‘YourLink’. Já existem advogados que não fazem horas extra
A Linklaters Alemanha lançou um modelo de trabalho que permite aos advogados ter um horário semanal fixo. Por cá, algumas medidas mais flexíveis começam a ser pensadas.
Ser-se advogado e trabalhar 40 horas semanais? Sim, é possível, na Linklaters Alemanha, desde maio de 2017, com o programa de carreira alternativo “YourLink”. A iniciativa é exclusiva dos escritórios de Berlim, Munique, Frankfurt, Dusseldorf e Hamburgo e oferece um horário fixo semanal em troca de um salário reduzido, que teve logo a adesão de nove advogados.
A ideia surgiu por necessidades específicas do mercado local alemão, que é particularmente competitivo, e a implementação do modelo foi projetada para atrair mais advogados.
“O nosso objetivo é atrair e reter os melhores talentos, mas o mercado na Alemanha é renhido. As firmas de topo têm uma necessidade anual de contratar cerca de 1200 a 1500 novos associados por ano, mas apenas 500 a 600 estão dispostos a juntar-se a uma dessas sociedades de advogados, anualmente. Muitos advogados talentosos preferem, na verdade, trabalhar para o governo ou num escritório mais pequeno onde conseguem obter um melhor equilíbrio entre a vida profissional e a vida pessoal“, conta Thomas Schmidt, responsável de Recursos Humanos da Linklaters Alemanha, em declarações à Advocatus.
“A Linklaters na Alemanha tinha interesse em tornar-se mais atrativa para esses advogados altamente qualificados que dão maior importância a este equilíbrio trabalho-casa. Assim, desenvolvemos várias sessões de grupo com estudantes de Direito onde vários deles mencionaram a necessidade de um modelo de horas de trabalho mais estável, o que não existia nos grandes escritórios na altura”, explica.
Segundo a revista jurídica The American Lawyer (acesso condicionado, conteúdo em inglês), no seu primeiro ano, os advogados associados que escolherem este modelo de trabalho recebem 80.000 euros, enquanto os restantes auferem um salário de 120.000 euros, de acordo com a remuneração padrão da firma.
Existe ainda outra contrapartida: os que escolherem este modelo deixam de estar elegíveis para serem sócios da firma, embora possam chegar a cargos de counsel e de managing partner, eventualmente. Mesmo assim, há cada vez mais advogados interessados neste modelo, já que o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal começa a ser prioridade imprescindível, especialmente entre os jovens. Atualmente, a Linklaters conta com 12 advogados a trabalhar neste regime, com a adesão de mais três advogados em novembro.
“Temos tido bastante interesse no modelo. Muitos advogados reconhecem que tivemos a coragem de tentar com este projeto algo diferente e inovador. Claro que alguns deles não quiseram necessariamente trabalhar neste modelo agora, mas acham ótimo terem sequer essa opção”, refere Thomas Schimdt. “O feedback que temos recebido é muito positivo, tanto deles como de colegas seus e de sócios“.
E por cá?
Embora com uma presença global, cada escritório da Linklaters tem autonomia para definir as medidas que melhor respondem ao seu mercado específico. “Cada escritório adota as iniciativas flexíveis que melhor respondem aos seus contextos locais respetivos. Os modelos diferem, mas o princípio que os subjaz é o mesmo, no fundo: queremos todos encontrar soluções mais ágeis e flexíveis que vão ao encontro das necessidades dos trabalhadores, individualmente e em equipa, e dos nossos clientes”, acrescenta Thomas Schmidt. A Linklaters Portugal é exemplo disso.
Questionada sobre se o escritório em Lisboa iria adaptar um modelo semelhante ao do “YourLink” aos seus advogados, a responsável pelos Recursos Humanos de cá, Isabel Carvalho, conta que essa não é a resposta mais adequada. “A implementação do “YourLink Projet” foi efetivamente impulsionada por necessidades muito específicas do mercado local na Alemanha, pelo que não se encontra implementado na Linklaters em Portugal”.
Sobre as medidas laborais a implementar no escritório de cá, Isabel Carvalho garante que estão a ser levadas a cabo algumas iniciativas, embora não refira quais serão estas em concreto, ou se terão que ver com reduções de horários. “À semelhança de outros escritórios, também o escritório de Lisboa está a trabalhar na implementação de algumas iniciativas de trabalho flexível adaptadas ao contexto em Portugal”, respondeu à Advocatus.
E noutras sociedades?
Na Garrigues, começam já a implementar-se algumas medidas de flexibilidade de horários com vista a um melhor “work/life balance”. O Plano Garrigues Optimum permite aos advogados, no momento da maternidade ou paternidade — por um período de dois anos, após usufruto do descanso maternal/paternal — que possam diminuir o tempo normalmente associado à sua prestação de serviços em 15%, sem que isso se reflita numa diminuição do valor da sua remuneração, de forma a adaptarem-se às necessidades do seu filho.
Os advogados da Garrigues em Portugal também podem, sempre que os compromissos com clientes assim o permitam, usufruir de uma dispensa da sua prestação de serviços durante duas tardes de sexta-feira por mês.
Já a Morais Leitão é a única sociedade de advogados certificada como empresa familiarmente responsável em Portugal. “Esta certificação significa um compromisso sólido com o equilíbrio entre as esferas pessoal/familiar e profissional. Na nossa profissão, esse é um desafio particularmente exigente, mas que apela à nossa identidade e aos nossos valores enquanto instituição”, afirma o managing partner, Nuno Galvão Teles.
Para tal, o escritório adotou algumas medidas como a flexibilidade na jornada laboral diária, o teletrabalho ou as reduções de carga horária, com planos de carreira adaptados à situação pessoal e vocação de cada um. Ou seja, os advogados já podem trabalhar remotamente ou em situação de redução do número de horas, a pedido dos próprios.
“Do nosso ponto de vista, o bem-estar pessoal é uma condição vital para o bem-estar de toda a sociedade – e, em tempos de discussão intensa da motivação em recursos humanos, um argumento fundamental para que a Morais Leitão seja percecionada como uma excelente instituição para se trabalhar”, refere Nuno Galvão Teles, em declarações à Advocatus.
A sociedade desenvolveu um plano de medidas, que são “revistas anualmente e auditadas externamente, em seis dimensões diferentes: qualidade do trabalho, flexibilidade temporal e espacial, apoio à família, desenvolvimento pessoal e profissional, igualdade de oportunidades e liderança e estilos de direção”, aponta ainda o jurista. Recentemente, o escritório criou um pelouro de Diversidade e Inclusão, que reporta diretamente ao Conselho de Administração, e que tem um plano de atividades próprio.
Questionadas pela Advocatus sobre possíveis medidas flexíveis de trabalho, as sociedades de advogados Vieira de Almeida, PLMJ e DLA Piper não responderam.
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