vida política atualmente e que ditará que candidatos avançarão no futuro. O politólogo Costa Pinto resume numa frase: “Candidatos há muitos… depois depende das estruturas de oportunidade de cada um”.
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