Basta o petróleo subir um euro para tramar o PIB de Centeno
A margem entre a média atual do preço do Brent e o pressuposto do Governo é inferior a 90 cêntimos. Aumento de 20% no valor por barril pode levar o PIB deste ano até 1,7%.
Uma subida de apenas um euro no preço do petróleo pode começar a mexer nas contas do Governo para o crescimento do produto interno bruto (PIB), mas também para a trajetória da dívida pública, este ano. Mário Centeno reviu em baixa o preço da matéria-prima, este ano, para um valor muito próximo do que está no mercado, ficando, assim, com pouca margem para eventuais sobressaltos nos preços que podem trocar as voltas às projeções no Programa de Estabilidade.
Enquanto no Orçamento do Estado para 2019 foi feito com base num valor médio de 72,20 dólares por barril, o Programa de Estabilidade que atualiza as projeções para este ano e até 2023, reconhece que a cotação da matéria-prima estava muito elevada — o Fundo Monetário Internacional aponta para um valor de 59,20 dólares. Assim, de 72,20 passou para 66 dólares. Ao mesmo tempo, foi revista a taxa de câmbio entre o euro e o dólar, também sendo ajustada em baixa: passou de 1,19 para 1,14 dólares.
Tendo em conta estas novas projeções, o Governo está a contar com um preço médio do barril de petróleo de 57,89 euros. A média do preço do petróleo desde o início do ano é de 64,66 dólares, o que — face à taxa de câmbio média verificada de 1,1343 dólares por euro — é equivalente a 57 euros. Assim, a margem entre a média atual e o pressuposto do Governo fica abaixo dos 90 cêntimos.
A perspetiva é de que as cotações do petróleo possam, efetivamente, baixar, este ano. No entanto, a margem de segurança nas projeções de Centeno é muito curta, especialmente se se tiver em conta os efeitos negativo que pode ter nas estimativas para a economia caso o contexto seja mais adverso.
O Ministério das Finanças estimou o impacto de um aumento do preço do petróleo em 20% superior a esta estimativa e concluiu que tem um impacto negativo de 0,2 pontos percentuais no crescimento real da economia no primeiro ano, seguido de uma recuperação parcial nos anos subsequentes.
Acrescentando os tais 20% da análise de risco do Governo, ou seja se o barril de petróleo atingir o equivalente a 69,47 euros, o PIB poderá crescer apenas 1,7% este ano e no próximo (em vez de 1,9% como esperado). Já a dívida pública poderá ficar em 119,2% em 2019 (mais 0,6 pontos percentuais que o cenário base) e 116,1% em 2020 (agravando-se em 0,9 pontos percentuais). O saldo orçamental não seria alterado antes de 2021, quando o excedente seria penalizado em 0,1 pontos e ficaria em 0,8%.
Petróleo mais barato trava abrandamento do PIB
O valor do preço do petróleo em euros, para 2019, compara com os 60,67 euros inscritos no OE 2019 (à taxa de câmbio prevista na altura). O exercício contrário — sobre o impacto de uma descida no preço da matéria-prima para a economia portuguesa — indica que a revisão da projeção ajudou a travar o abrandamento o crescimento económico.
O corte foi de 4,5% no preço médio do petróleo estimado para 2019 permitiu ao Governo fazer uma revisão mais pequena no PIB. Se uma variação de 20% no preço, representa 0,2 pontos percentuais no PIB, então a revisão deu um impulso de 0,05%. Assim, sem a diminuição nos pressupostos do preço do petróleo e da taxa de câmbio, a projeção para o crescimento real da economia teria ficado em 1,85%.
Dado o ajuste, a estimativa de expansão do PIB ficou em 1,9% (face a 2,2% que estavam inscritos no OE). Mário Centeno já tinha avisado que iria rever em baixa as previsões do Governo para o crescimento económico este ano e o Programa de Estabilidade indica que a tendência irá manter-se. Em 2020, a economia deverá crescer também 1,9%, antes de acelerar novamente para 2% em 2021 e 2022.
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