José Neves lança fundação para “ajudar a transformar Portugal numa sociedade de conhecimento”. Investe 5 milhões em projeto-piloto
Empreendedor português lançou esta quinta-feira a sua Fundação, focada na educação para o futuro. Primeira iniciativa vai emprestar 5 milhões a 1.500 estudantes para melhorarem competências.
José Neves quer “transformar Portugal numa sociedade de conhecimento” e apostar “na educação universal, contínua e acessível ao longo da vida“. Foi para isso que criou a Fundação José Neves (FJN), apresentada esta tarde à comunicação social, no Hotel Myriad em Lisboa.
“Antes do IPO sabia que haveria alguma liquidez, e pensei muito seriamente em focar a minha atenção em Portugal, país onde nasci e onde senti que podia ter mais impacto. Senti que estava na altura de dar esse passo para iniciativas concretas. Ver que estávamos e estamos numa senda que não utiliza esse potencial humano que os portugueses têm é algo que merece a atenção de todos nós, assinalou o fundador da Farfetch, que vai doar dois terços do seu património, “em vida e depois da morte”, à fundação. “A missão é de ajudar Portugal a tornar-se uma sociedade do conhecimento e, com isso, elevar o nível de desenvolvimento humano do país. Educação, saúde, liberdades individuais, respeito pelas pessoas. Acredito que o desenvolvimento humano é o caminho. Existem países que, através do conhecimento, conseguiram criar sociedades com elevado grau de desenvolvimento económico e humano”, explica José Neves.
No arranque e, a partir desta quinta-feira, lança o ISA FJN, um projeto-piloto de partilha de receita (income share agreement) que serve para apoiar, através de bolsas reembolsáveis, portugueses que queiram ter acesso a formação, independentemenre da sua capacidade financeira. Neste caso, o ISA financiará o preço das propinas da formação sem pagamento de juros. “No limite, o estudante pagará o valor das propinas se atingir o salário esperado para essa sua formação. Poderá haver alguns que paguem mais — os outliers — e todo esse valor devolvido será reutilizado nesta ou noutras iniciativas”, assinala Carlos Oliveira, presidente executivo da FJN.
No ISA, a Fundação José Neves vai investir cinco milhões de euros em 1.500 estudantes, nos primeiros três anos que compõem o projeto-piloto da iniciativa. Neste programa, a FJN conta já com mais de 100 cursos e formações apoiadas em 22 entidades parceiras. “Vamos prestar contas aos portugueses. Vamos começar uma longa jornada de uma fundação geracional: algum do impacto que criaremos será a longo e médio prazo”, acrescentou ainda o empreendedor português.
“O que interessa é a motivação que estas pessoas tenham porque acreditamos que podem ter um futuro melhor se adquirirem esta; compromisso de retorno dessa propina, pagamento a fundação corre aqui todo o risco. Todos os possíveis reembolsos serão utilizados em mais ISAs ou noutros programas”, acrescenta Carlos Oliveira. O valor devolvido será estabelecido, contrato a contrato, dependendo do curso e das potenciais saídas do mesmo.
Além do ISA, a FJN apresenta, já na próxima terça-feira, o segundo projeto da estreia da fundação designado Brighter Future. “É um portal aberto, que vai fazer radiografia constante com atualização de dados constante, algo que não existe em Portugal nem na Europa, para que as pessoas possam tomar decisões com base em dados. Ajudará a responder a perguntas sobre se vale a pena fazer um MBA, para que universidade devo ir, que curso lançar, entre outras. Será aberto e gratuito”, explicou Carlos Oliveira, na conferência de imprensa. O Brighter Future é construído em parceria com universidades e com o INE e conta com mais de 200 milhões de registos e cerca de 2,500 fontes de informação articuladas e 400 indicadores de análise.
A missão da fundação está alicerçada em quatro pilares:
- Promover a democratização à aprendizagem focada nas competências para o futuro;
- Ajudar no desenvolvimento das competências do futuro apoiado em dados e em projetos;
- Projetar a educação do futuro;
- Despertar o desenvolvimento pessoal e individual/interior.
Fazer de Portugal uma sociedade de conhecimento
“Portugal é conhecido pelo turismo, pela beleza, pela hospitalidade, pelo futebol. Gostava que, daqui a 20 anos, Portugal fosse conhecido pela medicina contínua — preservação da saúde — e pela educação contínua. Que haja um esforço continuado dos portugueses em si próprios. O equilíbrio social tem de passar por aqui”, assinalou António Murta, cofundador da fundação.
“Um sistema que, ou é para génios ou para quem tem dinheiro”, foi uma das premissas essenciais para a criação da fundação, apontou José Neves. “O sonho é que esta iniciativa tenha sucesso e que, dentro de dois anos, no final do piloto, começar a alargar o programa para todas estas coisas. (…) O sonho é grande mas vamos aprender”, sublinhou o fundador da Farfetch.
“É muito natural que, ao longo do tempo, venham a surgir outros programas que apoiem o desenvolvimento dos restantes eixos da fundação”, assinalou Carlos Oliveira, acrescentando: “Não acreditamos que dentro de dez ou 20 anos os paradigmas atuais se mantenham”.
O mais importante para nós é criar, medir e comunicar o impacto. E cada euro é um euro, e tem de criar o máximo impacto possível.
A fundação é, por isso, “um piloto”, usando a “linguagem startup”. “Vamos fazer isto como uma startup: testar, melhorar. Pensamos que é urgente mudar o modelo de desenvolvimento assente numa economia do desenvolvimento para termos desenvolvimento humano muito mais sustentável do que até agora. (…) O mais importante para nós é criar, medir e comunicar o impacto. E cada euro é um euro, e tem de criar o máximo impacto possível.”, assegurou o fundador e CEO da Farfetch.
José Neves adianta que é, também, uma forma de “garantir que ninguém fica para trás e que todos podem participar nesta nova economia”. Segundo o empreendedor, a fundação com o seu nome é “uma fundação de ação”. “Não somos só de ideias, tratamos as nossas iniciativas como startups, usamos terminologias do digital no dia-a-dia da fundação. E hoje não é o dia em que a fundação começa. Esse foi há cerca de dois anos”.
Para dia 22 está marcado um evento online, que contará com intervenções de nomes como o do banqueiro António Horta Osório, do músico Will.i.am, de Noami Campbell (modelo, empreendedora e fundadora da organização Fashion For Relief), de Niklas Zennström (fundador do Skype e da capital de risco Atomico) e de Jean-Philippe Courtois (cice-presidente executivo e presidente para a área de Global Sales, Marketing and Operations da Microsoft).
Com sede no Porto e uma equipa de sete pessoas a tempo inteiro, a Fundação José Neves conta com dezenas de parceiros e equipas de desenvolvimento colaborativo, modelo que querem continuar a desenvolver.
“Temos feito um progresso incrível com uma herança pesada, de um regime anterior. Temos de elogiar o esforço enorme das últimas décadas mas há muito que fazer, e aí temos de ser todos. A responsabilidade começa sempre por nós. Este será o nosso pequeno e humilde contributo para apoiar o desenvolvimento humano e que tem de ser um esforço de toda a sociedade”, assinalou José Neves.
“Talvez o caminho seja criar potencial aqui, a partir daqui. Não sabemos as receitas ideais, mas é preciso garantir que perseguimos, de forma séria, este desígnio. Isto se queremos deixar de carpir e deixar de falar de convergência, e convergir”, concluiu António Murta.
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