Sell in may? E rally do Pai Natal? Adágios das bolsas foram certeiros em 2019
Há quem os veja como superstições disparatadas e quem aponte para padrões matemáticos. Certo é quem seguiu os adágios das bolsas, este ano, não se terá arrependido.
Há anos bons e anos maus nas bolsas, sendo que 2019 está prestes a terminar com recordes nas ações. Os ganhos centraram-se especialmente nos Estados Unidos, mas também na Europa (e Portugal não passou ao lado). Quer o mercado seja influenciado por política, comércio ou impostos, há algo que está sempre presente: os adágios usados pelos investidores como mapa do que poderá vir a ser o caminho dos índices acionistas.
É certo que o desempenho histórico das bolsas não garante ganhos futuros, mas os padrões levaram à criação de jargões dos mercados financeiros. Janeiro marcou o ano? Setembro foi o pior mês? E o rally do Pai Natal? Este ano, não houve grandes erros nos adágios das bolsas.
Como vai janeiro, vai o ano inteiro
Há duas máximas em Wall Street relacionadas com janeiro. A primeira diz que os primeiros cincos dias do ano vão determinar todo o mês, enquanto a segunda afirma que a variação do mês de janeiro vai ditar o rumo de todo o ano. No primeiro caso, não foi bem verdade, mas também não foi mentira.
As primeiras sessões do ano arrancaram com ganhos tímidos (entre os 2% e os 3%) e o mês fechou com fortes valorizações. O índice pan-europeu Stoxx 600 disparou 21%, enquanto o português PSI-20 valorizou 8,40%. Nos EUA, S&P 500 avançou 7,87%. Ainda assim, é verdade que foi o verde que dominou, ou seja, o adágio concretizou-se.
Um janeiro tão generoso para os investidores significa então um ano de sonho? É verdade. Os avanços e recuos na guerra comercial foram o principal evento global, mas o receio acabou por dar lugar ao ânimo (ajudado pelo facto de nenhuma das grandes economias ter entrado em recessão). Na Europa, foi a política a influenciar, com destaque para Itália e Reino Unido, mas também os cenários mais pessimistas foram afastados. O acumulado do ano será no verde para todos, com os Estados Unidos em máximos históricos.
Vender em maio e ir embora
Maio é o mês de vender. O conselho subjacente ao adágio “sell in May and go away, and come on back on St. Leger’sDay [referência à típica corrida de cavalos britânica organizada no segundo sábado de setembro]” é evitar a volatilidade sazonal entre maio e setembro.
E também aqui, o adágio acertou. Houve uma forte pressão vendedora em maio, um mês vermelho tanto na Europa como nos EUA. Entre o início de maio e o final de agosto, o PSI-20 afundou 9,33%, enquanto o norte-americano S&P 500 deslizou 0,66%. O Stoxx 600 acabou por recuperar no fim desse período e registou um ganho de 2,82% no verão.
Mas, em todos os casos, foi maio que penalizou. Aliás, foi mesmo o pior mês do ano para os três índices, o que nos leva a outro adágio: setembro é o pior mês do ano devido à menor liquidez nas bolsas com os investidores ainda de férias. Este adágio foi, em 2019, a exceção que confirma a regra. Foi o único que não acertou.
O conflito entre China e Estados Unidos ao rubro e Itália em rota de colisão com as metas europeias fizeram disparar a volatilidade nos mercados em maio. Foi nesta altura que se deu o início da grande fuga dos investidores dos mercados acionistas para a dívida, que acabou por gerar um bolo de 17 biliões de obrigações mundiais com juros negativos. Em setembro, já ambas situações tinham apaziguado, levando a uma inversão no sentimento.
Bolsa de Lisboa abaixo das pares europeias
Rally do Pai Natal em dezembro
Foi por essa altura que os investidores apaziguaram os receios. Os lucros não estavam a ser assim tão maus como se esperava e a economia global até continuava a crescer. E o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deu um empurrãozinho a outro adágio: o rally do Pai Natal.
Dezembro é o mês em que os investidores recebem um presente no sapatinho. O fecho de contas, considerações fiscais, mudanças nos investimentos para preparar o ano seguinte e até mesmo (na opinião de alguns) a alegria e otimismo com a quadra festiva, levam a valorizações no período entre o Natal e o Ano Novo.
Com um acordo comercial inicial a delinear-se e o Reino Unido a aprovar internamente o acordo de Brexit que tinha fechado na Europa, o Pai Natal teve espaço para chegar às bolsas globais.
O PSI-20 prepara-se para valorizar mais de 10% em 2019, o que apesar de ficar atrás das pares e ser o valor mais elevado em apenas dois anos, compara com perdas semelhantes em 2018. Já o europeu Stoxx 600 deverá fechar 2019 com um ganho de 25% (o melhor desde 2009) e o norte-americano S&P 500 — que não bateu múltiplos recordes este ano — com uma subida de quase 30% (próximo do conseguido em 2013).
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