Covid-19: responder em tempo real para manter a economia social

Observar, reagir e planear: as respostas do Governo e das instituições à Covid-19 são dadas quase em tempo real. E esse é um dos desafios, asseguram os responsáveis.

Desde o início da pandemia, há quase 60 mil pessoas inscritas no IEFP como desempregadas e o número de trabalhadores em lay-off já superou os 1,2 milhões. A crise tem trazido desafios constantes ao Governo, às entidades e instituições públicas e privadas, que unem esforços para garantir a proteção às empresas e às populações mais vulneráveis, às crianças, aos idosos e aos desempregados.

“A Importância da Economia Social” serviu de mote ao debate do último painel da Social Good Summit, esta quarta-feira, que contou com a participação da ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, Edmundo Martinho, provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e Patrícia Vasconcelos, diretora de casting e mentora na IPSS Mansarda.

Segurança social “testada ao limite”, mas a responder

No Ministério do Trabalho “tudo mudou”, garante a ministra Ana Mendes Godinho. Na lista das prioridades, desde o início da pandemia, foi garantir medidas de apoio às empresas para conseguir manter postos de trabalho e evitar despedimentos; apoiar as famílias e, principalmente aquelas que têm de prestar apoio aos filhos que não vão regressar à escola; e identificar as populações mais vulneráveis e que estão fora do sistema.

O contexto de crise veio ainda realçar a urgência de “repensar o sistema” da Segurança Social, que conseguiu reagir e dar resposta em situações de crise, explica a ministra. Por outro lado, defende Ana Mendes Godinho, a pandemia está a demonstrar a capacidade de “simplificar” e “relativizar” os processos que, em pouco mais de um mês, criaram soluções como o lay-off simplificado, de apoio a trabalhadores independentes e de apoio à família, refere. “Os serviços públicos estão a mostrar que estão ao serviço e que têm uma missão”, realça Ana Mendes Godinho.

A pandemia trouxe, por isso, um teste aos limites do sistema. Até 30 de abril, os processamentos com pagamentos garantidos vão abranger 45 mil trabalhadores, o que representa um total de 150 milhões de euros pagos em apoios.

Também Edmundo Martinho, provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, garante que a instituição tem vindo a preparar-se melhor, realocando recursos humanos e através do foco nos objetivos, e isso ajudou na resposta aos desafios gerados pela pandemia. Para a Santa Casa, a imprevisibilidade desta crise “veio alertar-nos para a nossa finitude, para a fragilidade e, também para a importância de monitorizar a população mais velha e ter mecanismos de acompanhamento adequados”. “Momentos de rutura são também momentos de oportunidade”, defende o responsável.

Envolvida, desde sempre, em projetos sociais de impacto local, Patrícia Vasconcelos confessa não conseguir “ficar indiferente às pessoas que me estão mais próximas, nomeadamente no meu setor profissional”. A diretora de casting e mentora na IPSS Mansarda, acredita que cada pessoa pode ser agente de mudança, bairro a bairro.

Uma pandemia, vários desafios

A pandemia está a permitir eliminar barreiras entre serviços públicos e a unir esforços de setores distintos no combate a um inimigo que é comum. Hoje, a Segurança Social utiliza um chatbot para facilitar o contacto com os portugueses — graças à parceria com uma startup de turismo — e é possível fazer 4.000 testes ao Covid-19, diários, devido ao projeto de parceria entre o Governo e várias universidades e politécnicos.

Esta força comum tem ajudado a construir uma relação de confiança para a qual, acredita a ministra, “já não se volta atrás”. “Não há ninguém que não goste que o seu dia seja muito útil e sentir que aquilo que faz se transforma em resultados”, assinala Ana Mendes Godinho. “Como sociedade civil compete-nos arranjar alguns mecanismos para poder ajudar. É preciso haver vontade e, depois da vontade, passar à ação”, destaca ainda Patrícia Vasconcelos.

Edmundo Martinho também acredita num futuro colaborativo, mas é preciso preparar terreno. “Normalmente as situações pós-guerra significam rearranjos territoriais. Neste caso o inimigo é comum. Não voltaremos para trás, mas é preciso que nos preparemos para isso”, sublinha.

A fragilidade do setor das artes performativas e da música é a preocupação de Patrícia Vasconcelos durante e também no pós-pandemia. No final da conversa, lançou um desafio aos participantes do debate para que, em conjunto, criem um projeto para apoiar o setor. E já tem nome: “Quando a vida nos troca as voltas”. Para este setor, Edmundo revelou um projeto da Santa Casa que está para breve: um concurso de instalação artística ou de vídeo, para serem integrados em 13 ou 14 espaços da Santa Casa da Misericórdia em Lisboa.

“O que mais aprendi no último mês foi que, quando nos focamos e mobilizamos em torno do que é essencial, as coisas acontecem”, sublinha Ana Mendes Godinho. Por isso, no futuro pós-pandemia, o desafio é garantir que ninguém fica de fora e identificar quem mais precisa de respostas, sublinha a ministra. “Garantir a recuperação económica e a retoma das atividades económicas, e que a riqueza é distribuída por todos. Para garantir o emprego será essencial apostar na requalificação, na capacitação tecnológica e de outras competências que se prevê que serão necessárias num futuro próximo, como é o caso dos profissionais na área das respostas sociais. Para encontrar as melhores estratégias, num esforço conjunto, o Ministério criou um email aberto a todos para receber propostas de melhoramento na área do emprego ou da Segurança Social: propostas.mtsss@mtsss.gov.pt”, disse ainda.

O Social Good Summit é um evento das Nações Unidas e estreou-se em Portugal. Foi organizado pela It’s About Impact, residente na Casa do Impacto da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e com o apoio do Banco Montepio. Durante um dia, reuniu decisores políticos, agentes do impacto social, líderes empresariais e ativistas em painéis de discussão à volta de sete Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.

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