Giuseppe Conte apresenta demissão: Governo italiano “acaba aqui”
Giuseppe Conte falou ao Senado e disse que vai apresentar a demissão ao Presidente da República e, depois de ataques duros a Matteo Salvini, confirma o fim do Governo italiano: "acaba aqui".
O cenário de crise política confirma-se e o Governo italiano cai mesmo esta terça-feira. No início do debate da moção de censura promovida por Matteo Salvini (que entretanto foi retirada de votação pelo próprio), um dos vice-primeiros-ministros de Itália, o primeiro-ministro anunciou que vai apresentar a sua demissão ao Presidente italiano, depois de acusar Salvini de comprometer em definitivo a atuação do Executivo que, diz, “acaba aqui”. Matteo Salvini respondeu dizendo que não tem medo e que só responde ao povo italiano, acusando Giuseppe Conte de ser uma marioneta de Angela Merkel e Emmanuel Macron. 14 meses depois, a experiência inédita da Liga do Norte e do Movimento 5 Estrelas termina. Matteo Renzi diz-se feliz porque “a experiência populista acabou” em Itália.
“A crise em curso compromete definitivamente a atuação deste Governo, que acaba aqui”, disse o primeiro-ministro italiano, na sua intervenção no Senado italiano, antes da votação da moção de censura que estava prevista, proposta pela ministro do Interior e vice-primeiro-ministro italiano, Matteo Salvini, e o partido que este lidera, a Liga do Norte.
“Os eventos exigem-me que termine a experiência deste Governo. Irei encontrar-me com o Presidente da República para entregar o meu pedido de demissão”, disse Giuseppe Conte.
Após discursar no Senado italiano, Giuseppe Conte deverá falar então com o presidente italiano, Sergio Mattarella, abrindo-se a partir daí o processo de consultas para a formação de um novo executivo. Mas o desfecho é imprevisível.
Como consequência do anúncio de Giuseppe Conte, o partido de Matteo Salvini decidiu retirar da votação a moção de censura que tinha apresentado — e que forçou a demissão do Governo e a uma sessão especial do Senado italiano durante a pausa para férias — por entender que já não faz sentido avançar para uma votação, considerando que Giuseppe Conte já anunciou que vai pedir a demissão.
O Presidente italiano pode tentar promover uma solução de governação alternativa até às eleições legislativas, mas qualquer solução que venha a ser encontrada — incluindo uma que junte o Movimento 5 Estrelas com o Partido Democrático de Matteo Renzi — tem de ser aprovada no Senado italiano, e só estes dois partidos não têm maioria.
Caso as negociações não cheguem a um bom porto, Itália terá de ir novamente às urnas para eleger um novo governo, tal como pretende Matteo Salvini, o principal responsável pela queda do governo de Giuseppe Conte.
A 8 de agosto, Salvini anunciou o fim da aliança entre o seu partido e o Movimento 5 Estrelas, de Luigi di Maio, exigindo eleições antecipadas para outono, no sentido de “capitalizar o consenso” obtido nas eleições europeias de maio. As sondagens estão a dar 36% a 38% das intenções de voto à Liga Italiana.
Di Maio culpou Salvini pela crise política em que se encontra a terceira maior economia da Zona Euro.
Matteo Salvini acena com 50 mil milhões de euros de estímulos à economia, acusa Conte de pedir conselhos a Merkel
Depois de Giuseppe Conte tecer duras críticas a Matteo Salvini, foi a vez de o líder da Liga do Norte defender a sua ação e a convocação do voto de uma moção de censura contra o atual Governo, do qual faz parte.
Numa intervenção muito contestada pelos senadores italianos, que obrigou a várias interrupções da presidente do Senado para que Salvini pudesse terminar o seu discurso, o também vice-primeiro-ministro — tal como o líder do M5S Luigi Di Maio — disse que os ministros da Liga “não têm medo”, que “só respondem ao povo italiano” e “não respondem a Merkel ou a Macron”.
“A mim nunca e aconteceu pedir conselhos à chanceler Merkel conselhos sobre como vencer a campanha eleitoral uma vez que Salvini tinha fechado as portas”, atirou Matteo Salvini, em resposta às palavras de Giuseppe Conte.
Numa intervenção muito marcada pela mensagem de liberdade da Liga face aos líderes europeus e a forças externas, Matteo Salvini acenou com um programa de estímulos à economia italiana na ordem dos 50 mil milhões de euros.
A última razão invocada para Matteo Salvini para deitar abaixo o Governo foi precisamente o voto contra do Movimento 5 Estrelas à ligação ferroviária de Alta Velocidade entre Turim e Lyon. Matteo Salvini classificou mesmo os deputados do partido com o qual faz coligação de serem “deputados do não”.
No final, Matteo Salvini decidiu retirar a moção de censura ao Governo que tinha apresentado, argumentando que não fazia sentido haver uma votação depois de o primeiro-ministro ter anunciado o seu pedido de demissão. Esta decisão permite também a Matteo Salvini evitar uma derrota no Parlamento italiano, já que apesar de estar a liderar nas sondagens, não tem maioria no Parlamento. Essa maioria está nas mãos do Movimento 5 Estrelas.
Renzi ao ataque a Salvini
O ex-primeiro-ministro italiano, e senador do Partido Democrático, aproveitou o debate da moção de censura para fazer um duro ataque a Matteo Salvini e às forças populistas que formaram o atual Governo.
Para Matteo Salvini, disse que “formaram um Governo com 17% e não com 51% e este Governo falhou também por sua responsabilidade”. Renzi, que saiu do Governo depois de falhar na sua intenção de fazer uma reforma no sistema eleitoral italiano que teria como intuito reduzir a instabilidade que tem determinado uma vida curta dos Executivos, demonstrou ainda a sua felicidade porque, a seu ver, “a experiência populista acabou” em Itália.
Uma curiosidade durante a intervenção de Matteo Renzi, cujo Partido Democrático tem sido veiculado como hipótese para fazer coligação com o M5S e assim impedir eleições antecipadas em Itália: quando Renzi começou a falar, os deputados da Liga do Norte, partido de Matteo Salvini, abandonaram a sala, e só regressaram depois de o senador terminar a sua intervenção.
Bolsa cai (mais) em Itália
A notícia da demissão do primeiro-ministro italiano Giuseppe Conte fez acelerar a desvalorização das ações das empresas italianas. Com a fuga dos investidores da praça de Milão, o FTSE Mib cai 0,92%, para 20.524 pontos, numa altura em que o europeu Stoxx 600 acentua também a queda, com um recuo intradiário de 0,60%.
No mercado secundário de dívida soberana, as taxas de juro exigidas pelos investidores para deter dívida pública de Itália a 10 anos estão a recuar 4,3 pontos base, para 1,389%. Quanto às obrigações com maturidade a dois anos, os juros recuam 5,2 pontos base, para 0,058%.
O que está em causa?
O casamento por conveniência entre dois partidos sem experiência de governação e de uma ala mais populista em Itália nunca foi fácil. No início, a nomeação de qualquer um dos líderes — Luigi Di Maio e Matteo Salvini — para liderar o Governo foi bloqueada pelo Presidente de Itália, que promoveu a nomeação de Giuseppe Conte, um advogado, para servir de ponto de equilíbrio.
Mas nem Conte era consensual, nem os líderes dos dois partidos estavam satisfeitos com a situação. Ao longo dos 14 meses que durou o Governo italiano, houve vários embates entre as duas partes. Mais recentemente no que diz respeito à escolha dos cargos de topo na União Europeia, com ambos a bloquearem a escolha de Frans Timmermans para a presidência da Comissão Europeia, mas Matteo Salvini também estava contra a escolha de Ursula von der Leyen.
O discurso duro anti-imigração de Matteo Salvini e os resultados nas eleições europeias permitiram-lhe dar um salto nas sondagens e ultrapassar o Movimento 5 Estrelas, o partido com mais lugares no Senado italiano. Salvini foi contra as cedências à Europa para cumprir as metas do défice, tanto no final do ano passado, como no início do verão.
Mas o ministro da Administração Interna só deu o passo seguinte quando o M5S bloqueou a proposta para criar uma ligação ferroviária entre Turim, no Norte de Itália, e a cidade francesa de Lyon. Salvini quer mais investimento público, mesmo com o atual estado das finanças públicas italianas (segunda maior dívida pública da União Europeia, só atrás da Grécia), e até acena com um programa de investimento público na ordem dos 50 mil milhões de euros, na ordem do sugerido pelo Governo alemão este fim de semana.
(Artigo atualizado às 18h54 com a informação de a Liga do Norte retirou da votação a moção de censura que tinha apresentado, uma vez que o primeiro-ministro já anunciou o pedido de demissão no início do debate)
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