BCE já discute limitações à bazuca, apesar da incerteza com a pandemia
Na última reunião de política monetária, os governadores sublinharam a elevada incerteza quanto à recuperação da economia, mas já veem surpresas positivas e há quem fale de um teto aos estímulos.
Incerteza é a palavra-chave: é repetida 20 vezes nos relatos da última reunião de política monetária do Banco Central Europeu (BCE). Os governadores presentes sublinharam o elevado grau de incerteza em relação aos desenvolvimentos económicos e financeiros. Apesar disso, já há quem veja o fim dos estímulos monetários.
“As condições financeiras estão a aproximar-se de níveis pré-pandemia a um ritmo lento, mas estável, tal como reflete a forte recuperação dos mercados acionistas globais”, dizem as minutas da reunião do Conselho de Governadores. Apontam em particular para o restabelecimento das condições de financiamento nos mercados de obrigações e para a recuperação das perspetivas de inflação.
O BCE refere-se aos fortes ganhos que as bolsas globais têm registado após o sell-off vivido em março devido à pandemia. Apesar do número de casos de coronavírus continuar a aumentar tanto nos EUA como em muitas economias emergentes, Wall Street já ganha mais de 50% desde os mínimos e as bolsas europeias cerca de 30%. Os governadores falam por isso de “receios de uma ampla recaída nos esforços de conter a disseminação do vírus”.
“A divergência a evolução da pandemia e os desenvolvimentos nos mercados financeiros, em conjunto com a elevada incerteza sobre a forma e ritmo da recuperação económica e o ressurgimento de tensões comerciais globais levanta questões sobre a robustez e resiliência do atual sentimento dos investidores“, alerta.
Foi neste cenário que o Conselho de Governadores concordou em não fazer alterações nas taxas de juro de referência na Zona Euro (atualmente em mínimos históricos) ou na compra de ativos. Devido à pandemia, o BCE reforçou o programa que tinha em vigor de aquisições de dívida e lançou um outro extraordinário direcionado para a pandemia.
O programa de compras de emergência pandémica (PEPP) começou com 750 milhões de euros, mas foi reforçado em junho com mais 600 milhões. A principal diferença deste programa é que não tem limitações à compra de dívida de cada país, o que permite um maior ajustamento à necessidade de cada país.
“A flexibilidade do programa foi sublinhada como um elemento chave para a eficácia e eficiência no apoio à transmissão da política monetária ao longo do tempo, classes de ativos e jurisdições”, defenderam. Apesar de elogiarem o programa, houve governadores (que não sabe quem são nem quantos) que defenderam que se comece a ver o fim.
“Foi também defendido que a flexibilidade do PEPP sugere que o próximo envelope de compras líquidas deverá ser considerado como um teto máximo em vez de como um objetivo. Os novos dados têm surpreendido pela positiva e alguns riscos em torno do outlook económico recuaram, aumentando a probabilidade de o envelope não ser totalmente usado”, acrescentam as minutas.
O BCE já tem vindo a diminuir o ritmo de compras. No total, já usou 384,817 mil milhões de euros da bazuca de emergência, sendo que, entre junho e julho, foram gastos 198,214 mil milhões. A Alemanha é o país com maior peso (93,016 mil milhões), seguido de Itália (73,432 mil milhões) e França (59,420 mil milhões). A Grécia — que continua a ser excluída dos restantes programas, mas foi incluída neste — ficou com 9,946 mil milhões de euros. Já de Portugal foram comprados 8,805 mil milhões de euros em obrigações do Tesouro.
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