Quais são as pedras no sapato dos banqueiros nacionais?

Malparado, fintech ou MREL são temas transversais ao setor bancário e que vão acompanhar os banqueiros no novo ano. Mas cada um deles vai ter de lidar com desafios específicos dos seus bancos em 2019.

Vem aí mais um ano de grandes desafios para os bancos nacionais. Há temas que são transversais a todo o setor e que vão acompanhar os banqueiros nos próximos tempos, como a redução do malparado, o regresso à rentabilidade, a pressão tecnológica e emergência das fintech, a regulação ou os requisitos do MREL. Mas cada um deles vai ter lidar com questões específicas dos seus bancos no próximo ano.

Banco público faz mira ao rating de qualidade

Devidamente capitalizada e com um plano de reestruturação em curso, o grande desígnio de Paulo Macedo para a Caixa Geral de Depósitos para 2019 é este: ter um rating de qualidade junto das principais agências de notação financeira. Atualmente, as agências atribuem um rating considerado “lixo” ao banco público, isto apesar de o seu acionista (o Estado) ter uma notação de qualidade de investimento.

Por falar em acionista, o próximo ano também vai marcar o regresso do banco à distribuição de dividendos ao Estado. Serão os primeiros desde 2010. O Governo está a contar com um cheque de 200 milhões de euros. Macedo disse que é um valor “plausível”, isto após os primeiros nove meses do ano terem dado um lucro de 369 milhões ao banco.

Em relação à operação, a CGD prepara-se para vender os seus negócios em Espanha e África do Sul, operações que vão permitir um encaixe de 570 milhões de euros e reforçar os rácios de capital. Em Cabo Verde, vai vender a participação que tem no Banco Comercial do Atlântico.

Enquanto redimensiona a operação internacional, por cá também continuará o ajustamento. Encerramento de agências? Saídas de trabalhadores? E também há a negociação do novo Acordo de Empresa, que o banco denunciou unilateralmente em julho. Paulo Macedo deseja chegar a um entendimento com os sindicatos no próximo ano.

Paulo Macedo procura obter rating de qualidade para o banco público.Paula Nunes/ECO

BCP entre “lucros belíssimos”, dividendos e o digital

Com um novo rosto à frente do banco desde meados deste ano, o BCP procura consolidar com Miguel Maya a normalização da sua atividade após anos de crise. Em 2017 terminou com a ajuda do Estado, depois de devolver a última tranche de obrigações de capital contingente (CoCos) através de um aumento de capital que trouxe a Fosun para a ribalta acionista dentro do banco. Agora, face ao bom desempenho deste ano, o novo CEO espera fechar 2018 lucros “belíssimos”, uma que crença sai reforçada com os resultados apresentados até setembro: o BCP registou lucros de 257,5 milhões de euros nos primeiros nove meses do ano, o dobro do que havia registado um ano antes.

Com isto, alimentou a expectativa de acionistas e trabalhadores, que querem boas novas no novo ano: dividendos para os primeiros — o banco não distribui lucros desde 2010 — e bónus para os segundos para compensar os cortes salariais que vigoraram entre 2014 e 2017 no banco. Sobre isto, Maya diz que espera estar à altura das exigências, sem comprometer a estabilidade do banco.

2019 será ainda o primeiro ano completo do Plano Mobilizar, com o qual o BCP vai acelerar a digitalização dos seus serviços. O mobile é uma prioridade. E o ActivoBank, o banco digital que esteve para ser vendido e terá um novo CEO com a saída de Dulce Mota para o Banco Montepio, vai assumir agora um papel central no crescimento da instituição em Portugal e lá fora.

Outros objetivos de Miguel Maya: reduzir a exposição do banco a ativos não produtivos, como o crédito malparado; baixar o cost-to-income (uma das métricas mais sublinhadas pelo CEO para enfatizar a necessidade de continuar atento aos custos) ; e aumentar a rentabilidade do capital (ROE). E isto quanto tem o Santander Totta na sua sombra.

Santander Totta à espera de transição suave

Para o Santander Totta, o novo ano começa com mudanças. António Vieira Monteiro e outros gestores históricos, como Bento dos Santos, vão deixar a liderança do banco. Subirá para o cargo de CEO Pedro Castro e Almeida, numa comissão executiva que manterá Manuel Preto e Inês Oom de Sousa e traz as novidades Amílcar Lourenço, Isabel Guerreiro e Miguel Belo de Carvalho.

Tudo aponta para uma transição suave no banco que passou a disputar o estatuto de maior entre os privados no mercado nacional. Mas não é seguro que essa transição seja tão tranquila como o banco espera que seja. Sobretudo porque Vieira Monteiro pode vir a ser travado pelo Banco Central Europeu (BCE) devido à sua passagem pela CGD.

Com a passagem de ano vêm as resoluções. E, no que toca ao Santander Totta, uma dessas resoluções deverá passar pelo seu emagrecimento. Depois da aquisição do Banco Popular Portugal, o banco ficou maior em agências e em trabalhadores. Caberá a Castro e Almeida reduzir a dimensão do banco sem perder negócio.

Novo Banco, novo ano, velhos hábitos

No Novo Banco, o novo ano trará velhos hábitos. Isto porque António Ramalho deverá continuar numa limpeza frenética do balanço do banco, tal como tem feito nos últimos meses em que vendeu várias operações que não eram estratégicas e se desfez de uma parte do legado mais problemático dos BES: o crédito malparado. Esta política de desinvestimento deverá prosseguir.

António Ramalho tem um bom motivo para isso já que pode continuar a tirar partido da almofada financeira chamada “Mecanismo de Capital Contingente“, criada aquando da venda ao fundo americano. Este mecanismo permite a António Ramalho limpar do banco, vender ativos problemáticos e reconhecer perdas, passando a fatura ao Fundo de Resolução, que é financiado por todos os bancos do sistema.

De acordo com as últimas contas, o Novo Banco previa uma injeção de 730 milhões de euros do Fundo de Resolução em 2019 para fazer face às perdas e aos prejuízos volumosos que se avizinham para este ano. Mas já se sabe que, afinal, o Novo Banco se prepara para pedir ao Fundo de Resolução um montante que pode superar os 850 milhões de euros para repor os seus rácios de capital.

O novo ano também vai trazer um novo rosto: Mark Bourke chega em janeiro para assumir funções de administrador financeiro. Vem do Allied Irish Bank, “um dos maiores bancos na Irlanda que em 2010 foi intervencionado pelo Estado irlandês”, segundo descreveu o Novo Banco aquando da confirmação da sua contratação ao mercado. No mesmo comunicado, o banco português sublinhou ainda que Bourke ajudou a colocar o Allied Irish Bank na bolsa em 2017.

António Ramalho vai continuar a reduzir malparado do Novo Banco.Paula Nunes / ECO

Montepio à espera de estabilidade… no acionista

Carlos Tavares começa o novo ano com mudanças: vai deixar de acumular as funções de CEO e chairman do Montepio a partir do dia 21 de janeiro, por imposição do Banco de Portugal. O cargo de presidente do conselho de administração deverá passar para João Ermida.

Mas as mudanças não ficam por aqui. Também a marca vai mudar: em vez de Caixa Económica Montepio Geral, o banco vai passar a chamar-se Banco Montepio. O processo de registo da marca já se encontra mesmo no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual. 2019 será mesmo o ano de execução do plano de transformação que inclui ainda um projeto-piloto para a criação de dez agências low cost e o relançamento do Montepio Investimento, que vai passar a chamar-se Banco Empresas Montepio (BEM).

Para lá do que se passa dentro do banco, Carlos Tavares também espera contar com maior estabilidade da parte do acionista, a Associação Mutualista Montepio Geral (AMMG). Tomás Correia venceu as eleições, que lhe permitiu renovar o mandato por mais três anos. Mas, com os novos estatutos e a supervisão financeira da Autoridade de Seguros e Fundos de Pensões (ASF), ainda existe alguma incerteza nas implicações que o novo quadro regulatório pode ter na avaliação de idoneidade no recém-reeleito presidente da AMMG.

Por outro lado, depois de ter falhado as metas de financiamento este ano, o próximo ano volta a ser desafiante do ponto de vista da captação de poupanças junto dos associados, como revelou o ECO em primeira mão. A AMMG espera captar 700 milhões através dos seus produtos mutualistas e estancar a saída de sócios. Em relação ao seu principal ativo, o Banco Montepio, a entrada das misericórdias e outras instituições sociais no capital da instituição será outro tema que poderá conhecer desenvolvimentos no próximo ano.

BPI sai de bolsa?

O CaixaBank quer retirar o Banco BPI da bolsa de Lisboa. Mas há uma providência cautelar de pequenos acionistas que querem travar in extremis a saída do banco português do mercado prevista para esta quinta-feira, o que pode adiar os planos dos catalães relativamente ao controlo total do BPI.

Para lá das disputas judiciais, o CaixaBank acabou de anunciar ao mercado um novo plano estratégico para o seu negócio em Portugal: quer um BPI a crescer mais no crédito e mais eficiente do que é atualmente. Quanto ao BFA, talvez seja o ano de colocação do banco angolano na bolsa.

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