Sustentabilidade é desafio económico para Portugal, diz EY
No estudo “Conhecer os desafios ajuda a encontrar o caminho?”, a EY diz que a pandemia veio "evidenciar a interdependência entre a biodiversidade, as alterações climáticas e a sustentabilidade.
A sustentabilidade é um dos seis grandes temas para o ano de 2021 identificados pela consultora EY no seu mais mais recente estudo “Conhecer os desafios ajuda a encontrar o caminho? Portugal: Desafios para 2021”, que contém 23 análises aos principais desafios económicos que Portugal têm pela frente.
Transição climática, renováveis e hidrogénio verde são alguns dos subtemas da sustentabilidade analisados no relatório. Para João Alves, country managing partner da EY Portugal, “o próximo ano vai trazer dois tipos de desafios: por um lado, vai expor consequências económicas da pandemia que têm vindo a ser mitigadas pelas medidas de apoio do Estado; por outro, vai tornar claro que o mundo pós-pandemia é diferente”.
De todos os desafios apontados no estudo “emerge uma tendência cada vez mais segura: fenómenos globais como as alterações climáticas e uma postura mais atenta das novas gerações estão a traduzir-se numa reorientação das prioridades dos investidores, tornando cada vez mais importante a adoção de estratégias de criação de valor a longo prazo, que atendem às necessidades de todos os stakeholders”, reforça João Alves.
De acordo com o estudo da EY, a pandemia da Covid-19 veio “evidenciar as ligações de interdependência entre a biodiversidade, as alterações climáticas, a sustentabilidade, o bem-estar individual, a saúde pública e a economia, de tal forma que temos vindo a repensar os nossos comportamentos”. É o chamado Eco-Living e cerca de 29% dos consumidores confirmam a intenção de serem mais conscientes sobre as suas ações e o impacto que elas têm no mundo, refere a consultora.
“Este despertar de consciência estende-se à forma como comemos, como nos vestimos, trabalhamos, viajamos ou nos mantemos saudáveis. 2021 transformará aquilo que é hoje uma necessidade — a procura pelo bem-estar — num estilo de vida mainstream”, conclui ainda o estudo. Além da vida privada, a pandemia provocou também mudanças na vida profissional e nas expectativas dos colaboradores, que esperam um maior compromisso por parte dos empregadores — horas de trabalho mais flexíveis, licença remunerada, instalações seguras, formação ou apoio à saúde mental.
Recursos humanos necessários para economia neutra em carbono
Do outro lado da equação, estão as empresas. Aquelas que definam uma agenda para um crescimento resiliente face às alterações climáticas serão vistas com uma perspetiva mais atrativa em termos da sua capacidade de, no longo prazo, resistir a choques sistémicos. “Neste caso, a pandemia Covid-19, em vez de desviar a atenção da necessidade de promover um futuro sustentável, veio reforçar esse imperativo”, refere o relatório da EY.
O documento olha ainda para o setor financeiro, onde os maiores desafios são a rentabilidade e a sustentabilidade, com a oportunidade de alterar o paradigma do modelo de negócio.
“A um nível global, os desafios que o país enfrenta para garantir que possui os recursos humanos necessários para suportar a transição para uma economia neutra em carbono até 2050 são de grande dimensão. Exigem um investimento substancial e estão relacionados, sobretudo, com os setores já em transição como os da energia, da indústria e da construção, setores primário e terciário”, recomenda a EY, apontando várias necessidades.
Com hidrogénio na mira, energia enfrenta transformação
Para começar, o setor da energia é aquele que enfrenta maiores transformações: tem de abandonar não só os recursos fósseis, mas também a maioria dos processos e infraestruturas associados a este modo de produção de energia. A transição para energias renováveis como a solar, a eólica e o hidrogénio requer a requalificação dos trabalhadores de todo o ecossistema deste setor, garantindo que ninguém fica para trás.
Já a indústria precisa de trabalho especializado e qualificado para suportar a transição para tecnologias mais eficientes e desenvolvimento de modos de produção inovadores. É preciso capacitar o setor da construção para fazer face ao problema urgente da reabilitação de edifícios, melhorando a sua eficiência energética. É preciso investir na renovação e qualificação do emprego no setor primário. A agricultura, a floresta e a aquacultura (na produção de algas) representam atividades importantes para a neutralidade carbónica pelo seu potencial de captura de carbono.
Mas são as energias renováveis que têm estado no centro do palco do combate ao efeito das alterações climáticas. O confinamento que resultou da Covid-19 permitiu, de certa forma, antecipar o futuro, no que à contribuição das energias renováveis para a matriz energética diz respeito. A menor procura por eletricidade, aliada ao acesso prioritário à rede deste tipo de fonte, levou à sua maior preponderância em diversas geografias. Durante o período generalizado de confinamento, a contribuição das renováveis ultrapassou 50% da geração total no continente europeu.
“O contexto pandémico levou a que apenas um leilão solar se tenha realizado em 2020, no entanto o setor público tem planos para lançar dois leilões por ano, com uma respetiva atribuição de capacidade de 1GW em cada período anual. Será seguramente um tema fulcral para que seja possível atingir a meta de 80% da capacidade instalada em renováveis até 2030”, lê-se na publicação da consultora.
Outro tema que marcará seguramente o futuro das renováveis é o hidrogénio verde, sublinha a EY: “O atual momento constitui uma oportunidade para construir uma versão descarbonizada do tecido empresarial”.
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