Salários dos gabinetes voltam a unir Costa e Rio. Bloco está contra, PCP em silêncio
O Governo prepara-se para acabar com os cortes nos salários dos membros dos gabinetes políticos. O PSD não se opõe. O Bloco estranha as prioridades e o PCP não fala para já.
O Governo quer acabar com o corte de 5% que, desde 2010, é aplicado aos salários dos membros dos gabinetes dos políticos, avançou, esta quinta-feira, o Público (acesso condicionado). O decreto-lei de execução orçamental ainda não foi divulgado, mas esta proposta volta a baralhar o xadrez político.
Para além do fim do corte de 5% sobre os salários de membros de gabinetes políticos, o Governo pretende também, de acordo com o documento a que o Público teve acesso, eliminar as restrições à atribuição de prémios de gestão nas empresas públicas e aos acréscimos salariais dos dirigentes intermédios.
E essas são, para o líder do PSD, medidas que fazem sentido. “Se a política do Governo foi acabar com todos os cortes, não tenho nada a opor a que se acabem com todos os cortes mesmo”, afirmou Rui Rio, esta manhã, na sede do PSD, em Lisboa, no final de uma reunião com a Ordem dos Enfermeiros, citado pela TSF.
Se a política do Governo foi acabar com todos os cortes, não tenho nada a opor a que se acabem com todos os cortes mesmo.
Contudo, o líder parlamentar do PSD, Fernando Negrão, disse ver “com preocupação” esta medida, já depois de o presidente do partido ter manifestado a sua concordância de princípio com a medida. “Eu vejo isso com preocupação, a despesa pública é que deve estar controlada, o primeiro a dar o exemplo deve ser o Governo e, portanto, discordamos profundamente dessa medida. O Governo, nos últimos anos, funcionou com esse corte, podia continuar a funcionar assim”, defendeu Fernando Negrão, citado pela Lusa. Confrontado com as declarações do presidente do partido, Rui Rio, poucos minutos antes num sentido oposto, Negrão admitiu que pensa “de forma diferente”.
Já Pedro Filipe Soares, líder parlamentar do Bloco de Esquerda, exige explicações ao Governo. “A ser verdadeira a notícia, ela é estranha nas prioridades que assume”, diz à rádio. “Há ainda um longo caminho para fazer nas prioridades até chegar aos gabinetes de políticos”, afirmou, em declarações à TSF. À RTP 3, Pedro Filipe Soares apontou como exemplo a redução do tempo de pagamento do subsídio de desemprego. “Se há prioridades em cima da mesa, essa tem de estar no topo das prioridades”, declara.
Há ainda um longo caminho para fazer nas prioridades até chegar aos gabinetes de políticos.
O CDS, através do seus líder parlamentar, Nuno Magalhães, também está contra. Diz, à Lusa, que “é contraditório, é imoral, é irresponsável. E acrescenta: “os portugueses não conseguem compreender que, por um lado, o Governo corte com as cativações que faz, corte no serviço público que presta aos portugueses e, por outro, o que se lembra de fazer é repor os cortes do staff político”.
O ECO contactou também o PCP, que não quis fazer comentários sobre este assunto.
A posição assumida por cada um dos partidos sobre esta matéria volta a colocar António Costa e Rui Rio do mesmo lado, com o Bloco — o parceiro do Executivo — a posicionar-se no lado oposto. Costa e Rio assinaram esta quarta-feira um acordo político sobre a descentralização e os fundos europeus.
O decreto-lei de execução orçamental não tem de passar pelo Parlamento, indo diretamente para Belém. Este será o caminho a seguir quando for aprovado no Conselho de Ministros. E, por isso, apesar das divergências políticas dentro da maioria de esquerda que se avizinham, a não obrigação de votação na Assembleia poderá ajudar a evitar uma tensão maior.
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