Guerra comercial de China e EUA é lamentável e adia investimento europeu
Comissão Europeia considera “lamentável” a atual guerra comercial entre a China e os Estados Unidos, apontando que existem empresas da UE a adiar investimentos devido às tensões.
A Comissão Europeia considera que a atual guerra comercial entre a China e os Estados Unidos “é lamentável” para todo o mundo, apontando que existem empresas da União Europeia (UE) a adiar investimentos nestes países devido às tensões.
“As guerras comerciais são más porque significam a imposição de tarifas. E quem é afetado pelas tarifas? Não é o presidente chinês diretamente, é quem compra nos Estados Unidos e na China porque as coisas ficam mais caras e isso afeta as empresas europeias”, afirmou em entrevista à agência Lusa, em Bruxelas, a comissária europeia do Comércio, Cecilia Malmström.
Por essa razão, “muitas empresas europeias estão à espera para poder investir na China e nos Estados Unidos”, apontou.
“O que as empresas odeiam é incerteza e isto é tudo uma grande incerteza, pelo que [as companhias europeias] estão a reformular planos de investimento, que criam empregos”, reforçou.
Para Cecilia Malmström, “a guerra comercial entre a China e os Estados Unidos é lamentável para todo o mundo”, tendo consequências também para a UE por estes serem os principais parceiros comerciais da região.
Ainda assim, a responsável notou que a União apoia algumas das reivindicações feitas pelos Estados Unidos.
“A China está a fazer ‘dumping’ [venda de produtos a preços abaixo de seu valor justo] em mercados de todo o mundo, está a subsidiar setores na China – o que dificulta a existência de um terreno igual para todos –, forçaram a transferência de tecnologia estrangeira e temos problemas com ameaças cibernéticas e com a discriminação de empresas europeias e norte-americanas na China, que não conseguem desenvolver os seus negócios das mesmas formas”, elencou.
Assim, “partilhamos muitas queixas, mas a atuação europeia não passa por começar uma guerra comercial para o tentar mudar”, notou Cecilia Malmström.
Passa, antes, por “adaptar as políticas” e criar “instrumentos de defesa mais fortes”, referiu a comissária, defendendo a criação de “oportunidades iguais” para o investimento europeu na China, que caiu pelo terceiro ano consecutivo.
“Eles têm de fazer mudanças se querem ser um parceiro no sistema multilateral e eles sabem-no”, indicou, numa alusão também à presença do país na Organização Mundial do Comércio (OMC), estrutura na qual assumiu um estatuto de país em desenvolvimento, sem que tenha aberto o seu mercado, como prometeu fazer quando aderiu, em 2001.
Também “um pouco difíceis” estão as relações comerciais entre a UE e os Estados Unidos, admitiu Cecilia Malmström.
“A atual administração norte-americana parece estar muito focada nas tarifas de todos os tipos”, lamentou.
Numa alusão às tarifas alfandegárias norte-americanas sobre o aço e o alumínio que provêm da UE e às ameaças sobre a imposição de tarifas nos automóveis importados da Europa, Cecilia Malmström classificou tais medidas como “ilegais no âmbito da OMC”.
Sem fim à vista estão também as negociações sobre o futuro destas relações comerciais, que já duram há mais de um ano, desde que o presidente do executivo comunitário, Jean-Claude Juncker, se reuniu com o Presidente norte-americano, Donald Trump, nos Estados Unidos.
Em janeiro deste ano, a Comissão Europeia apresentou uma proposta para o fim das tarifas nos bens industriais e das barreiras regulatórias, mas as negociações só começaram nesta segunda parte, mais burocrática, sem que tenham sequer arrancado na parte das tarifas por os Estados Unidos insistirem na inclusão da área da agricultura.
“Exatamente quando [é que estarão concluídas as negociações], não sei dizer”, respondeu Cecilia Malmström.
Na OMC, os Estados Unidos estão ainda a bloquear a nomeação de juízes para o órgão de apelação, importante parte daquela organização e cujo atual mandato termina em dezembro.
Caso a administração norte-americana persista neste bloqueio, o tribunal responsável por resolver os conflitos comerciais de 164 países ficará inoperante.
Sobre esta questão, Cecilia Malmström disse esperar um retrocesso norte-americano que evite uma situação “problemática” e “de anarquia” no comércio mundial.
Sediada em Genebra, na Suíça, a OMC tem como função mediar as relações comerciais da quase totalidade dos países do mundo.
A sueca Cecilia Malmström, que assumiu a pasta do Comércio em 2014, deixa o cargo no final de outubro, sendo sucedida, na nova Comissão Europeia, por Phil Hogan.
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