Isabel dos Santos terá desviado mais de 100 milhões de dólares da Sonangol para o Dubai
Esquema de ocultação começou a ser montado a seguir à filha do ex-Presidente de Angola ter sido nomeada pelo pai para liderar a petrolífera estatal, avança o Expresso.
Isabel dos Santos terá feito com que a Sonangol, petrolífera para a qual tinha sido nomeada presidente pelo pai quando este ainda era o chefe de Estado de Angola, transferisse pelo menos 115 milhões de dólares de fundos públicos para o Dubai. A notícia é avançada pelo Expresso neste domingo, e resulta de uma investigações levada a cabo pelo semanário e pela SIC, e coordenada pelo consórcio internacional de jornalistas (ICIJ).
De acordo com o Expresso, esta transferência resulta de um esquema de ocultação que começou quando a filha do ex-presidente de Angola foi nomeada para a presidência da Sonangol, que envolveu um contrato celebrado no Reino Unido e que terá contado com a cumplicidade de vários portugueses, incluindo do atual chairman da NOS, o advogado Jorge Brito Pereira.
Justificadas como pagamento de serviços de consultoria prestados à Sonangol, segundo diz o semanário, essas transferências terão tido como destino uma conta bancária da Matter Business Solutions, uma companhia offshore controlada pelo principal advogado da empresária angolana, o português Jorge Brito Pereira, sócio da Uría Menéndez, o escritório de Proença de Carvalho.
A offshore do Dubai contratada por Isabel dos Santos enquanto presidente do conselho de administração da petrolífera estatal angolana tinha, além disso, como diretor o seu principal gestor de negócios, Mário Leite da Silva, e também como diretora e única acionista declarada às autoridades do Dubai a portuguesa Paula Oliveira, amiga próxima e sócia da filha do ex-chefe de Estado angolano noutras sociedades.
Do dinheiro que terá ido parar ao Dubai ao longo da segunda metade de 2017, 57.831.213,54 dólares terão sido pagos em três transferências executadas a 16 de novembro de 2017, já depois de a empresária angolana ter sido demitida da presidência da Sonangol, a 15 de novembro.
Essa quantia terá sido transferida a partir de uma conta da Sonangol em Lisboa no Eurobic, banco de que a empresária é a maior acionista. Dessas três transferências, uma terá sido de 38,1 milhões, outra de 15,3 milhões e uma terceira de 4,35 milhões de dólares, todas assinadas por Isabel dos Santos e por Sarju Raikundalia, braço direito da gestora na administração da petrolífera.
O Expresso adianta ainda que essas ordens de transferência tiveram como base um contrato de 10 de novembro em nome da Sonangol UK e foram suportadas por um conjunto de 63 faturas, enviadas ao gestor de conta do Eurobic. Estas faturas apresentariam informação muito escassa sobre os serviços de consultoria que teriam sido prestados à petrolífera, levantando dúvidas sobre o controlo e verificação dessas despesas pela empresa pública angolana.
O acordo assinado pela Sonangol UK obrigaria ainda a que a petrolífera angolana não pudesse exigir à Matter provas dos serviços prestados.
Estas revelações fazem parte do Luanda Leaks, uma investigação Expresso/SIC feita em equipa ao longo dos últimos oito meses com mais de 120 jornalistas do “Guardian”, da BBC, da televisão pública americana PBS, do “New York Times” e de mais 31 órgãos de comunicação social, e que foi coordenada pelo ICIJ.
Na base do Luanda Leaks está uma fuga de informação de mais de 715 mil ficheiros partilhada com o ICIJ pelo PPLAAF, uma plataforma de proteção a whistleblowers em África.
Esta notícia surge depois de, no final do ano passado, o Tribunal Providencial de Angola ter ordenado o arresto preventivo de bens de Isabel dos Santos, em Angola. E também depois de a 7 de janeiro, a Procuradoria-Geral da República (PGR) angolana ter admitido ao ECO a possibilidade de fazer o mesmo relativamente aos bens da empresária em Portugal.
(Notícia atualizada às 19H04)
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