Siza comparou a TAP à Autoeuropa. Têm o mesmo peso na economia?
Ambas visam na lista das maiores exportadoras do país e são empresas conhecidas do público. Para Siza Vieira a queda da TAP seria igual (ou até pior) à da Autoeuropa. O que as aproxima e diferencia?
“Deixar desaparecer a TAP era como deixar desaparecer a Autoeuropa ou pior“. A frase é do ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, e foi dita no Parlamento para justificar a intervenção do Estado na transportadora aérea, a qual poderá custar até 3,7 mil milhões de euros. As empresas são equivalentes? Que peso têm na economia? Quantos trabalhadores empregam? O ECO faz a comparação, com os dados disponíveis, entre as duas empresas e a sua relação com a economia portuguesa.
Qual o contributo para a economia portuguesa?
Não há números oficiais nos quais a análise se possa basear, mas há aproximações que podem dar uma ideia. De facto, as duas empresas dão um contributo significativo para a economia portuguesa: estima-se que a atividade da Autoeuropa corresponda a 1,7% do PIB (2019) e a da TAP a pelo menos 2% do PIB (2018). Não haverá muitas mais empresas em Portugal com este peso.
Contudo, é mais difícil responder à questão sobre o valor acrescentado de cada empresa, o que permitiria perceber melhor qual o impacto líquido da queda de uma destas empresas na economia portuguesa. Tal depende da relação entre exportações e importações, assim como outros efeitos indiretos que impossibilitam uma conclusão rápida e simples.
Quem contribui mais para as exportações nacionais? E para as importações?
A Autoeuropa foi a maior exportadora de bens em 2019 — estima-se que represente 5% dos bens vendidos ao exterior –, mas também foi a terceira maior importadora de bens. Tal acontece porque tem de comprar fora grande parte das componentes dos carros que produz, o que diminui o valor acrescentado ao produto em Portugal. Mas a análise não é assim tão simples dado que há efeitos indiretos da atividade da Autoeuropa, nomeadamente para os seus fornecedores nacionais e para a indústria automóvel portuguesa no geral.
No caso da TAP, a transportadora aérea passou a ser a terceira maior importadora de bens em 2019 por causa da aquisição de aviões à Airbus para renovar a frota, o que foi visível nos dados mensais das importações de bens. Apesar de não haver dados oficiais do Instituto Nacional de Estatística (INE) para as exportadoras de serviços (venda de viagens de avião), a empresa diz que é a maior do país. Serão 800 milhões de euros de exportações de serviços através da TAP, em cada ano, segundo os dados referidos pelo ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos.
Como o plano de reestruturação da TAP — se for aprovado pela Comissão Europeia — implica uma redução de aviões, interrompendo o processo de expansão que se verificou até 2019, é provável que a TAP deixe de ser uma das maiores importadoras do país e que o volume de exportações de serviços se reduza significativamente, principalmente por causa da (quase) paragem do turismo internacional em 2020. No futuro, o encerramento de algumas rotas da TAP também poderá também levar a menos exportações.
Quais os efeitos indiretos de cada empresa?
A Autoeuropa chegou a Portugal na década de 90 — vista como o maior investimento estrangeiro já feito em Portugal — e foi um fator de desenvolvimento da indústria automóvel nacional, trazendo conhecimento para o país. Segundo uma nota de research do BPI de 2019, “nos últimos anos, o cluster automóvel em Portugal adquiriu maior peso económico em termos de criação de PIB” e atualmente esse setor representa 2,1% do PIB e 8,5% da produção da indústria portuguesa, sendo que quase tudo vai para exportação.
Além disso, apesar de ter um elevado conteúdo importado, a Autoeuropa também tem fornecedores nacionais e poderá ter ainda mais no futuro através do projeto do clube de fornecedores. Acresce que a Autoeuropa tem uma unidade de prensas que exportou cerca de 20 milhões de peças no ano passado, contribuindo também para as exportações do país.
Já a TAP tem um papel fundamental no dinamismo do turismo, segundo o Governo: 90% das pessoas que chegam ou saem de Portugal, sejam portugueses ou estrangeiros, é por via aérea, e a TAP transporta 50% dessas pessoas, ou seja, 45% de todos os passageiros aéreos que passam pelo país, o que reflete o impacto que a empresa pode ter no turismo português, de acordo com Pedro Siza Vieira.
E também tem os seus fornecedores nacionais: a TAP compra 1.300 milhões de euros a empresa nacionais todos os anos, contribuindo para “alimentar” a indústria aeronáutica e aeroespacial, a qual gera exportações que equivalem a mais de 1% do PIB português (acima de dois mil milhões de euros), de acordo com o Governo.
Ainda de acordo com o ministro da Economia, o Executivo fez uma avaliação da importância estratégica de vários setores económicos que estão a ser impactados pela crise, medindo o seu valor acrescentado, o efeito multiplicador na economia, o impacto fiscal — a TAP paga 300 milhões de impostos por ano, segundo Pedro Nuno Santos — e a indução de atividades de alto valor e a conclusão é clara: nessa avaliação, “o transporte aéreo está bem lá em cima”, garantiu Siza Vieira.
Qual o número de trabalhadores?
Segundo os números do Governo, o grupo TAP paga o salário a mais de dez mil trabalhadores, encontrando-se entre as empresas que mais empregam no país. Contudo, se o plano de reestruturação for aprovado, haverá o despedimento de trabalhadores que poderá chegar aos dois mil. Além disso, há 1.600 trabalhadores com contratos a prazo que já estão a ser dispensados.
No caso da Autoeuropa, o número de trabalhadores é inferior: 5.900, segundo os dados relativos a 2019 revelados pela empresa. Contudo, já se sabe que não haverá a renovação de contrato a 120 pessoas e 55 serão despedidas por causa da crise pandémica. A comissão de trabalhadores da Autoeuropa diz que, na realidade, já foram despedidas 500 pessoas, a maioria precários.
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