Sobe e desce da bolsa de Lisboa em ano de pandemia atraiu pequenos investidores
Forte volatilidade nas bolsas fez aumentar a presença de investidores de retalho. Houve investidores que tinham contas inativas e que as reativaram em 2020, bem como novos investidores.
Os pequenos investidores estão a ganhar peso na bolsa de Lisboa graças ao aumento da volatilidade em ano de pandemia. A tendência, que já vinha de 2019, foi reforçada no ano passado e a presidente da Euronext Lisbon, Isabel Ucha, não exclui a possibilidade de continuar. Mas avisa que após períodos de volatilidade segue-se a acalmia.
“Foi um ano que não nos vamos esquecer e o mercado registou grandes volumes de negociação. Em Lisboa, o volume de negociação foi 30% superior em 2020 que em 2019 e foi o ano de maior volatilidade dos últimos anos“, começa por dizer Ucha, num encontro virtual esta terça-feira com jornalista, em que fez um balanço do ano que passou e apresentou as prioridades para 2021. “Em março tivemos volumes como nunca tínhamos tido na história da Euronext”.
Quando o coronavírus chegou à Europa, em março, o pânico lançou-se nos mercados com um forte sell-off causado pela perceção de que as economias tinham de fechar. Desde então, os estímulos monetários e orçamentais, bem como os desenvolvimentos da vacina contra a Covid-19, levaram a uma recuperação das principais praças europeias. Ao contrário das norte-americanas, não conseguiram ainda assim fechar 2020 em terreno positivo. O português PSI-20 desvalorizou 6%.
“Este aumento muito significativo do número de negócios teve subjacente a intensificação da participação dos investidores de retalho, que estiveram muito mais ativos mês a mês, mas em particular nos meses de maior volatilidade”, aponta a presidente da Euronext Lisbon. O número de negociações realizadas por investidores de retalho aumentou para 1.183.457 em 2020 (mais 50% do que as 788.164 de 2019), enquanto o peso médio deste tipo de investidores cresceu para 9,82% contra 9,76% no ano anterior.
Historicamente, Portugal era já um dos países, entre aqueles onde o grupo Euronext opera, onde o retalho é mais ativo. Isabel Ucha acredita que há dois fatores que poderão levar a que o peso destes investidores continue a aumentar: o primeiro é a incerteza que ainda se vive e o segundo os dados dos bancos sobre quem são estas pessoas. “Houve investidores que tinham contas inativas há algum tempo e que reativaram este ano e houve novos investidores. Esses novos investidores, que entraram agora, não me parece que vão fechar proximamente”, diz.
Número de transações realizadas por investidores de retalho na Euronext Lisbon
Private equity une-se à bolsa para criar estratégia de saída
Apesar do ano “errático” causado pela pandemia, a capitalização bolsista de Lisboa subiu 16% para 73.448 milhões de euros, o valor mais elevado desde 2007. No segmento obrigacionista, houve um aumento de 46% no total de emissões de obrigações cotadas, sendo que excluindo a dívida pública a subida foi de 16%. Foi neste cenário que a dona da bolsa entrou em 2021, ano em que tem especialmente projetos ligados às startups e PME, bem como à sustentabilidade.
“Estamos na fase final de preparação do programa PE Share. É um programa novo que estamos a lançar nos vários mercados e vai decorrer durante o primeiro semestre, em que juntamos uma série de private equity e venture capital e vamos abordar o mercado de capitais como uma solução de saída para as empresas em carteira“, anunciou Isabel Ucha.
O grupo fez uma lista das empresas de private equity e venture capital a operar em Portugal e espera cerca de uma dezena de participantes (apesar de o número ainda não estar fechado) no programa que é semelhante ao tech share (para tecnológicas) ou ao family share (para empresas familiares).
Ainda no segmento das PME, a Euronext chegou à conclusão que há a falta de mecanismos para melhorar a liquidez pelo que juntou ao sistema de negociação multilateral (MTF) por blocos, um novo dedicado a PME. Já no que diz respeito à sustentabilidade, a Euronext expandiu a oferta de produtos ESG (ligados a critérios ambientais, sociais e de governo de sociedades) e esta continuará a ser uma prioridade para 2021.
Por último, a Euronext está a trabalhar em conjunto com vários outros players numa task force de dinamização do mercado de capitais que se seguiu à avaliação feita pela OCDE. “A task force foi constituída em novembro. É constituída por um conjunto de entidades e tem trabalhado intensamente com uma agenda. Tem percorrido as várias propostas ou ideias que o relatório da OCDE apresentou e outras que não constavam, mas que as entidades consideraram importantes”, acrescentou Isabel Ucha, que espera que as primeiras conclusões possam ser conhecidas até ao início do segundo trimestre.
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