Depois de Angola, Portugal é o preferido de Isabel dos Santos. Estas são as 22 empresas onde tem influência
Filha do ex-presidente de Angola e a mulher mais rica de África tem participações em 169 empresas em 23 geografias diferentes. Chegou a Portugal em 2006 e está, atualmente, em mais de duas dezenas.
Negócios potencialmente ilícitos, milhões de dólares alegadamente desviados ou empréstimos irregulares. A investigação do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ), representado em Portugal pelo Expresso e SIC, pôs a descoberto como Isabel dos Santos se tornou a mulher mais rica de África, mas também levantou o pano sobre a esfera de influências da empresária. Em Portugal — o segundo país onde tem maior presença, apenas atrás de Angola –, são mais de duas dezenas de participações, incluindo na Zona Franca da Madeira.
“Os Luanda Leaks expuseram décadas de negócios que fizeram de Isabel dos Santos a mulher mais rica de África. A coletânea de mais de 715 mil documentos revelaram também uma vasta rede de empresas-fantasma usadas por dos Santos e pelo marido, Sindika Dokolo, para manter dinheiro, comprar imóveis, adquirir participações em bancos, telecom, empresas energéticas e muito mais”, revela o consórcio.
Com apenas 18 anos, em 1992, Isabel dos Santos fundou a sua primeira empresa, em Luanda: era a Cotrol e viria a ser usada para gerir propriedades comerciais. Cinco anos depois, surge a primeira offshore, a TAIS Limited, em Gibraltar, detida em conjunto com a mãe, Tatiana Kukanova.
A Portugal, a empresária angolana chegou em 2006, segundo mostram os dados agregados pelo consórcio. Entrou no país através de uma das empresas onde ainda hoje se mantém, sendo que esta é também uma das mais valiosas (bem como um dos maiores alvos das investigações da justiça): a participação indireta na petrolífera Galp Energia.
Isabel dos Santos controla 40% da Esperaza, em parceria com a Sonangol, que detém 60%. A Esperaza é acionista da holding Amorim Energia, com 45%, sendo que os restantes 55% pertencem à família Amorim. Esta holding detém 33,44% do capital da Galp. Assim, é atribuída à empresária uma “fatia” de 6% na Galp.
Ora, estas ações foram compradas à Sonangol por uma empresa de Isabel dos Santos em 2006. A engenheira terá pago inicialmente apenas 15% do total. E cerca de 70 milhões de dólares foram “emprestados” pela Sonangol, com maturidade de 11 anos. Em 2017, Isabel dos Santos ofereceu-se para pagar este valor sendo já presidente executiva da petrolífera e fechando os olhos a nove milhões em juros.
Hoje, a posição de Isabel dos Santos na Galp é avaliada em mais de 750 milhões de euros. Mas esta é apenas uma das 22 empresas (com sede ou presença em Portugal) em que a empresária tem participações. Entre as mais conhecidas, contam-se ainda a Efacec. Em 2015, a sociedade Winterfell pagou 200 milhões de euros para comprar 66,1% do capital da Efacec Power Solutions aos grupos José de Mello e Têxtil Manuel Gonçalves.
A Zopt, do universo da empresária, é o acionista maioritário da Nos (com 52,15% do capital), sendo que as relações com a telecom são ainda mais entrelaçadas. O advogado de Isabel dos Santos, Jorge Brito Pereira, é chairman da Nos e a “amiga” envolvida em vários offshore, Paula Oliveira, é administradora não executiva. E a Nos é ainda acionista da angolana ZAP de Isabel dos Santos.
No setor financeiro, a engenheira angolana teve uma forte presença em Portugal através do BPI, o que acabou com a venda do banco aos espanhóis do CaixaBank. Mantém-se, agora, no EuroBic, um dos epicentros das transferências para offshores que são apontadas como a forma de Isabel dos Santos desviar dinheiro da Sonangol. Entretanto, o banco deixou de fazer negócios com a sua principal acionista.
As várias empresas incluem uma série de holdings e passam pelos setores da energia, telecom, imobiliário ou retalho. Destacam-se cinco participações fora de Portugal continental. É que, a par do que fez em países como Malta, Gibraltar ou Dubai, Isabel dos Santos aproveitou o regime fiscal favorável para instalar alguns dos negócios na Madeira.
São cinco as empresas detidas pela angolana — Niara Holding, Niara Power, Dorsay, Invesluanda e YAKO — com sede na Zona Franca da Madeira, uma região com um sistema fiscal concebido para estimular a economia da região, ou seja, onde não pagam impostos ou se paga muito pouco.
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