Capacidade de poupar para a reforma afundou 20% na pandemia
A instabilidade no mercado de trabalho é, segundo a OCDE, uma das razões para explicar a perda de capacidade de poupar a longo prazo.
Lay-off e desemprego cortaram os rendimentos dos trabalhadores na pandemia, levando os portugueses a perder capacidade de poupar para a reforma. O dinheiro que entrou em planos de poupança e reforma (PPR) caiu quase 20% no primeiro semestre de 2020 face ao mesmo período do ano passado, segundo dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE). Portugal é, assim, o país com maior queda.
“O impacto do surto de Covid-19 nos níveis de contribuições ainda não é claro. Tempos difíceis e incertos podem desviar as pessoas de poupar para a reforma e alguns países revelaram mesmo um declínio nas contribuições para planos de poupança e reforma no segundo trimestre de 2020 em comparação com o mesmo período de 2019″, aponta o relatório Pensions Outlook da OCDE. “Em comparação com o segundo trimestre de 2019, os fluxos de contribuição diminuíram na Austrália (-1,4%), Letónia (-4,7%), Polónia (-16,5%) e Portugal (-19,6%), por exemplo”.
Os portugueses até estão a poupar mais — a taxa de poupança atingiu mesmo máximos de 2014 no período em questão — num fenómeno que é explicado essencialmente como “poupança forçada” já que é consequência da quebra no consumo. No entanto, o relatório da organização indica que este dinheiro poderá estar a ser posto de lado para acautelar emergências já que a reforma está a receber menos transferências.
Contribuições para planos de reforma
A instabilidade no mercado de trabalho é, segundo a OCDE, uma das razões para explicar a perda de capacidade de poupar a longo prazo. “Algumas pessoas poderão enfrentar maiores dificuldades em acumular ativos para a reforma se perderam os seus empregos ou virem o número de horas de trabalho reduzido no seguimento do surto de Covid-19“, aponta.
Em simultâneo, a suspensão das regras de resgates em países como Portugal poderá também incentivar os aforradores a aceder às poupanças de longo prazo como forma de alívio de necessidades imediatas. Do lado das empresas que comparticipam um plano de reforma dos trabalhadores, poderá haver igualmente dificuldades em manter essas contribuições, dado o impacto da pandemia nos negócios.
Supervisor acompanha resgates e dividendos
No que diz respeito à adaptação do setor financeiro e segurador à pandemia, a OCDE dá o exemplo de Portugal como um dos países que suspendeu as restrições aos resgates antecipados de PPR sem penalizações (que antes da pandemia eram apenas possíveis em casos como doença grave ou amortização de empréstimos para comprar casa). Mas lembra que há riscos nesta estratégia, apontando para o trabalho da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF) na sua monitorização.
“A ASF recomendou às entidades gestoras de fundos de pensões que monitorizem de perto os resgates antecipados de fundos PPR. A ASF lembrou a importância de ser explicado o impacto dos resgates antecipados e o valor da perda para os membros do plano. Este acompanhamento extraordinário tem proporcionado ferramentas para que as entidades gestoras de fundos de pensões e o supervisor detetem problemas decorrentes do surto e tomem as medidas necessárias para salvaguardar os interesses dos participantes no plano“, considera a OCDE.
Ao acompanhamento foram acrescentadas recomendações sobre planos de contingência e a suspensão do pagamento de dividendos aos acionistas. As medidas tomadas pelo supervisor incluíram ainda a flexibilização das obrigações dos fundos e entidades gestoras ou o cancelamento de atividades presenciais, o que a organização considera que ajudou as gestoras a “focarem-se em assegurar a continuidade das tarefas críticas e serviços aos clientes para enfrentar os desafios resultantes da pandemia”
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