EDP junta-se a gigantes à procura da energia das startups
A poucas horas de se conhecer a startup vencedora do Free Electrons, que acontece esta semana em Berlim, fomos descobrir quais as principais tendências que marcam o setor da energia.
Berlim recebe esta semana a final do Free Electrons, um programa para startups, organizado por gigantes elétricas dos quatro cantos do mundo. Entre dois dias de várias conversas, trocas de ideias e pitchs, como aproveitar e melhorar a energia são os temas mais quentes. Entre as várias tendências para o futuro, há uma previsão que fica na cabeça: a energia vai ser tão abundante que o custo de a produzir vai ser praticamente zero, tendo as empresas de encontrar novas formas para reinventar o seu modelo.
À conversa com o ECO, Luís Manuel, administrador da EDP Inovação, explica que “estamos numa fase dos 3 D’s: descarbonização, descentralização e digitalização”. O administrador da EDP, uma das elétricas fundadoras e presentes no evento, revela que o objetivo do Free Electrons é aliar as mais-valias das empresas do setor (utilities) às capacidades que as startups têm para desenvolver ferramentas. “Há uma aprendizagem muito relevante”, diz.
Mas, para que isso aconteça da melhor maneira possível, é importante conhecê-las. “A primeira fase do concurso foi em Lisboa, onde realizamos um bootcamp para conhecê-las melhor. Fazem-se amigos, as pessoas acabam por se conhecer e isso é o ingrediente-chave para que as ligações aconteçam”.
Foram 515 as candidaturas recebidas, mas apenas 15 chegaram à final. Quer saiam vencedoras — ou não –, todas chegam ao fim com, pelo menos, uma parceria feita com uma das dez gigantes elétricas presentes e fundadoras.
Só a EDP investiu em quatro startups — as portuguesas Loqr e Jungle, a francesa Sterblue e a SOLShare, do Bangladesh –, e realizou nove projetos-piloto com outras, desde o ano passado, a primeira edição do concurso de startups. A regra, explicou Luís Manuel, é “investir quando faz sentido no contexto da tecnologia e quando há disponibilidade”.
“Hoje assinámos mais contratos pilotos e há uma startup que consegue prolongar a vida útil das baterias. Isso interessou-nos e pode contribuir para a redução dos custos e para o armazenamento elétrico. É importante que haja mais renováveis e tudo o que ajude a reduzir o custo pode ser positivo“, continuou. O administrador defende ainda que a “microgeração vai ser o fenómeno dominante em praticamente todo o lado, porque vai permitir vender o excedente aos outros clientes”, sendo essa uma das principais preocupações do setor.
“Se a energia puder usar tecnologias para chegar ao cliente, é uma grande mais-valia”
“Produzir em cidades e fora delas a própria energia e fazer uma rede para a vender uns aos outros“. É a resposta de Manuel Tânger, um dos fundadores da Beta-i (aceleradora responsável pela organização do Free Electrons), sobre as tendências da energia. Esse é o caso da SOLShare: a startup pretende levar energia de painéis solares que não é aproveitada até pequenas vilas de Bangladesh sem acesso a eletricidade.
“Quando precisas de contratos para compra e venda de energia casa a casa, precisas de blockchain, baterias ligadas a esses sistemas e que, depois, se ligam à rede”, continuou. Para além disso, soma-se outro ponto “bastante transversal”, os dados. “As startups que conseguem capturar informação da energia, que passa a um nível de precisão tão alto, percebem qual o tipo de equipamento que está a ser utilizado e as suas falhas. Isso vai permitir diferentes modelos de negócio, e maior poupança e gestão de consumo”.
Dois anos de energia
Realizado pela segunda vez e criado como um “programa de inovação aberta”, o Free Electrons permite “trazer inovação para dentro de grandes empresas que muito dificilmente conseguem inovar com tanta rapidez. As startups têm acesso a deals com empresas gigantes que conseguem chegar a mercados enormes”, explica Manuel. Para se destacarem, as startups precisam de um “produto minimamente robusto mas não completamente fechado”, uma vez que a maioria das utilities tem exigências mais particulares, o que vai permitir adaptar os produtos. “Elas têm de estar preparadas e precisam de ter pessoas suficientes para uma expansão muito rápida“, avisa o cofundador da Beta-i.
Se a indústria puder usar essas tecnologias [blockchain e inteligência artificial] para chegar até ao cliente, considero que é uma grande mais-valia.
May Liew está na final do Free Electrons, em Berlim, e representa o SP Group, uma espécie de EDP em Singapura. Em conversa com o ECO, confessa que vem à procura de soluções relacionadas com a tecnologia blockchain e de Inteligência Artificial (IA), uma “área com enorme potencial”. Contudo, prefere esperar para ver como isso pode mudar a indústria da energia. “Pode ser muito perturbador se houver um salto rápido e agressivo”, assinala. Em contrapartida, esse tipo de soluções podem “ajudar [a indústria] a levá-la para o próximo nível, de uma maneira mais razoável”, cenário com probabilidade elevada, acredita a vice-presidente. “Se a indústria puder usar essas tecnologias para chegar até ao cliente, considero que é uma grande mais-valia“.
Para as startups, May deixa um recado: “Elas podem juntar-se ao Free Electron porque nós, utilities, trazemos uma enorme base de utilizadores. Em vez de irem atrás dos clientes, podem trabalhar connosco e integrar a sua solução para ter um grande acesso ao mercado e a bases de clientes“.
Daqui a dez anos, Manuel Tânger, da Beta-i, acredita que vamos alcançar um estado de “abundância energética que vai ser praticamente free”, ou seja, o custo de a produzir vai “tender para zero”. “A energia está numa fase muito gira porque as startups e as empresas vão ter modelos de negócio que não serão a venda de energia. As EDP da vida vão ter de se reinventar. Mas elas [as startups] estão cá para isso mesmo, para ajudar esse esforço de encontrar o modelo de negócio do futuro“.
(A jornalista viajou até Berlim a convite da EDP)
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