Social Good Summit: pandemia aumentou as desigualdades sociais
A pandemia está a acentuar desigualdades e, ao mesmo tempo, pode aliviar os conflitos armados. As mulheres serão as mais afetadas, por isso é preciso "não baixar os braços", lembra Catarina Furtado.
Catarina Furtado, embaixadora de Boa Vontade do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), foi a convidada do terceiro painel da Social Good Summit, o evento das Nações Unidas que está a decorrer esta quarta-feira online e, pela primeira vez em Portugal. À conversa com Mariana de Araújo Barbosa, diretora executiva da Revista Pessoas, Catarina Furtado lembrou como a crise está a “levantar o véu” para as dificuldades que enfrentam as populações mais vulneráveis do mundo.
“Não podemos ficar de braços cruzados e deixar que estas pessoas fiquem para trás”, lembra Catarina Furtado, que há 20 anos viaja pelo mundo como embaixadora de Boa Vontade da ONU que, em Portugal, tem o compromisso de fazer pressão política e colocar na agenda mediática, temas como a mutilação genital feminina, o casamento precoce, a mortalidade neonatal, a violência doméstica, a desigualdade ou a situação dos refugiados.
Este ano, os refugiados são o foco da série documental da RTP, “Príncipes do Nada”, que dirige desde 2006. Acredita que, no caso de Portugal, “é preciso assumir que houve um falhanço coletivo” na forma como se lidou com a situação dos refugiados, cuja vulnerabilidade tem aumentado com o Covid-19, em campos de acolhimento sobrelotados e sem acesso a saneamento básico. É o que está a acontecer no campo de refugiados em Lesbos, na Grécia, exemplifica, “um campo de concentração a céu aberto”.
Em todo o mundo, 70 milhões de pessoas foram obrigadas a deixar os seus países, entre 13 milhões são crianças, alerta a apresentadora e ativista.
Catarina Furtado defende que é necessário haver mais políticas públicas concretas por parte dos Governantes e modelos sociais que considerem a solidariedade como um projeto real e urgente, pois “todos temos um papel”. “Não podemos ter só a fama de ser inclusivos. A solidariedade precisa de medidas políticas muito concretas e de colocar as pessoas no centro de todas as decisões”, ressalva.
Mulheres mais vulneráveis
Sete milhões de meninas com menos de 18 anos, em todo o mundo, são forçadas a casar-se. Duzentos milhões de mulheres foram sujeitas à prática criminosa da mutilação genital feminina; uma em cada cinco mulheres sofre de violência doméstica; a cada 11 segundos morre uma mulher grávida ou um recém-nascido por causas evitáveis. Estes são os números que ficam da conversa com Catarina Furtado e que a apresentadora usa para explicar que as mulheres continuam a ser as mais vulneráveis em todo o mundo. E que, atrás dos números, há pessoas e histórias cujas vozes merecem ser amplificadas.
A embaixadora acredita que a “saúde sexual e reprodutiva” devia estar no topo das prioridades dos Governos, e que estes temas deviam ser vistos de forma mais séria. Confessa ainda que, ao longo do seu percurso para a gravação da nova série documental –que passou por países como a Colômbia, o Bangladesh, Uganda, entre outros — o que mais tem aprendido é “que meninas, as raparigas e as mulheres são quem mais sofre no mundo inteiro. São essas caras que não podemos esquecer, potencial humano que estamos a desaproveitar”, recorda.
"A solidariedade precisa de medidas políticas muito concretas e de colocar as pessoas no centro de todas as decisões.”
Por outro lado, o Covid deveria servir para aliviar conflitos armados e apelar à união. “Usar este bicho que está a batalhar para, em conjunto com diplomatas, decisores políticos, tentar cessar-fogo ou parar, durante um tempo, as guerras. É uma oportunidade para os conflitos armados desarmarem”, acredita.
Catarina Furtado lembra ainda que a sociedade civil também tem um papel a cumprir. Para isso, deve informar-se e “insurgir-se” nas suas ações. A crise trouxe à tona “realidades que nos envergonham”, mas “é possível mudar”, acredita. “É preciso olhar para as pessoas como um potencial para ajudar a desenvolver o país e o mundo e não as deixar mesmo para trás, não as deixar esquecidas. É possível”, remata.
O Social Good Summit é um evento das Nações Unidas e está a estrear-se em Portugal. Foi organizado pela It’s About Impact, residente na Casa do Impacto da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e com o apoio do Banco Montepio. Até ao final do dia, vai reunir decisores políticos, agentes do impacto social, líderes empresariais e ativistas em painéis de discussão à volta de sete Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Continue a acompanhar o evento no ECO.
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