Costa consegue o défice mais baixo da democracia. Mas não é “salvação de todos”, alerta Manuel Tarré
António Costa começou a legislatura rodeado por dúvidas sobre a sua vontade de conter o défice e termina o mandato com um quase excedente.
O primeiro-ministro começou o mandato envolto em dúvidas sobre a sua capacidade de controlar as contas públicas. Mas António Costa não largou a máxima das “contas certas” e Mário Centeno deu-lhe o défice mais baixo da democracia e arrisca-se a conseguir um excedente orçamental. Mas os custos na qualidade dos serviços públicos levam Manuel Tarré a defender que “a redução do défice está a ser levada longe demais”.
O presidente executivo da Gelpeixe defende que “há um aparente desejo de, com o défice, tapar as falhas de todo o sistema. É fácil atacar o défice. É algo mensurável. E é fácil falar dele como se fosse a salvação de todos“, sublinha o responsável de uma empresa familiar, que já vai na terceira geração e que conta com cerca de 200 colaboradores.
Assim que tomou posse, o Governo avançou com a resolução do Banif que implicou a injeção de 2.255 milhões de euros no banco e o défice orçamental saltou para 4,4%. No ano seguinte, Mário Centeno fez cativações recorde à margem do Parlamento no valor de mil milhões de euros, conteve o investimento e todas as atenções se viraram para a frente orçamental.
Em 2017, chegou a recompensa: a Comissão Europeia tirou Portugal do Procedimento por Défices Excessivos. O Governo congratulou-se mas Costa avisou que ainda havia trabalho para fazer. Portugal fechou esse ano com um défice de 0,9% do PIB, o mais baixo da democracia, no mesmo ano em que recapitalizou o banco público, mas evitou que essa injeção fosse considerada para o défice orçamental.
Quando os resultados já superavam as melhores previsões — e com os parceiros políticos à perna a reclamar mais investimento — o Governo quis ir ainda mais além. E conseguiu uma nova redução do défice para 0,5% do PIB. Manuel Tarré reconhece que “o investimento público é um veículo que lança a economia”, mas, na sua opinião “tem-se feito investimento público que não era o mais adequado”. A aposta deveria recair sobre as áreas da Saúde e Educação, defende. “Mas as decisões tomadas nem sempre servem os interesses da população”, lamenta o industrial que já exporta para mais de 20 países.
Quem acompanha as finanças públicas tem destacado ajudas significativas da conjuntura externa e dos dividendos do Banco de Portugal ou até da recuperação de garantias prestadas em anos anteriores ao Banco Privado Português (BPP).
Mais: principalmente à direita, estes valores recorde do défice têm sido acompanhados de críticas relativamente ao elevado valor da carga fiscal, que em 2018 atingiu 35,4%, o mais alto de sempre. “Para a carga fiscal que suportamos, o que temos da parte do Estado deveria ser quase exemplar. Quando precisamos de tratar da nossa saúde, os mais privilegiados têm acesso, mas o comum dos portugueses fica sujeito às listas de espera de meses, o que não é correto, nem honesto para quem fez descontos a vida toda”, frisa o CEO da Gelpeixe.
“O Estado gasta o dinheiro de forma descabida. Nós empresários temos de ter respeito pelo investimento que fazemos caso contrário a empresa fecha. Já o Estado não acaba e nenhum ator político é condenado por má gestão dos fundos públicos“, acrescenta o responsável, que tem por meta exportar 50% da sua produção, que abrange mais de mil referências.
Para 2019, o Governo aponta para um défice de 0,2% do PIB, uma meta que até pode ser superada, segundo o Presidente da República. Mesmo que não seja, será de acordo com o Ministério das Finanças o último registo de défice. Quem vencer as eleições de 6 de outubro terá um excedente orçamental para gerir.
Evolução do défice (valores em % do PIB)
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