Tecnologia chega aos escritórios. A inteligência artificial já transforma a advocacia
Há o Kira. Há robots. Já há mecanismos que ajudam a rever documentos. As sociedades de advogados têm estado a acompanhar a tendência de automatização no ambiente de trabalho. Fomos saber como.
São diferentes as formas pelas quais a tecnologia já influencia a prática dos grandes escritórios. Dos sistemas de revisão de documentos ao acesso remoto a e-mails, passando pela última tendência de inteligência artificial para rever contratos, assistimos, atualmente, a uma corrida tecnológica cada vez mais difícil de acompanhar. Um processo que tem tido um impacto em todas as atividades económicas e que começa a chegar, praticamente, a todas as profissões.
A advocacia não é exceção. As sociedades já começam a investir num ambiente de trabalho cada vez mais automatizado. Vieram os robots livrar-nos da burocracia? Será que os advogados estão a um passo de desaparecer? Falámos com seis escritórios para descobrir.
Abreu Advogados
Luís Barreto Xavier, consultor para a inovação da Abreu Advogados fala de uma nova revolução tecnológica, assente na robótica e na inteligência artificial, “que está já em andamento nas sociedades de advogados mais sofisticadas, como é o caso da Abreu Advogados”.
Se apostar na tecnologia representa já um serviço aos advogados e aos seus clientes, por outro isso implica um grande investimento por parte destes escritórios. “Não apostar nas novas soluções tecnológicas é um erro que pode custar caro. Mas investir prematuramente e em força em soluções que ainda estão em fase muito inicial implica também elevados custos financeiros e de oportunidade”, nota o jurista.
CMS Rui Pena & Arnaut
Há dois anos que o escritório anda a treinar o Kira – uma tecnologia de revisão automatizada de contratos assente em machine learning. Em 2017 começou a ser aplicada em operações de M&A. Um dos casos foi com a HP.
“No âmbito da compra pela HP do negócio de impressoras da Samsung, em que a CMS atuou como assessor jurídico da HP, e no qual o escritório português participou ativamente, o Kira foi utilizado na revisão de 2500 contratos, oriundos de 27 jurisdições e produzidos em 23 idiomas, o que se traduziu em ganhos de eficiência estimados em 30% que muito agradaram o cliente, considerando a dimensão da operação”, conta Margarida Vila Franca, sócia de direito societário deste escritório.
Vamos falar sobre estes temas nas próximas décadas. Não pelo receio de que elas possam substituir os advogados, mas pelas oportunidades que criam.
A sociedade conta ainda com uma equipa que se dedica à gestão do conhecimento e à procura de formas de inovar a prática. O uso inteligente da tecnologia por parte dos advogados e restantes colaboradores permite-lhes melhorar o seu desempenho profissional. “São frequentes as sessões de formação no escritório sobre as inovações que vamos implementado, para que a inovação, seja qual for a sua natureza, esteja verdadeiramente impregnada no dia-a-dia da nossa organização”, remata a jurista.
PLMJ
Também na PLMJ já se começou a usar o Kira. O sistema não está ainda disponível em português, mas vai está a ser desenvolvida essa funcionalidade, através da parceria entre este piloto de inteligência artificial e a sociedade. A verdade é que já ajuda os advogados na automatização e extração de informação, em cláusulas ou disposições contratuais de contratos estruturados e não estruturados.
Práticas essas que já começam a mudar o dia-a-dia dos escritórios, com a inteligência artificial a emancipar os advogados das tarefas burocráticas. “O exemplo mais paradigmático é a análise de quantidades massivas de informação, que podem hoje ser feitas com muita qualidade e com muito maior velocidade com o auxílio a ferramentas informáticas de IA. E isso liberta os advogados, por exemplo numa transação, para a análise de questões mais complexas”, diz Paulo Farinha Alves, sócio de contencioso penal e contraordenacional da PLMJ.
É um mundo que oferece possibilidades infinitas e que veio para mudar a rotina e torná-la mais simples. “Estou convencido de que iremos falar sobre estes temas nas próximas décadas. Não pelo receio de que elas possam substituir os advogados, mas pelas oportunidades que criam e pelo aumento de eficiência e eficácia que proporcionam. Neste caso o futuro é mesmo agora. Não tenho dúvidas sobre isso”, remata o advogado.
Garrigues
Na Garrigues, os departamentos de gestão do conhecimento e de tecnologia têm como objetivos últimos a economia de tempo e maior eficiência no trabalho, conseguidos através da aplicação de inteligência artificial e de novas tecnologias a processos legais tradicionais.
É através de um software de IA que é feita a revisão de documentos neste escritório, que analisa automaticamente contratos e outros documentos, deteta erros e incongruências, e facilita aos advogados a sua correção.
Contam ainda com o Proces@, um robot concebido pela Garrigues e pelo Instituto de Ingeniera del Conocimiento da Universidade Autónoma de Madrid, que já começou a ser usado em Espanha para analisar a documentação jurídica que é recebida no escritório. É a primeira vez que um escritório cria e implementa um sistema deste tipo em espanhol. Uma das grandes vantagens do Proces@ é a capacidade para transformar arquivos de áudio e documentos multimédia em texto indexável.
MLGTS
Na MLGTS para além de softwares de edição e comparação de textos, bem como de gestão documental, há já muitos anos que os advogados têm acesso remoto à sua caixa de e-mail. “Essa circunstância, que hoje damos como adquirida, foi porventura aquela que mais profundamente mudou o modo como a tecnologia começou verdadeiramente a influenciar as práticas dos escritórios e a inovar o dia-a-dia de um advogado”, admite Eduardo Paulino, sócio do escritório.
Ainda que a inteligência artificial não permita dispensar a criatividade do advogado, estas ferramentas vão contribuir para aumentar tanto a produtividade interna quanto a velocidade e eficiência do trabalho entregue ao cliente.
Em junho passado, a sociedade, através do Instituto Miguel Galvão Teles, organizou uma conferência de dois dias sobre inteligência artificial e cuja temática foi além do setor jurídico, abordando as vertentes ética e laboral destas implicações. Uma das questões levantadas foi a clássica “Será que a máquina substitui o homem?”.
No que toca ao exercício da profissão, o jurista realça que “ainda que a IA não permita dispensar a criatividade do advogado, aspeto que verdadeiramente acrescenta valor aos serviços jurídicos, estas ferramentas vão certamente contribuir para aumentar tanto a produtividade interna quanto a velocidade e a eficiência do trabalho entregue ao cliente”.
VdA
Na Vieira de Almeida, a mobilidade teve um novo impulso dado pelo novo posto de trabalho do escritório, em Santos, com a implementação da Microsoft Surface, e uma estratégia baseada em Windows 10 e Office 365, que potencia a partilha de tarefas e documentos, como a comunicação via Skype from Business.
As infraestruturas da nova sede da sociedade também contribuem para um ambiente inovador, já que esta foi preparada com tecnologias de apresentação sem fios, vídeo e áudio conferência integrada e controlo de domótica. À Advocatus, Sofia Barata e Rui Alves da VdA contam como a transformação digital e tecnológica é já uma realidade e que esta veio para ficar. “Esta vai até intensificar-se, sobretudo nos ganhos de eficiência e otimização, através do reforço da análise, classificação e automação documental, da otimização e gestão de processos judiciais e administrativos e gestão de projetos, culminando em 2020 com a finalização do programa VdAmbição – que delineou o plano estratégico de evolução para o quadriénio”.
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