Centeno olha para o investimento e vê o copo cheio. INE nem por isso
O INE revelou esta manhã que o investimento abrandou no segundo trimestre. Mas o Ministério das Finanças evita comparações com o que se passou no arranque do ano.
O Ministério das Finanças considera que a economia portuguesa continua a ser marcada por “um aumento significativo do investimento”. A declaração consta num comunicado enviado às redações onde o ministério de Mário Centeno reage aos número do PIB revelados esta manhã pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) que mostram uma travagem do investimento no segundo trimestre do ano.
Vamos por partes. Primeiro os números do INE. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) cresceu 6,9% no segundo trimestre do ano face ao período homólogo depois de, no primeiro trimestre, ter crescido 11,8%. Olhando para os valores em cadeia, que traçam a evolução do que aconteceu no segundo trimestre com o primeiro trimestre do ano, a comparação é ainda mais desfavorável. A FBCF tinha crescido 8,4% no arranque de 2019 e agora caiu 2,4%.
O Ministério de Mário Centeno enviou um comunicado onde diz que o investimento “continua a impulsionar crescimento do PIB no segundo trimestre”, uma declaração que surge sustentada em três pontos:
- “O crescimento do PIB continua a ser pautado por um aumento significativo do investimento. É necessário recuar ao terceiro trimestre de 2017 para encontrar um crescimento da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) superior aos 6,9% registados no segundo trimestre de 2019.”
- “Os dados mais recentes do Eurostat indicam que o investimento das sociedades não financeiras ultrapassou recentemente a média da União Europeia e da área do Euro, permanecendo de forma sustentável acima daquelas referências.”
- “O investimento público na Administração Central, por seu turno, cresceu 23%2 até julho, em termos homólogos, com aumentos particularmente expressivos no setor dos transportes, sobretudo na CP (64%) e Infraestruturas de Portugal (44%).”
Ora, o investimento apresentado pelo INE mede o investimento total, incluindo tanto o que é gerado pelas empresas (segundo ponto) como o que resulta da evolução do investimento público (presente no terceiro ponto). Neste caso, basta olhar para a primeira ideia avançada no comunicado para avaliar o que está a acontecer com o investimento.
O Ministério das Finanças diz que é preciso recuar ao terceiro trimestre de 2017 para encontrar uma variação mais elevada do investimento. Mas já no primeiro trimestre deste ano é possível encontrar um valor maior. Isto porque, a taxa de variação homóloga do investimento passou de 11,8% (no primeiro trimestre) para 6,9% (no período em análise). As Finanças olham para o valor do primeiro trimestre como uma subida anormalmente elevada, indicou fonte do ministério ao ECO.
Os números constam dos quadros do destaque do INE publicado esta manhã, mas não só. Foi exatamente esta comparação que levou o INE a escrever a seguinte frase: “A FBCF total determinou em grande medida esta desaceleração, passando de um crescimento homólogo de 11,8% para 6,9% no 2º trimestre”.
No primeiro trimestre o investimento tinha evoluído a níveis recorde mas, tal como o ECO escreveu, existiam alguns indicadores que permitiam antecipar que aquele bom desempenho – valorizado politicamente pelo Governo de António Costa – podia não se prolongar para o segundo trimestre do ano.
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