Do Reino Unido à Áustria, nestes países há “semáforos” para parar risco da Covid-19
O Governo está a estudar a adoção de um sistema de "semáforos" para gerir o risco de transmissão da Covid-19. Recentemente, o Reino Unido aplicou a mesma medida. E na Áustria já se usa há um mês.
Numa altura em que vários países europeus batem recordes de novos casos de Covid-19, os europeus desdobram-se em medidas para travar a disseminação do surto. Entre elas está a adoção de um sistema de “semáforos” para gerir diferentes níveis de medidas restritivas consoante o risco de transmissão da doença.
O Reino Unido foi o último país europeu a implementar a medida e o Governo português admitiu no mês passado esta possibilidade. Em entrevista à SIC Notícias, o secretário de Estado Adjunto e da Saúde tinha assegurado que essa “pode vir a ser uma opção” em Portugal, detalhando que o sistema poderá incluir a “elaboração de mapas de risco epidemiológico”.
Além disso, António Lacerda Sales sublinhou que o país tem aprendido “com a experiência de alguns países” nesta matéria. O ECO contactou o Ministério da Saúde para saber se a medida vai mesmo avançar ou não, mas até à publicação deste artigo não recebeu resposta.
Certo é que há já alguns países a aplicar este sistema de cores, entre os quais a Áustria, que já o tem desde o início do mês. Há outros em que a medida não foi adiante, existindo, mesmo assim, outras soluções de gestão do risco da pandemia.
Reino Unido dividido em três zonas de risco
Ainda que de forma muito reduzida, o primeiro-ministro britânico anunciou que esta nova “abordagem” vai permitir que as autoridades locais dividam o país em três níveis: médio (nível 1), alto (nível 2) e muito alto (nível 3).
“Não é desta forma que queremos viver as nossas vidas, mas este é um caminho estreito que temos de trilhar entre o trauma social e económico de um bloqueio total e o enorme custo económico e humano de uma pandemia sem controlo“, disse Boris Johnson esta segunda-feira, aquando do anúncio, citado pelo The Guardian.
Neste contexto, mais de 17 milhões de pessoas enfrentam restrições localizadas. A região de Liverpool, que tem 527 casos por cada 100 mil habitantes, foi a única área categorizada como de “muito alto risco”, o que leva a que os bares sejam forçados a encerrar e que os encontros familiares estejam proibidos a partir de quarta-feira e, pelo menos, durante quatro semanas.
Nas zonas de “alto risco”, as pessoas estão proibidas de se misturarem com familiares “dentro de portas”. É o caso de Manchester e Newcastle. As restantes zonas são consideradas de “médio risco”, pelo que são obrigadas a respeitar a legislação decretada pelo governo para a generalidade do país, como a proibição de ajuntamentos de mais de seis pessoas e a obrigatoriedade de os bares fecharem às 22h.
Áustria foi um dos primeiros países a usar semáforos
A Áustria foi um dos primeiros países a implementar um sistema deste género. Chama-se Corona-Ampel (semáforo do coronavírus, na língua oficial) e foi lançado na primeira semana de setembro.
Aquando da apresentação, o chanceler austríaco Sebastian Kurz explicou que o sistema consiste num mapeamento do risco de transmissão da Covid-19 nas diferentes regiões do país, permitindo a adoção automática de medidas de restrição em função da cor atribuída a cada município.
Assim, cada um dos mais de 2.000 municípios da Áustria são classificados por um conjunto de peritos que os dividem em quatro cores do semáforo, sendo que essa classificação determina as regras aplicadas em cada território e é revista semanalmente.
O semáforo austríaco inclui quatro cores, que correspondem a quatro diferentes categorias de risco: verde (risco reduzido), amarelo (número moderado de casos, em focos controlados), laranja (elevado número de casos, não necessariamente relacionados com focos controlados) e vermelho (surtos descontrolados, disseminação generalizada do vírus).
Semáforos? Irlanda tem sistema numérico
Tal como Portugal, há outros países que equacionaram a implementação de semáforos para gerir o risco da disseminação do novo coronavírus. Foi o caso da Irlanda, mas a ideia acabou por cair por terra para ser substituída por um sistema de níveis numéricos.
Segundo o The Irish Times, o executivo irlandês chegou mesmo a definir as cores: vermelho, laranja, amarelo e azul. Mas optou por um mecanismo idêntico, sem as cores.
“Seria útil se isto fosse visto pelo público como algo semelhante a um aviso do tempo, em que as pessoas soubessem instintivamente o que podem fazer dependendo da cor”, explicou fonte governamental, acrescentando que o motivo pelo qual a cor verde não ter sido incluída é por ser associada a uma “situação em que está tudo bem e as coisas podem voltar ao normal, o que por enquanto não é o caso”.
Aquando do anúncio do “Plano para viver com a Covid”, Dublin apresentou um sistema de classificação das diferentes regiões do país com cinco níveis. “Os níveis mais baixos do sistema serão ativados quando houver uma baixa incidência da doença, com surtos isolados e reduzida transmissão comunitária. Os níveis mais elevados serão usados para lidar com incidências maiores da doença”, esclarece a página oficial do governo irlandês.
Deste modo, a título de exemplo, uma pessoa que viva numa zona classificada com o nível 1 pode receber, no máximo, 10 pessoas em casa, num máximo de três agregados familiares diferentes, enquanto, nas regiões classificadas com os níveis 4 e 5, é proibido receber visitas em casa.
Ao mesmo tempo, enquanto no nível 1 são permitias 100 pessoas nos casamentos, no nível máximo (6) apenas são permitidas seis pessoas. Neste momento, todos os territórios da Irlanda estão no nível 3.
Que outras soluções existem?
A estratificação dos territórios por zonas de risco de transmissão da Covid-19 não é só feita pelos respetivos governos. Após vários meses de descoordenação nas restrições às viagens dentro da UE, e numa altura de aumento do número de casos de infeção na Europa — que só na última semana bateu o recorde de 700.000 novos casos –, o Conselho Europeu decidiu criar critérios comuns para identificar as zonas mais arriscadas dentro da União Europeia.
Assim, estes critérios terão por base dados agregados do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC), fornecidos pelos próprios países, sobre o total de novos casos notificados, de testes realizados e de resultados positivos.
Nesse sentido, os países serão divididos num código de cores, em que verde diz respeito às zonas onde a taxa de notificação de 14 dias é inferior a 25 casos e a taxa de positividade dos testes é inferior a 4%, e o laranja refere-se a regiões onde a taxa de notificação de 14 dias é inferior a 50 casos, mas a taxa de positividade dos testes é igual ou superior a 4%, ou quando a taxa de notificação de 14 dias se situa entre os 25 e os 150 casos e a taxa de positividade dos testes é inferior a 4%.
Já o vermelho será referente às regiões onde a taxa de notificação de 14 dias é igual ou superior a 50 casos e a taxa de positividade dos testes é igual ou superior a 4%, ou quando a taxa de notificação de 14 dias é superior a 150 casos. Há ainda outra cor, o cinzento, para quando a informação disponibilizada for insuficiente ou quando a taxa de despistagem for inferior a 300 testes.
Mas este não é caso único. A Bélgica, por exemplo, tem já um sistema de cores para os países vizinhos. A cor vermelha representa que o país “desaconselha fortemente” as viagens para essas regiões, na cor laranja as autoridades belgas “recomendam uma vigilância acrescida” e/ou a quarentena aos viajantes, enquanto para a cor verde a viagem é possível, ainda que com os cuidados de sempre, revela o site do governo belga.
Recentemente, também a Google juntou-se a esta corrente. O Google Maps já permite acionar uma camada para ver em que regiões há mais casos de coronavírus. O mapa permite ainda ver se, num dado sítio, a tendência é de crescimento ou alívio da situação pandémica.
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