FMI revê em baixa crescimento dos motores europeus: Alemanha, França e Itália. Guerra comercial pode cortar 0,5% ao PIB mundial
FMI não mexe nas projeções de crescimento mundial, mas alerta que há cada vez mais riscos. Guerra comercial pode cortar 0,5% ao PIB mundial.
Para o Fundo Monetário Internacional (FMI) as nuvens estão a acumular-se no horizonte. Na atualização das suas previsões económicas, a instituição revê em baixa o crescimento dos principais motores europeus — Alemanha, França e Itália — e alerta que uma escalada na guerra comercial poderá “roubar” 0,5% ao PIB mundial até 2020.
Para já, o FMI não mexe nas projeções de crescimento mundial: “Continuamos a prever um crescimento global de 3,9% tanto para este ano, como para o próximo, mas consideramos que o risco de um resultado pior aumentou, até mesmo no curto prazo”, pode ler-se no documento publicado esta segunda-feira pelo Fundo.
A instituição liderada por Christine Lagarde considera que a dinâmica de retoma, que “teve início há dois anos, atingiu o pico e tornou-se menos equilibrada”. Na zona euro, o crescimento vai “abrandar gradualmente” de 2,4%, em 2017, para 2,2%, em 2018, e finalmente 1,9% um ano depois, uma projeção que representa uma revisão em baixa de 0,2 pontos percentuais para este ano e de 0,1 p.p. para 2019 face às previsões divulgadas em abril. Na semana passada, a Comissão Europeia reviu em baixa a previsão de crescimento para a Zona Euro e a União Europeia para 2018 devido às tensões comerciais. No entanto, o comissário europeu para os assuntos económicos e financeiros defendeu que o bloco do euro ainda está a viver um “ciclo de expansão”.
Estas mexidas resultam da revisão do crescimento da Alemanha (tem um corte de 0,3 p.p. para 2,2% este ano, embora depois haja uma revisão em alta de 0,1 p.p. para 2019 para os 2,1%) e de França (vai crescer menos 0,3 p.p. em ambos os anos, ou seja, 1,8% e 1,7%, respetivamente) “cujo crescimento abrandou mais do que o esperado no primeiro trimestre do ano”.
Mas há mais. Itália também viu as suas projeções revistas em baixa 0,3 p.p., este ano, para 1,2% e 0,1 p.p., para o próximo, para 1%, mas as razões foram outras: “agravamento dos spreads da dívida pública e condições financeiras mais restritas, resultantes da recente incerteza política, deverão pesar na procura interna”. O FMI considera que a venda de obrigações italianas em maio voltou os holofotes novamente para os profundos desafios estruturais e para as reduzidas almofadas que existem a nível nacional para amortecer os choques.
Estas novas previsões não são boas notícias para Portugal já que estes mercados estão entre os seus principais parceiros comerciais – no ano passado 13,4% das exportações nacionais seguiram para França. Mas não são os únicos. O FMI também reviu em baixa o crescimento do Brasil, Argentina e Índia.
Entre os riscos ao crescimento mundial está um agravamento das tensões comerciais que para já “são pequenas e afetam apenas uma fatia muito pequena do comércio global”. Mas o FMI considera que “a maior ameaça de curto prazo ao crescimento mundial” é “a de uma escalada das tensões comerciais, com efeitos adversos na confiança, preços dos ativos e investimento”. “Os desequilíbrios globais das balanças comerciais vão agravar-se face ao crescimento relativamente elevado da procura nos Estados Unidos, possivelmente exacerbando as fricções”, antecipa o Fundo. E, de acordo com as contas da instituições, “se as atuais ameaças de política comercial se materializarem e, em resultado, a confiança empresarial cair, a produção global pode ser cerca de 0,5% inferior às projeções atuais até 2020”.
Desde a avaliação de abril há riscos que se tornaram mais proeminentes, nomeadamente a “incerteza política” que aumentou na Europa, já que “a União Europeia enfrenta desafios políticos fundamentais relativamente à política de migração, governança orçamental, normas relativamente à implementação da lei e à arquitetura institucional da zona euro”. Por outro lado, os termos do Brexit continuam por estabelecer, “apesar de meses de negociação”, lamenta o FMI.
Os recados
“Com o aumento do potencial de deceção”, o FMI deixa como sempre um caderno de encargos para os vários países avançarem com reformas estruturais que aumentem o PIB potencial dos diversos países e travem os elevados níveis de endividamento.
“Com os níveis da dívida perto de valores recorde em muitos países, as políticas orçamentais devem começar a reconstruir as almofadas sempre que necessário. O ritmo deve ser calibrado para evitar fortes penalizações no crescimento, com medidas adequadas para potenciar a inclusão económica”, alerta o FMI. Para os Estados Unidos o recado é evitarem estímulos orçamentais pró-cíclicos e para a Alemanha defende que deve dar mais passos para impulsionar o potencial de crescimento interno e lidar com os desequilíbrios globais porque tem margem de manobra orçamental e um excedente externo que o permite.
O FMI sugere ainda que para aumentar o PIB potencial e a produtividade os países devem investir em infraestruturas físicas e digitais, promovendo a participação da força laboral, quando o envelhecimento da população começa a ameaçar a oferta de mão-de-obra.
Como em todos os seus relatórios, o Fundo defende que as reformas estruturais continuam a ser “essenciais” para aliviar os constrangimentos ao nível das infraestruturas, fortalecer o ambiente empresarial, fazer um upgrade do capital humano e garantir acesso para todos os segmentos da sociedade.
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