Porque é que a bitcoin fez “pop” outra vez? Estas 5 razões ajudam a explicar
A bitcoin disparou novamente, depois da ascensão e queda entre 2017 e 2018. O ECO reuniu cinco razões que ajudam a explicar porque é que a bitcoin voltou a fazer "pop", como as pipocas.
Naquela sexta-feira, os fãs de criptomoedas viram a bitcoin tocar um novo mínimo, abaixo dos 3.400 dólares. O calendário marcava 6 de fevereiro de 2019, mais de um ano depois da euforia que levou a moeda virtual ao patamar dos 20 mil dólares. O sabor era amargo para quem investiu após esse máximo e não vendeu antes da queda. Mas nada fazia prever o que estava para vir.
Semanas depois, a 2 de abril, o valor da bitcoin disparou de 4.130 dólares para quase 5.200 dólares no dia seguinte. Alguns jornais noticiaram a subida e muitos fãs voltaram a provar do mesmo mel que escorreu em dezembro de 2017, altura em que era relativamente comum o preço da bitcoin fazer um “pop” de 20% em poucas horas (ou cair na mesma medida).
Essa data marcou o início do segundo reinado da bitcoin, que culminou esta semana com o preço da criptomoeda a regressar a valores vertiginosos, acima dos 13.680 dólares. Ninguém sabe ao certo porquê, mas é possível atribuir a valorização a um conjunto de razões, que o ECO resume nos próximos tópicos.
A montanha russa da bitcoin
1. O nascimento da Libra
Um dos principais motivos para a recuperação da bitcoin é o nascimento da Libra, que promete ser a nova moeda virtual universal e que está a ser lançada por uma associação liderada pelo Facebook. Na perspetiva dos investidores, a Libra vai atrair mais gente para o mundo das criptomoedas, dado o público potencial de quase dois mil milhões de utilizadores da rede social, que passarão a ter contacto com o dinheiro virtual e com o potencial da blockchain.
Durante semanas, alguns jornais especializados foram avançando mais e mais informações sobre o novo projeto de Mark Zuckerberg, que vai ter a Visa e a MasterCard como parceiras, além da luso-britânica Farfetch. Ora, em A Random Walk Down Wall Street, Burton Malkiel escreveu que, se o mercado souber que uma ação vai valorizar 3% amanhã, ela valoriza 3% já hoje. Foi o que aconteceu com a bitcoin: de cada vez que os investidores foram sabendo mais informações sobre a Libra, a bitcoin também foi ganhando com o clima mais favorável que se foi formando.
O ponto alto deu-se em meados deste mês, quando o Facebook oficializou o lançamento da Libra, que deverá nascer em 2020. Foi na terça-feira de 18 de junho, mas os investidores já sabiam quase tudo o que aí vinha, através de informações do The Wall Street Journal publicadas na sexta-feira anterior. Durante o fim de semana e a segunda-feira, o valor da bitcoin aumentou de 8.200 dólares para cerca de 9.400.
2. O medo de ficar de fora
É bem real e até tem direito a ser tratado pela sigla: o “FOMO”, ou fearofmissingout, é outro dos fatores que ajuda a explicar a nova escalada da bitcoin nos mercados.
No campo da especulação, a bitcoin tinha poucas provas dadas antes do boom de 2017. Mas, após este período, tornou-se evidente que o preço de uma moeda virtual pode subir — e subir muito. Afinal, dificilmente existirá outro ativo capaz de “render” quase 1.200% num ano. E cujas mais-valias, em Portugal, nem sequer são tributáveis.
É mais do que sabido. Promessas de “dinheiro fácil” atraem muita gente. Por isso, alguns investidores, com receio de serem deixados para trás, investiram em bitcoin e noutras criptomoedas — ou seja, “entraram no comboio”, leia-se.
À medida que a bitcoin foi ganhando popularidade, o passa-a-palavra e o acesso à informação resultaram num ciclo que atraiu mais e mais investidores, continuando a impulsionar o valor da moeda virtual. Pelo meio, alguns dos detentores mais antigos foram aproveitando a escalada para vender e concretizar as respetivas mais-valias — o chamado exit.
3. A manipulação dos preços
Os reguladores têm repetido até à exaustão os riscos associados às criptomoedas, um dos fatores que ficou associado à pressão vendedora que pairou sobre a bitcoin em 2018. Este ano, a moeda parece estar novamente na berra, mas a escalada tem uma tonalidade diferente do rally de 2017.
Segundo a Bloomberg (acesso condicionado), são cada vez mais os episódios de manipulação do preço da moeda. Um exemplo são as publicações que, por vezes, aparecem, dando como oficial a aprovação de produtos derivados da bitcoin que, na verdade, não passam de fake news.
Um dos episódios mais recentes envolveu um tweet a indicar que um fundo ETF de bitcoin tinha sido aprovado pelos reguladores. A informação era falsa, mas tornou-se viral, alcançando mais de 1.600 “gostos” (a aprovação do fundo ETF de bitcoin tem sido amplamente esperada pelos fãs das criptomoedas, mas a ideia não tem merecido luz verde das autoridades).
Na última semana, Nouriel Roubini, um influente economista que ficou conhecido por ter previsto a crise do subprime, escreveu no Twitter que “95% das transações com bitcoin em corretoras típicas são falsas”, citando um estudo internacional. “A única coisa real no universo das criptomoedas é a manipulação e os esquemas de pump ‘n dump [grupos que se juntam para comprar um ativo em simultâneo, aproveitando a escalada artificial do preço para vender com mais-valia]”, apontou.
Tweet from @Nouriel
4. O trabalho dos mineiros
Nunca foi tão difícil minerar uma moeda de bitcoin. É o que se deduz a partir do gráfico de hash rate da rede bitcoin, que, em linhas gerais, resume a velocidade a que os computadores que suportam a criptomoeda estão a tentar resolver as equações que resultam no fecho de transações e em novas bitcoins a circular (é assim que funciona a blockchain da bitcoin, através de um mecanismo chamado proof of work).
A taxa de cálculo está em máximos históricos, o que mostra que nunca tantos sistemas estiveram ligados à rede como agora, mesmo em 2017, quando se deu o primeiro boom da moeda virtual. Embora este fator não esteja diretamente relacionado com o preço da bitcoin, tem sido um dos argumentos usados pelos evangelistas da moeda para mostrar que a bitcoin está viva e recomenda-se.
Hash rate da bitcoin está em máximos de sempre
5. A nova era das ICO
É outro fator que, apesar de não ligar diretamente à valorização da bitcoin, mostra que o mercado das criptomoedas está a ganhar dinâmica outra vez. O The Wall Street Journal (acesso pago) noticiou no início deste mês que as startups estão novamente a angariar capital através das criptomoedas… mas com uma ligeira diferença.
Em 2017 e nos primeiros meses de 2018, muitas startups lançaram criptomoedas próprias para angariar fundos para projetos. O método ficou conhecido por ICO — initial coin offering –, uma clara alusão ao termo IPO (oferta pública inicial) muito usado no mercado de capitais regulado.
O novo método é diferente porque já não são as próprias ICO a lançarem novas criptomoedas — como fez a portuguesa Aptoide, a partir de Singapura. Agora, as startups estão a recorrer às novas IEO, initialexchangeofferings. Essencialmente, a diferença é que as novas moedas (tokens) já não são vendidas diretamente pelas startups, mas sim por corretoras intermediárias. Segundo o jornal, até maio deste ano foram angariados 518 milhões de dólares em 63 operações deste género.
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