“Não podemos desconfinar já”, diz bastonário da Ordem dos Médicos
Apesar dos números de infeção estarem a diminuir, Miguel Guimarães diz que "é sensato esperar mais algum tempo e esperar que os números de infetados por dia diminuam de forma substancial".
O bastonário da Ordem dos Médicos (OM) sublinhou esta terça-feira que “não se pode desconfinar já”, referindo que não conhece um “número mágico” para apontar data ao desconfinamento, mas isso só pode acontecer quando “diminuírem os internamentos de cuidados intensivos”.
“Não há dúvida de uma coisa: não podemos desconfinar já. Tivemos uma grande onda, menor no norte do que no sul do país, mas é sensato esperar mais algum tempo e esperar que os números de infetados por dia diminuam de forma substancial, apesar de neste momento estarem em queda significativa”, disse Miguel Guimarães, que falava aos jornalistas após uma visita ao Hospital de São João.
“Precisamos de manter estas medidas de confinamento por um período de dois meses para trazer o número de camas ocupadas em cuidados intensivos abaixo das 200 e a incidência acumulada a 14 dias abaixo dos 60 casos por 100 mil habitantes”, defendeu o epidemiologista Baltazar Nunes, do Instituto Ricardo Jorge (INSA), durante a reunião de epidemiologistas do Infarmed, que decorreu esta terça-feira.
Apontando que “respeita muito o trabalho muito importante que os epidemiologistas fazem”, Miguel Guimarães disse que vai ouvir o gabinete de crise da OM, frisando a importância dos médicos que estão no terreno, mas concordou que as medidas de aligeiramento do confinamento têm de ser acompanhadas da diminuição da pressão dos cuidados intensivos.
“É de esperar que haja uma capacidade de resposta maior nos cuidados intensivos para se começar a fazer o desconfinamento de forma ordenada e segura. Isso não quer dizer que sejam dois ou um mês [meses]. Mas uma coisa é certa: a capacidade dos cuidados intensivos não é ilimitada (…). Não sei qual é o número mágico”, disse, apontando que antes da pandemia a capacidade nacional nas Unidades de Cuidados Intensivos (UCI) rondava os 600 ou 700, sendo agora de 1.000 a 1.100. Mas reiterou: “o número atual de doentes em UCI é exagerado”.
“Em dez doentes internados em UCI, nove são covid-19 e um não covid. Não há dúvida que temos de libertar camas de cuidados intensivos para tratar os doentes prioritários”, disse, aproveitando para frisar a necessidade de acudir aos doentes não covid, alguns dos quais “com cirurgias que requerem cama de cuidados intensivos nem que seja por 24 horas para uma vigilância mais apertada”.
“Temos de ter mais camas libertas para os doentes não covid-19”, sublinhou o bastonário. Sobre a testagem em massa, Miguel Guimarães defendeu que “aumentar a capacidade de testagem é importante” e aproveitou para deixar mensagens e alertas aos portugueses.
“Testarmos mais significa separar os que estão infetados dos que não estão e quebra das cadeias de contágio (…). O combate a este vírus não terminou. Não é o momento de relaxarmos. As pessoas têm de perceber que o combate não depende só do Governo e dos profissionais de saúde. Depende de todos e cada um de nós”, afirmou, apelando ao cumprimento de regras como utilização de máscara, higiene e distanciamento social.
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